(Quinta-Feira.) Bella estava bem mais que feliz. Fazia tempos que não acordava com o humor tão bom, talvez conviver com aquele idiota não fosse tão ruim. Como não teria que trabalhar poderia acordar na hora que quisesse, saiu da cama depois das 10 horas, ainda de pijama, foi para o banheiro e fez sua higiene pessoal, prendeu os cabelos bagunçados em um coque alto e estava pronta pra tomar café.

Mas antes, tinha algo o que fazer. Alguns cuidados... Femininos.

Saiu do quarto mordendo o lábio inferior e desceu, passando para sala e depois para o cozinha, parou encarando o grande armário que ficava junto a parede. Soltou o ar com força em uma lufada só e andou até ele, abriu uma das várias portas, a do canto, e tudo que via era uma maleta branca grande de primeiros-socorros, onde guardava todo e quaisquer tipo de medicamento. Com cuidado, pegou e andou até a mesa, onde pousou a caixa, abrindo-a. Era realmente grande e tinha remédio para tudo, mas procurava um específico. Ainda se lembrava das palavras da Sue: — Tudo bem Bella, sei que você não precisa agora, mas e se um dia precisar? Eu cuido de você como uma filha e é assim que eu cuido da Leah, então fique com isso. Melhor pecar pelo excesso, que pela falta! — sorriu e entregou a Bella a caixa com os remédios. Com o dedo indicador foi vendo passando por todas as fileiras de remédios, até avistar a caixinha que procurava, seu anticoncepcional. Fazia algum tempo que não tomava e se Sue não cuidasse dos remédios da casa, trocando-os sempre que passava do prazo de validade ou acabasse, não teria nenhum remédio na casa. Precaução. Não pretendia fazer nada, pelo menos não ainda, mas acidentes acontecem, não? 

Já sabia o esquema sobre como tomar e controlar, pegou a cartela da caixa e deixou em cima da mesa, fechou a caixa, voltou a guardar dentro do armário. Pegou um comprido da cartela e guardou-a no bolso do pijama. Não sabia pra que exatamente pijamas tinham bolsos, mas estavam sendo úteis nesse momento. Encheu um copo d’água na pia, jogou o comprimido na boca e bebeu a água, engolindo-o. 

— Bella...? Você está bem? — escutou a voz, preocupada, de Charlie. Virou-se no mesmo momento e lá estava ele, fardado terminando de colocar a jaqueta.

 — Sim, por que? — perguntou erguendo a sobrancelha ao beber a água toda. 

— Você está tomando remédio. Está se sentindo mal, filha? Precisa que eu lhe leve ao médico? Aonde está doendo, fala pro papai. — disse realmente preocupado se aproximando, Bella quase riu. 

— Pai, deixa de ser dramático, eu estou ótima! 

— Isabella, o que eu lhe disse sobre esconder doença? Você não estaria bebendo remédio a toa, pode dizer pro pai, filha! — pegou o seu queixo com uma das mãos, enquanto abrindo seu olho para conferir a coloração. Atitude típica de pais. 

— Para, eu estou bem! — tirou suas mãos de seu rosto, sorriu. — Eu estou ótima, isso é apenas um comprido, hum... De mulher.

— Bella... — pegou suas mãos e lhe olhou nos olhos. — Você não está usando drogas, né? 

— Pai! 

— Seja sincera com o pai, querida, porque se tiver, saiba que não vou te recriminar. Nunca! Não é o que eu queria para a sua vida, mas saiba que sempre é possível superar nossos problemas, eu vou te apoiar e sairemos dessa juntos...

— Charlie... 

— Você não está sozinha, Bella! Tem seus amigos, eu, Sue, estaremos todos do seu lado. Podemos te levar em uma clínica de reabilitação, pode ser difícil, mas não vou te abandonar...

— Pai, cala a boca ok? — pediu interrompendo-o, ele estava surtando e sabia que estava falando sério. Charlie se calou na hora. — É bom saber que se eu fosse uma viciada, teria seu apoio...

— Sempre, incondicionalmente! — Charlie disse sorrindo, como se estivesse prestes a receber o prêmio pai do ano.

— Mas, eu não estou usando drogas, eu te garanto!

— Você tem certeza Bella? Não é vergonha nenhuma ser uma viciada, podemos dar um jeito, e...

— Pai, eu estava tomando um anticoncepcional, ok? — corou. — E isso não é algo que eu precisasse discutir com você, estou bem constrangida, então mudemos de assunto.

— Anticoncepcional, Bella? Por quê? Você está grávida? Mas Bella... Tem certeza que não é viciada em drogas? Eu acho que seria mais fácil superar um vício do que cuidar de um bebê. — falou refletindo, Bella ficou pasma, era sério? — Depois de tudo que eu... Tá, eu nunca consegui falar com você sobre sexo, mas depois do que a Sue e sua mãe te disseram sobre a importância da prevenção, camisinha, pílula, você está grávida?! — tinha pânico no seu rosto e sua respiração estava acelerada quase suando, então Bella percebeu que ele acreditava mesmo nas coisas que estava dizendo. Ah, e chegou a conclusão que ele estava louco.

— Pai, eu não...

— Eu sei que você não queria amor, eu sei. — ele relaxou a expressão e puxou Bella pela cabeça para seus braços, lhe dando um forte abraço, enterrando seu rosto em seu peito, diminuindo significativamente as chances de Bella respirar e continuar viva após aquilo. — Não se preocupe, papai está do seu lado ok? Só me diga quem é o pai que eu faço ele assumir a criança ou casar com você, se assim preferi. Mas eu vou estar do seu lado apesar de qualquer coisa ok?

— Você enlouqueceu, foi? Tem certeza que sou eu que uso drogas aqui? — Bella perguntou ainda sendo apertada, se mexendo tentando respirar. — Eu não uso drogas e não estou grávida!

— Como é que é? Não? — Charlie perguntou afrouxando os braços e olhando para a filha, que respirou fundo.

— Claro que não! — disse firme o empurrando tentando sair de seu abraço, mas estava realmente firme, apesar de mais frouxo. — Você sabe que anticoncepcional se toma antes, exatamente para evitar a gravidez, né? Eu não estou grávida, pai!

— Ufa, que bom então! — soltou e a empurrou, respirando fundo e aliviado com a mão sobre o peito. — Você quer matar seu pai do coração? Não quero você usando drogas e muito menos uma criança no meu pé me chamando de vovô, não tenho idade pra isso. Continue tomando esse seu anticoncepcional, e deixe o papai orgulhoso. Toma uns dois pra não dar erro. Ou três, só pra ter certeza!

— Se você tivesse ido as aulas de saúde da escola saberia do que eu estou falando. E estou realmente assustada por você não saber, mas pode deixar que disso eu me entendo ok? — Bella disse rindo, indo preparar seu café. — E o que o senhor está fazendo em casa?

— Não me culpe por me preocupar com a minha única filha, sua ingrata! Eu já fui até a delegacia, mas voltei para pegar uns papéis e já estou voltando.

— Ah!

Bella pegou sua caixa de cereais no armário e uma tigela, serviu-se com leite e sentou na mesa para comer, vendo Charlie bebendo apenas um café preto.

— Ah, por falar nisso tudo, se você está tomando remédio para prevenir gravidez, então quer dizer que você pretende... 

— Não! — o interrompeu com um ataque de tosse, por ter se engasgado com o cereal com leite. Charlie logo estava batendo em suas costas enquanto ela mantinha os braços erguidos. — Não... Continua... Essa... Pergunta...

— Mas Bella, você sabe que pode falar sobre o que quiser com o papai, não sabe, querida? — perguntou sério, Bella lhe olhou cética. — Ok, você não pode, não estou pronto para saber sobre a vida sexual da minha menina, mas você pode falar com a Sue ok?

— Eu sei pai e sei que você se esforça, mas não precisa ok? Eu te amo. 

— Também te amo Bells, por isso me preocupo. Desculpa ser esse pai, você merecia algo melhor, com certeza. — riu coçado a cabeça e colocou a xícara vazia sobre a mesa, se abaixou e beijou os cabelos de Bella.

— Eu adoro te ter como meu pai, é o melhor! — deixou o tigela cheia na mesa e ficou em pé, abraçando o pai. Logo se soltou e lhe encarou, sorrindo. 

— Por que você está me olhando como se estivesse planejando algo muito ruim como destruir a humanidade? — Charlie ergueu a sobrancelha. 

— Você me julga muito mal, papai. Mas eu preciso de um favor seu, pode ser? E que você venha jantar em casa. — sorriu faceira.

-

Bella passou o dia arrumando a casa e preparando o jantar. Charlie não almoçaria em casa e ela podia passar o dia apenas com alguns sanduíches e suco, mas o jantar tinha que caprichar. Nunca pensou que impressionar um idiota desse tanto trabalho. Quase meia hora lendo um enorme livro de receitas que seu pai comprara para aprender a cozinhar (mas não conseguiu!) até decidir o que cozinharia que tinha todos os ingredientes na cozinha, por sorte Charlie e Sue tinham feito compras a pouco tempo. Preparou um rosbife, arroz branco e batata gratinada, e para sobremesa um pudim de leite. 

Já eram sete horas quando ela terminou todos afazeres domésticos e o jantar, subiu para o quarto pronta para tomar seu banho e se arrumar. Tirou toda a roupa, jogando-a no cesto, e quando ia entrar no banheiro escutou seu telefone tocar em cima da cama, vestiu o roupão e foi atender, no visor: Edward. 

— Oi nativa! — ele disse animado, Bella riu. 

— Oi forasteiro!

— E ai, nosso jantar ainda está de pé?

 — Claro que está, idiota, e acho muito bom você vim, já que cozinhei exatamente para isso. Vai provar minha ótima comida! — disse convencida, fazendo-o rir. 

— Estou com medo, mas ok, como eu vou pra ai?

 — Já disse que vou te mandar uma carona, fica tranqüilo. — ela riu sugestivamente.

— Oito e meia, sua carona chega ok? Então fique pronto. Agora vou desligar pra me arrumar, te vejo mais tarde idiota, tchau. Beijo! 
E desligou sem esperar a resposta, ficou encarando o celular alguns segundos, sorrindo feito boba. Deixou-o no cama e foi para o banheiro, tomar banho e se arrumar. 

-

-

Edward terminava de se arrumar, se olhando no espelho. O dia fora chato e lento, era nesses momentos que percebia a grande diferença que Bella fazia. Era estranho depender tanto de alguém para ter um dia legal, mas seguiu. Passou o dia escrevendo, tirou alguns cochilos, comeu em casa mesmo e conversou bastante com Nessie e Alice, que não saiam do seu pé. Nessie na noite passada havia o bombardeado de perguntas, das quais escapou com respostas hesitantes e com duplos sentidos, e Alice desconfiava de algo. Depois que desligou o telefone com Bella, já no fim da tarde, foi tomar seu banho, saiu com a toalha enrolada na cintura e molhado, mexendo nos cabelos, deparando as duas sentadas em sua cama conversando.

— Oh. — se assustou quase deixando a toalha cair. Alice cobriu os olhos deixando os dedos entreabertos para não perder nada e Nessie riu. Ele arrumou a toalha na cintura e não deixou que vissem nada demais. — O que vocês estão fazendo aqui?

— Estraga prazeres. — Nessie revirou os olhos, fazendo-o rir.

— Nossa, que recepção calorosa, Edward, fico lisonjeada com tanto amor. — Alice disse irônica. — Pra aonde você vai? 

— Que? — se fez de desentendido, coçou a cabeça e trocou olhares com Nessie, mas Alice logo captou, percebendo o sorriso sugestivo da amiga.

— Ok, chega! — Alice ficou me pé irritada. — Vocês dois estão o dia todo me escondendo algo ou acham que eu sou idiota? Sorrisinhos pra cá, comentários e risadinhas pra lá. Estou cheia! Você, Vanessa, eu pensei que fôssemos melhores amigas, e você Edward, pensei que seria meu amigo.

— Alice... — Edward tentando dizer algo.

— Não, estou indo embora para que vocês possam ter privacidade e fazerem, seja lá o que quiserem fazer. — fez bico e se dirigiu a porta.

— Edward e Bella estão ficando! — Nessie disse rápido e cobriu a boca, percebendo que talvez tivesse feito besteira.

— O QUE?!

— Nessie! — Edward a repreendeu.

— Desculpa Edward, ela é minha melhor amiga e é isso que melhores amigas fazem, compartilham segredos alheios para poder comentar. Você não sabe o quanto é impossível não contar algo pra Alice.

— Você e Bella? Oh my fucking god! Sério? E você pretendia me esconder isso? Eu não posso acreditar, quanta crueldade. — Alice disse irritada lhe apontando o dedo.

— Desculpe Alice, foi a Bella que pediu e ela provavelmente vai me matar ao saber que eu deixei vocês duas saberem, era um segredo total. 

— Eu não vou contar pra ela, pode deixar. Mas? AAAAAAAAA! — soltou um gritinho histérico e começou a dar pulinhos, Edward ficou assustado com a mudança brusca de humor enquanto Nessie ria acostumada. — Estão namorando? Vamos, quero detalhes!

E a cena se repetiu. Contou a Alice o mesmo que tinha contado a Nessie; que os dois estavam apenas se conhecendo e ficando, sem compromissos ou cobranças, apenas se divertindo juntos. Assim como Nessie, Alice ficou radiante com cada coisa que Edward contava e soltava gritinhos histéricos com cada detalhe, olhava para Nessie com os olhos arregalados e boca aberta sem dizer nada, Nessie concordava e falava “Eu sei” e gritavam juntas, então ele parou de tentar entender ao perceber que era coisas de meninas.

— Então agora você vai jantar na casa dela? — Alice perguntou quando ele terminar tudo e comentou sobre o jantar.

— Sim, eu disse que queria conhecer a casa dela e ela me convidou.

— Safadinho hein Edward? Aproveita que ela tem uma cama de casal! — Nessie comentou maliciosa, levando uma cotovelada da amiga. — Au, está louca?

— Não, mas você está falando como um adolescente tarado cheio de hormônios. É nojento!

— Não, é sexo! É bom!

— Cala a boca, loira! Edward, não siga os conselhos da Nessie, sério!

— Não vou seguir, vai ser apenas um jantar de amigos. — sorriu.

— Ótimo, seja um cavalheiro!

— Já que ninguém me escuta, vou descer e chorar tomando sorvete enquanto coço meu bumbum, com licença! — Nessie disse fazendo bico, levantou-se da cama erguendo o rosto e o peito, saiu do quarto batendo os pés.

— Ela...

— Ela não ficou com raiva, só foi comer. Normal da Vanessa! — Alice revirou os olhos rindo. — Está bem, agora vou deixar você se trocar. Nada muito formal ou muito informal, vá charmoso!

— Eu vou, pode deixar! — sorriu e acenou enquanto ela saia do quarto, fechando a porta. 

Nada muito formal ou muito informal, charmoso. Edward tirava as roupas da mala procurando algo assim, colocou uma cueca e secou o corpo, jogando a toalha molhada na cama logo em seguida, coisa de homem. Vestiu uma calça jeans preta, uma camisa azul marinha de botões por fora do jeans com os últimos e os primeiros botões abertos, deixou seu suéter de botões preto em cima da cama, colocaria apenas quando fosse. Se perfumou e foi para frente do espelho, apenas mexeu nos cabelos com os dedos, bagunçando-os. Barba feita, dentes limpos, cabelos arrumados, perfume pronto, roupa ok. Só precisava arrumar os últimos detalhes e estaria pronto, não saber quem lhe levaria para casa da Bella lhe deixava bem curioso, mas resolveu não pensar nisso. 

Alice e Nessie comiam com Jasper pipoca, feita por ele, assistindo um filme. Os três no mesmo sofá, lado a lado. Conversando enquanto Alice, no meio de ambos, insistia em contar o que aconteceria no filme, irritando o namorado e a amiga. A campanhinha tocou e Nessie ficou em pé num pulo. 

— Vou atender antes que eu te faça engolir essas pipocas todas na força. E com a bacia! — Nessie ameaçou, Jasper riu enquanto Alice lhe mostrou a língua. Abriu a porta e se surpreendeu ao vê-lo. — Tio Charlie! 

— Oi Nessie, como vai? — perguntou sorridente, abrindo os braços para receber o abraço da sobrinha. 

— Bem, e o senhor? — soltou-se dele e apontou para dentro da casa. — Pode entrar!

— Chefe Swan! — Jasper o cumprimentou do sofá, quando o viu entrando. 

— Oi tio Charlie! — Alice acenou sorridente.

— Já disse que é Charlie, Jasper. E oi pra vocês!

— O que o senhor está fazendo aqui, tio? — Nessie perguntar depois de fechar a porta ainda surpresa e curiosa.— Acabei de sair da delegacia, vim fazer um favor pra sua prima. — revirou os olhos. — O Edward está?

— Sério? Você é a carona do Edward? — Alice perguntou e gargalhou quando Charlie assentiu. 

— Essa eu quero ver. — Nessie rindo e foi até o pé da escada gritar: — EDWARD, SUA CARONA CHEGOU, VEM LOGO! 

Edward deu uma última olhada no espelho, vestiu o suéter fechando os botões do meio, pegou o que levaria – carteira, celular e as chaves –, então estava realmente pronto. Saiu do quarto e foi para a escada. Descia tranquilamente e ficou curioso ao ver o policia, que não conhecia, na sala conversando com Nessie; Jasper e Alice lhe encarava com um olhares divertidos como se controlasse o riso.

— Quem é a carona? — Edward perguntou erguendo a sobrancelha. 

— Ele. — Nessie apontou sorrindo.— Bella chamou um policial pra me levar? Sério? — ele quase riu.

— Prazer, sou Charlie. Charlie Swan, pai da Bella! — esticou o braço, oferecendo a mão para apertar a de Edward.

Seu coração parou. Ele tinha certeza que seu coração tinha parado por alguns segundos e seus olhos se arregalaram ao escutar, os três que assistiam a cena (Nessie, Alice e Jasper) gargalharam, até Charlie riu. Edward apertou a mão dele hesitante. Então esse é o Chefe Swan, além de pai da Bella, policial? Respira Edward, respira! 

— Então vamos? Bella já deve estar nos esperando para o jantar! — Charlie disse divertido. 

http://www.youtube.com/watch?v=IUXGgyGQa54

Billy Ray Cyrus – I want my mullet back.

Os dois foram juntos para a viatura de Charlie após se despedir de todos, entraram em silêncio e partiram. Charlie logo ligou o rádio do carro e o Country antigo ecoou pelo carro. Eles foram em silêncio a viagem toda, o único barulho era as músicas antigas, Charlie cantava a música e sem tirar as mãos do volante, batia os dedos nele no ritmo.  Faltava pouco para chegar a casa dos Swan, Edward percebeu. E ele mesmo gostando de músicas mais atuais, conhecia a que começou a tocar, como não conhecer? O grande sucesso de Billy Ray Cyrus, I want my mullet back. Edward estava rígido em seu banco, com medo de respirar ou fazer qualquer besteira. Estava tão nervoso, que para se distrair, começou a cantarolar a música que tocava. 

— Oh, então você conhece Billy Ray? — Charlie perguntou sério e abaixou um pouco o volume. 

— É, sim senhor! — Edward respondeu olhando pra frente. 

— Bom, então você tem bom gosto musical. E então... Edwin... 

— Edward, senhor. — corrigiu. 

— O que? 

— Meu nome é Edward, senhor.

— Claro, como eu ia dizendo, Edwin... Você usa drogas? 

— Oh, não...

— Tem filhos?

— Não...

— É alcoólatra? 

— Não, senhor.

— Tem passagem na policia?

— Eu...

— Não minta para mim Edwin, eu posso baixar toda a sua ficha policial em um piscar de olhos e saberei toda sua vida. Sabe Edwin, eu realmente amo a minha filha e não quero ela com algum assassino ou estuprador, então é bom você ser sincero. — Charlie disse sério, encarando Edward, que engoliu seco. — Eu ando armado rapazinho e tenho permissão para atirar, então seja sincero comigo! 

O carro parou e Edward ficou com ainda mais medo, se estivesse com vontade de fazer xixi, com certeza teria feito nas calças. Charlie desligou o carro e desceu, abriu a porta traseira e pegou uma saco pardo de mercado no banco de trás. Edward viu que tinham chegado, desceu também, lentamente andou atrás de Charlie. Pai de Bella, abriu a porta e entrou, o chamando para entrar também.

— Bella? Chegamos! — Charlie chamou e Bella logo apareceu no alto da escada. — Pega aqui o vinho e vem cuidar do seu amigo, ele está branco e acho que vai desmaiar a qualquer momento. Ou se mijar inteiro! — riu, bateu no ombro de Edward. — Eu vou tomar um banho e trocar de roupa, já volto para jantarmos.

Bella desceu as escadas rindo do rosto assustado de Edward, pegou o vinho da mão do pai e deixou que ele subisse as escadas rindo. Edward estava confuso, mas não podia deixar de reparar o quanto Bella estava linda – usava uma blusa azul larga, onde uma das mangas ficava mais caída, deixando a mostra a alça preta do seu sutiã; um short branco com vários botões e cintura alta, uma meia calça mais grossa preta e um all star preto. Estava simples e linda, com os cabelos soltos caídos sobre o ombro onde a blusa era normal, maquiagem apenas para ressaltar os olhos e um sorriso. 

— Charlie exagerou? 

— Ele... Hum... — não sabia como dizer, sem parecer ofensivo. Então Bella gargalhou.

— Ele é demais fazendo papel de pai durão, né? Eu sabia que você ficaria com medo. — sorriu faceira, riu. — Surpresa! 

— O que...

— Charlie não é tudo aquilo não, idiota. Ele é super legal e eu pedi pra ele parecer durão pra te assustar um pouco, acho que ele conseguiu! 

— Você não presta, sabia?

— Sim! Já me disseram isso antes! — rindo, foi pra cozinha sendo seguida por Edward, que olhava para a casa. 

A casa era simples e bonita. Na sala um sofá grande e uma poltrona, a mesinha de centro e uma estante com a grande televisão, uma escada que dava para o segundo andar e a porta que dava pra cozinha. Era uma cozinha grande e estilo americana, com ilha no meio e no canto uma mesa redonda. Bella tirou o vinho do saco pardo e colocou no suporte para vinhos que estava em cima da mesa, já organizada com três lugares. 

— Então vamos jantar nós três? — Edward sorrindo, encostado no balcão no meio da cozinha. 

— Sim! — ela sorriu animada e andou até ele. — Não me arriscaria a ficar sozinha com você, forasteiro maníaco sexual. 

— Droga, tinha planos terríveis para você. — ele riu e a puxou para perto, esticou a cabeça para beijá-la. 

— Ei, se controle forasteiro. 

— Não consigo. Depois do que você me faz passar com seu pai, me beijar é o mínimo que você pode fazer, nativa. — e a beijou. 

Bella não se opôs e logo se entregou ao beijo. Mesmo depois de todos os beijos, ela ainda se deslumbrava ao beijá-lo, a sensação de estar nos braços dele só parecia melhorar a cada beijo. Era ótimo. Eles se separaram bruscamente quando escutaram um barulho de Charlie descendo as escadas. 

A mesa já estava posta e eles puderam jantar. Bella serviu Edward colocando um pouco do rosbife, arroz branco e da batata gratinada, depois se serviu. Enquanto isso Charlie abria o vinho e colocou na taça dos três. 

— Bella... Você esqueceu meu prato. — Charlie comentou quando viu que a filha ia começar a comer, Bella riu. 

— Charlie, ele é visita, você não. Sem preguiça e sirva-se! 

— Não sou visita, mas eu te dei a vida, Isabella! Como você é ingrata!

 — E como você é dramático, Charlie! Não liga Edward, ele é assim naturalmente, nem sei como a Sue agüenta. — disse sorrindo para o forasteiro, que estava meio desconcertado. 

— Filho, não precisa fazer cerimônia não, pode comer. Sinta-se em casa! — Charlie disse sorrindo, terminando de se servir. — E ai, Bella já te disse que foi tudo armação dela né? Está tudo bem entre a gente e eu sou um paizão liberal.

— Paizão liberal, Charlie? — Bella riu alto.

— Contanto que não envolva netos e drogas, eu sou liberal. E não discuta!

 — Ela já me disse sim, senhor. Sua filha é bem cruel, não? — ambos riram. 

— Com certeza, muito cruel. E ela era pior quando criança, sabia que ela matava pintinhos, quando era pequena? Ela dava banho neles e matava vários afogados, os que sobrava ela tentava secar pendurando no varal. Era um massacre granjeiro no meu quintal! — Charlie disse rindo e começou a comer, Edward quase se engasgou rindo.

— Eu era uma criança! E a culpa era de vocês, quem compra pintinhos de animais de estimação? Então pronto.

 — Aham. Deixe Edward, tenho muitos podres da Bella pra te contar.  

Edward e Charlie riram enquanto Bella revirava os olhos, assim continuaram jantando e conversando.

-

O jantar transcorreu normalmente e Bella estranhou a simpatia de Charlie com Edward. Eles conversavam como se fossem amigos de anos, de esportes até a vida da Bella, era engraçado e meio irritante. Depois de jantaram, ficaram mais um pouco na mesa bebendo vinho e conversando, Charlie fez várias perguntas sobre a vida de Edward e o clima era ameno. Depois os dois foram para sala – Charlie sentou em sua poltrona, deixando o sofá para Bella e Edward – e ela lhes serviu a sobremesa, pudim de leite. 

— Está muito bom, Bella! — Edward elogiou. 

— E eu nem coloquei chumbinho, está vendo o quanto eu sou uma pessoa boa? 

— Claro, claro! — riu irônico. 

Bella foi para a cozinha levar os pratinhos da sobremesa, já que estavam todos satisfeitos, e deixou Edward com o pai. Charlie levantou-se e pegou no armário um grande álbum de fotografia, sentou ao lado de Edward e abriu o álbum.

— Nada melhor do que mostrar fotos da Bella criança para desconhecidos, ela odeia esse álbum. É uma ótima maneira de você se vingar! — Charlie disse sorrindo.

 — Então vamos ver a pequena Bella! 

A primeira foto era da Bella recém nascida, seguida por uma da Bella com talvez um ano nua em uma banheira, ela brincando com Charlie e com a mãe, brincando no chão. Ela maior, com uns seis anos, cabelos curtos e roupas mais masculinas, parecia um menininho. Ele não pode deixar de rir das caras e bocas que ela fazia para tirar as fotos. 

— O que você estão fazendo... Ah pai, esse álbum de novo não! — resmungou chorosa indo na direção dela, Charlie pegou e fechou o álbum rindo. 

— Você era tão linda, Bella, que coisa fofa! — Edward disse zombeteiro, mas sincero, fazendo-a corar.

— Você precisa mesmo mostrar isso para todos que vem aqui em casa? Sério? Eu vou esconder esse álbum, Charlie. Pode ter certeza! Você, Edward, pra cozinha comigo. E você, Charlie, vendo sua televisão. 

Edward ajudou Bella a tirar a mesa e colocar as coisas na pia e as sobras da comida em potes na geladeira. Ainda comentando sobre as fotos. Bella apenas revirava os olhos e o chamava de idiota. Bella lavou a louça rapidamente e deixou escorrendo, secou as mãos e voltou para a sala com Edward. Seu pai via um jogo de basquete que ela não entendia, mas o forasteiro parecia interessado e ainda torcia para o mesmo time, Bella parecia invisível naquele momento, apenas rindo das reações dos dois a cada cesta adversária. Seu pai e Edward definitivamente se dera muito bem. O jogo acabara com os dois tomando cervejas e comemorando a vitória do time, discutindo as jogadas. 

— Eu acho que já está tarde, está na hora de eu ir. — Edward disse coçando a cabeça e colocando a garrafa de cerveja em cima da mesa de centro e ficou em pé.

— Já Edward? É uma pena, eu realmente gostei de você! — Charlie ficou em pé, sendo imitado por Bella. — Foi um prazer lhe conhecer, espero que venha aqui mais vezes! Você é diferente do James.

—Pai... — Bella mordeu o lábio inferior. 

— Claro senhor, sempre que me convidarem. — fingiu não ter escutado.

— Charlie, Edward. Não me chame de senhor, é Charlie! 

— Tá, chega né? — Bella riu. — Vamos Edward, tchau pai! 

Edward apertou a mão dele, Bella pegou a chave da picape na mesinha de centro e saiu com ele da casa, fechando a porta atrás de si. 

— Obrigado pelo convite, Bella, foi uma noite incrível.— Edward disse sorrindo. 

— Eu... Calma! — virou-se e bateu na porta duas vezes. — Pai sai de trás da porta agora! E de trás da janela também! 

— Estraga prazeres! — Charlie resmungou, fazendo os dois rir. 

— Vai pro seu quarto ou pra cozinha, tchau! — disse e andou até o Edward. — Não foi nada, a noite foi mais agradável do que eu podia imaginar.

— Eu sempre te surpreendo, está vendo que ficar comigo não é tão ruim assim? 

Bella riu e foi andando lentamente até sua picape que estava estacionada em frente, Edward a seguiu se encostado na picape, Bella ficou em sua frente e ele lhe abraçou pela cintura, colando seus corpos.

— Não está sendo mesmo, idiota! — sorriu, Edward lhe deu um selinho. — E o meu pai te adorou.

— Seu pai é... Demais! Acho que é pai que todas as pessoas precisavam para serem felizes e terem um boa relação familiar. Eu ia adorar que o Carlisle tivesse sido como ele. — falou abaixando um pouco a cabeça.

— Meu pai é demais mesmo, não sei o que seria sem ele! — ergueu a mão acariciando o rosto de Edward. — Seu pai pode ter tido todos os defeitos do mundo, mas ele te amava muito, eu tenho certeza!

— É, talvez! 

— Charlie gostou de você, ele não foi assim como o meu outro... Com quem eu tive meu último relacionamento. — tentou se consertar. 

— O James? Bella... Quem é James?

— Um cara. — riu tentando disfarçar, mas Edward permaneceu sério. — James foi um cara com quem eu me envolvi, ele era um forasteiro, como você! Mas não deu muito certo, e eu... — ela encostou o rosto no peito do Edward. — Não quero falar sobre isso, desculpa!

— Tudo bem, Bells. — a tranqüilizou acariciando seus cabelos e com a outra mão sua cintura.

— Obrigada! — ergueu o rosto sorrindo. — Eu falo sobre o James com você amanhã! Você confiou em mim quando me contou sobre seus pais, eu também... Confio em você. 

— Obrigado. — sussurrou. Sorriu. E lhe beijou. Seus lábios eram suaves e calmos contra os dela, sua língua era calma e se acariciava contra a dela. Bella mordeu seu lábio inferior, puxou e soltou, afastando seus lábios sorrindo faceira.

— Hora do idiota ir embora!

— Claro, não é hora de nativas inocentes estarem fora da cama. — riu. — Eu só não sei como vou pra casa.

— Toma — pegou a chave da picape no bolso do short e entregou ao Edward, sorrindo. — Acho que você sabe dirigir né?

— Sei, mas e você?

— Eu posso me virar, agora vai. Amanhã nos encontramos.

— Promete? — Edward perguntou sorrindo. 

— Prometo! — sorriu faceira e lhe deu um selinho. 

Edward acariciou seu rosto e lhe beijou na testa, ternamente. Deu a volta na picape e entrou, manobrou-a e ligou para ir embora. Bella acenou vendo-o partir com seu carro, sorrindo entrou dentro de casa. 

Seu estômago se revirava ansiosamente. Milhares de borboletas dançavam alguma música bem agitada. Provavelmente as borboletas em seu estômago estavam bêbadas além de terem usado ecstasy e LSD. É. 

— Uau, que sorriso retardado é esse, Isabella Swan? — escutou a voz de Charlie vindo da cozinha, se assustou. 

— Não estou sorrindo, deixa de ser infantil. 

— Então era por causa dele que você estava tomando anticoncepcional, Bella?

— Oh meu deus, você adora me deixar constrangida né? — disse corada e andou rápido para as escadas, subiu correndo. — Boa noite, pai. Eu te amo! 

— Claro Bella, claro! Boa noite e sonhe com o Edward. — Charlie riu alto. — Também te amo!

Rindo, Bella entrou no seu quarto para se trocar, limpar o rosto e dormir. Com toda a certeza sonharia com o Edward. Seu forasteiro idiota!