O Cisne Negro escrita por anonimen_pisate
P.O.V – Hellena
Foi como se um manto gelado caísse sobre minhas costas. Aquela sensação de perigo invadia meu corpo e descia por minha espinha como gelo derretido.
-O futuro pai de sua filha. – Blake murmurou perto de meu ouvido.
Aquelas palavras me machucaram com força.
Tudo começou a girar e senti uma ânsia de vomito quando o burburinho voltou e o príncipe se ocupou conversando com outros convidados.
Minha garganta desceu e subiu.
-Hellena... – Nate surgiu e segurou meu braço. – Está tudo bem?
-Eu quero ir embora... – murmurei.
-Não pode ir agora, a festa é para você Hellena. – Blake disse.
-O que esta havendo? – Georgina apareceu tapando minha visão.
-Hellena esta passando mal. – Nate disse. – Vou tirar-la daqui.
-Não pode, você é a anfitriã. E Antonie quer te conhecer.
-Inventem qualquer coisa, digam que eu... – me lembrei do que minha mãe havia falado sobre a floresta dos espíritos, que eles me chamavam e que eu precisava ir o mais rápido possível. – Os espíritos me convocaram.
-O que? – Blake franziu as sobrancelhas.
-Problemas de damas espirituais. E eu já fiquei tempo suficiente.
Dei-lhe as costas e pedi para que ele me tirasse dali.
Saímos discretamente por uma porta lateral que levava para o jardim dos fundos, e sentir o ar fresco da noite em meu rosto me aliviou.
Afrouxei os cadarços do espartilho e sentei na grama.
-Se sente melhor? – Nate perguntou se sentando ao meu lado.
-Muito... – ofeguei.
-Começou a passar mal quando Antonie chegou. – virou o rosto um pouco na minha direção, encarando meu rosto aliviado. Agora eu respirava melhor.
-Tive um pressentimento. – murmurei sem mover os lábios.
-Que tipo? – eu deitei e fiquei de olhos fechados.
-Foi como... Medo. Frio, aflição... – enruguei meus olhos.
-O pressentimento de uma mediadora nunca pode ser deixado de lado.
-Agora tenho um novo nome? – sorri entreabrindo os olhos e virando o rosto em sua direção. – Mediadora. – disse sentindo a palavra na minha boca.
-São as pessoas que tem o dom de ver os espíritos, e de se comunicar com eles. – riu juntamente comigo. – Mas continuando, viu algo, ou apenas sentiu?
-Foi mais um calafrio. – dei de ombros. – Pode ter sido algum espírito ruim que passou por perto, sei lá. Íncubos atraem maldade.
-Ei! – ele reclamou.
Ri mais alto. Levantei-me em um salto.
-Tenho que ir a florestas dos espíritos, minha mãe me pediu para fazer isso quando eu voltasse, eu quase me esqueci. – franzi os lábios e levantei as sobrancelhas.
-Quer que eu vá com você? – se levantou comigo.
-Não, eu preciso fazer isso sozinha.
Fui em direção ao muro que nos separava da outra parte do mundo, o lugar onde tudo era incerto e perigoso. Coloquei minha mão na base de um tijolo, e eles começaram a se mover.
Imagine como Harry Potter entrava no beco diagonal, era desse mesmo modo que os blocos se moviam, ate formarem um portal em forma oval e me dar passagem a floresta.
Sai em direção às arvores altas.
Fui caminhando entre os arbustos, não havia caminho certo para a floresta das wisps, era uma coisa que nos, súcubos do espírito, aprendíamos sozinhas, era mais como, saber o caminho por instinto.
Qualquer um que passasse por ele acharia que era apenas uma simples clareira, os espíritos apenas apareciam para as súcubos.
Quando cheguei ao espaço limpo, as arvores e arbustos começaram a se moverem e fazerem sons farfalhantes, e das folhas, surgiram pequenos flocos de luz.
-Meus queridos. – eu ri estendendo as mãos para o ar.
Eles pousavam em toda parte do meu corpo e se enroscavam em meus cabelos pedindo para que eu brincasse com eles. Os wisps eram as criaturas mais puras que existiam.
-Soube que me chamaram nos últimos dias. – fizeram sons que me lembravam o tilintar de sininhos de prata sob o vento da manha.
Então vieram sussurros de todas as partes. Chamavam meu nome e cantarolavam em línguas desconhecidas. Eles se juntaram na minha frente, formando algo do meu tamanho.
Pisquei confusa quando começou a virar uma pessoa. Percebi que possuía uma protuberância no peitoril, e então notei de que se tratava de uma mulher.
-Hellena... – sussurrou meu nome como um sopro.
-Quem é você? – pisquei tentando melhor minha visão, eu podia ver que era uma mulher, mas não reconhecia seu rosto. Pense a mulher mais bela que já viu multiplicada por cem, veria essa.
-Sou a criadora. – sua voz era etérea.
-Meu deus. – levei minha mão a minha boca e me curvei.
-Levante-se minha filha. – colocou os dedos de luz em meu queixo e ergueu meu rosto. Por mais estranho que fosse, a mão dela tinha consistência, era macia.
Ergui meu rosto e encarei seus olhos deslumbrantes.
-Tenho uma coisa a te dar. – colocou a mão onde ficava se coração, e estendeu-a em minha direção. Aninhada em sua palma, havia uma wisp brilhante.
-É uma wisp... – ofeguei.
-A minha wisp, e estou dando a você. – peguei a pedra em sua mão e a aconcheguei no centro dos meus dedos em forma de concha. – Você é pura minha querida. E merece.
Alisei a pedra oval que refletiam todas as cores, e no mesmo segundo, ela se dissolveu virando fumaça brilhante. Foi como se algo quente e agradável penetrasse meus poros.
-O que houve? – arregalei os olhos piscando eles repetidamente.
-Você é a escolhida minha filha, você é a guardiã da minha wisp.
-Mas... Por quê? – franzi a sobrancelha.
-Os espíritos te escolheram, e nem mesmo eu posso mudar a escolha deles, sou apenas o fruto da bondade deles, assim como você. – sua imagem começou a sumir lentamente.
-Onde esta a wisp?
-No lugar mais seguro que pode existir meu bem. – voltou a se dissipar como nevoa no vento. Pouco a pouco seu rosto ia se distorcendo e eu já começava a ver através dela.
-O que devo fazer minha mãe?
-A proteja, e saberá o que fazer. Quando chegar a hora, saberá o certo.
E dito isso, ela sumiu.
Após repetir as palavras que todas repetiam a mim o tempo todo, a primeira súcubo, a anja caída. Minha avó. Desapareceu do nada, deixando para trás um rastro de wisps.
Fiquei olhando em volta confusa e estática.
Fechei minha mão em punho, como se a pedra ainda estivesse na minha palma, mas não havia nada impedindo meus dedos de tocaram o centro de minha mão.
Ergui os olhos ate alcançar as copas das arvores com eles.
Fechei-os devagar, sentindo o calor dos pequenos espíritos por cima dos meus cílios, acariciando meu rosto.
-Também senti a falta de vocês. – murmurei de lábios cerrados.
“Alec... Alec... Alec...”
Só me dei conta nesse instante que eles não paravam de repetir o nome dele, quase como repetiam o meu. Com carinho e suavidade. Isso foi estranho e eu franzi minhas sobrancelhas.
Girei nos calcanhares e voltei pelo mesmo caminho da vinda.
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