O caso da Onryo escrita por Franiquito


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

E este é o último aniversário do mês de fevereiro... Ufa, foi uma maratona mesmo, né?
O que eu falarei do Izumi? Me sinto tão sem palavras e sem saber o que fazer pensando nele... A única coisa que eu realmente gostaria de dizer para ele nesse momento é: FIGHTING!!! Por favor, siga em frente e cuide de nós, Líder, porque nós estaremos cuidando de você. Combinado?
Te amo muito, baixinho (mesmo que tu não vá dar nenhuma notícia tua no blog... baka!)!
Ah, é: essa fic vai abrir uma nova série aqui no Nyah, como vcs devem ter visto na capa. Eu espero não ofender nenhuma religião ou crença, estou tentando me informar e estudar bastante sobre as coisas que escreverei nessa série, okay?
E finalmente... *ri* Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/128422/chapter/1

Izumi caminhava lentamente pelas ruas em direção ao local de trabalho do dia. Ele trajava roupas simples e confortáveis que o mantinham aquecido naquela tarde fresca de inverno. Um conjunto de moletom, tênis esportivo e casaco eram mais do que suficiente para o curto trajeto entre o seu apartamento e a casa da família que o chamara.

O que Izumi realmente precisava para seu segundo trabalho encontrava-se dentro da mochila que o rapaz carregava nas costas. Quimono, incensos, amuletos, velas e um ramo de sakaki que ele torcia para não estar muito amassado. Havia dois livros também: um Sutra, com ensinamentos budistas, e um livro cristão com exorcismos em latim. Claro que o último era completamente inútil para Izumi – ele já tinha dificuldades com o japonês, que dirá com latim! Embora o rapaz viesse estudando nos últimos meses, o idioma continuava quase impronunciável para ele.

Mas aquilo o tranquilizava de alguma forma. Dava-lhe uma certa paz de espírito...

- Eeh... – Izumi murmurou para si mesmo, um pequeno sorriso no canto do lábio – Preciso melhorar minhas piadas...

Izumi estava ganhando fama na província de Hokkaido. Seus feitos passavam de boca em boca, primeiro na região onde nascera e crescera, espalhando-se para as redondezas e logo toda a província já tinha ouvido falar nele – o Guia dos Espíritos Atormentados.

Izumi ainda considerava suas piadas melhores que as da população.

O rapaz baixo de cabelos muito negros não fazia o que fazia em busca de reconhecimento, títulos ou o que quer que fosse. Ele não queria ser um “Ghostbuster” ou algo assim. Izumi apenas se interessava muito pelo assunto e passou a estudá-lo. Ele não era melhor do que ninguém por poder enxergar e ajudar os espíritos perturbados que assombravam casas e pessoas, pois qualquer um seria capaz de tal coisa. Izumi apenas desenvolvera seu lado espiritual e sua mentalidade. O jovem se sentia bem agindo daquela forma, sentia-se crescer como pessoa. E aquilo lhe bastava.

Ainda que fosse bem verdade que alguns de seus serviços passaram a ser remunerados com a crescente popularidade. Aquilo era bastante bom, Izumi não podia negar. Além de poupar tempo e esforço na hora de procurar algum serviço, pois o serviço o procurava antes.

- Izumida-san, konnichiwa!

- Konnichiwa! – Izumi devolveu a reverência aos Yamamoto que o aguardavam nervosos em frente à casa da família. Algumas malas estavam dispostas no chão.

- Podemos ir? – perguntou o pai – O senhor não precisará de qualquer ajuda?

“Como se o senhor não estivesse tremendo de medo quando me chamou”, pensou Izumi com um meio sorriso. Sua atitude, porém, continuava polida.

- Não se preocupem com nada. Tudo ficará bem depois de hoje – o jovem tranquilizou-os – Descansem esta noite no hotel e voltem amanhã de manhã. A casa estará em paz novamente.

- Domo arigato, Izumida-san! – o chefe de família se curvou exageradamente, sendo imitado pela esposa e dois filhos.

- Sem problemas...

A família catou as malas e caminhou apressada para longe da casa antes tão acolhedora. Izumi suspirou como se estivesse se preparando para a noite que passaria lá dentro.

Obviamente, Izumi não podia se sustentar sendo apenas um “Guia dos Espíritos Atormentados”. Ele trabalhava oito horas por dia, seis dias por semana em uma lanchonete como cozinheiro e era isso que lhe garantia o arroz de cada dia. Lidar com espíritos era para ser apenas um hobby. Um hobby remunerado às vezes, então Izumi não pretendia largá-lo tão cedo. Não era um trabalho tão arriscado como as pessoas pensavam – a não ser em casos de onryos e espíritos odiosos do tipo.

O que, por acaso, era exatamente o que Izumi enfrentaria naquele dia.

“Um belo presente de aniversário”, ele pensou com ironia, adentrando com calma a residência dos Yamamoto. Era hora de trabalhar.

Izumi iniciou os preparativos. Certificou-se de que a casa estava totalmente fechada e vazia, e então trocou seu moletom pelo quimono cinza, que arrastava no chão devido à baixa estatura do rapaz. Ele não calçou os chinelos, preferindo ficar apenas com as meias. Izumi estremeceu com o frio intenso trazido à casa pela presença do espírito. Já não bastava estarem no inverno...

O moreno dirigiu-se até o quarto das crianças, que conseguia ser ainda mais frio. Era um cômodo completamente gelado. Izumi respirou fundo para concentrar-se e então ajoelhou-se no tatame, logo em frente à porta de entrada. Ele dispôs os amuletos ao seu lado, e os incensos e velas ainda apagados mais adiante. O isqueiro estava ao seu alcance, bem próximo da mão direita, bem como os dois livros que trouxera.

Com tudo pronto, Izumi se sentou ereto sobre os calcanhares. O rapaz bateu duas palmas secas que soaram extremamente altas no ambiente silencioso, em seguida curvando-se até a testa tocar o chão. Izumi voltou à posição original de olhos fechados, e passou a murmurar um mantra xintoísta de purificação.

Ele precisava atrair sua atenção primeiro.

Um calafrio violento percorreu toda a sua espinha e então ele soube que ela estava ali.

Izumi calou-se e abriu os olhos. A onryo estava de pé num dos cantos do quarto, logo aos pés das camas dos meninos. Seus longos cabelos pretos cobriam-lhe quase toda a face contorcida de raiva, estendendo-se até a altura de seu quadril. O corpo magro e muito pálido ao ponto de parecer azulado estava coberto por uma túnica branca que revelava apenas os pés esqueléticos.

Ela não era brilhante, como a maioria das pessoas devia imaginar os espíritos. Por se tratar de uma onryo, os sentimentos ruins e brutais que a acompanhavam desde a sua morte (e talvez até antes disso) criavam uma aura negra em torno dela, como se ela sugasse toda a luz que preenchia o ambiente, escurecendo-o. Toda a violência da sua morte e toda a dor que ela sentira eram refletidos em sua presença esmagadora.

A onryo estava totalmente virada para Izumi, encarando o rapaz com profundo ódio.

- Ojou-san – Izumi disse em tom claro e firme –, seu lugar não é aqui.

O espírito da mulher permaneceu onde estava, sem mover um músculo do rosto contraído em raiva e desprezo.

Aquela era a parte chata, mas segura, do exorcismo: lidar com o espírito apenas com palavras. Fantasmas geralmente não davam ouvidos às coisas que os vivos falavam, mas havia casos em que funcionava. Palavras podiam ser o bastante para o espírito reencontrar seu caminho no plano espiritual.

- Aquele que lhe tirou a vida não está mais aqui. Por favor, vá embora deste lugar.

Como esperado, a menção ao assassino surtiu efeito. A onryo soltou uma espécie de grunhido e fechou as mãos brancas em punhos. A aura escura que a envolvia pareceu enegrecer ainda mais.

E então um porta-retratos próximo de Izumi explodiu em mil pedacinhos. Aquela era a parte dita perigosa do serviço.

- Por favor, ojou-san, abandone esta casa e esta família – prosseguiu Izumi ainda sentado, a postura aparentemente tranquila – Eles nada têm a ver com a sua morte.

Outra coisa explodiu – talvez um pequeno aquário, pois Izumi sentiu respingos de água no rosto.

- Aquele que a matou saiu desta casa. Procure-o em outro lugar.

A onryo recuou até bater com as costas na parede. Tinha se materializado sem nem perceber e aquilo fez Izumi suspirar cansado. Espíritos recentes e descontrolados como aquele eram os que davam mais trabalho... Ela podia quebrar a casa inteira se ele deixasse.

- Ojou-san precisa achar a pessoa certa para poder se vingar. Vá embora, por favor!

A mulher furiosa passou a arranhar a parede desesperadamente, arrancando grandes lascas com as unhas longas e escuras. O som que ela emitia se tornava cada vez mais alto e irregular, o que não era um bom sinal. Sua sede de vingança parecia forte demais para ser amenizada apenas com conversa.

Izumi precisava partir para a ação. Ele acendeu as velas e o incenso de forma rápida, mas tranquila, e em seguida puxou o Sutra para recitar trechos do texto budista.

Assim que percebeu o que estava acontecendo, a onryo enfureceu-se ainda mais. Izumi sentiu objetos zunindo a centímetros de sua cabeça enquanto atravessavam o quarto para se espatifar nas paredes. O grunhido macabro se assemelhava a um grito de raiva preso na garganta e fazia Izumi estremecer contra a própria vontade.

Um estrondo seguido de um vento forte alarmou Izumi de que as coisas estavam saindo de controle. A janela do quarto estava escancarada e pelo canto do olho Izumi viu a cômoda se erguer alguns centímetros do chão. O moreno aproximou ainda mais o livro de seus olhos, concentrando-se para não interromper o ritual de exorcismo. O vento fazia as páginas do Sutra oscilarem, bem como as chamas das velas. Izumi tratou de se apressar antes que fosse a próxima coisa a se espatifar na parede.

De súbito, a confusão cessou. A cômoda voltou ao chão com um estrondo e as coisas pararam de explodir pelo quarto. A ventania cessou, o grunhido parou. O cômodo estaria em silêncio novamente se não fosse o ruído das unhas raspando devagar a parede, que já tinha um rombo enorme. A onryo parecia calma e assustada ao mesmo tempo.

- Ojou-san – Izumi a chamou com delicadeza e a mulher se mexeu minimamente, acuada – Ele não está mais nesta casa. Encontre-o e não retorne a este lugar. Por favor.

Mandar um espírito vingativo como a onryo procurar seu assassino para fazer justiça com as próprias mãos não era um atitude muito bonita. Mas Izumi não ligava, pois não era de todo errado.

A onryo pareceu desnorteada por alguns instantes, sem saber o que fazer enquanto encarava a parede esburacada.

E então ela voltou-se para Izumi. Os pés pálidos caminharam devagar em direção ao rapaz ajoelhado no tatame. Um passo após o outro, o espírito se aproximou do moreno...

Ela passou logo ao seu lado e atravessou a parede. Ela tinha ido embora.

Izumi suspirou cansado, apoiando as mão nos joelhos. Ainda assim, um pequeno sorriso escapou de seus lábios. Ele estava satisfeito com a resolução do caso. Não tinha sido tão difícil afinal. Tirando todos os estragos feitos pela onryo não tinha sido tão difícil.

Izumi se ergueu com certa dificuldade, as pernas dormentes e formigantes. Movendo-se com cuidado para não cortar os pés, Izumi buscou na mochila seus chinelos e o ramo de sakaki. Estava bom o suficiente para o ritual de purificação.

Com os pés devidamente protegidos, Izumi percorreu a casa inteira recitando mantras de purificação enquanto sacudia o ramo da árvore sagrada. O ambiente ficaria totalmente livre de influências malignas.

O último cômodo a ser purificado foi o quarto. Tantos pedacinhos de tantas coisas no chão... E aquele buraco enorme na parede?! Izumi desconfiava que sua remuneração já era... Ele poderia ao menos limpar a sujeira deixada pela onryo. Era o mínimo que podia fazer.

Izumi largou-se no chão de qualquer jeito, puxando a mochila para guardar seus livros e amuletos. E então ele se sentiu extremamente cansado. O sono se abateu sobre seu corpo subitamente, pesando-lhe os olhos e fazendo-o bocejar. Izumi enterrou o rosto na mochila, abraçando-a enquanto deslizava para o chão a fim de se acomodar melhor. Ele estava num estado de semi-consciência quando uma voz se fez presente no cômodo.

- Vai deixar todo o trabalho para mim, Izumida?

O moreno expirou pesadamente, tentando se manter acordado.

- “Izumi”, Naoto... “Izumi”... – sua voz saiu abafada contra a mochila.

O rapaz ergueu a cabeça ainda muito sonolento para encarar a dona da voz, que se ocupava em recolher os cacos de vidro do chão. Ela usava calças em jeans escuro e um casaquinho vermelho por cima da camisa branca. Os pés estavam protegidos por um par de botas pretas de salto alto. Os cabelos cor de chocolate graciosamente ondulados projetavam-se sobre o belo rosto de Naoto toda vez que a jovem se inclinava em direção ao chão. O par de brincos pendurados, porém discretos, cintilava por vezes, bem como o único anel em sua mão esquerda, o dedo médio.

As joias cintilavam assim como sua aura, branca como a neve. Era como se Naoto emanasse uma espécie de energia que, ao contrário da onryo, nada tinha de negativa.

- Eu ia limpar tudo, eu só... acho que estava caindo no sono, sei lá – Izumi se justificou, erguendo-se para ajudar a moça.

- Você anda muito cansado, Izumida – disse Naoto em tom mais sério, buscando os olhos negros do rapaz – Você sabe como essas coisas têm esgotado suas energias...

- E o que sugere, que eu pare? – riu Izumi – Bobagem, Naoto. Só estou cansado, como qualquer um fica depois de um dia de trabalho. E eu tenho dois, caso não se lembre – ele sorriu de canto.

Naoto suspirou, encarando longamente um pequeno globo com água que sobrevivera intacto ao ataque da noite. A moça sacudiu o globo, fazendo a falsa neve cair sobre a casinha ao centro.

- Talvez eu contribua para isso... – ela murmurou tristemente, fazendo Izumi encará-la com espanto.

- O quê? De onde você tirou essa ideia, Naoto?

- Eu também sou um espírito, Izumida... Também estou interferindo nas vidas dos vivos...

- Mas o seu espírito não possui um único traço de energia negativa. Jamais será um incômodo do tipo.

Izumi segurou o rosto delicado em seus dedos, fazendo Naoto encará-lo. Ele sorriu sem mostrar os dentes, tentando tranquilizar o espírito da moça que já o acompanhava havia alguns meses. Ela sorriu fracamente de volta não completamente convencida, mas concentrando-se logo na tarefa de arrumar o quarto.

Os dois levaram alguns minutos recolhendo e varrendo os cacos de vidro e pedaços de outras coisas do chão. Quando terminaram, Izumi se jogou no chão mais uma vez, esparramando-se de bruços no tatame. Ele sentiu Naoto sentando-se ao seu lado, deixando o ar mais frio.

- Vai dormir aqui? – perguntou a moça com delicadeza.

- Sim. Preciso me certificar de que ela não vai voltar. – Izumi apoiou a cabeça nos braços cruzados, encarando Naoto de lado.

- Ela não vai voltar. Eu a vi indo embora quando estava do lado de fora da casa.

- Só por garantia...

Seguiram-se alguns minutos em completo silêncio. Izumi sentia o corpo ficar dolorido à medida que o sono se aproximava. Ele já estava quase adormecendo novamente...

- Hoje é o seu aniversário, Izumida.

- Izumi – ele murmurou de forma mais rude do que esperava, a voz muito sonolenta.

- Sinto-me triste por você ter que passar seu aniversário assim...

O moreno abriu os olhos e sentou-se ao lado de Naoto. Seu semblante pálido estava desanimado.

- Por quê? – perguntou o rapaz – Eu gosto do que faço.

- É, mas... – os olhos castanhos de Naoto pareciam incertos – Você poderia estar com seus amigos, se divertindo tranquilamente...

Izumi sorriu de canto outra vez.

- É exatamente isso que estou fazendo, não vê?

Naoto pareceu se surpreender com aquilo e então ficou muito sem graça.

- Eu nem tenho um presente para lhe dar, Izumida...

- Se você me chamasse de Izumi já seria muito bom... – riu o moreno, sabendo que seu pedido era inútil – E você tem algo para me mostrar, não tem?

Izumi apontou para a janela que permanecia aberta, revelando que a noite já tinha tomado conta do céu. Naoto não entendeu o que o sorriso traquinas queria lhe dizer, então se ergueu e caminhou até o local apontado por Izumi.

Naoto riu graciosamente, virando-se para Izumi ainda deitado no chão, os braços atrás da cabeça.

- É verdade, eu tenho algo para lhe mostrar... – ela pediu que Izumi se aproximasse com um gesto e ele o fez, apoiando-se no peitoril da janela logo ao lado de Naoto.

O céu estava tingido de azul marinho, salpicado de estrelas de várias cores diferentes. A enorme lua cheia incidia diretamente sobre eles, fazendo a aura de Naoto reluzir ainda mais. Era uma visão simples e estarrecedora.

- Otanjoubi omedetou... Izumida.

Izumi sacudiu a cabeça de um lado para o outro enquanto dava risada.

^^^^


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O caso da Onryo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.