Selene escrita por Tamires Vasconcelos


Capítulo 37
A guardiã


Notas iniciais do capítulo

Ai esta mais um capitulo espero que gostem. Beijos!!



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Quando o vento se acalmou a nossa volta e nossos pés tocaram o chão eu já sabia exatamente onde estava, não precisei abrir os olhos para reconhecer aquele lugar. O cheiro das arvores, o som da leve brisa que pareciam sussurros de crianças cantando e até mesmo a energia que a ilha transmitia.

Soltei-me dos braços fortes de Zelo e abri os olhos.

- Eu consegui - Sussurrei enquanto olhava em volta.

- Conseguiu? Posso abrir os olhos? - Zelo perguntou tocando em meu braço.

- Pode.

Ele abriu os olhos devagar ainda com medo e então olhou ao redor maravilhado com a imensidão do lugar.

Apenas uma enorme muralha de bronze nos mantinha fora da ilha, espíritos de vento estavam espalhados por todos os lugares protegendo a ilha de indesejáveis visitas. Algumas vezes eles tinham força suficiente para aparecerem de forma humana, mas esse era um meio pouco usado já que essas formas eram transparentes o mais comum eram usar pétalas de flores a seu favor, fazendo com que milhares delas, juntas tomassem a forma uma forma humana

Guiei Zelo até um enorme portão de bronze onde estavam entalhados milhares de pequenos desenhos sobre todos os deuses do vento, assim que me aproximei os espíritos de vento imediatamente me reconheceram e abriram o enorme portão

Eles fizeram um tipo de referencia me desejando boas vindas.

Ao passar pelo portão, abri um sorriso no mesmo instante ao ver minha ilha. Arvores grandes e cheias de vida, cavalos brancos que pastavam por ali e os espíritos de vento formados por pétalas. O mais estranho era que não havia ninguém ali, nenhum dos meus irmãos estavam ali.

- Onde estão todos? – Perguntei para o espirito de vento.

- Estão se preparando – Sua voz era suave quase como um sussurro.

- Se preparando para que? – Perguntou Zelo.

Ele apenas assentiu para Zelo e desapareceu. Zelo e eu nos entreolhamos.

No horizonte eu podia ver o castelo de mármore branco que parecia se erguer até as nuvens.

- Precisamos ir até lá - Eu disse a Zelo apontando o castelo.

Então assobiei para uma Pegeen uma égua branca que veio correndo ao meu encontro, acaricie sua crina que estavam enfeitadas com pequenas flores amarelas.

- Oi garota, sentiu saudade?

Continuei a acariciar sua crina e sussurrei em seu ouvido.

- Preciso de uma carona.

Pegeen se posicionou ao meu lado praticamente permitindo que eu montasse nela. Zelo me ajudou a subir nela e logo depois também subiu segurando em minha cintura.

Segurei levemente em sua crina então ela começou a correr. As arvores passavam como vultos sobre nós e o vento soprava levemente em meu rosto, em questão de minutos chegamos ao castelo, Zelo me ajudou a descer de Pegeen e depois de fazer algo como uma referencia correu com uma velocidade incrível para dentro da mata.

- Vou ficar aqui fora - Disse Zelo.

Eu assenti.

- Obrigada.

Corri para dentro do castelo a enorme porta de madeira imediatamente se abriu quando me aproximei dela. Andei o mais rápido que minhas pernas permitiam por aquele enorme corredor, passei por vários corredores e a cada canto silencioso daquele castelo fazia meu coração acelerar ainda mais.

Meus passos automaticamente diminuíram na sala de meu pai, uma enorme porta de bronze polido estava bem em minha frente posicionei minhas duas mãos na porta de e a empurrei.

Um rangido ecoou por todo castelo quando a porta se abriu.

A sala era perfeita, o piso era de porcelana branca com pequenos desenhos de ventos por todos os lados no teto um enorme lustre com pequenos diamantes que com a ajuda do vento tocavam um ao outro em uma sintonia perfeita e moveis, todos de cores claras decoravam o local.

Me pai estava de costas debruçado sobre um tipo de caixa de vidro com bordas de ouro.

- Pai? - Minha voz era rouca e fraca - O que aconteceu?

Ele não disse nada apenas se moveu um pouco para o lado mostrando por completo a caixa de vidro. Não era uma caixa e sim um caixão que estava preso sobre o ar de alguma forma. Havia uma mulher de cabelos negros lá dentro, me aproximei devagar e parei no meio do caminho quanto vi quem era.

- Mamãe - Eu disse entre as lagrimas.

Então corri até o caixão e lá estava ela, com um longo vestido azul e seus longos cabelos negros perfeitamente alinhados sobre seu corpo, coloquei a mão sobre o vidro como se estivesse acariciando seu rosto notei que em seu pescoço haviam algumas marcas pretas. Minhas lagrimas caiam sobre o vidro como uma tempestade.

- Ela está bem, não está? - Choraminguei.

- Sinto muito - Ele disse me abraçando.

Afastei-me no mesmo momento do seu abraço.

- O que aconteceu?

Ele olhou para minha mãe e em seguida para mim, seus olhos estavam vermelhos, mas ele não parecia abalado.

- Circe esteve aqui, ela queria alguma coisa com a sua mãe e não conseguiu então a envenenou de alguma forma.

Deslizei a mão por meu pescoço onde as unhas de Circe deixaram marcas negras.

- O que ela queria?

- Acho que ela queria os ventos.

Desviei meus olhos dos seus.

- Eu dei os ventos para ela, eu não devia...

Ele segurou meu rosto com suas grandes mãos.

- Você devia sim, não havia outra coisa para á fazer.

Fitei o chão por um instante.

- Apolo ele voltou a ser um deus outra vez e Circe esta com ele e com... Cameron.

Ele juntou as palmas da mão.

- Cameron - Ele pronunciou com calma - Creio que esse seja seu... Namorado.

Eu assenti.

- Isso... Circe quer transformá-lo em um lobo, eu tenho que impedi-la.

- E porque de tudo isso? - Sua voz era calma.

Respirei fundo.

- Circe ajudou Apolo a voltar a ser um deus, e o preço foi Cameron por ele ser um semideus, filho de Apolo.

Ele me olhou confuso e passou a mão sobre o queixo.

- Um semideus? Isso complica um pouco as coisas.

Eu apenas assenti.

- Você amadureceu - Ele disse simplesmente.

Olhei fixamente em seus olhos.

- Preciso da sua ajuda.

Ele balançou a cabeça negativamente.

- Não precisa, você conseguiu enfrentar Apolo e Circe sozinha...

- Eu não consegui, eles fugiram com Cameron.

Eu o interrompi.

- E você capturou os ventos sozinha - Ele continuou como seu eu não tivesse dito nada.

Meu pai me encarou algum tempo, seus olhos acinzentados pareciam penetrar em minha alma, então deu alguns passos para frente e começou a falar.

- Você conhece minha história, certo? Eu era um humano, um marinheiro, conhecia muito sobre os ventos então Zeus me fez o senhor dos ventos. Mas sabe de um segredo não sou um ''senhor dos ventos'' e sim o guardião deles e não posso ser para sempre um guardião.

- Como assim?

- Treinei todos os meus filhos para que um deles algum dia ficasse em meu lugar, nem deles mostrou tanta paixão por mortais como você Selene. Quando você foi enganada por Polix e ficou com raiva deles eu sabia que precisava fazer alguma coisa para trazer aquela admiração que você tinha foi por isso que te mandei a terra, capturar os ventos foi à prova que ainda existia humanidade em você.

- Mas se eu precisava de sentimentos humanos para poder capturá-los, porque o senhor que foi humano não conseguiu?

Ele deu um breve sorriso.

- Não é que eu não conseguisse, mas eu queria que um de vocês pudesse capturá-lo e eu saberia quando estivesse pronto.

Meu pai veio até mim a parou não muito perto, deslizou a mão por uma mecha do meu cabelo e me abraçou.

- Chegou a hora de você assumir meu lugar - Ele disse se afastando.

Minhas lagrimas que haviam parado de cair, começaram em pequenas quantidades outra vez.

- Não, eu não posso.

- Claro que pode minha querida, sempre pode.

Meu pai sorriu e então tirou um medalhão do pescoço, não era tão grande, sua borda de pequenos espirais era feita de ouro branco, o medalhão em si era de porcelana branca, onde pequenas imagens dos quatro deuses, Zéfiro, Bóreas, Nótos e Eurus pareciam flutuar em volta de um pequeno circulo azul no centro, ao olhar para aquele circulo azul comecei a ouvir a sentir leves brisas, tempestades frias e violentes todos os tipos misturados.

Ele colocou o medalhão em meu pescoço e no mesmo momento me senti como se conectasse a ele, eu senti todas as forças existentes do vento, não só isso, eu podia sentir todos os animais que tinham como origem o a e até mesmo Pégasu. Eu podia sentir cada espírito de vento e acho que até mesmo controlá-los. Era como estar em poder de tudo e todos.

Fiquei algum tempo apenas observando o medalhão e como os deuses pareciam voar em volta do circulo azul.

- Proteja-o - Disse meu pai então olhei para ele.

Ele parecia estar quase transparente pisquei os olhos varias vezes e também a esfregá-los

- O senhor está...

- Não tenho muito tempo. Jamais o abra e não deixe que ninguém saiba que ele existe, proteja-o Selene ele nas mãos erradas pode ocasionar no fim de tudo.

Ele ficava cada vez mais transparente.

- O senhor está... - Repeti sem conseguir terminar a frase.

''Confiamos em você''

O sussurro era a voz de minha mãe olhei no mesmo momento para o caixão de vidro e ela não estava mais ali.

Olhei em direção ao meu pai e lá estava ela, seus longos cabelos negros pareciam voar com o vento que não havia na sala, ela estava ao lado do meu pai sorrindo e também parecia transparente, eles ficaram algum tempo ali então simplesmente se desintegraram ao vento, eu podia sentir cada partícula deles em todos os lugares.

Não sei exatamente quanto tempo fiquei paralisada no mesmo lugar apenas fitando o chão de porcelana, milhares de coisas passavam por minha cabeça era como se eu não pudesse dar conta de tudo.

Ouvi as portas se abrirem atrás de mim.

- Selene? - Ouvi Arne me chamar.

Virei-me devagar.

Ela estava vestida com uma couraça branca com detalhes em bronze uma túnica também branca e botas de couro, carregava um arco branco e um tubo sob as costas onde havia dezenas de flechas. Sua expressão era de preocupação mas ao mesmo tempo preocupada.

- O que aconteceu? Nós sentimos... Você.

Arne estava tão confusa quanto eu podia perceber que ela não sabia o que falar primeiro ou perguntar.

- Isso agora eu sou...

- A guardiã dos ventos - Arne completou.

- Isso.

Ela ficou algum tempo em silêncio apenas me observando e como se tivesse voltado à realidade deu alguns passos para frente.

- Vamos ser atacados - Ela disse calma.

- Como?

- Circe está preparando suas tropas e estão vindos para cá.

Respirei fundo olhando ao meu redor.

- Apolo também?

Ela assentiu.

- Temos que nos preparar, sua armadura esta ali - Arne apontou para um baú de madeira - Esperamos por você.

Arne estava saindo quando se virou na porta e olhou para mim com doçura.

- Sinto muito pelo Cameron, sei que você o amava.

- Obrigada, mas vou trazê-lo de volta.

Ela franziu o cenho.

- Como?

- Não sei ainda, mas vou dar um jeito.

Ela assentiu outra vez sorrindo.

- Vou deixar você sozinha.

Quando a enorme porta se fechou corri até o baú de madeira e retirei minha armadura, era idêntica a de Arne uma couraça branca, uma túnica também branca com uma bota de couro.

Eu a coloquei rapidamente, peguei o medalhão e segurei firme em minhas mãos antes de colocá-lo sobre a couraça.

Fui até a frente do castelo em passos rápidos, o único som abafava as batidas do meu coração era som das minhas fortes pisadas no chão.

Enquanto eu me aproximava do portão principal eu podia ouvir murmúrios que aumentavam drasticamente a medida que me aproximava.

Quando cheguei e abri os portões um silêncio ecoou por todos os lugares.

Todos meus seis irmãos e cinco irmãs estavam parados ali, junto a eles zelo que estava com uma armadura, até mesmo os cavalos, pássaros e espíritos de vento estavam ali por perto.

Depois de um silêncio um tanto constrangedor, Arne se curvou a mim e um a um dos meus irmãos se curvaram a mim inclusive Zelo, até os cavalos demonstraram tal nobreza. Eu não sabia que estava segurando o ar até solta-lo quando todos se levantaram.

Aquilo foi totalmente inesperado eu não sabia que estava pronta para guiá-los a uma batalha. 

Meu coração agora estava muito acelerado e minha garganta seca, olhei para Arne que com um sorriso fez um sinal com a cabeça para que eu falasse algo.

- Vocês já devem estar sabendo que agora eu sou a guardiã dos ventos - Dizer aquilo em voz alta era estranho - Circe e Apolo estão a caminho e precisamos proteger o castelo e todos que estão aqui.

- A muralha é inquebrável, não precisamos nos preocupar quanto a isso.

Disse Egan um dos meus irmãos, ele era alto, mas não tão forte seus cabelos loiros que iam até seu pescoço estavam presos em um rabo de cavalo.

Eu já estava com a boca aberta para responder quando Damitra se virou para Egan com seus cachos pretos balançando ao vento.

- Nós nunca tivemos uma batalha aqui para saber se isso era realmente verdade - Damitra falava calma, mas o mesmo tempo estava-o confrontando, então se virou para mim - Eu acho que devemos mesmo estar preparados.

Eu assenti sorrindo.

- Mas o que eles realmente querem aqui? Circe matou a nossa mãe porque queria algo - Disse Egan.

Todos olharam para mim esperando uma resposta.

- Eu não sei, agora que ela esta com os ventos, não sei mais o que ela quer.

Todos ficaram algum tempo sem entender ou até mesmo querendo entender o que eu tinha acabado de falar.

- Como ela conseguiu? - Perguntou Damitra.

Desejei no mesmo momento que não tivesse dito aquilo.

- Foi comigo.

Murmúrios se espalharam por todos os lugares, dos tipos, como ela conseguiu capturá-los? Porque Selene fez isso? Apenas Zelo e Arne estavam calmos, olhei para eles praticamente pedindo ajudada silenciosamente.

Ele vieram imediatamente para meu lado.

- Ei! – Zelo gritou fazendo com que todos ficassem quietos - Selene fez isso porque foi preciso fazer. Temos que nos preocupar agora com o que Circe quer.

Zelo falou com tanta confiança e autoridade que simplesmente assentiram concordando e agradeci mentalmente por ele estar ali.

- Porque Circe queria os ventos? - Perguntou Arne alto o bastante para todos ouvirem.

- Para fazer algum feitiço ou algo assim para trazer Apolo de volta.

Um espírito de vento se aproximou e com um sussurro sibilante falou.

- Eles estão se aproximando.

Os murmúrios começaram outra vez e eu sabia que era a hora de agir.

- Tudo bem chegou a hora. Espíritos de vento quero que todos vocês protejam as muralhas e o portão, meninos quero que vocês fiquem prontos caso eles ultrapassem as muralhas, mas tomem cuidado.

Todos os meninos sacaram as espadas e retiraram os escudos que estavam presos em suas costas, Zelo também sacou uma espada e antes de ir até os garotos eu segurei seu braço.

- Essa guerra não é sua Zelo, não precisa fazer isso.

Ele sorriu.

- Acho mesmo que vou deixar você na mão e alias, eles precisam de alguém que os lidere que por acaso já esteve em uma guerra.

Sorri em agradecimento.

- É claro.

Zelo foi até os garotos que começou a dar ordens sobre as suas localizações.

- Arqueiras! - Eu gritei e todas as meninas me olharem - Quero que fiquem na torre e estejam prontas para quando eles chegarem e quaisquer movimentos ofensivos ataquem.

Todas assentiram e seguiram para dentro do castelo inclusive Arne. Fiquei parada encostada no batente da porta.

Pensei em Cameron deitado no chão e não pude fazer nada para ajudá-lo. Todas minhas lembranças junto a ele passaram como um filme por minha cabeça, primeira vez que eu o vi, quando nos esbarramos na pizzaria e ele sujou meu vestido, quando sai durante a noite só pra ver as estrelas com ele, quando nos beijamos a primeira vez no logo e quando ele disse que me amava em frente a minha casa.

Lagrimas caíram silenciosamente por meu rosto e sussurrei.

- Eu te amo.


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