Bailarina.

Ela era linda, perfeita, simplesmente tudo o que procurava. Desde que a viu sabia disso, desde aquele momento que o arrastaram até ali percebeu que ela era exatamente tudo o que mais queria e desejava. Ela era tudo e mais um pouco, não tinha palavras para descrever o que via na sua frente. O jeito com que seu corpo se mexia, essa requebrada de quadril, as viradas de seu corpo jogando seus longos cabelos loiros para os lados, esses movimentos com os braços... Ah! Nunca vira na igual. Ela era um anjo, não tinha outra opção.

 Seu coração sempre ficava em sua garganta quando a via e passava todas as noites lá só para ver o show que fazia. E pensar que só a viu por causa de sua festa de aniversario. Seus amigos o puxaram para aquele lugar para que pudessem comemorar mesmo ele não querendo e negando rotundamente. Quando chegaram tudo o que torcia era para que aquilo acabasse logo, até ela chegar. Ainda se lembrava da agitação dos homens quando anunciaram seu show, mas o que era mais marcante para ele naquele dia foi quando ela apareceu das cortinas vermelhas meio transparente, mexendo seu corpo com tanta graça e agilidade que o deixara hipnotizado com sua beleza.

 Seu corpo apenas tampado com a parte de cima de um biquíni vermelho com algumas moedas douradas que ao se chocarem com o movimento de seu corpo faziam um leve e delicioso som, uma saia também vermelha que lhe chegava até o tornozelo, mas que tinha um grande corte em um dos lados que mostrava completamente uma de suas pernas enquanto dançava, um pano cobrindo a parte de baixo de seu rosto, desde o nariz até o queixo, deixando apenas ver seus belos olhos azuis que reluziam com tanta doçura que quase o fizera derreter e uma pequena coroa vermelha que rodeava sua cabeça pegando um pouco acima de sua franja, bem no inicio de sua testa e contornando a cabeça. Seu ventre ficava todo a mostra mostrando o quanto era plano e bem moldado igual a cintura fina, suas pernas eram meio finas também, mas mesmo assim belas e tentadoras, mas o que mais lhe chamava a atenção não era o seu corpo de deusa, eram seus belos olhos que lhe hipnotizaram desde o primeiro momento em que os vira pela primeira vez.

 Sempre achou as mulheres seres que só ligavam para a beleza exterior e que por dentro eram mais feias do que qualquer outro ser nesse planeta, mas quando a viu tudo o que enxergou foi beleza, foi carinho, não tinha malicia, não tinha luxuria, ela era mais pura que qualquer outra garota que já conhecera. Ela era tanto bela de exterior quanto de interior e isso era o que mais apreciava nela.

 Em todas as danças que a vira, em todos seus shows, ele morria de raiva desses outros homens que a miravam com apenas luxuria e que só via a beleza que ela tinha no exterior, não viam os belos passos de dança que tinha, a inocência que tinha em cada movimento, o brilho de alegria que tinha só pelo fato de estar dançando. Ela era tão pura que odiava a se mesmo quando pensava que ela já devia ter estado com vários homens, que já devia ter passado de mãos em mãos por cada um dos que se encontravam ali, mesmo isso sendo uma possibilidade bem grande.

 Em todos os shows que ia ela sempre passava pelo publico dançando com alguns, mas não conseguia se lembrar de um que ela não o tivesse elegido, isso se ela não o tivesse elegido alguma vez. Ele era sempre o que ela se aproximava primeiro e dançava colando seus corpos, requebrando o quadril contra o dele e raspando suas peles o tentando a tocá-la, mesmo que ele sempre resistisse a essa tentação para não quebrar a pureza que ela tinha nos passos. Não gostava era quando ela dançava com outros, mas não percebia que ela não os tocava como fazia com ele, dançava a uma distancia segura e quando estavam prestes a tocá-la ela saía de perto indo para outro e fazendo a mesma coisa.

 E lá estava ele de novo naquele lugar cheio de homens só esperando que ela aparecesse. Estava em um lugar mais isolado, escorado na parede em um canto escuro onde provavelmente ninguém o visse. Estava com os braços cruzados observando sem interesse outras dançarinas fazendo seus típicos shows, mas nenhuma se compara a ela, elas não tinham a mesma ginga e graça que ela tinha, não conseguiriam ter isso nunca. A leveza que ela possuía não podia se comparar a ninguém. Sempre era uma tortura ter que esperá-la e tentava chegar sempre encima da hora em seus shows para assim ver apenas ela.

 Quando finalmente anunciaram sua chegada seu coração foi para na boca e seus olhos se pregaram no palco, seu rosto estava iluminado e sua ansiedade o consumia por dentro. Quando ela saiu de trás das cortinas começando a dançar aquela musica com um ritmo nem tão lento nem tão rápido pode sentir como seu coração quase saía pela boca. Ela estava mais linda do que nunca com as vestes azuis que combinavam tão bem com a aura dourada que tinha por causa do cabelo loiro que chegava até o quadril. Ela era perfeita e vê-la tão encantadora o fazia se sentir insignificante e que o amor que sentia por ela nunca seria correspondido. Eram tão opostos, ela irradiava luz, ele irradiava maldade. Ela emanava bondade, ele emanava medo. Seu jeito sério e frio só lhe traziam má reputação, mas esse era seu jeito e não conseguia mudar, ela já parecia ser sempre feliz pelo brilho que ele sempre via nos olhos dela, um brilho que ele daria tudo para provocar e ter só para se.

 De novo foi o mesmo agito entre os homens, e de novo foi a mesma raiva que o dominava quando via os olhos cheios de apenas desejo carnal. Mesmo não podendo negar a se mesmo que tinha o mesmo desejo, que seu corpo também queria o dela com loucura, mas diferente desses homens ele queria algo mais, ele não queria apenas o corpo queria a alma, o coração, queria tudo dela. Quando os olhos dela percorreram todo o lugar pode jurar que ela procurava algo ou alguém e quando esse olhar se pousou no lugar em que estava pode jurar que ela o vira e que seus olhos se iluminaram mais que nunca. Ela desceu do palco ainda requebrando o corpo com graça e beleza fazendo seus típicos passos elegantes e belos. Ela foi lentamente até ele e colocou uma mão em seu ombro o puxando para mais perto.

 Ela requebrava seu quadril contra o dele de uma maneira tentadora o aproximando cada vez mais de se. Ele ainda evitara tocar em seu corpo, mesmo com toda aquela tentação, suas mãos formigavam por isso e seu corpo lhe exigia mais do que nunca que lhe tocara, mas ele ainda resistia e ficava parado enquanto ela mexia contra se. Em um certo momento ela se virara ficando de costas para ele, mas sem se afastar, e começara e remexer seu corpo contra o dele pegando suas mãos e a levando até seu quadril o mexendo com no ritmo que costumava fazer. Não pode evitar apertar levemente a mão a puxando para ainda mais perto de seu corpo os colando o máximo que podia. Focaram um tempo assim até ela se virar e deixar seus rostos ainda mais perto ameaçando um beijo, mas ela se afastou e foi para outro dançando da mesma maneira, mas sem encostar no mesmo.

 Seu coração agora estava mais acelerado do que nunca e nem sabia se ele ainda continuava dentro de se ou de já havia saído. Sua respiração era agitada e suas pernas tremiam ligeiramente. Ainda podia sentir aquela doce pele debaixo de seus dedos e agora se sentia ainda mais tentado em tocá-la e torná-la apenas sua. Teve que respirar fundo algumas vezes para voltar ao normal, mas mesmo assim ficou praticamente todo o show dela se segurando no lugar para não ir até lá e cometer alguma loucura.

 Quando tudo terminou não tinha mais nada para fazer lá, saiu do aposento e ficou do lado de fora respirando o doce ar da noite tentando se recuperar totalmente do que havia acontecido. Estava prestes a seguir seu caminho de volta para casa quando alguém segurou sua mão e o puxou, era uma garota de cabelos loiros longos, os olhos azuis brilhantes, um rosto jovial e belo que tinha um grande sorriso no rosto. Não tinha duvida que era aquela garota que dançara poucos minutos atrás só que ela parecia ainda mais bonita sem aquele pano tampando o rosto e usando uma blusa azul justa, uma saia branca que ia só até metade de suas coxas e sapatilhas brancas. Ela estava ainda mais delicada, parecendo mais uma boneca de porcelana do que uma garota real.

 Ela o levou até um beco que tinha ali perto e o encurralou na parede sorrindo alegre para enquanto ainda o segurava pela mão. Ela se aproximou lentamente tendo que esticar o corpo para conseguir alcançar seu rosto roçando seus lábios delicadamente ainda um pouco hesitante enquanto ele não pode evitar retribuir o beijo com todo o amor que sentia por ela, mas algo ainda lhe incomodava e lhe fazia temer o contato. Ele era apenas mais um ou era especial.

 Quando se separaram a mirou diretamente naqueles belos olhos azuis que tanto adorava. Via a pureza e o medo que tinham neles, mas quando ela se aproximou mais uma vez a deteve por um momento fazendo com que ela estranhasse um pouco.

 - Eu sou apenas mais um da sua lista ou tem algo amais nisso? – perguntou um pouco temeroso. Ela deu um ligeiro sorriso e levou as duas mãos até o rosto dele o acariciando levemente. Tanta doçura quase o fizera ceder a tentação, mas primeiro tinha que ouvir a resposta dela.

 - Já faz dois anos que trabalho como dançarina nesse lugar e nunca vi alguém me mirar como você me mirou. Estava pensando em pedir demissão e esquecer da dança quando vi você e notei que você não me olhava como os outros. – dizia ela, sua voz um tanto infantil eram doce e acolhedora. Tudo nela era perfeito. – Você não me mirava apenas por luxuria, não mirava apenas meu corpo, você me mirava de uma maneira tão... Límpida, tão carinhosa, como se compreendesse a beleza da dança só de me ver lá. Você tinha a compreensão que eu procurava nos olhos de pessoas erradas. Você é o primeiro e o único.

 Não precisou dela falar mais nada, tudo o que ele precisava ouvir já fora dito e agora tudo o que queria era aproveitar. Ela finalmente era apenas sua, e assim sempre seria. Se separaram apenas por falta de ar.

 - Ah! E meu nome é Maria. – disse ela sorrindo para ele levemente. Ele retribuiu o sorriso e juntou suas testas carinhosamente.

 - E o meu é Shadow. – sussurrou ele fechando os olhos e se deixando sentir a respiração agitada dela.

 - Muito prazer Shadow. – disse ela para logo depois rir alegremente.

 Os anos se passaram e os dois continuavam juntos. Ele conseguira arrumar para ela uma entrevista com algumas pessoas da escola de dança, claro que ela fora aceita quase que imediatamente. Ela se tornara uma das mais belas e talentosas dançarinas já conhecidas, ele um famoso e bem sucedido empresário. Mas nenhum dos dois conseguiam esquecer do mais belo acaso de quando se conheceram. Um acaso que ficou marcado em suas vidas para sempre.