Narciso escrita por matthewillians


Capítulo 2
O Reflexo na Água


Notas iniciais do capítulo

"Se existe algo do que não me arrependo, foi de ter visto meu reflexo, pois de outro modo não a teria conhecido."



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            Há muito tempo atrás, havia na Grécia uma família de comerciantes japoneses que ali se instalara, vendendo seus produtos importados. Por sua beleza singular e muito diferente da ocidental, eram constantemente comparados ás divindades do Olimpo, ficando assim o Sr. Kagamine conhecido como o Deus de um Rio próximo, por onde haviam chegado com sua embarcação, e sua esposa como uma ninfa.

            Pouco tempo depois de instalarem-se deram à luz um lindo menino, que diferia-se dos pais por possuir cabelos louros e olhos azuis como o oceano. A beleza da criança era tão divina que se comparava aos Deuses. A mãe, temerosa por uma punição dos céus devido ao pecado de ter uma criança tão bela, foi ao encontro de um adivinho, o qual proferiu as seguintes palavras:

            - O jovem viverá até a idade madura, desde que nunca vislumbre a própria imagem.

            Assim a família deslocou-se para o interior e jogaram fora todos os espelhos da casa, avisando a todos os moradores da vizinhança sobre a profecia, de forma que o jovem viveu até seus quatorze anos em paz. Tornou-se um jovem belíssimo, todas as moças e até mesmo ninfas queriam esposá-lo.

            Uma em particular era tão bela quanto ele, seu nome era Miku Hatsune, dona de belíssimas madeixas verdes, ninfa de um lago próximo. A jovem era a referida da família, e tanto a vizinhança, quanto os Deuses aprovavam um casamento ambos. Len pensou que ao estar com alguém tão doce e simpática, a monotonia que sentia cessaria e a vida passaria a ser mais interessante, mas nem mesmo a alegria da moça em seus encontros foi o suficiente para reanimar o loiro desiludido.

            Por fim, acabou por dispensá-la como fizera com todas as outras moças. A jovem o amava tão arduamente que de ta desesperada definhou, sem nunca poder odiá-lo. A deusa Némesis, no entanto, apiedou-se da pobre ninfa e, sabendo da maldição que pairava sobre o jovem, o condenou a contemplar-se no lago de Miku.  

            Poucos dias depois à morte de sua ex-amante, ao saber do ocorrido, Len encheu-se de culpa, ele nunca haveria desejado algo assim à jovem! A adorava, mas como amiga, além disso, era um rapaz desiludido que, por mais belo que fosse, não importava, pois nunca poderia fazer mulher alguma feliz. Decidiu assim que, em último adeus, procuraria o lago Miku.

            Após um longo dia de caça, já fim de tarde o garoto decidiu se por a procurar o tal lugar, assim de quebra evitaria dar satisfações à sua mãe, que nunca lhe permitiria aproximar-se de qualquer lugar que emitisse reflexo. Caminhou a esmo por horas a fio até que, já ao amanhecer, vislumbrou o belíssimo lugar que procurava. O lago era cristalino e o sol da manhã com a leve brisa dava ao local um ar leve de paz e serenidade.

            Len caminhou até as margens com certo receio, afinal ele tinha conhecimento da própria maldição, porém depois, pensando melhor, lembrou-se de que nada tinha a perder e agora que havia levado á morte a melhor amiga, nada seria mais justo do que se arriscar por em sua memória. Debruçou-se sobre a grama e, quando foi  enconchar um pouco de água, a profecia se fez.

            O garoto parou no mesmo momento tudo o que fazia, mudo de espanto, então ele era assim? Os traços eram mais delicados do que imaginara, mais parecia uma garota. Olhando melhor, no entanto, ele começou a perceber que seu reflexo não fazia os mesmo gestos que ele e nem mesmo vestia as mesmas roupas! Além disso, o cabelo que via estava solto, enquanto o seu encontrava-se preso em um rabo de cavalo. O que estaria acontecendo?

            O jovem levou a mão ao reflexo, tal qual a imagem que via, mas ao sentir um toque humano gritou e pulou para trás, parando ao perceber que podia ouvir os gritos da pessoa do outro lado. Engatinhou apreensivo até a margem novamente e encarou a imagem curiosa do outro lado.

            - Q-quem é você? – Perguntou a garota.

            - Eu é que pergunto quem você é! Supostamente era para que eu visse minha própria imagem no lago, não uma garota! – falou indignado.

            - Eu é que digo isso! Deveria ME ver no meu espelho e não uma versão masculina de mim mesma! – gritou já revoltada e confusa a loira.

            - N-nós somos parecidos?

            - Claro você é cego? Quase... Quase como gêmeos.

            - Ah... – O garoto ruborizou – é que eu nunca vi meu reflexo antes...

            - Ehhh??!! Como assim nunca viu seu reflexo?

            - A tem uma história de uma profecia lá... – ele riu de si mesmo, a garota fez o mesmo.

            - E você acredita nessas coisas?

            - Todos aqui acreditam, você não?

            - Todos aqui? Como assim? De onde você é? Aliás, foi mal, meu nome é Rin e o seu? – A jovem sorriu, fazendo um v com os dedos.

            - Você é engraçada, fala de um jeito tão... Informal. É japonesa? Eu sou grego, mas meus pais vieram daí. Me chamo Len.

            - Vo-você é grego?! Minha nossa! Por isso o sotaque engraçado... – ela ponderou um pouco, então arregalando os olhos, voltando-se novamente para o jovem – E ainda por cima arcaico! Você deve ser de outra época!

            - Eeh?! Uou! Nossa... Mas, como é por aí então?

            Assim, Rin e Len passaram a se encontrar todos os dias, ele no lago, ela no espelho de seu quarto, neste mesmo horário. A mãe de Len ficara possessa pelo filho não ter dormido em casa e continuara durante o tempo em que o mesmo “sumia” sem dar explicação. Com o tempo, entretanto ela deixou de se importar, já que ele parecia renovado.

            - Ontem foi difícil driblar a minha mãe... Eu, eu não agüento mais isso Len!

            - Eu sei, eu sei, eu também quero estar com você, mas não tem como...

            - Eu sei! Droga, meus pais tão querendo me por em um psiquiatra porque eu falo com o espelho, eles não conseguem te ouvir! Desse jeito até eu vou começar a ficar que estou pirada!

            - Ei! E eu que falo que água heim? E pelo menos você fica confortável aí, cada vez que eu saio daqui fico com o corpo dolorido de ficar tanto tempo debruçado na margem, além de molhado. – os dois riram.

            Quando cessaram, sem dizer nada ambos levaram as mãos ao encontro uma da outra e, pela segunda vez desde que se viram experimentaram o contato físico. Um toque tão leve, mal era possível sentir o calor um do outro.

            - Len eu... – sussurrou, entrelaçando os dedos de sua mão com os dele. A mesma idéia neste exato momento passou na cabeça de ambos.

            A garota serrou os olhos, aproximando-se do espelho até que seus lábios encontrassem com o vidro, ele, por sua vez, inclinou-se até o lago, encontrando com a face da jovem, sentindo seu hálito quente misturar-se com vapor d’água até que perdeu o equilíbrio e a beijou, um beijo apaixonado, quente e molhado enquanto afundava pelas profundezas da água. As bolhas passavam por si e, quando finalmente se separaram a fim de tomar fôlego, eles já se encontrava no quarto de Rin, debruçado em cima da garota que ao se dar conta do ocorrido sorriu radiante. Len fez o mesmo e voltaram a se beijar.

            Na margem do lago Miku, o qual alguns chamam de Eco, sobrou apenas uma rosa amarela onde costumava ficar o jovem ou, segundo outras versões, um Narciso.

           


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Notas finais do capítulo

Prontinho! Eu já estava a tempos com a ideia destas oneshots na cabeça, mas andava tão empolgada comm Vocaloid- Monogotari no Utau que nem me animava a escrever. -q Mas agora ta aí :D Espero que tenham gostado... Reviews?
Kissus povoo!! Ja nee o/