Tudo o que ela ouvia era o barulho do seu coração acelerado.

Ela tremia de frio. Estava tudo absolutamente escuro, mas ela conseguia distinguir onde estava. Era a floresta perto da reserva, mas ela não sabia onde terminava. Estava perdida e com frio, o medo eminente. Atrás de si, ouviu um farfalhar de folhas e se assustou. Detrás de uma árvore, viu a mãe a encarando, um sorriso diabólico desenhado no rosto. Deu um passo para trás e começou a correr. Sabia que não iria longe demais e tinha medo do que ela iria fazer caso a encontra-se. Passos depois acabou tropeçando em um pedaço de árvore e caiu com o braço no chão, urrando de dor.

Fechou os olhos, o medo a atacando novamente. O seu subconsciente gritava: “Ela vai te achar, levanta daí agora!”. Mas ela não poderia. E não iria muito longe. O braço parecia ter fraturado e algo quente saia da lateral de sua perna, pingando no chão úmido da floresta.

- Amy.. Onde está você? – uma voz começou a cantarolar e Amy se encolheu mais onde estava.

Por entre as árvores altas, ela apareceu. Novamente, vestida com o terrível sorriso diabólico, que faria qualquer criançinha fugir correndo de medo, no rosto. Se aproximou lentamente de Amy e de repente, estava com as duas mãos ao redor do pescoço da garota.

- Me.. Solta! – ela gritou, debatendo-se, já percebendo a falta de ar. – Me.. Solta, por favor!

- Amy.. Amy! – outra voz a chamou, balançando ela de leve. – Amy! Acorda!

Ela levantou, assustada.

O coração estava acelerado, quase saindo pela boca. Algo começou a cair de seu rosto, sujando suas mãos. Era sangue. Novamente seu coração acelerou, mas suspirou quando uma mão familiar segurou seus ombros. Era Seth. E ela sabia disso sem menos olhar.

- Você está bem? – ele perguntou, preocupado.

- Me desculpe – ela falou, suspirando. – Acho que meu corte abriu novamente.

- Fique aqui, vou pegar os curativos... – ele disse, saindo do quarto em seguida.

Volto logo depois, com os meus curativos, refazendo-o outra vez. Depois de guardar tudo, ele voltou para a cama, e puxou Amy para mais perto dele.

- Me.. – ela começou, quebrando o silêncio. – Desculpe por ter te acordado. Esqueci de avisar que tenho pesadelos.. Todas as noites.

- Não foi um incômodo – ele respondeu, enquanto mexia no cabelo dela. – Você começou a.. se debater e falou: “Me solte”.. Sobre o que era o sonho?

- Sobre minha mãe – ela respondeu. - E tinha uma floresta e ela estava me perseguindo. Acho que ainda estou assustada com o que aconteceu. – e completou. – Me sinto fraca por continuar com esses pesadelos e ainda me assustar tão facilmente.

- Amy, você não é fraca – ele retrucou, a sinceridade exposta em sua voz. - Você é a pessoa mais forte que já conheci. Poucas pessoas passam pelo o que você passou e ficam caladas, por tantos anos. Olha para mim – ele pediu e ela obedeceu. – Acredite, esses pesadelos são apenas conseqüências de tantos traumas que você já passou. Mas isso vai acabar, entendeu? Nunca mais você vai sofrer.

Amy sorriu com aquilo. Seth era um príncipe, um daqueles com que todas as garotas sonham. Mas Amy nunca esperou se apaixonar, muito menos por um garoto que a tratasse tão bem. E tudo o que ele era, fazia ela se lembrar de seu pai. Os dois eram inteligentes, tinham um coração enorme e ambos possuíam sorrisos que eram capaz de iluminar o mundo. E tudo o que ela mais sentia, era falta dele. Sentia falta de como ele contava as historias para ela antes de dormir, de quando ela caia e ele a carregava nos braços, ou quando ela chorava e ele lhe acalmava, dizendo que tudo ia ficar bem. Uma lagrima escapou de seus olhos e daí, desencadeou uma crise de choro.

- Amy? Você está bem? – ele perguntou, assustado, pela súbita mudança de humor dela. – Eu falei algo de errado?

Depois de alguns minutos e de tentar em vão controlar o choro, ela respondeu, ainda em meio a lágrimas.

- Não foi nada - ela respondeu, depois de se acalmar e segurar o choro. – É que você se parece tanto com meu pai de algumas formas.. E eu.. Sinto falta dele.

- Sinto muito – ele falou.

- Esquece ok? Às vezes eu sou assim mesmo – ela falou, rindo de si mesma. – Fico triste rápido, feliz mais rápido ainda.. Sou apenas assim. E se você quiser mesmo que eu aceite sua proposta, acho que vai ter que lidar com isso.

- Proposta? – Seth perguntou, procurando se lembrar sobre o que Amy falava. – Não, é isso? Você aceita?

- É, eu aceito – ela respondeu, sorrindo. – Acho que não tenho mais que pensar nisso, porque você realmente me provou o quanto me ama, e.. eu quero amar você, porque eu te conheci a tão pouco tempo e você se tornou tão especial para mim. Me salvou de tantas coisas e me tirou da minha vida cheia de dor e sofrimento. – ela parou e riu. – Essa ultima parte ficou ridícula – e ambos riram. – Obrigada por ser tão especial para mim.

- Não, obrigada você por ser você mesmo. Amy, você está me fazendo a pessoa mais feliz de todo mundo – ele sorriu e ambos se abraçaram.

Minutos depois, ambos voltaram a dormir. Amy, ainda assustada com o pesadelo, apenas ficou pensando sobre o que estava acontecendo. Estava feliz, de verdade. Seth era uma pessoa boa e seu pai ficaria orgulhoso dela. Ela suspirou novamente. Sentia falta dele, mas não iria deixar se abater. Tinha que seguir em frente e essa era à hora. Só precisava esquecer todo o mal que a mãe havia lhe feito e seguir em frente. Colocou os pensamentos de lado e encarou Seth enquanto dormia. Ele parecia um anjo, tão calmo e sereno. Tinha inveja dele, por dormir sem ter pesadelos. Por fim, deitou novamente no peito dele, mas não sem antes sussurrar um: “Eu Te Amo” e voltou a dormir.