Coração escrita por Chelsea_deAguia


Capítulo 1
Coração


Notas iniciais do capítulo

Bem, resolvi fazer essa mini fic depois de ver o episódio 308. Nao sabemos direito o que ocorreu com o Gin, se ele morreu ou nao (apenas sei que, se o Gin morreu e a Hinamori ficou viva, vou pessoalmente matar o Kubo), e, se ele infelizmente se foi, como Matsumoto poderia lidar com o luto.
Dedico essa fic aos fans do casal, mas em especial à Tia Celinha, que me deu apoio para escrever uma segunda fic. Muito obrigada mesmo. Boa leitura a todos.



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                Lentamente, a Tenente do Décimo esquadrão abre os olhos. Eles ardiam e a mínima luz a cegava. Ela não sabia o por que, mas não conseguia se mexer direito, seu corpo ainda estava dormente.

                - Ah, finalmente acordou, Matsumoto.

                Ao olhar para o lado, viu seu jovem capitão, de braço enfaixado e olhar triste. Não estavam na base, e sim no Quarto esquadrão. Ainda deitada, Rangiku fecha os olhos novamente. Seu maior desejo era nunca mais abri-los. Sente uma lágrima escorrer e penetrar nos longos cabelos sobre o travesseiro. Sabia que tinha que ser forte, sabia que tinha que superar, sabia que pessoas perdiam entes queridos todos os dias no mundo inteiro. E, sabia que, pelos olhos da Soul Society, não deveria estar chorando por um traidor.

Mas eles não sabiam a verdade. Não sabiam que tudo que ele havia feito, tinha sido por ela. Não sabiam que as últimas palavras dele foram o “Eu te amo” nunca antes dito em voz alta. Não sabiam o quanto o coração dela doía naquele momento. Não sabiam que, naquele momento, ela já estava morta.

*****************

Alguns meses se passaram desde a condenação de Aizen, e a Soul Society parecia que ia voltar a ser o que era. Os feridos na batalha já haviam se recuperado totalmente, os hollows voltaram a invadir o mundo humano normalmente e tudo estava em paz. Todos olhavam para frente e, mesmo com cicatrizes ainda recentes, sejam físicas ou espirituais, pareciam recuperados e mais fortes. Menos a Tenente do Décimo esquadrão.

A mulher que antes era extremamente feliz e com um humor contagiante havia morrido naquele dia. Ninguém da Soul Society reconhecia naquele fantasma a antiga Tenente. Matsumoto ainda era bela, ainda era jovem, ainda era desejável como antes. Mas toda a sua alegria havia se esvaído, e ela era apenas uma casca. Seu comportamento havia mudado completamente e deixado todos preocupados. Passou a ser a primeira a chegar no trabalho, trabalhar o dia inteiro preenchendo a papelada e sair apenas depois de seu Capitão. Não saia mais para beber com os amigos e se desligou da Associação das Mulheres Shinigamis. Nos dias de folga, ficava em casa o dia inteiro e pedia para não ser incomodada.

Os outros tenentes ficavam com pena da amiga, mas não sabiam o que dizer, não sabiam o que fazer. Até o dia em que uma pessoa, que não era tenente e muito menos próxima a ela, bateu na sua porta. Depois de muita insistência, Matsumoto a abriu. Qual não foi sua surpresa ao ver, parada, do lado de fora, a jovem Kuchiki?!

- Rangiku-san, eu poderia falar com você? – perguntou, séria. A tenente apenas abriu caminho e ela adentrou a casa. Estava limpa e iluminada, tudo na mais perfeita ordem. O pequeno chalé de madeira era aconchegante, pensava Rukia.

- Aceita um chá? – perguntou Matsumoto. – Ou prefere café?

- Aceito um chá, se não for incomodá-la.

- De maneira nenhuma, Kuchiki-san. Por favor, fique a vontade.

Ao se sentar no sofá, notou uma foto sobre uma mesa de canto da sala. Nela, Matsumoto estava sorrindo, abraçada ao ex- Capitão do Terceiro esquadrão, Ichimaru Gin. Vestiam roupas normais e, Rukia podia afirmar, estavam em gigais, já que foram capturados por uma câmera normal. Na fotografia, que parecia ter, pelo menos, vinte anos, Ichimaru sorria de uma maneira que Rukia jamais vira antes.

“Não é o sorriso que ele costumava dar a todos. É... diferente. Provavelmente apenas ela o conhecia assim.”

- Foi tirada há vinte e dois anos. – disse Matsumoto, vinda da cozinha, assustando Rukia. – Desculpe se te assustei. Você estava olhando a foto, não estava? – Rukia confirmou com um movimento de cabeça – Ela foi tirada há vinte e dois anos, numa missão minha no mundo humano. Foi a minha primeira como tenente. Foi no dia... no dia do meu aniversário. – completou, sem tirar os olhos da fotografia, de maneira triste. Entregou à Rukia a xícara com o líquido quente e se sentou numa poltrona, de frente para ela.

- Que dia é seu aniversário, Rangiku-san? – perguntou Rukia, inocente, bebendo seu chá.

- Vinte e nove de setembro*. – disse Matsumoto, como se ainda estivesse no mundo da lua – Foi nesse dia que passei a existir.

Rukia para de tomar o café de repente.

- Ahn, Rangiku-san? Vinte e nove de setembro é amanhã!

- Sim, é amanhã. – diz Matsumoto, como se fosse apenas o dia mais normal do mundo. Mas não era. Era a primeira vez na vida que seu aniversário era “anormal”. Era a primeira vez que ela tinha certeza que ele não estaria lá nunca mais para vê-la. Tentando quebrar o clima, resolve mudar de assunto. – Então, Kuchiki-san, o que veio fazer aqui?

- Bem, não sei como começar o assunto.

- Tente do começo – respondeu uma ácida Matsumoto. Não estava com paciência para enrolação, tudo que queria era voltar para a cama e dormir até o dia seguinte.

- Sei que não somos próximas, mas...– começou Rukia – gostaria de conversar um pouco com você.

Rukia pousou a xícara em cima da mesa de centro da sala e voltou a falar.

- O que vou lhe contar aqui, nunca contei a ninguém antes. – Viu que Matsumoto ia protestar, mas apenas a pediu calma com um gesto – Irá falar que não preciso contar. Bem, também pensava isso, até ver o estado em que tem andado, deixando todos preocupados.

- Eles não precisam se preocupar comigo. Já disse que estou bem. – disse Rangiku, tomando seu café. Há alguns meses a bebida tinha passado a ser sua melhor companheira, em substituição ao antigo sake.

- Mas sabemos que não está. Ninguém tem coragem de te dizer isso, mas não agüentamos mais vê-la assim, como um fantasma. E sei exatamente como você se sente.

Matsumoto riu com sarcasmo. Não sabia como uma menina de menos de cem anos de idade poderia saber como ela se sentia.

- Posso ser jovem e inexperiente, mas garanto que já passei por algumas experiências na minha vida. Queria apenas que me escutasse. Aceita isso?

Rangiku concordou. “Não tenho nada a perder mesmo.”, pensou.

- Há mais ou menos cinqüenta anos, pouco tempo depois que entrei no meu esquadrão, eu acabei me apaixonando pelo meu tenente, Kaien-dono. Claro, tudo foi apenas platônico, mas ele foi o primeiro amor da minha vida. Kaien-dono, um dia, me disse uma coisa: “Nunca morra sozinha, Kuchiki. Quando nós morremos, nosso corpo se torna partículas que compõem a Soul Society; quando chegar a hora, para onde irá nosso coração? Seu coração deve ser confiado aos seus amigos, pois, se passar seu coração para eles, eles o carregarão para sempre dentro deles mesmos.” Algum tempo depois, ele acabou morrendo nos meus braços; mas disse que estava bem, e que deixaria o coração dele comigo.

Rangiku a olhava sem reação, mas Rukia podia notar as lágrimas surgindo no canto de seus olhos, apesar do esforço da tenente em não deixá-las brotar. Mesmo emocionada, a jovem Kuchiki continuou:

- Aquele dia foi muito doloroso para mim. Tinha acabado de perder o homem que eu amava, e ele morreu nos meus braços. Depois disso, passei a pensar mais na vida, e nas pessoas que eu amava. Sei que não tenho o direito de tentar imaginar os seus pensamentos, mas as vezes imagino como seria a minha vida se eu perdesse algumas pessoas.

Matsumoto continuava muda, mas agora não fitava mais a menina, apenas a escutava.

- Cada pessoa é especial por um motivo, todas com igual importância, mas eu tive quatro em minha vida toda; uma delas já se foi e me doeu demais, por isso quero que nada de mal aconteça as outras três. Kaien-dono era o amor, o primeiro amor, o mais puro de todos. Outra pessoa é Byakuya-nii-sama, que é a minha única família, mesmo não sendo meu irmão de verdade; serei eternamente grata a ele, por ter me acolhido e me respeitar como membro da nobre Família Kuchiki; tenho também Renji que é a minha lembrança além de melhor amigo. Renji é a única pessoa que me conhece totalmente, sabendo quando estou nervosa, feliz ou triste. É também que me dá apoio quando preciso e quem não me deixa desistir; a última pessoa é Ichigo, que é a minha alma gêmea. Mais do que Renji, ele sabe exatamente como eu sou, e, se brigamos, é porque somos iguais. Esses três homens são a coisa mais importante que eu tenho e são o meu coração. Se algo acontecesse com qualquer um dos três, tenho certeza que choraria por bastante tempo.

- E se não pudesse chorar?

- Choraria da mesma maneira. Especialmente se eu perdesse todos essas quatro pessoas de uma única vez, em apenas uma, como você perdeu. – diz Rukia, simplesmente. Devagar, se levanta e fica de pé em frente à tenente, que continuava com a cabeça baixa. – Só você sabe o que perdeu, e só você tem uma coisa que ninguém mais tem e ninguém pode tirar: o coração dele. Bem, estou indo agora, Rangiku-san. Tchau.

E saiu da casa. Rangiku continuava sentada na poltrona. De repente sentiu algo quente sobre suas bochechas: lágrimas. E, pela primeira vez desde que ele havia morrido, chorou desesperadamente todas as lágrimas que haviam sido reprimidas por meses. Naquela mesma noite, mesmo se sentindo cansada, usando seu shumpo, foi até a antiga casa abandonada onde, anos antes, havia morado com Gin. Ao lado da casa, na grande árvore onde brincavam quando crianças, fez um pequeno monumento com pedras que achou na redondeza. Tirou do pescoço o enorme xale rosa e o amarrou em torno delas, sentando-se ao lado do pequeno amontoado. Olhando para o céu, sorriu pela primeira vez em meses e, baixinho, começou a falar:

- Se eu te contasse quem me fez sair de casa hoje, você não acreditaria: Kuchiki Rukia. Sei que sempre falei que a achava uma garota apenas, e você sempre disse que ela parecia um coelhinho assustado, mas ela se mostrou mais forte e adulta do que eu jamais esperei. Ela se mostrou mais adulta do que eu. Desde que você se foi, me pego pensando no que iria fazer no meu próximo aniversário; apenas hoje, depois de Kuchiki me abrir os olhos, é que eu sei o que dizer. Amanhã será o dia em que nos conhecemos. Foi aqui, há 115 anos, que a minha vida começou. E se amanhã eu faço aniversário, isso foi graças a você. Poderia passar horas aqui falando várias coisas, me lembrando de mil histórias, mas prefiro guardar isso na minha memória. E, já que amanhã é o meu aniversário, farei uma série de promessas pra você: prometo que serei mais forte, tanto física quanto psicologicamente; prometo chorar menos, e sorrir mais, já que tudo que você fez foi para extinguir as minhas lágrimas, e me deixar apenas com um sorriso; e prometo não deixar para amanhã o que eu poderia ter dito hoje, já que amanhã pode ser tarde demais pra isso.  Isso tudo eu farei a partir de amanhã. Hoje me reservo ao direito de poder chorar, de ser fraca e de poder acabar dizendo, tarde demais, o quanto eu te amei e te amo. O quanto eu tentei te odiar por você ter me abandonado, mas o quanto eu amava te ver voltando pra mim no final; eu queria que você soubesse que, se você estivesse ao meu lado, não importava o passado ou o que havia ocorrido comigo,pois eu não teria lembranças ruins. Eu só queria dizer que eu queria que você estivesse aqui, e que eu queria muito de abraçar agora.

E, se levantando e limpando a roupa suja de terra, foi embora para casa.

Na manhã seguinte, ao se levantar, se sentia mais leve. Tomou um banho e foi para o esquadrão.

- Bom dia, capitão. – disse, com um pequeno sorriso.

- Bom dia, Matsumoto – disse Hitsugaya, que, mesmo sem demonstrar muito, estava feliz de ver a tenente sorrir, mesmo que pouco. Esticou o braço com um embrulho na mão, dizendo – Feliz aniversário, Matsumoto. Espero que goste. É um presente meu, do Kira e do Hisagi.

- Obrigada, capitão. – disse Matsumoto, abrindo o embrulho. Um brinco pequeno, com pedrinhas roxas era o que havia dentro. Sorriu, pensando no tempo que seus amigos provavelmente teriam gasto pensando no que comprar para ela. – São bem bonitos.

- Fico feliz que tenha gostado. Bem, vamos ao trabalho então?

- Sim, Capitão, vamos.

Com certeza ela tinha que voltar a ser feliz. Afinal, agora ela tinha que ser feliz para poder deixar alegre o outro coração que batia em seu peito: o de Gin, que estaria ali para sempre.


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Notas finais do capítulo

* O aniversário real de Matsumoto é desconhecido. A data 29 de setembro foi sugerida por Gin, pois foi o dia em que se conheceram.


Bem, espero que tenham gostado. Realmente, quero acreditar que o Kubo nao matou o Gin, mas tá complicado. Mas, pensamento positivo pra isso, aqui em casa, nao falta. Beijos.