Hanging By a Moment escrita por Fernaanda


Capítulo 12
Say When


Notas iniciais do capítulo

EU SEI EU SEI, já posso sentir o ódio de vocês por não ter postado antes. O problema foi que eu não sabia como escrever esse capitulo, tanto que ele foi escrito de pouquinho em pouquinho. Sem falar no monte de trabalhos e provas que eu tive. Então me desculpem, juro que o próximo capitulo vai ser postado no final desse feriado. Domingo de noite (máximo segunda de noite) vou postar.



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  Na semana seguinte ao incidente envolvendo o Glee Club e Azimio, as coisas pareciam estar um pouco mais normais. Quinn ainda chamava a atenção de todos, que esperavam uma nova briga a qualquer momento, mas Kurt estava tendo um pouco de sossego. Parecia que os garotos do time de futebol tinham ficado intimidados pelo que havia acontecido a Azimio. Mas o próprio jogador não tinha ficado tão intimidado assim. Ele estava revoltado, com raiva e querendo vingança.

  Quinn estava andando pelos corredores do colégio, indo em direção ao seu armário quando um corpo apareceu na sua frente, quase colidindo com ela. Seu corpo ficou rígido ao notar a jaqueta dos Titans.

- Vejam só, Quinn Fabgay.

- Em que eu posso ajudar, Azimio? – ela perguntou calmamente, tentando não chamar ainda mais atenção para os dois – Outra suspensão, talvez?

- Seu senso de humor me inspira, Quinnie. Nós poderíamos formar uma boa dupla.

- Seu senso de humor é incrível, mas se você me der licença eu tenho mais o que fazer – ela tentou desviar dele, mas o garoto foi mais rápido, imitando os seus movimentos e ficando na frente dela outra vez.

- Você não vai querer mexer comigo, querida. Eu posso fazer da sua vida um inferno e eu vou me divertir enquanto faço isso – ele tocou de leve no rosto dela antes de sair da sua frente, indo para outro lugar.

  A loira respirou fundo antes de andar até o seu próprio armário e se deparar com algo bizarro. O armário cinza parecia ter acabado de ser redecorado com a palavra “lesbica” pichada em vermelho. Também tinha um bilhete pendurado ali, provavelmente com ofensas e anônimo. Era obvio quem tinha deixado aquele presente para ela, e era obvio que o inferno já estava chegando.

- Quinn? – ela virou a cabeça para ver Mike andando até onde ela estava. Tina estava um pouco mais atrás, olhando com pena para a garota.

- O que?

- Quem fez isso?

- Eu tenho cara de oráculo por acaso? – ela perguntou apenas com veneno em sua voz. Quinn e Mike sempre brincavam e brigavam, mas era sempre muito irônico, e só pelas vozes e pelas expressões dava para perceber que os dois não estavam falando sério. Agora era exatamente o contrario.

- Olha, eu sinto muito pelo que aconteceu, mas... – ele ia falando quando foi interrompido pela loira.

- Eu não quero saber se você sente muito ou não. Realmente não me importa nesse momento. Se você quer saber de uma coisa, eu acho que você devia voltar para o lado da sua namorada e voltar a ser o idiota que faz tudo que ela quer. Por falar nisso, eu acho que ela ta querendo o cachorrinho de volta – com isso ela virou-se e voltou a andar, desistindo de guardar seus livros no armário.

- Q! – o asiático gritou sem entender o que tinha acabado de acontecer e porque a sua melhor amiga estava tratando ele daquele jeito.

- Me deixa em paz, Chang – ela gritou de volta, apressando os passos e entrando em um corredor sem saber para onde estava indo.

- Quinn? – Sam perguntou saindo do banheiro masculino e encontrando a amiga vagando por ali – Sua primeira aula não é de filosofia? No corredor do lado de lá? – ele perguntou apontando para o corredor oposto, que já se enchia de estudante.

- Eu não vou assistir à aula.

- Quinn, eu entendo que você...

- Você não entende, Sam. Que droga, será que dá pra todo mundo parar de me olhar ou como se eu fosse a coisa mais nojenta do mundo ou como se eu fosse um cachorro sem dono?

- Nós estamos preocupados com você.

- Eu não pedi pra vocês se preocuparem comigo, caramba! – ela gritou empurrando o garoto que havia tentado segurar no braço dela – É melhor você ir para a sua maldita aula.

- Quinn... – o loiro tentou falar mais alguma coisa, mas a garota entrou no banheiro feminino antes que mais alguma palavra pudesse ser dita. Mas o que ela não esperava era encontrar Rachel Berry ali.

- Ótimo – a menina murmurou evitando olhar nos olhos da outra.

- Olá Quinn – a morena falou nervosa, terminando de ajeitar o cabelo – Como... Como você está?

- Excelente, Berry.

  Rachel não pôde deixar de perceber que Quinn havia chamado ela pelo sobrenome. Ela sentia como se a loira estivesse com raiva dela, mas a diva não sabia o que ela tinha feito, ou se ela tinha feito alguma coisa.

- Você quer fazer alguma coisa depois do colégio? Eu descobri esse lugar novo, perto daqui, que tem comida vegan e eu estava pensando se você gostaria de...

- Eu não preciso da sua caridade – a loira cortou logo, apoiando seus cotovelos na pia e encarando o seu reflexo. A imagem de uma garota cansada, triste e com raiva.

- Caridade? Quinn, do que você está falando? Eu apenas pensei que talvez você fosse gostar de fugir um pouco do colégio e ter uma tarde divertida. Eu te prometo que você não vai...

- Eu não estou interessada. Talvez você possa convidar o Finn. Oops, eu esqueci que ele te traiu. De novo – e com isso a garota saiu do banheiro, deixando uma Rachel magoada e sem entender o que tinha acabado de acontecer ali. Mais uma para a lista.

***

  Rachel ainda não entendia o que estava acontecendo naquela semana. Já era sexta-feira e Quinn tinha obtido sucesso em ignorá-la e evitá-la. De algum jeito, a loira aparecia no colégio, mas não ia para nenhuma das aulas. Mais surpreendente foi quando ela descobriu que não era a única recebendo aquele tratamento. Tanto Sam quanto Mike não tinham tido noticias dele, e suas mensagens e ligações tinham sido ignoradas. Sem falar que a garota tinha faltado todos os encontros do glee club e ninguém sabia como ela tinha feito para voltar para casa.

  Era tudo muito estranho, porque depois daquele incidente todo com Azimio na semana passada, Quinn parecia ter superado e não parecia ligar muito. Tudo tinha mudado na segunda feira de manhã. A morena sabia que o jogador de futebol tinha deixado bilhetes ofensivos e dado indiretas para a loira, mas ela não sabia porque a outra garota estava se deixando levar por aquilo.

  A diva parou ao ver Mike encostado no armário de Quinn, como se estivesse esperando a garota surgir de algum lugar. Ele e Sam tinham limpado o armário dela. Claro que não estava igual a antes, mas não estava mais pichado. Pelo menos não por enquanto. Ninguém sabia o que se passava na cabeça de Azimio. O sinal tocou e o asiático olhou mais uma vez para os dois corredores, antes de ir em direção a sala da próxima aula dele com a cabeça baixa. Alguém precisava descobrir o que estava acontecendo.

  Rachel Berry não tinha o próximo horário, era vago e ela já sabia pra onde iria. O único lugar onde ela sentia que pertencia. O único lugar em que ela podia ser quem ela quisesse. O único lugar onde ela importava. Mas ao puxar as portas do auditório, ela ficou surpresa ao notar que alguém tinha tido aquela idéia antes. Uma pessoa estava no palco, sentada de costas e dedilhando o piano. Rachel não reconheceu a música, mas reconheceu a dona daquelas costas. Quinn Fabray.

  A morena foi andando para a frente, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho com medo de que pudesse assustar a outra. Rachel não sabia que Quinn sabia tocar piano. Ela sabia que a garota tocava violão, guitarra e um pouco de bateria, mas não piano. A voz da loira logo invadiu o local.

I see you there, don't know where you come from
Unaware of a stare from someone
Don't appear to care that I saw you and
I want you

  Rachel colocou sua bolsa em cima de uma das cadeiras da primeira fila e sentou-se na cadeira ao lado. Quinn estava de costas para a platéia, então não tinha como ela notar a presença da outra garota, a não ser que ela fizesse algum barulho que pudesse chamar a sua atenção. Mesmo assim, a loira parecia estar muito concentrada na música, e pela sua voz dava para notar o tanto de emoção que ela estava colocando.

What's your name 'cause I have to know it

You let me in and begin to show it
We're terrified 'cause we're heading straight for it, might get it

  A diva nunca havia admitido, e era difícil para ela admitir, mas a voz de Quinn mexia com ela. Era diferente de quando Finn cantava, ou Puck, ou Mercedes, ou qualquer outra pessoa do clube. Claro que existiam alguns problemas com a voz dela, ainda mais nas notas agudas, mas aquilo não era o que mais importava. A voz da loira é doce, e a morena não podia evitar o sorriso que se formava no seu rosto. Era como se ela pudesse esquecer tudo enquanto ouvia a voz da outra. Como se só existissem as duas no momento e nada mais importasse.

You been the song playing on the background
All along but you're turning up now

And everyone is rising to meet you, to greet you

  A música foi ficando mais rápida e a garota começou a cantar mais alta, enquanto os seus movimentos também ficavam mais fortes. Rachel se espantou com todo o sentimento que transbordava daquela música, quase como se Quinn estivesse cantando para alguém, uma pessoa certa e não alguém qualquer. A morena sentia como se a música fosse para ela, mesmo sendo claro de que não era. Quinn fazia ela se sentir assim, como se tudo que ela cantasse estivesse sendo cantado diretamente para ela. Era idiota pensar isso, era quase como pensar que o seu cantor favorito está cantando aquela música diretamente para você, quando ele também está cantando aquela música diretamente para milhares de outras pessoas como você mesma. Mas não importava, a diva gostava de imaginar aquilo, por mais ridículo que parecesse.

Turn around and you're walking toward me
I'm breaking down and you're breathing slowly
You say the word and I will be your girl, your girl

  Rachel não podia deixar de olhar para a garota. Ela tinha até esquecido que deveria ficar com raiva por alguém tomar o seu lugar no auditório, mas a voz da loira a faziaela esquecer qualquer coisa. A morena tinha de se lembrar de procurar essa música em casa para ouvir. Ou talvez Quinn quisesse gravar uma versão para ela. Talvez a primeira opção.

Say when and my own two hands
Will comfort you tonight, tonight


Say when and my own two arms

Will carry you tonight, tonight

  Quinn chegou ao refrão da música, e ela estava sentindo como se estivesse sendo observada. Ela sentia um par de olhos nas suas costas, mas não era nada desconfortável. A garota estava tão envolvida no seu próprio mundo que não se importou com aquilo e não quis olhar para trás para descobrir quem estava ali. Ou se alguém estava ali. Mas se ela tivesse olhado, a garota teria parado de tocar e cantar imediatamente.  

Say when and my own two hands
Will comfort you tonight, tonight

  A garota terminou de tocar e seus dedos continuaram tocando as teclas do piano. Quase que salvado a sensação. Ela virou a cabeça para trás e se surpreendeu ao encontrar Rachel Berry olhando para ela com nada mais, nada menos, do que adoração nos seus olhos. A loira se levantou rapidamente e pegou a mochila que estava jogada no chão, antes de descer correndo as escadas do palco e começar a andar com pressa em direção a única saída do lugar.

  Tudo aconteceu tão rápido que Rachel não teve nem tempo de piscar ou de falar alguma coisa. Num segundo Quinn estava tocando, no outro ela estava saindo às pressas do lugar. Saindo dali. Indo embora. Foi então que a morena se tocou do que estava acontecendo e se levantou também, pegando a mochila e correndo em direção a porta que havia acabado de bater.

  Assim que saiu do auditório, Rachel olhou para os dois lados, com medo de que tivesse perdido a garota de vista. Ela precisa saber o que estava acontecendo e não ia desistir naquele momento. Os corredores estavam completamente vazios, os alunos estavam ou nas aulas, ou na biblioteca ou na cafeteria. Foi fácil avistar um corpo andando em direção ao estacionamento, se distanciando cada vez mais a cada segundo que passava.

- Quinn, espera – a morena gritou correndo atrás da outra garota que parecia que não iria parar tão cedo. A diva segurou no braço da outra, fazendo com que ela se virasse para encará-la.

- O que foi, Berry? – a garota respondeu friamente, evitando encarar os olhos da outra.

- Pare com isso!

- Pare com o quê? – a loira perguntou novamente, mostrando que ela não queira estar ali naquele momento.

- Pare de agir desse jeito, pare de fingir que você não liga pra nada, pare de falar assim comigo – Rachel falou desesperada, tentando entender porque a garota que ela julgava ser sua melhor amiga estava fazendo aquilo. Porque ela estava se tornando uma pessoa que ela não era.

- Eu não faço idéia do que você está falando. Eu tenho que ir para casa – Quinn tentou largar seu braço, mas a outra garota era mais forte do que ela pensava. A loira sabia que as marcas de dedos acabariam ficando gravadas na sua pele.

- Eu posso te levar para casa. Vem – ela nem esperou resposta, arrastando a outra para o seu carro e deixando-a sentar no banco do carona do seu carro, antes de fechar a porta.

  As duas ficaram caladas durante metade do percurso. Quinn olhava para frente, sem expressão nenhuma e sem mostrar interesse em escolher a música, como ela tinha feito tantas outras vezes. Rachel dirigia em silencio, o que era novo para ela, e olhava pelo canto do olho, de segundo em segundo para a adolescente sentada no banco do carona. A morena tomou um susto ao ouvir a voz da loira.

- Vire à esquerda.

- O quê?

- Vire à esquerda, Berry.

  A diva não questionou a outra novamente, apenas lhe lançou um olhar curioso antes de virar à esquerda e entrar numa rua conhecida por ela. A garota costumava ir naquele parque com seus pais quando ela era mais nova. Ela achou estranho a menina querer ir pra lá, mas ela não podia negar que queria ficar mais um tempo na companhia dela. Rachel estacionou o carro e olhou para o lado, perguntando silenciosamente o que as duas iriam fazer. Quinn deu uma olhada rápida para a motorista antes de abrir a porta e sair do carro, fechando em seguida e começando a andar em direção ao parque. Rachel logo tirou o cinto e pegou sua bolsa, antes de seguir a outra garota.

  Era um parque grande. Tinha um parquinho onde as crianças viviam brincando, uma pista de cooper e uma de ciclismo, além de uma pequena pista de skate. Tinha um lago no meio, além de um pequeno palco onde de vez em quando aconteciam algumas apresentações. A área era cercada por muitas arvores, o que deixava muitos pais preocupados com seus filhos, com medo que eles entrassem no meio de algumas arvores e fossem parar no meio do mato. Sim, porque tinham várias entradas escondidas que acabavam dando em lugares cheios de mato, por conta de uma floresta que ficava logo ali na frente.

  Quinn andava em uma velocidade normal para ela, mas Rachel teve que dar uma corridinha e andar bem rápido para poder acompanhar a garota. Elas passaram pelo parque que trazia tantas recordações para a morena e logo em seguida atravessaram a pista de skate. As duas estavam andando em direção a uma das tais “entradas” para a floresta, e a diva começou a se perguntar se a outra garota sabia mesmo para onde as duas estavam indo.

- Quinn?

- Hm?

- Nós estamos indo em direção a floresta.

- Uhum.

  Rachel pensou para parar a garota e gritar com ela dizendo que elas deveriam voltar para o carro e que ela não queria morrer, mas ela tinha 16 anos, afinal. Claro que ela não acreditava mais naquela lenda de que todo mundo que entrou na floresta sumiu. Talvez ela acreditasse, mas estar ao lado de Quinn dava um pouco mais de confiança para ela. Então quando a loira passou pelo meio de duas arvores, e continuou andando, a morena apenas respirou fundo e seguiu ela. A visão que ela teve ao terminar de passar por ali foi surpreendente.

  Era esperado um lugar cheio de mato, algumas trilhas, milhares de folhas e galhos no chão, além de uma possível cobra ou animais nojentos. Mas não era nada daquilo. Elas estavam em uma clareira, que tinha uma ótima vista para o pôr-do-sol, além de que era bastante limpa e tinha um pequeno lago ali, além de arvores ao redor. Era lindo demais, e Rachel ficou espantada com aquilo.

  Quinn estava sentada em uma parte mais alta, encostada em uma arvore que se destacava das outras por ficar um pouco mais perto do centro do lugar. Ela olhava distraída para frente, mas seus olhos não pareciam estar focados no que estava acontecendo ali. A diva nem percebeu que suas pernas andavam em direção a aquela arvore, ela só notou quando já havia chegado ao seu destino. A morena sentou-se do lado da outra, e seus ombros se encostaram, fazendo a loira voltar ao presente. A morena ainda olhava em volta.

- O que é isso? - Rachel murmurou para si mesma, admirando a beleza daquele lugar, provavelmente se perguntando por que nunca havia ido ali. Claro que a outra nunca perderia a oportunidade de retrucar.
- Isso é um supermercado. Agora porque você não vai pegar um carrinho e me comprar alguns estoques de paciência, hein? – ela disse rolando os olhos, mas sem se virar para encarar a outra garota.

  Depois daquilo as duas ficaram caladas por algum tempo. Rachel não fazia idéia do que ela podia falar para quebrar aquele gelo, e a loira parecia querer falar alguma coisa, mas ela não fazia idéia de como falar aquilo. Quinn fechou os olhos, e decidiu que aquele era o melhor momento para botar tudo para fora.

- Me desculpe.

- Hm? – a diva se virou para ela, surpresa não só pela garota ter iniciado uma conversa, mas também pelo pedido de desculpas.

- Eu queria me desculpar por ter sido uma vadia com você nessa semana, com todo mundo na verdade – ela deu de ombros pensando em todos que ela havia tratado mal sem terem feito nada de ruim para ela – Mas eu tinha algumas coisas na minha cabeça e eu acabei deixando a minha raiva e frustração tomarem conta de mim, o que não acontecia há um bom tempo.

- Eu sei que você está sofrendo, Quinn. Eu só não sei o motivo e muito menos o que eu posso fazer para te ajudar. Você precisa me deixar te ajudar – a morena falou com um certo desespero na voz, ela precisava fazer a outra entender que ela estava ali para ela.

- Você não entenderia, Rach. Você não me conhece...

- Você não me deixa te conhecer – a morena falou tocando no ombro da outra, fazendo com que a menina virasse o rosto para encarar sua amiga – Por favor, Quinn. Converse comigo.

  Quinn não sabia o que fazer naquele momento. A opção obvia era contar tudo que havia acontecido com a loira e o que ela estava pensando, mas havia aquela parte dela que queria sofrer sozinha, guardar tudo aquilo apenas para ela, aquela parte masoquista que gostava daquele sofrimento. Mas decisão tomada foi baseada na expressão da diva. No pedido silencioso de “por favor” e na promessa de que ela escutaria tudo sem julgá-la. Só Deus sabia que era daquilo que era precisava.

- Tudo bem, eu vou te contar o que esta acontecendo – a loira falou, e em seguida notou que a garota sentada do seu lado está tremendo, provavelmente por conta do vento gelado que passava por ali – Você está com frio?

- Um pouco – a diva deu um sorriso forçado, fingindo que ela não estava congelando naquele momento.

- Espera ai – a loira desencostou da arvore e tirou o casado que protegia o seu corpo. Em seguida ela entregou para a outra – Pode vestir, eu não estou com frio.

- Obrigada – Rachel sorriu vestindo o casaco e o cheiro de Quinn invadiu o seu nariz. Não era nem um pouco parecido com o cheiro exagerado de colônia de Finn, era um cheiro diferente. Misturava baunilha com o cheiro do shampoo de Quinn. Ela podia se acostumar com aquele aroma delicioso.

- Bom, por onde eu posso começar a minha história – a loira falou alto, mais para si mesma do que para a menina do seu lado – Ok, vamos começar na minha antiga escola. Você sabe que eu já morei em vários lugares diferentes, certo? – a mais alta continuou quando a outra garota balançou a cabeça – Mas eu nasci em Boston. Eu morei lá até os meus 14 anos, quando eu, minha mãe e Chris fizemos a nossa primeira mudança. Eu acho que de lá nós fomos para San Diego, Los Angeles e a lista só faz aumentar. Isso não vem ao caso. Nós três costumávamos morar lá, junto com Russel Fabray, meu pai.

  Rachel arqueou a sobrancelha, mas não falou nada depois de ouvir aquela informação. A garota tinha ouvido Quinn falar sobre toda sua família; Judy Fabray, Christina Fabray, seus primos, avós, mas nunca sobre seu pai. E a morena jurava que aquilo era um assunto proibido. Ela voltou a se concentrar na voz da loira.

- Minha família era uma das mais ricas e famosas do nosso bairro. Eu e Christina íamos para uma escola particular, e todos os professores, assim como os pais dos nossos amigos, conheciam a minha família. Eu não era uma boa pessoa, Rachel. Eu nunca fui uma boa pessoa – ela falou claramente perdida em suas próprias lembranças – Eu era a garota mais popular da minha série, e eu gostava de mostrar para os outros que ninguém podia tomar o meu lugar. Nós não tínhamos slushies, mas eu aposto que naquela época eu teria adorado essa idéia. Eu era uma farsa, a garota boazinha para os meus pais, a aluna esforçada para os meus professores, o exemplo para os meus amigos, e um monstro para aquele que não “mereciam” a minha amizade ou o meu tempo. Eu odiava a pessoa que eu havia me tornado, mas as aparências importavam demais para a minha família.

  Quinn não gostava de falar sobre o seu passado. Em parte porque ela tinha vergonha de tudo que havia acontecido e de tudo que ela havia feito, mas também porque agora ela era uma pessoa tão diferente, e não parecia ser importante falar sobre o que ela tinha feito.

- Meu pai era um grande amigo do pastor, e nós sempre íamos para as missas e freqüentávamos a igreja. Christina era a presidente do clube do celibato e capitã das lideres de torcida. Minha mãe era amiga da mulher do pastor, e vivia ajudando nos projetos da igreja. E eu, bom, eu pegava no pé dos alunos que eu considerava perdedores, eu insultava eles, armava ciladas e perseguia-os. Por puro divertimento. Eu também fazia parte das lideres de torcida do ensino fundamental, e era a capitã. Eu era um membro ativo de um grupo cristão do colégio e pagava de certinha, quando na verdade eu estava tendo dificuldades com alguns problemas. Eu tinha quase 14 anos e achava que era gay.

  A morena encostou sua cabeça no ombro da outra menina. Ela podia ouvir o sofrimento na voz dela. Tudo aquilo tinha acontecido há alguns anos atrás, mas parecia que era tudo muito recente, parecia que aquelas lembranças a atormentavam e tudo que a diva queria fazer era abraçar a outra. Mas ela optou por segurar na mão da garota e apertar, mostrando que ela ainda estava ali para ouvi-la.

- Eu já tinha notado que eu... Eu me sentia atraída por pessoas do mesmo sexo que eu. Os garotos da minha escola não me atraiam, e eu até tinha ficado com alguns deles, mas eu não tinha sentido nada. Borboletas, fogos de artifício... Nada. Mas tinha essa garota. Ela era da minha série e eu tinha uma queda por ela. Num dia, a oportunidade surgiu, e eu acabei ficando com ela. Foi totalmente diferente do que tinha acontecido com os outros garotos. Eu estava atraída por ela, eu tinha gostado e não podia deixar de repetir aquela cena na minha cabeça.

- Vocês começaram a namorar?

- Hm? Não, claro que não. Eu estava no topo da pirâmide, ela estava na base. Eu podia encarar ela o quanto eu quisesse durante as aulas, mas era só isso. Eu acho que ela entendia também. Eu mantinha um diário onde eu escrevia tudo que eu estava sentindo no momento. Não era como se eu pudesse falar com a minha irmã, meus pais, o pastor ou qualquer um dos meus amigos. Eu estava sozinha, e só podia contar com aquele diário para contar tudo que estava acontecendo. O problema foi que o meu pai acabou lendo algo que ele não devia. Ele leu sobre a Lea.

- Lea? – Rachel perguntou confusa, pensando se tinha perdido alguma parte da história.

- Sim, a garota com quem eu fiquei – Rachel balançou a cabeça entendendo agora a quem a outra se referia (e sentindo um pouco de ciúmes) – Eu cheguei em casa e meu pai estava sentado no sofá, com a minha mãe de um lado e a minha irmã do outro. No começo eu não entendi o que estava acontecendo, mas em seguida eu vi o meu diário na mesa, e então eu soube que estava por vir. Ele me disse o quanto eu envergonhava ele, que eu não era merecedora do meu sobrenome, que o que eu tinha feito era imperdoável e que eu era um erro – ela disse com um sorriso amargurado no rosto – Eu me ajoelhei aos pés dele, pedindo perdão, chorando, mas ele disse que eu não era mais filha dele e que olhar para mim enojava-o. Eu olhei para a minha mãe e para a minha irmã. As duas tinham os olhos marejados, e ao contrario do meu pai, elas pareciam dispostas a me perdoar. Mas meu pai não. Meu pai nunca me perdoaria.

- Shh... – Rachel disse apertando ainda mais a mão da garota e beijando o seu rosto. A loira tinha algumas lágrimas caindo pelo rosto e a morena levou uma mão as suas bochechas, limpando-as – Você não precisa continuar se não quiser – ela falou preocupada com o estado da menina.

- Eu não sei como, mas meus colegas acabaram descobrindo, e foi a minha vez de sofrer no colégio. Eles pichavam o meu armário, deixavam bilhetes, eles me perseguiam com os meus próprios jogos. Eu tinha caído do topo para a base, e não tinha mais volta. Foram os piores dias da minha vida, mas o número um ainda iria chegar – ela suspirou e começou a desenhar círculos na mão da morena – Meu pai ouviu alguns comentários no trabalho e chegou em casa com muita raiva. Nós tivemos uma discussão tarde da noite, ele acabou me dando um tapa na cara e eu fui dormir enquanto ele saia de casa dirigindo. Eu me lembro de ter passado a noite inteira chorando, desejando que eu não tivesse pai, que Russel Fabray estivesse morto. Não consegui dormir nem por um segundo e logo de manhã, antes mesmo do meu despertador tocar, Christina entrou correndo no meu quarto com uma expressão de choque e me disse que papai tinha sofrido um acidente enquanto voltava para casa. Ele tinha bebido muito em um bar e acabou perdendo o controle do carro.

  Quinn lutava para não deixar mais lágrimas caírem. Ela se lembrava daquele dia perfeitamente, cada minuto, cada segundo, cada acontecimento. Cada palavra da sua mãe, da sua irmã e dos médicos. As palavras do seu pai.

- Nós chegamos ao hospital e fomos avisadas que ele estava internado em estado grave. Ele tinha quebrado alguns ossos e tinha uma hemorragia que eles estavam tentando controlar, mas que só seria possível com uma cirurgia. Nós sentamos na sala de espera por horas, esperando por alguma noticia, mas ninguém parava para falar com a gente. Depois de algum tempo um homem jovem chamado Robert se apresentou como sendo o doutor que era responsável pelo meu pai. O médico disse que ele estava consciente, ele falava algumas palavras soltas, mas isso não queria dizer que ele estava bem, ou que ele ficaria. Nós pedimos para entrar na sala onde Russel estava, e o nosso pedido foi atendido. Eu, mamãe e Chris entramos no quarto e encontramos meu pai com seus olhos semi abertos. Ele murmurava alguma coisa enquanto os aparelhos faziam um barulho. Esse é o único momento em que eu não me lembro bem do que aconteceu. Eu só lembro-me de chegar perto dele e chamá-lo de pai. E das exatas palavras que ele me disse.

- Você... Você não... Você não é a minha filha.

- Os aparelhos fizeram um barulho ensurdecedor, os médicos entraram correndo no quarto, minha mãe abraçava a minha irmã e em pouco tempo meu pai foi declarado morto. Eu saí correndo dali, sem ouvir mais nenhuma palavra e me encostei-me a uma parede perto da cafeteria. Meus joelhos cederam, e eu sentei no chão, colocando minha cabeça entre as pernas e deixando minhas lágrimas caírem. Eu soluçava alto, eu não me importava com as aparências que eu tanto precisei manter anteriormente. Eu me sentia culpada. Culpada porque o meu segredo tinha matado o meu pai.

- Quinn, não! Não fala isso. A culpa não foi sua – a morena se virou completamente de frente para a loira e segurou seu rosto nas suas mãos, limpando as lágrimas com a ponta do dedo – Culpe o seu pai, culpe o mundo em que vivemos, culpe o estúpido bar por oferecer bebidas, mas não se culpe.

- Eu desejei a morte dele, Rach. Eu pedi para ele morrer, para eu ter sossego e logo em seguida ele estava morto. Ele morreu porque eu sou gay, ele morreu porque...

  A loira não agüentou mais e começou a soluçar, as lagrimas caindo livremente pelo seu rosto. Ela sentiu logo pequenos braços em volta da sua cintura e sua cabeça foi parar no pescoço de Rachel, deixando tudo aquilo sair, todo aquele sofrimento que ela havia guardado apenas para ela ser compartilhado. Era quase como se ela estivesse vivendo tudo aquilo de novo.

- Foi por isso que você ficou daquele jeito, né? Porque toda aquela situação com o Azimio te fez lembrar o seu pai, e de como as pessoas te trataram ao descobrir que você era gay.

- Hoje é o aniversário de morte dele.

  As mãos de Rachel começaram a desenhar figuras geométricas de formatos não relevantes nas costas de Quinn. Ela beijou sua cabeça e ficou em silencio, deixando a outra garota terminar de chorar. Já recuperada, a loira se separou da outra e deu um pequeno sorriso.

- Engraçado, em um dia você conseguiu me ajudar a superar dois dos meus três medos.

- Quais foram eles? – a morena perguntou interessada, segurando as duas mãos da loira.

- Eu não gosto de me sentir vulnerável na frente de outra pessoa. Eu gosto que as pessoas achem que eu sou sempre forte, que nada me atinge e que eu sou invencível. É por isso que eu não gosto de falar sobre o que eu realmente estou sentindo com as outras pessoas.

- Você não precisa ser durona o tempo todo.

- Eu sei – a loira balançou a cabeça – Eu também tenho medo de falar sobre o meu passado. Eu tenho medo de que as pessoas descubram que eu não sou quem eu digo que eu sou. Quem eu pareço ser.

- Outra besteira. Você cometeu erros, e daí? Todos nós cometemos, e isso não muda a pessoa incrível que você é – as duas ficaram em silencio por algum tempo – E qual é o terceiro medo?

- Palhaços – Rachel não agüentou, e começou a rir, fazendo a outra garota ficar vermelha – Para, eu sabia que não devia ter te contado.

- Desculpa... Me desculpa, mas isso é muito engraçado – ela riu mais um pouco e depois respirou fundo, voltando a ficar séria – Eu estou feliz que nós tenhamos tido essa conversa.

- Obrigada, Rach. De verdade – a loira falou se aproximando um pouco mais da outra garota e tocando o seu ombro que ainda estava coberto pelo casaco – Eu estou feliz que você tenha terminado com o Finn.

- Por quê? – a morena perguntou hipnotizada pelos olhos castanho-esverdeados na sua frente que mostravam tanta emoção.

- Você é boa demais para ele, e merece muito mais do que um namorado que não escuta metade das coisas que você tem a dizer – a loira falou com um sorriso fraco, olhando da boca para os olhos de Rachel. A morena olhou para baixo, com medo daquela forte ligação, mas curiosa por conta de todos aqueles sentimentos. Ela fez uma escolha.

- Me beije – Rachel murmurou, sem olhar para a outra garota enquanto brincava com as suas próprias mãos.

- O quê? – a loira perguntou chamando a atenção da outra, que se virou para encarar os seus olhos e falou com mais convicção.

- Me beije.


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Notas finais do capítulo

E o ódio de vocês por mim só faz aumentar né? Não se preocupem, sempre existe o próximo capitulo. Agora podem comentar e me xingar e falar o que acharam do capitulo.
Oh, e a música que a Quinn canta é Say When da banda The Fray.