We All Diserve To Die escrita por backstreetdentist


Capítulo 1
Agora.




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O silêncio dominava a pequena - agora já não tão pequena - loja de tortas de carne da Mrs. Lovett. O jovem Ed terminava de varrer a varanda enquanto a própria Mrs. Lovett passava um pano na bancada das tortas e o pensativo Mr. Todd observava a Fleet Street vazia.

Já passava de meia-noite. Sweeney passou o dia todo com a mente no juíz. Como matá-lo? Afinal, ele afirmou com todas as palavras que nunca mais voltaria na barbearia da Fleet Street.

Talvez ele devesse desistir. Por enquanto.

Mrs. Lovett suspirou. Seu braço estava cansado.

Mr. Todd observou-a limpar a bancada. Provavelmente, no passado, ela tivesse sido uma mulher jovem e bonita. O tempo deve ter a feito mal, em conjunto com o trabalho e a solidão.

A solidão. Talvez ela só precisasse de um pouco de atenção. Um pouco de sua atenção. Afinal, a última vez que Sweeney viu uma mulher gostar tanto dele foi sua esposa.

Ele pigarreou. Mrs. Lovett parou de súbito para observá-lo.

"Quer ajuda?" perguntou ele com a voz arrastada.

Ela hesitou. Colocou o pano sobre a bancada e olhou para Ed na varanda.

"Ed, querido" gritou "Pode ir dormir!"

Ele entrou na loja de tortas e abriu um enorme sorriso.

"Obrigado, Mrs. Lovett! Boa noite!" ele olhoy para o barbeiro "Boa noite, Mr. Todd."

"Boa noite, Ed." ele acentiu.

"Obrigada pela-"

O garoto entrou correndo na casa, deixando Mrs. Lovett falando sozinha.

"... ajuda."

Mr. Todd voltou a encará-la, agora com as sobrancelhas arqueadas e os olhos caídos. Ela o encarava com uma mistura de curiosidade e paixão.

"Por que quer me ajudar?" perguntou ela, apoiando a cabeça na mão sobre a bancada "Claramente não está pensando em como matar o juíz."

"Como sabe?" ele se levantou e franziu o cenho.

"Sempre que você desiste de pensar nesse assunto, você levanta as sobrancelhas e seu rosto é tomado por uma expressão inocente e doce. Quase te torna irreconhecível." vendo a expressão surpresa dele, ela sorriu.

Ele se recompôs.

"Talvez seja o tempo de convivência de você" ele sorriu, ou tentou, e se sentou em um dos bancos da bancada, penetrando os seus olhos nos de Mrs. Lovett.

Ela se levantou, tirando sua cabeça de cima de sua mão e olhou confusa para ele.

"É assim que você me olha. Sempre. Uma expressão inocente e doce. Você só não arqueia as sobrancelhas." comentou o barbeiro.

Mrs. Lovett desdenhou de uma risada misturada de vergonha e amor.

"Mr. T..." ela falou "Posso te fazer uma pergunta"

Ele franziu o cenho.

"Você me mataria?" ela continuou com o mesmo tom de voz.

"Todos nós merecemos morrer, Mrs. Lovett." ele piscou, confuso.

"Eu sei disso. Eu mereço morrer. Você merece morrer. Blá blá bla." ela revirou os olhos. "Mas eu quero saber se..." ela se aproximou dele. "Você me mataria."

Ele piscou mais algumas vezes e pigarreou.

Mrs. Lovett abriu uma gaveta de sua bancada e puxou uma faca.

"Então tá." ela largou a faca na bancada. "Agora. Vamos. Me mata."

Sweeney Todd encarou-a por alguns momentos, aguardando algum sinal de blefe. Vendo que nada iria acontecer, ele olhor para a faca e passou os dedos pelo seu cabo, ponderando mil e uma coisas na sua cabeça.

"Eu não posso." ele arqueou novamente as sobrancelhas "Não posso matar você. Talvez se você fosse um cliente meu, eu te matasse. Mas você me acolheu, me deu um emprego e um espaço, mesmo eu sendo um estranho. E sem você aqui, não tem quem termine o trabalho que eu começo. Somos uma equipe. Na verdade, melhor que isso: Nós nos completamos." ele arriscou um sorriso.

Mrs. Lovett voltou a guardar a faca e encarou Mr. Todd. Eles trocaram olhares doces por alguns instantes.

"Boa noite, Mr. T." ela segurou o rosto dele e beijou sua testa.

Ele manteve a mão dela no seu rosto e penetrou seus cansados olhos nos escuros e doces olhos dela.

Ela o beijou.

E ele retribuiu.

Mas ela não podia levar aquilo a diante. Em geral. A única razão de Todd ainda não ter se matado - nem nada parecido - era o juíz. Lovett estava feliz amando Todd sem ser retribuída. Não precisava de mais nada.

"Mr. T, eu agradeço muito, mas isso só pode acontecer à beira do mar." ela abaixou a mão para a bancada e sua voz assumiu um tom compreensível.

Todd entendeu o recado. Aquilo nunca daria certo. Ele queria matar o juíz e ela só queria conseguir pagar as contas.

"Boa noite, Mr. Todd." ela sorriu e adentrou na casa.

Só restava para ele voltar a admirar a deserta Fleet Street.


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