Lá fora se armava uma tempestade, muita água parecia vir pela frente, mas até aquele momento, apenas ventania. A escola estava praticamente deserta, mas em uma das salas do ensino médio, ainda se encontrava um jovem albino, sozinho, com seus olhos verdes pregados na janela. Acompanhava os movimentos de uma pessoa em especial, o líder do clube de beisebol, que mobilizava rapidamente seu time para recolher as coisas e voltar para dentro do prédio. Ele sabia que precisavam treinar, mas também sabia que seria pior se alguém ficasse doente.

            Hayato Gokudera levantou-se pesadamente assim que a figura saiu de seu campo de vista, juntou rapidamente seus materiais espalhados em cima da classe e, de mãos nos bolsos, deixou o local. O dia não estava propriamente frio, mas o vento cortante estava suficientemente gelado para compensar este fato, fazendo o garoto encolher-se involuntariamente. A rua estava deserta e o sol começava a se pôr, embora não fosse possível constatar este fato, pois nuvens cinzas espessas o cobriam por completo. O guardião da tempestade estava acostumado à solidão, mas às vezes até ele gostaria de ter alguém ao seu lado.

            -Hayato! – Chamou alguém atrás dele, a pessoa que antes observava e que possuía uma voz capaz de ecoar por horas a fio na mente do guardião, a qual ele era incapaz de não reconhecer. O albino não parou para de andar, no entanto, nem olhou para trás.

            - Hei! Espere-me! – Yamamoto correu até o companheiro, pousando uma das mãos no ombro do outro, fazendo este estremecer. – Eh? Esta com frio? Quer meu casaco emprestado? – Perguntou, com seu típico sorriso bobo no rosto.

            - Merda...- Murmurou o jovem – Não, seu idiota do beisebol!- Bradou, finalmente levantando o rosto e fitando o japonês – Aliás, o que faz aqui?

            O rapaz, assustando com a exaltação do outro o largou, porém logo voltou a sorrir. – Eu estava treinando com o time de beisebol, mas com essa tempestade se armando achamos melhor cancelar. Eu é que pergunto, o que você fazia aqui até essa hora?

            - N-não interessa... – Respondeu repentinamente baixando o tom de voz e desviando o olhar, com face um pouco corada. Yamamoto não podia negar, achava aquilo muito fofo.

            - Será que estava esperando por mim? Não é a primeira vez, certo? Que você fica aqui até essa hora... – Gokudera parou, perplexo, voltando a fitar o rosto do mais alto, encontrando apenas aquele sorriso bobo, simples. – Não pense que venho fazendo isto por você, é apenas... Uma despedida.

             Desta vez foi Yamamoto quem se surpreendeu.

            - D-despedida? – indagou, incapaz de compreender o que o outro falava.

            - Sim – assentiu, recomeçando a andar – Porque vou voltar para a Itália por uns tempos.

            Os olhos de do japonês se arregalaram e o sorriso sumiu, correu até o Italiano, que o ultrapassara, segurando fortemente seu pulso a fim de pará-lo. Gokudera voltou-se para ele, relutante.

             – O que é agora? – Perguntou asperamente.

            - T-Tsuna já sabe sobre isso? – Não era o que realmente desejava perguntar, não era o que o outro gostaria de ouvir.

            - Sabe, mas não tem jeito. É coisa de família.

            - E quando vai voltar? –já não era possível ver os olhos do jovem de cabelos negros, que estavam cobertos pela sombra destes.

            - Não sei, a situação esta complicada. Pode ser rápido, como também pode demorar, mas menos de 3 meses não deve levar.

            - 3 Messes?! Mas isso é muito! – Relutou, levantando o tom de voz.

            - E o que você quer que eu faça? Não posso impedir meu pai de morrer, ta legal?!

            Yamamoto o largou, embasbacado. Então ele estava para perder  pai?

            - Porque não me falou sobre isso antes?

            - E que diferença faz? – Revoltou-se Gokudera – Quem você pensa que é para querer prioridade, idiota do beisebol! Deixe-me em paz!

            - Você diz isso, mas só  vinha até aqui nos dias em que eu tinha treino!

            - Grande merda!

            O albino fez menção de voltar a andar, porém mais uma vez foi impedido por Yamamoto. Este não falou nada, entretanto, e sim o puxou fortemente de encontro ao próprio corpo, passando uma das mãos para trás da cintura de Gokudera e por fim selando seus lábios em um beijo intenso.

            Lentamente, o jovem de olhos verdes foi serrando os olhos e deixou de relutar, entregando-se ao outro e dando espaço para que a língua deste invadisse sua boca. Ficaram assim até que perdessem completamente o fôlego e já não fossem mais capazes de continuar.

            - Idiota... – falou gokudera, ainda com falta de ar – Dês de quando...?

            - Dês de sempre... Mas mais especificamente no dia em que você me salvou depois aquele ataque da Shimon... Soube que você passou o tempo todo comigo, Hayato. – Concluiu, sorrindo, o japonês enquanto limpava delicadamente um fio de saliva que escorria da boca do outro.  Corado, o albino baixou o olhar. –  E-eu...

            - Eu vou com você.

            Neste meio tempo começou a chover torrencialmente, aplacando a ventania e trovões, controlando a tempestade e a acalmando aos poucos. Gokudera, embora estivesse de olhos arregalados e se recusasse a demonstrar um fio de felicidade, sorria por dentro, porque afinal, ele já não estava mais sozinho.