Bloodlines - o Sangue Chama escrita por Bia Kishi


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

O vampiro me encarou por alguns minutos, seus olhos subindo e descendo pela extensão do meu corpo. Ergui uma sobrancelha.

— Perdeu algo aqui? eu disse tentando parecer menos nervosa do que realmente estava.



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Apesar de ainda estar atrás dessas estúpidas grades, eu não tinha mais medo da prisão; não desde que ouvi os aplausos após o nome de “Vasilisa Dragomir”. Por mais que eu não nutrisse nenhum tipo de admiração pelos anormais da noite, Lissa era justa e sabia bem sobre as razões que me levaram para a cela. Estranho como se pode mudar de opinião, não é? Se alguém me perguntasse dois anos atrás se eu confiaria minha liberdade á um vampiro eu acharia à pessoa completamente maluca. Agora, lá estava eu, folheando um jornal velho toda tranquila – minha amiga era a rainha.

Infelizmente, nem tudo eram flores em minha vida, eu podia não ter que me preocupar com o julgamento dos vampiros, mas devia – e muito – me preocupar com o julgamento dos humanos – a organização não costumava ser tão condescendente com falhas.

Fechei o jornal e o coloquei sobre a mesinha de cabeceira, enquanto fitava as pequenas teias de aranha no teto – eu odeio aranhas.

- Então, gosta da decoração? – perguntou uma voz conhecida – ou prefere que a troquemos?

- Não sei – eu respondi tamborilando os dedos na barriga – acho que cortinas de veludo vermelho e uma cama com dossel teriam mais á ver com o lugar.

O barulho das grades abrindo-se arrancou um esboço de sorriso meu. Rose me puxou em um abraço apertado.

- Pronta para ir para casa?

- Já? – eu perguntei com sarcasmo – agora que estava me acostumando com isso aqui!

- Vamos – Rose me disse, tirando-me da cela – você está livre.

                Tomei um banho, penteei os cabelos e vesti um jeans e uma camiseta – emprestadas de alguém que eu não sabia quem, não que importasse.

                Não havia muita coisa minha por ali, peguei minha carteira e os documentos e enfiei no bolso do jeans. E um pouco de dinheiro também.

- Bem, parece que é isto – eu disse assim que Rose apareceu na porta.

- Tome – ela jogou o moletom para mim – frio.

                Vesti o moletom, ajeitando o cabelo por fora da toca.

- Obrigada Sidney – Rose me disse – não vou esquecer o que você fez por mim.

                Eu senti um nó estranho subir pelo meu estômago e tentei afastá-lo como podia.

- Bem, você sabe Zmey...

Rose me interrompeu.

- Obrigada Sidney – ela me disse abrindo os braços.

                Eu não pude resistir apenas a abracei. Rose havia se tornado realmente minha amiga e não importava de quem ela era filha.

Saí caminhando pelos jardins da Corte com as mãos enfiadas nos bolsos do moletom, enquanto chutava uma pedrinha estranhamente branca; quando percebi, já tinha me chocado contra o muro de camisa caqui – alguém pode me explicar porque os vampiros são tão altos? Quer dizer, eu não sou baixa, sou uma garota normal; mas mesmo assim, a ponta do meu nariz bateu bem em cheio no peito dele.

- Hey! – eu adverti – olhe por onde anda.

O vampiro me encarou por alguns minutos, seus olhos subindo e descendo pela extensão do meu corpo. Ergui uma sobrancelha.

- Perdeu algo aqui? – eu disse tentando parecer menos nervosa do que realmente estava.

                Adrian sorriu. Não um sorriso doce e gentil, mas um sorriso profundo e nebuloso e tão quente que poderia ter dispensado o moletom.

- Não – ele sussurrou – mas adoraria procurar, mesmo assim.

                Soltei um “hunf” mal humorado e continue meu caminho.

- Alquimista? – ele me chamou e eu me virei – boa sorte!

                Acenei com a cabeça – era o melhor obrigado que eu poderia dispensar á alguém como ele.

                Cheguei ao aeroporto e comecei a procurar por um telefone – meu voo demoraria algumas horas, o que me dava tempo suficiente para resolver uns “assuntinhos desagradáveis” com meu superior. O telefone foi atendido no terceiro toque.

- Pai, eu estou no aerop – meu pai me interrompeu.

- Quantas vezes eu lhe disse para não me chamar assim aqui, Sidney?

                Respirei fundo – será que seria muito esperar um “Oh querida, que saudade! Fiquei preocupado”.

- Okay, Sr Sage, vou me lembrar disso na próxima.

- Na próxima, Sidney Sage, você estará sob julgamento.

Respirei fundo novamente.

- Quando?

- Quinta-feira, ás 10h00min.

                Se hoje era segunda, significava que eu ainda tinha três dias de descanso, antes da inquisição.

                Cheguei ao aeroporto de new Jersey com o sol fraco iluminando ainda mais as folhas amareladas das árvores, era o fim do outono e as temperaturas caiam um pouco mais á cada dia. Era fim de tarde e eu sabia que encontraria tudo da mesma maneira em casa.

                Minha mãe estava na cozinha, assim que abri a porta, eu a vi secando as mãos no avental xadrez.

- Oi mamãe – eu disse sem encará-la de fato.

Minha mãe me conhecia o suficiente para não perguntar muito. Ela sabia o que eu fazia. Sabia o quanto era complicado tão bem quanto eu – ela havia sido uma alquimista também. Agora, o que havia restado da australiana sonhadora estava ali, escondida atrás do avental.

- Estou feliz que esteja em casa querida – ela se limitou a dizer, ainda sem encarar meus olhos – teremos frango para o jantar.

Nada no mundo mudaria minha mãe, ou melhor, nada mais á mudaria.

- Onde está Izzy?

- No quarto dela – minha mãe pensou um pouco – ou no seu provavelmente.

                Subi as escadas degrau por degrau. Na parede havia tantas fotos de Danny. Suspirei profundamente – não importava á quanto tempo, Danny sempre me fazia sentir partida ao meio.

- Hey! – eu disse assim que encontrei minha irmã experimentando um vestido meu – Acho que você precisa de, pelo menos, dois números á mais para isto!

- Sid! – Ela gritou, jogando-se em cima de mim – você está de volta!

- Pois é.

- Senta aqui – ela me disse, segurando minha mão e me guiando até a cama – quero que me conte absolutamente tudo que aconteceu.

                Respirei fundo novamente. Não seria uma tarefa fácil.

Eu e Izabel conversamos durante o que pareceu pouco tempo para mim. Acho que eu estava errada, porque ela pegou no sono na terceira vez em que me perguntou se havia algum vampiro bonito na história. Encarei o livro sobre a minha mesinha de cabeceira

“Você tem que ler este livro, Sid!” – ela me disse.

                Deslizei meus dedos em seus cachos louros, ajeitando-a mais confortavelmente – eu não me importaria nem um pouco em dormir no chão para que ela estivesse confortável. Izabel era o mais perto de uma família que havia sobrado para mim, depois da morte de Danniel. Danny e eu éramos gêmeos. Eu nunc havia realmente me recuperado da morte de Danny. Não poderia. Nem eu, nem nenhum dos meus pais. Ninguém nunca se acostumaria porque Danniel não ficou doente. Não se envolveu em um acidente de moto ou coisa parecida. Danniel foi assassinado, para me proteger.

                Deixei Izzy dormindo e desci. A sala havia sido invadida pelo aroma do frango apimentado da minha mãe.

- Hum! – eu exclamei abrindo de leve a panela.

- Sente-se querida. Coma algo, deve estar faminta.

                Eu estava. Nem me lembrava mais quando havia sido minha ultima refeição decente e sem dúvida a comida de casa era o melhor que poderia existir naquele momento.

                Minha mãe me serviu uma generosa porção de frango e purê de batatas. Eu estava levando uma garfada á boca, quando meu pai passou pelo arco que separava a cozinha e a sala.

- Oi – eu disse, tentando não ser ouvida – eu sei que devia ter esperado, mas é que estava tão faminta.

Meu pai me esquadrinhou da cabeça aos pés. Em seguida, virou-se para minha mãe em silêncio.

- vou tomar um banho e depois desço para o jantar.

De repente o frango parecia isopor em minha boca. Eu não sabia se insistia em comer, ou corria para fora o mais rápido que eu podia.

                Quando meu pai desceu, Izabel, minha mãe e eu estávamos juntas na mesa de jantar. Ele sentou-se em silêncio.

- Vamos Sid, conte como foi. Eu quero saber de todos os detalhes.

                Eu olhava para meu pai e seu frango sem saber o que fazer e me sentindo envergonhada demais para responder.

- Não foi nada demais Izabel. Eu... Eu...

- Deveria tomar mais cuidado da próxima vez – meu pai disse sem tirar os olhos do prato – deveria apurar seu senso de responsabilidade e entender que tem um nome a zelar.

                Baixei minha cabeça e continuei em silêncio.

- Dever ser muito divertido!

                Meu pai garfou uma coxa como se o frango ainda estivesse vivo.

- Não há nada de divertido em não seguir o protocolo Izabel! Nosso trabalho não é divertido, é necessário – ele disse totalmente enfático.

                Izabel sorriu com toda sua espontaneidade de adolescente.

- Para Sidney é divertido.

                Eu engoli em seco.

                Os olhares lançados á mim diziam que eu deveria ter uma resposta inteligente e disciplinada para ela imediatamente.

- Foi perigoso Izzy. Muito perigoso. E ser perigoso não é legal.

- Tenho certeza de que foi ótimo! – ela disse como se não tivesse me ouvido – Eu queria ter matado uns vampiros maus! – ela parou e suspirou profundamente, parecendo frustrada – eu queria pelo menos conhecer um vampiro de verdade.

- Satisfeita? – a pergunta foi para mim.

- Não. Eu só... Eu só... Quis ajudar uma amiga... Eu...

- Você faz ideia dos problemas que conseguiu embarcando nessa história absurda? – meu pai me disse, levantando os olhos por cima das lentes dos óculos.

                Eu engoli o frango como se fosse uma bola de fogo – será que ele entenderia se eu dissesse que tudo havia começado porque eu queria sair da Rússia e ficar mais perto da minha família? Não! Ele mesmo havia me mandado para a Rússia.

- Sinto muito – eu disse, tentando parecer sincera.

- Sente muito? – ele disse colocando os óculos na mesa – você sente muito?

Pronto!  - eu devia ter fugido quando tive chance.

- Pai, eu... – ele me interrompeu.

- Como pode jogar o nome da nossa família na lama? Como pode esquecer-se de tudo que eu lhe ensinei? Você é uma decepção Sidney! Uma decepção para a organização. Uma decepção para... – ele não completou a frase porque minha mãe o interrompeu.

- Já basta Philip! – ela disse enfática, mas doce ao mesmo tempo – é hora do jantar. Nossa família tem tão poucos momentos de paz desde... – agora era ela que não sabia o que dizer.

- As coisas não serão como antes Marian. Nunca mais.

                Nisso ele tinha razão. Nada mais seria como antes, nada mais seria como quando Danniel estava conosco.

                Terminamos o jantar em silêncio. Eu lavei a louça, enquanto minha mãe ajeitava a cozinha e Izabel tagarelava secando os copos.

                Passei pela sala e peguei meu casaco.

- Onde Vai? – Meu pai perguntou.

- Vou dar uma volta. Faz tanto tempo. Eu queria... Queria dar uma olhada por aí. Além disso – eu disse com a mão na maçaneta – preciso pensar um pouco.

- É uma boa ideia. Pense Sidney. Pense no que anda fazendo de sua vida. Pense em como tem manchado a memoria de Danniel – então ele atirou a ultima pedra – Danniel jamais agiria assim.

- Sinto muito – foi tudo que eu disse, fechando a porta antes da comporta ser aberta em meus olhos.

                Enfiei a toca, ajeitei o cabelo por dentro e meti as mãos nos bolsos – não sei se era pelo frio, ou se eu só queria me esconder mesmo, mas o quanto menos eu pudesse deixar á mostra, melhor.

                Caminhei pelas ruas quase desertas do meu antigo bairro – meus pais moraram por ali minha vida toda – eu ainda podia ver onde costumávamos brincar de pique-esconde. Onde Danny caiu com a bicicleta. Onde eu arranhei os joelhos depois de cair dos patins. Era tão estranho estar sem ele. Era tão estranho estar em qualquer lugar sem ele. Eu fiquei ali, sentada como uma idiota, deixando as lágrimas cair.

                Não sei quanto tempo passou – eu não estava muito atenta ao tempo atualmente – mas já era bem tarde quando eu senti o arrepio do toque em meu ombro.

- Sidney Sage – disse uma voz conhecida, mas estranhamente fantasmagórica.

                Eu podia sentir o arrepio se espalhar por todo o meu corpo, gelando tudo até os ossos.

- Tenho uma missão para você.


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