Sono Shitsuji: In Love? escrita por Poney


Capítulo 4
Parte 3 de Sono Shitsuji: Still lovin'


Notas iniciais do capítulo

Finalmente a última parte, quero ver não caber minha fanfic aqui, haaaa~



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(Parte Final...)

A luz solar já invadia meu quarto, com todas suas forças. Cada raio de sol penetrava pela janela, e dois ou três deles encontravam com meu rosto, o que me fizera despertar. Abri os olhos lentamente, mantendo-os entreabertos por causa da luz que incomodava a visão. Esfreguei os olhos e decidi acordar de uma vez. Ergui meu tronco em minha cama, espreguiçando-me ainda sentada; coçava os olhos em seguida com as costas das mãos, sonolenta. Bocejei tranquilamente. Estiquei o corpo mais uma vez diferente da primeira, e só então virei o rosto para o relógio.

- ONZE HORAS DA MANHÃ...???

Em um pulo, levantei-me da cama; no mesmo instante, apanhando as vestimentas de trabalho, corri para o banheiro, quase tropeçando em meus próprios pés. Enquanto deixava a água banhar meu corpo, pensava comigo mesma, aflita. “Como pude acordar assim tão tarde...?” De fato eu havia me atrasado muito mais do que já havia o feito uma ou duas vezes. Seria despedida! Para começo de conversa, eu tenho um romance às escondidas com o mordomo da mansão, faço coisas que ninguém imaginaria com ele, e, para piorar, acordo bem mais tarde que os meus colegas de trabalho, e até mesmo que o nosso mestre, que ainda é uma criança! Onde já se viu tamanha mordomia para uma empregada como eu? No mínimo, teria que levar uma bela bronca por tanto ter folgado, e trabalhar em dobro como castigo. “E ainda ninguém se manifestou em me acordar? Bard ou Finny, o que custava me chamar mais uma vez? Com toda certeza, Sebastian-san já havia me chamado, e eu não levantei por fadiga...! Ele deve estar furioso comigo!!” Estava tão aflita que chegava ao ponto de nunca ter tomado um banho tão rápido em toda a minha vida. Porém, mesmo que tivesse sido o mais veloz possível, o banho fora uma boa pausa para que eu pudesse me recordar da noite, da nossa noite especial. Porém, eu não tive tanto tempo o suficiente para me recordar de toda a noite, apenas do que havia acontecido, sem detalhes. Estava com muita pressa, estava preocupada demais para parar e pensar. Já pronta, corri de meu quarto, apressando-me e correndo até o Hall de entrada, a procura de Sebastian-san para pedir por desculpas, mesmo temerosa; de qualquer forma, teria que tomar bronca, não havia como escapar disso. Aproximando-me da escadaria, procurei por ele, porém não o encontrei. “Onde será que Sebastian-s...” Mal pude terminar a frase em meu pensamento, já estava virando-me e praticamente trombei com ele.

- S-S-SEB-BASTIAN-S-S-SAN...!!! E-etto…!!!

- Maylene, finalmente despertou! – disse ele, em meio a um belo sorriso convidativo

Então, ao vê-lo em minha frente, tão belo, com aquele seu sorriso conquistador, o mesmo sorriso da noite passada, aqueles caninos e aqueles lábios que percorreram meu corpo todo... O seu corpo, agora coberto pelo fraque mais uma vez, o corpo que eu arranhei, acariciei, brinquei de cócegas, mordi, e muito mais coisas que veio em minha mente naquele instante... Os seus olhos vermelhos convidativos... Senti que meu rosto começou a corar, por lembrar o que havia feito com aquele homem, belo homem, durante aquela noite.

Permaneci dois ou três segundos congelada, com os lábios entreabertos, admirando todo ele, pensando bobagem, e com muita vergonha, para piorar. Até então lembrar que já era dia, que eu estava atrasada, que eu iria merecer bronca, que eu não deveria ficar ali parada...

- Aaah-AAAAAAHHHH!!!!! G-GOMEN NASAIIIIIII!!! E-EU N-NÃO QUIS A-ACORDAR A ESSA HORA, E… e… etto… aah… AAAAAAAHHH!!!

- Acalme-se, Maylene! – dizia enquanto rapidamente tapava meus lábios com sua mão direita – Eu mesmo deixei que dormisse um pouco mais. De fato, eu acho que a senhorita poderia descansar hoje um pouco mais, não?

- Aa-aah... t-talvez, mas...

- Não precisa se preocupar, eu já cuidei do serviço de hoje, que seria o seu. Quanto a bocchan, ele mal se importou se a senhorita iria ou não demorar a despertar. Expliquei a ele que a senhorita precisava descansar e...

- EH?? O-O SENHOR EXPLICOU A BOCCHAN QUE NÓS...??

- Ora... – escondia um sorriso com sua mão, prosseguindo o que dizia, agora com um tom divertido na voz – Nunca contaria algo assim a bocchan, já que ele é um pouco jovem para compreender tal situação, estou certo?

- Ah... ah... sim... é claro... Hoho...

- Mas... Precisamos tomar cuidado, Maylene... Alguma noite dessas, alguém poderá nos ver...

- A-alguma... alguma noite dessas...?? – respondi em seguida, desafinando a voz, desesperada, enquanto Sebastian-san se aproximava aos poucos de mim, tocando meus cabelos e minha face

- Sim, alguma noite... Alguém pode ter insônia alguma vez, não é? Ou... – aproximando-se de meu ouvido esquerdo, passando então a sussurrar – ... Podem nos ver a qualquer instante, meu anjo... Algo não muito agradável aos olhos puros de bocchan... A qualquer momento, como agora, Maylene... Aah...

Mal pude respondê-lo a partir dali, pois estava tão vermelha e envergonhada que não sabia mais como agir. Ele me acariciava de forma semelhante à noite anterior...! “E-ele não está planejando... agora... neste instante...?!”, pensava louca, enquanto Sebastian empurrava-me para um local escondido, ao lado da longa escadaria do Hall de entrada. Fechei os olhos e deixei que ele me beijasse nos lábios, e em locais próximos. Naquele instante mal imaginava as consequências que poderia haver se alguém nos visse daquela maneira, em plena luz do dia. Ele já havia desamarrado meus cabelos, acariciava-me de forma sedutora, e nossas respirações que se mesclavam eram perceptíveis, por mais baixo que fossem. Permaneci com os olhos fechados, porém passei a não sentir mais os beijos dele, repentinamente. Abri meus olhos lentamente, e o avistei a pouca distância de mim, com um sorriso divertido nos lábios. Ajeitei os óculos no rosto e firmei a vista, pensando. “Ele não está brincando comigo, está...?” No mesmo instante afastei-me dele, ainda sem conseguir pronunciar qualquer palavra, mas apenas emitindo sons.

- Ah... ah... oh... uh... eh... eh…???

- Haha… Maylene, não acredito que realmente acreditou que faria algo em horário de trabalho... – disse enquanto ria e fitava meu rosto corado.

- EEH...????  S-S-SEBASTIAN-SAN, O SENHOR E-ESTÁ… ZOMBANDO DE MIM!!!!

- Zombando…? Ora, não chego a esse ponto, meu amor. – aproximou-se de mim novamente e mostrou um sorriso em meio aqueles belos lábios, enquanto sutilmente os caninos apareciam, seduzindo-me – Apenas é de meu agrado ver seu lindo rosto corando em pouquíssimos segundos, por temer minhas ações. Sabe que não lhe faria nada de mal, não é…?

- S-sim… claro…

Aproximou seu rosto do meu um pouco mais, tomando minha face com carícias leves, enquanto deslizava os dedos pela minha testa, descendo delicadamente pelo lado da sobrancelha, retirando dali algumas mechas de meus cabelos e colocando-os para trás. Fechei meus olhos e senti meu coração acelerar, enquanto Sebastian depositava um beijo lento em minha testa; veio caminhando lentamente com beijinhos por meu nariz, e descia carinhosamente até chegar a meus lábios. Ali, então, primeiramente dava beijinhos seguidos, atiçando-me a beijá-lo também. Enlacei os braços em seu pescoço, alisando sua nuca da mesma forma como me acariciava, beijando-lhe os lábios, longo e apaixonado. “Eu amo este homem mais do que tudo…”

Eu estava mais do que louco por ela, não conseguia mais ficar um dia ou um momento sequer longe de Maylene. Precisava dela, de suas carícias, de seus beijos, de seus toques, de seu cheiro doce. Se estivesse distante dela por algum motivo, lembrava-me de tudo isso e mencionava ainda mais detalhes, então logo planejava um momento para ficarmos a sós, escondidos de todos. Sua presença era essencial para mim; só o fato de tê-la em meus braços no mínimo duas vezes ao dia, já era o suficiente para manter-me em paz. Pelo visto, se houvesse alguma probabilidade de precisar viajar com bocchan novamente, como da outra vez, teríamos que levar os empregados junto de nós, pois não suportaria a distância e os dias que faltariam para eu poder rever minha Maylene.

- É muita beleza para eu poder resistir, Maylene... Assim fica impossível. – disse, enquanto separava meus lábios dos dela vagarosamente

- Hu... Exagero seu! – corada, ela abraçava-me forte, escondendo o rosto por alguns segundos.

- SEBASTIAN!

Um grito de ordem ecoou repentinamente pelo Hall de entrada, vindo do andar de cima da Mansão, o que assustara a nós dois.

- Ah, bocchan. Perdoe-me, Maylene, deve ser alguma ordem...

- Claro, sem problemas! Hihi...

Apressei-me e aproveitei para servir o chá ao jovem mestre, atendendo ao que queria. Nem era tão fácil quanto parece conseguir alguns minutos livres para ficar perto dela. Afinal, trabalhávamos o dia todo, e esconder nosso relacionamento de todos não era nada fácil. Havia um dia ou outro que não conseguíamos um minutinho que fosse de um dia inteiro, e só à noite podíamos trocar carícias.

- Sebastian, prepare algo doce para mim, só este chá não adoçou o suficiente minha boca. Quero algo saboroso e doce o bastante para me acalmar um pouco.

- Claro bocchan. Com sua licença...

Retirei-me do cômodo no mesmo instante, e logo um sorriso animado tomou o canto de meus lábios: chamaria Maylene comigo, e faria com que ela me ajudasse a preparar algo para bocchan. Seria novamente uma ótima desculpa para ficarmos sozinhos, e em paz. Segui descendo a escadaria e encontrei Maylene no mesmo lugar onde estávamos anteriormente, tirando poeira dos móveis, completamente distraída, provavelmente não notou que eu já estava próximo. Meu sorriso aumentou ainda mais ao imaginar o que faria a partir dali. Rapidamente aproximei-me ainda mais, em silêncio, e abracei-a pela cintura, recostando todo o seu corpo no meu, ao mesmo tempo em que mordiscava sua nuca de surpresa.

- AAAAHH!!

Ela soltou um grito com o susto, e, em consequência, derrubou um enfeite de cavalo de porcelana francesa de bocchan, que foi salvo por mim ainda a tempo, enquanto eu ria da situação.

- S-S-Seb-bastian-san, q-que susto...!!

- Haha, desculpe, não pude resistir... – só então a puxei de frente para mim e beijei seus lábios de supetão, em seguida prosseguia com o que dizia – Vamos preparar um doce saboroso para bocchan.

- V-vamos...? E-eu vou poder ir junto??

- Claro. Você será a minha ajudante. – disse, mantendo o sorriso nos lábios – Vamos?

- S-s-s-sim, claro!!!

Sebastian-san mostrava-se sempre contente ao meu lado, e isto sempre me deixava bem de espírito. Bastava um instante livre para nós dois nos encontrarmos às escondidas, se não era um momento raro como aquele. Fomos o mais rápido possível para a cozinha, disfarçando para ninguém pensar qualquer coisa sobre nós dois. Mal chegamos e lá estava Bard, prestes a preparar algo, remexendo as panelas.

- Bard, o que faz aqui?

- Vim fazer alguns petiscos crocantes! Usarei explosivos, para torrar mais rápido, e...

- Desista. Maylene e eu iremos preparar um doce para o jovem mestre, ao seu pedido.

- Mas eu me comporto! Ficarei aqui no canto preparando...

- Não.

- Mas os petiscos servirão bem para...

- Já disse que não. Saia.

- Tudo bem, tudo bem! Deixarei os dois sozinhos bem como querem, não é, Maylene? – respondeu então Bard, já nervoso, com o rosto extremamente próximo ao meu, dando enorme ênfase ao meu nome, provocativo

- B-B-BARD!!! F-FIQUE QUIETO!!

Tapei o rosto, corando bruscamente, escondendo minha vergonha de Sebastian-san o mais rápido que pude. Na verdade, aquela ação, mesmo que eu tenha de fato sentido vergonha, fora apenas para Bard imaginar que tudo ocorria normalmente, e que nada que ele e nem ninguém não soubesse estaria acontecendo; e, bem, minha ação fora a certa! Ainda com os olhos fechados, não sabia quando Bard havia saído da cozinha, mas sim apenas ouvi o som da porta sendo fechada e o ruído das chaves. Em seguida, um toque das mãos de Sebastian no meu ombro me fez abrir os olhos novamente, e conseguintemente o olhei, e notei uma pequena preocupação em seus olhos.

- Ele sabe de nós, Maylene...?

- N-N-NÃO!!! E-ELE NÃO SABE NADA!!! NADA DEMAIS!!! – gritei, eufórica, erguendo os braços – E-ele... só sabe... que... que... e-etto...

- Que esta bela e tímida mulher me ama? – com aquele sorriso, ele aproximava-se de mim, lindo... – Que é loucamente apaixonada por mim?

- Aa-aaah... s-sim... t-todos sabem apenas isto... já... a muito tempo... – eu tremia totalmente envergonhada, enquanto estava prestes a esconder meu rosto novamente – I-isso... eu... não consigo esconder, Sebastian-san... Gomen nas...

- Ora, não peça desculpas, Maylene! Não é necessário. Sei o quanto é difícil esconder um sentimento tão forte quanto o nosso, sinto isso na pele. – sorrindo, prosseguia – Pode até pensar que para mim não há problema algum nisso, mas é totalmente o contrário. Eu nunca havia me sentido desta forma perto de qualquer outra pessoa, qualquer outra mulher...

Calei-me no mesmo instante, e sentia meu rosto ferver mais e mais enquanto meu coração saltava louco em meu peito. Meus olhos se enchiam de lágrimas, eu quase não acreditava no que estava ouvindo. Sebastian estava sendo sincero, eu podia ver nos olhos dele. Fiquei comovida; estava tão envergonhada que não sabia o que dizer nem ao menos como agir. Fora eu a única mulher quem causara esse sentimento nele? Era difícil de acreditar, porém seus olhos me davam a certeza disso. Permaneci com o rosto corado alguns segundos, os braços unidos ao meu corpo, tensa; no mesmo instante Sebastian deslizou suas mãos por meus braços e delicadamente puxou-me para um abraço carinhoso e macio, fazendo com que meu coração permanecesse acelerado, constantemente, deixando fluir o enorme amor que possuíamos um pelo outro. Subi os olhos até os seus, retirei meus próprios óculos e enxuguei as lágrimas que mal se formaram. Fitando os seus olhos, alternava de um para outro a cada segundo; eram tão lindos e sinceros...

- Fica ainda mais linda tímida assim, sabia?

- Eh...?

Minha voz já não saía, e o “eh” que eu soltei saíra até mesmo desafinado. Então Sebastian aproximou seu rosto ainda mais do meu e beijou meus lábios, de forma amável, enchendo-me de carinho. Retribuí seu beijo, demonstrando meu amor da melhor forma possível, ao mesmo tempo em que deixava com que ele deslizasse sua mão por minha nuca e pescoço, e por minha cintura. Meu corpo correspondia aquele afeto todo com arrepios, e eu tinha a liberdade em acariciá-lo da mesma forma, deslizando a mão de seu peito até suas costas, abraçando-o forte. A sensação de tê-lo próximo a mim, como antes de ter perdido as lembranças era sempre maravilhosa. Recostei minha cabeça em seu peito e fui capaz de ouvir os batimentos de seu coração tão forte quanto o meu. Sorri, e permaneci alguns longos segundos abraçada a ele daquela forma, até então ouvir sua voz, enquanto erguia meu rosto com a ponta de seus dedos e mostrava-me seu belo sorriso.

- Agora precisamos fazer o doce, não é?

- AAAAAH!!! V-VERDADE!!!!

Rapidamente a soltei de meus braços, e nos separamos para então finalmente começarmos a preparar algo, que nem ao menos havíamos imaginado o que fazer; mas isto para mim não era nenhum problema. Conhecia variados tipos de receitas, tanto doces quanto salgadas. O segredo era apenas escolher uma receita rápida, já que havíamos enrolado o suficiente para tentarmos fazer um doce tão detalhado e demorado.

- Hum, que tal uma Torta Mousse Francesa?

- Whoaaaaa!!! Temos maracujá que compramos da feira!

Maylene aparentava de fato uma enorme empolgação para preparar um simples doce. Eu admirava sua força de vontade e empolgação para querer me ajudar a prepará-lo. “Seus olhos brilham de uma forma tão encantadora que me causa um sorriso bobo enquanto sinto meu coração disparar...” Eu não podia me controlar, os sentimentos eram tão espontâneos que eu praticamente não chegava a notar.  Toquei seus cabelos logo que terminou sua frase, e a puxei para lhe dar um beijo na testa.

- Linda.

Não me contive mais uma vez, e soltei aquele elogio enquanto olhava fixamente em seus olhos, mesmo cobertos pelos óculos. Ao notar uma expressão de surpresa em seu rosto inocente, sorri, afastando-me dela enquanto pegava os maracujás. Voltei até Maylene com eles em mãos, entregando-os nas mãos dela, mostrando-lhe um sorriso doce. Ela ainda estava estática, pelo visto intimidara-se com o singelo elogio ganho. Mantive o sorriso nos lábios e beijei agora seu nariz, fazendo em seguida com que pegasse os maracujás de minhas mãos.

- Ande e bata o maracujá com as sementes, e aproveite para preparar também o creme. A massa da torta e a cobertura ficarão por minha conta.

Mesmo sendo uma torta simples, era doce e saborosa, e de fato seria do agrado de bocchan. O impacto que causaria em sua boca seria como um estouro: o maracujá azedo dando contraste para o doce do chocolate e do creme; dariam um sabor perfeito. Com tudo sendo preparado com esmero e carinho, bocchan com toda a certeza se satisfaria.

Alguns minutos se passaram, e a massa estava pronta. Precisava apenas cobrir com o recheio e a cobertura para colocar na geladeira por mais alguns minutos. Deixei a tarefa da decoração com Maylene, monitorando-a ao lado para não haver erros. O modo como ela decorava a torta com todo o cuidado era encantador. Tão delicada, ela ajeitava lentamente cada detalhe da cobertura, com seus dedos finos, usando a espátula, alisando e fazendo o possível para deixar perfeito.

- Sebastian-san, deixarei a cobertura perfeita como a que o senhor faz! Huhu!

- Se depender da sua força de vontade e da sua delicadeza, ficará. – abri um sorriso e a abracei por trás, beijando-lhe a nuca – Já está bom assim. Esta cobertura não carece de tanto esforço, ela se desmancha fácil, e logo esta camada ficará lisa por si só enquanto esfria.

- Whoaa... eu não sabia disso, Sebastian-san...

Virei seu rosto delicadamente com a mão e lhe beijei os lábios, deslizando os dedos por seus cabelos, mostrando-lhe meu sorriso. Era maravilhoso ver seu rosto surpreso e corado ao mesmo tempo em que gostava da minha ação. Sua feição tímida me atraía, e me fazia roubar beijos seus sempre que estávamos a sós. No momento seguinte, nos apressamos e corremos em direção ao quarto de bocchan, e apenas eu adentrei ao recinto para servir o seu doce. Logo que retornei para onde Maylene estava, notei uma expressão de curiosidade em seu rosto, e me aproximei, com um sorriso no canto dos lábios.

- E-ele disse algo?

- Disse apenas que estava bom. Raras são as vezes nas quais bocchan elogia qualquer feito meu, sabia? – abracei-a e levei-a até a outra parede, longe de qualquer aparição repentina de alguém – Suas mãos de fada ajudaram a prepararmos um doce do agrado de bocchan...

- Ah-AAAH? Minhas mãos?? De fada...? Q-q-que exagero, S-S-Seb-bastian-s-san!! E-e-e-eu s-sou tão d-desastrada...!!!

Rimos, beijamo-nos e quase perdemos a noção do tempo. Permanecemos um longo instante ali, e não nos preocupávamos com mais nada além de dar carinho um para o outro. Amávamo-nos...

Daí em diante passou-se dias, maravilhosamente bons por sinal, nos quais sempre conseguíamos um momento para nos vermos sempre às escondidas. Na maioria das vezes eram duas ou três vezes ao dia, ou até mais, dependendo da nossa necessidade e das saudades que sentíamos, também das boas oportunidades que possuíamos. Não havia dia algum que deixávamos de nos tocar, retribuir afeto, que nos beijássemos uma vez que fosse; afinal, em nenhuma das noites passadas eu deixava de visitar seu quarto. Era sempre aquele exato horário e exato momento em que todos da Mansão já estavam dormindo, em sono profundo, que nunca corríamos  o risco de sermos pegos de surpresa por alguém. Possuíamos a necessidade de um do outro, precisávamos estar próximos todos os dias; éramos capazes de um dia não conseguirmos sobreviver se não ficássemos juntos. Havia ainda noites em que Maylene dormia em meu quarto, noite em que passávamos a madrugada toda acordados. Tudo sempre em extremo segredo, ninguém além de apenas nós dois sabia o que acontecia entre nós. O que mais impressionava era que também ninguém desconfiava de nada além do que os empregados pensavam sobre Maylene me amar apenas, e ainda provocavam-na quando notavam situações na qual ficávamos à sós; tolos, mal sabiam o que acontecia além das portas e paredes daquela Mansão, que eram as únicas cúmplices do que realmente acontecia entre nós.

Os dias passavam mais e mais, continuavam normalmente, e ainda nada nos impedia que continuássemos com aquele grande segredo. Os lugares mais frequentados por nós eram sempre os mais escuros e mais “escondidos” possíveis, como o porão, sótão, área de serviço; além da cozinha, cantos de cômodos, corredores vazios; e, ainda, principalmente, nossos quartos. Havia ainda outros lugares daquela Mansão que todos mal sabiam que existiam, e nós aproveitávamos a deixa para usufruirmos desses especiais locais para nós, mesmo que possam não parecer tão aconchegantes...

- Hoje a Biblioteca estará livre... – disse, em meio a um sussurro ao pé do ouvido de Maylene, enquanto lavava os pratos, distraidamente.

- V-vamos poder ir para lá...?

- Sim, se desejar...

Puxei-a pela cintura quando então terminou a louça, e corremos até o corredor que seguia para a Biblioteca da Mansão; já próximos ao cômodo, caminhamos silenciosamente até chegarmos até a porta. Rapidamente apanhei as chaves, destrancando a porta e adentrando ao recinto juntamente de Maylene, num ato ligeiro, fechando a porta em seguida, trancando-a. Logo puxei Maylene para um beijo forte, empurrando-a para uma das prateleiras dos livros, derrubando um ou outro. Pouco nos importavam os livros que caíam, ou estantes que tombavam; o que nos prendia a atenção era apenas um ao outro e nada mais. Sentia as suas mãos acariciarem-me fortemente, roçando suas unhas por meu corpo, causando-me arrepios quentes por inteiro. Eu logo retribuía com mordiscadas em seu colo e mais beijos molhados que ora subiam ora desciam em seus lábios, em direção ao pescoço, enquanto minha mão passeava por seu quadril, descendo até a coxa para então puxá-la e encaixá-la em meu corpo. Minhas mãos percorriam livres pelo seu corpo, deslizando por todo ele, as partes sensíveis que faziam Maylene arrepiar-se e pedir por mais. Prendia-a contra a parede com meu corpo, para que não fugisse, mesmo sabendo que ela não o faria. Beijava-a com todo o carinho que possuía, às vezes agindo até um pouco bruto, a meu ver, mas me sentia bem ao saber que ela parecia gostar destes atos meus. Sentir o calor de sua pele aumentar e os cabelos de seu corpo eriçar-se com um arrepio a cada toque meu era indescritível. Cada suspiro, cada sorriso, cada reação de seu corpo ao meu... Sentia o enorme prazer de estar junto dela, em tê-la em meus braços daquela forma. Se dependesse de nós, ficaríamos ali eternamente...

Aquelas mãos grandes de Sebastian-san envolviam-me de uma forma tão deliciosa à ponto de fazer meu corpo arrepiar além do normal, por inteiro, e a ansiedade que palpitava em meu corpo fazia com que eu retribuísse todas as carícias dele da mesma forma, com a mesma intensidade. Ele já havia retirado meus óculos e desamarrado meus cabelos, como sempre fazia, e deslizava seus dedos compridos pelo meu couro cabeludo e nuca, causando-me delírios. Eu perdera a enorme vergonha que me prendia, e naquele momento enfiava a mão por dentro do seu fraque, desabotoando o seu colete, erguendo sua camisa, impaciente, acariciando com os dedos firmes em seu abdômen definido, subindo com as unhas o arranhando, e aproveitava para apertar suas costelas. Ouvi um riso de Sebastian junto de um suspiro forte; em seguida logo roubava beijos gostosos de meus lábios, e caminhava seguidamente até minha orelha, prendendo-me a si. Apertava minha perna com firmeza, deslizando sua mão por toda ela, enquanto erguia meu vestido. Estava tudo perfeito, até o momento em que ele parou e me fitou com uma expressão estranha e desconfiada. Olhei em seus olhos, preocupada, com as sobrancelhas franzidas.

- S-Sebastian-san, o que...

- Shh. – interrompeu-me rapidamente, tapando meus lábios, prosseguindo em seguida em um sussurro quase imperceptível – Ouço passos...

“Passos? Sebastian-san realmente os ouviu??”, pensava aflita, temendo o que aconteceria dali em diante. Alguém poderia nos ver e contar a bocchan! “Será que meus colegas de trabalho fariam isso comigo e com o senhor Sebastian...?” Poderia ser ainda pior. Poderia ser o próprio jovem mestre, por notar a falta de Sebastian-san! Quando dei por mim, Sebastian-san já estava em perfeito estado, vestido e arrumado; só então fiz o mesmo, ajeitei os cabelos com pressa e também me vesti rapidamente, para evitar que qualquer pessoa que chegasse e visse pensasse qualquer coisa. Ainda possuíamos a desculpa de que estávamos limpando a Biblioteca. “Sim, sim!” Comecei a mexer em alguns livros, fingindo limpá-los, com uma flanela que sempre estava comigo no bolso. No mesmo instante ouvia sons na porta, de fato alguém estava próximo. Eu tremia dos pés à cabeça, quase não conseguia manter-me de pé; minhas mãos já suavam, meu coração aflito no peito descompassado. Apertei os olhos, medrosa. Até que ouvi o som da porta se abrindo, Sebastian mesmo a abrira...!

- Bocchan, por que está atrás da porta?

- Quem começa a questionar aqui sou eu. O que faz aqui junto de Maylene?

- Limpeza, ora. O senhor possui problemas com respiração, se ficar muito tempo perto de poeira, o senhor...

- Cale-se! Ainda não terminei.

- ...

- Eu sei que não precisa de ajuda para limpar aqui, imprestável.

- Maylene confessou que queria ajuda na limpeza, então decidi ajudá-la...

- Não me interrompa! Ora, pela segunda vez! Cretino!

- ...

- Ouvi ruídos estranhos por aqui. De vozes. Nunca ouvi coisa parecida aqui na Mansão, mordomo. – cruzando os braços, continuou com um tom irônico – Como achei estranho, decidi averiguar, ora. Eu sou o dono daqui, eu posso ir para onde quiser. Por que raios pegou também a minha chave?

Eles estavam discutindo, Sebastian-san estava mentindo para o jovem mestre, e ele ainda sabia que era uma mentira...! “S-Sebastian-san... e-está tomando bronca... e... eu não posso nem consigo fazer nada para ajudá-lo!”, pensava louca, aflita, tremendo mais do que o normal, já com lágrimas nos olhos. Sebastian estava fazendo silêncio comigo, com toda a certeza a culpa fora minha, que fiz barulho derrubando livros, falando. Evitava olhar bocchan nos olhos, e permanecia quieta, sem me mover um milímetro, porém fingindo a feição mais tranquila possível, com os óculos escondendo meus olhos. O suor que escorria pelo meu rosto cortava completamente a minha farsa, juntamente com minhas pernas que não cessavam de bambear...

- Não adianta mentir ou esconder nada, Sebastian. Como se eu não desconfiasse de nada e não percebesse o sumiço repentino de vocês dois, não é? Ora, achavam que eu pensava que era apenas uma mera coincidência os dois desaparecerem assim, não é? Apenas idiotas achariam isso, como os empregados. Pff.

- B-bocchan...!

- Quieto, Sebastian! E quanto à Maylene? Para piorar, ela mal sabe esconder que algo acontecia aqui dentro, não é? Ela quem entregou.

- G-G-GOMEN NASAI!!!

Ela correra logo em seguida, com o rosto completamente corado, constrangida, fugindo dali e se escondendo longe da altura de nossos olhos. Eu sentia-me da mesma forma que ela, ou talvez pior. O peso da incompetência me forçava a não olhar nos olhos de bocchan, e isso logo revelava também a mentira. Nunca mentira anteriormente para o jovem mestre, respeitava-o fielmente e também não possuía motivos para dizer-lhe algo falso. Mas, naquele momento, eu possuía, e eram necessários. Eu já sabia que bocchan não acharia nada bom...

- Tolo! Estúpido!

- Bocchan, perdoe-me, eu...

- Não peça perdões e desculpas para mim, imprestável. – aborrecera-se, demonstrando isso em sua feição de seriedade – Deve pedir desculpas a ela, otário.

- A ela...?

- Pff, é mesmo um tolo. TOLO! Esqueceu-se, Sebastian Michaelis, que é um demônio? DEMÔNIO!!

Permaneci em silêncio naquele instante, com o cenho franzido e os lábios sutilmente entreabertos, deixando que a respiração forte passasse imperceptível. Não, de fato, eu não me esquecera de que era um demônio, mas eu, sim, havia perdido a noção do real. Estava me relacionando novamente com ela, sendo que devia... fazê-la esquecer desde o princípio...

- Não devia ter nem ao menos começado com esse relacionamento, imbecil. Vai machucar os sentimentos da garota, não pensa nisso? Egoísta!

Tudo o que eu pensara antes, o jovem amo vomitava, como se ele já tivesse lido meus pensamentos alguma vez. Todos os xingamentos não me feriram tanto quanto a palavra “egoísta”... Franzi o cenho e abaixei a cabeça, escondendo o olhar de bocchan por ora. Ele estava certo, e isto doía em mim. Um garoto com a idade dele ter a consciência do que eu havia feito era uma vergonha para um demônio como eu.

- Bocchan, eu... sou realmente um imbecil, um tolo egoísta. – falava baixo e rouco, evitando mostrar o desespero na minha voz, enquanto notava que ele agora me dava as costas.

- Palerma. Ande logo e dê um jeito de mudar isso. Eu também não quero empregados meus distraindo-se do serviço e de mim com namoricos.

- Irei, bocchan, e logo, prometo.

- Lorpa. Pacóvio. Pascácio! Humpf... Argh, pense antes de fazer qualquer coisa, estulto.

Aquilo novamente. Minha cabeça latejava no mesmo instante, após bocchan dizer-me tudo aquilo. Logo que saiu dali, levei as duas mãos até a cabeça, esfregando os polegares em minha própria testa, que doía. Em minha mente pulsava fortemente as palavras mais marcantes do jovem mestre. “Tolo! Esqueceu-se de que é um demônio?”... “DEMÔNIO!!”... “Pense antes de fazer qualquer coisa, estulto.”... “DEMÔNIO!!”... Nada mais além daquilo vinha em minha mente, não conseguia pensar em outra coisa para tirar aquelas frases e palavras de minha cabeça. Meu peito e minha cabeça pulsavam, doíam, machucavam-me e matavam-me por dentro. O sentimento de culpa me angustiava, eu de fato sabia o que era, mas teimei em deixar que o amor tomasse conta de mim de corpo e alma. E mesmo sabendo também que não podia ter relação com Maylene, tive, esquecendo-me completamente e deixando de lado o ato de retirar sua memória mais uma vez. Pelo mesmo motivo egoísta meu, fiz com que sofresse, sendo obrigado a ter que retirar suas lembranças novamente; sempre quem sofria as consequências do meu erro era ela. Queria retirar as minhas próprias memórias também, para que ambos os lados não mais precisasse sofrer com esse amor. Porém, eu não poderia fazer isto. Se me esquecesse completamente de tudo o que fizemos, era bem capaz de eu cometer o mesmo erro mais uma vez; eu teria que estar consciente de tudo, para que isso não se repetisse. Bocchan possuía toda a razão, possuía todo o direito de usar todas aquelas palavras chulas comigo; as que usaram foram simples e ingênuas perto do monstro que sou.

Recostando as costas na estante de livros, pousei os olhos em uma região qualquer da Biblioteca, e assim deixei uma lágrima escorrer de meus olhos, dolorida, cortante. Outra então veio a escorrer, e logo outra, e outra, e mais outra. Estava eu chorando mais uma vez, como da primeira, exatamente pelo mesmo motivo, pela mesma culpa, pelo mesmo erro, pelo mesmo amor. Lágrimas merecidas, lágrimas para meu castigo, que umedeciam meu rosto e meu fraque, intacto a cada gota que nele trombava. “Imprestável”... “Cretino”... “Tolo”... “Estúpido”... “Otário”... “Imbecil”... “Egoísta”... “Palerma”... “Lorpa”... “Pacóvio”... “Estulto”... “Pascácio”... Os insultos também latejavam em minha cabeça, enquanto cada vez mais eu me conformava e me comparava com cada um deles. Era de fato imperdoável este meu ato, que afeta a vida de Maylene, seu futuro, que poderia deixar de ser comum para transformar-se em um grande problema se relacionando com um demônio. Não seria feliz como todas as mulheres, sua atenção se voltaria para a preocupação com a existência de um “não-humano”. Imperdoável também era envolver desnecessariamente o jovem mestre em um relacionamento, fazendo-o descobrir que, ao mesmo tempo em que estava me relacionando com uma humana, sua empregada por sinal, estava lhe escondendo isto e mentindo. Eu estava colecionando gafes...

- Arf... arf...

Eu parara de correr apenas depois de percorrer um terço da Mansão, arfante em frente ao meu quarto, recostada na porta. Minha cabeça girava, e minha respiração descompassada, junto do meu coração, mostrava o quanto eu estava aflita. Repousei a mão sobre meu peito, esperando que desta forma eu me acalmasse mais facilmente. “B-bocchan descobriu nosso relacionamento...! O-o que será de nós a-agora...? Será que... ele... me mandaria embora daqui...??” Eu estava tão desesperada que já não sabia mais o que pensar. Também não sabia o que mais o jovem mestre havia dito a Sebastian-san...

Abri a porta de meu quarto e entrei rapidamente, jogando meu corpo contra a cama, ainda com os olhos estalados e as sobrancelhas franzidas. Eu não sabia o que fazer, como ajudar o senhor Sebastian; afinal, fui eu quem acabei com o disfarce com o meu desespero e falta de habilidade, por estar morrendo de vergonha e ainda ter corrido dali. Aliás, o ato de ter corrido acabara o disfarce por completo; se ficasse e ajudasse a dar qualquer desculpa era até capaz do bocchan acreditar! Mas infelizmente eu era imprestável o suficiente para fazer algo correto. E ainda... o pior poderia acontecer... “Minhas memórias... isto não pode acontecer novamente...” Mal começava a pensar no pior, e as lágrimas já se apossavam de meus olhos, encharcando-os e logo escorrendo duas ou três de uma só vez por meu rosto quente. Comecei a ficar angustiada; o jovem mestre poderia dar uma ordem a Sebastian, e fazê-lo retirar minha memória para não causar mais problemas. Ou então, o próprio Sebastian decidir sozinho, como da primeira vez... Com toda a certeza, de qualquer forma, tudo acabaria com o mesmo final: eu teria que perder minhas preciosas lembranças mais uma vez...

Com o rosto já banhado em lágrimas, direcionei-o ao relógio, eram 16h13min. Sebastian-san não viria falar comigo, afinal, àquela hora já deveria estar preparando o chá de bocchan e algum petisco. Depois, iria fazer-lhe companhia, prepararia o jantar; apenas após as 20h30min era capaz de sobrar tempo para que viesse falar comigo, e tentar convencer-me de apagar o que sempre foi tão precioso para mim. Ou, como da primeira vez, em plenas 00h00min. Mas eu precisava levantar e continuar minhas tarefas, mesmo o quão difícil seria encontrá-lo novamente...

Eu não demorara muito tempo para lembrar-me que logo seria a hora do chá de bocchan, afinal, era uma das obrigações diárias minhas, e seria outro enorme erro esquecer, coisa que eu nunca fizera. Preparei-lhe um chá russo, servi-lhe e permaneci ao seu lado, de pé e quieto.

- Está amargo.

- Eh...? B-bocchan, perdoe-me... Irei preparar outro melhor...

- Bah, esqueça. Tsc. Mentira minha. Disse para chamar sua atenção. Está sério demais.

Eu estava completamente magoado, sem vontade para continuar a existir, se possível; já desconfiava com quase certeza de que bocchan sabia disso e apenas queria me provocar. De fato, nunca erraria algo tão simples como adoçar um chá ou ferver a água. Mas estava tão encabulado e cabisbaixo que possuía até mesmo o temor em perder o esmero e o capricho para com as tarefas da Mansão e as obrigações de um mordomo para fazer tudo do agrado de meu mestre. Mal o pedia por desculpas e licença, e já estava saindo do quarto, com a bandeja em mãos.

- Sebastian!... – exclamou bocchan antes mesmo que pudesse sair, fazendo-me parar no mesmo instante – Não enrole ainda mais com isso. Não quero que passe de hoje, hm?

Abaixei a cabeça como um consentimento, logo pedindo por licença novamente, e só então podendo sair do quarto. Meu coração parecia apertado em meu peito, saltando angustiado, pulsando dolorosamente. Não conseguia deixar de pensar no que acontecera, no quão egoísta eu agia com Maylene e não percebia. “De que adianta arrancar-lhe a memória antes mesmo de se lembrar por completo, para depois enchê-la de esperança mais uma vez? Isto vale não apenas para Maylene, mas também para mim. Dar amor e carinho para depois querer tirar...” Um demônio como eu nunca poderia fazer algo assim. Nossos interesses são apenas almas humanas, e não a paixão delas. Minha cabeça estava atordoada, latejante; eu necessitava de distração para poder me acalmar. Direcionei-me à cozinha, e decidi preparar um jantar mais delicado, trabalhoso e demorado. Assim teria tempo o suficiente para me acalmar, teria que ser direto com Maylene, para fazê-la compreender novamente o que no futuro nos aconteceria se permanecêssemos amantes.

Então, tudo ocorrera como nos conformes, como eu havia planejado; fora o tempo perfeito para preparar o jantar que era do agrado de bocchan, seguido da sobremesa caprichada. Mesmo tudo estando em tão perfeitas condições, do gosto do jovem mestre, nada me fazia abrir um sorriso, nem mesmo falso eu ousava forçar. E eu precisava de força o bastante para poder fazer Maylene acreditar em minhas palavras, compreender o que será melhor para nós dois, principalmente para ela. Deveria ter uma atitude decente, para então poder ver Maylene viver normalmente, feliz de fato e despreocupada com “missões de um demônio”.

Enfim, todas as tarefas feitas, todos jantaram, todos com seus devidos trabalhos terminados, porém adiantados. Aqueles minutos que faltavam, formando quase uma hora já começavam a me corroer. Teria que contar os segundos e os milésimos da forma mais paciente possível, ao lado de bocchan, à espera de sua sonolência e do horário certo para colocá-lo para dormir. Estava novamente de pé ao seu lado sem mover-me, ou modificar minha expressão; até então o jovem mestre chamar minha atenção.

- Ei, Sebastian. Vamos, estou te liberando. Vá logo conversar com Maylene e acabar com esta história de uma vez por todas. – bufou ao pausar, e logo prosseguia – Coloque-me logo para dormir, e assim não terá que interromper a conversa para atender ordem minha; faça-a antes para não dar trabalho.

- Ah, bocchan...! Agradeço sua compreensão, farei como desejar. – sorri de leve, fitando-o com uma expressão brevemente surpresa, logo em seguida voltando com a seriedade de antes.

Acompanhei-o até seu quarto, troquei suas vestes para seu pijama e então esperei que se deitasse para então o cobrir e sair do quarto. Tendo isto feito, pedi por sua licença, desejando boa noite, e saí às pressas. Ao mesmo tempo em que me sentia ansioso, temia o que estava por vir; seria doloroso olhar para os belos olhos da ruiva e dizer-lhe tudo o que deveria. Eu então não poderia vê-la mais com outros olhos, com a visão apaixonada que eu possuía. Deveria ser frio dali em diante, e nunca mais ousar em lhe tocar de qualquer forma, um olhar comprometedor que fosse. “Nunca mais...”... “Nunca mais...”, eram palavras que pulsavam também em minha cabeça, tão fortes a ponto de querer forçar as lágrimas a começarem a sobrevir pouco a pouco; porém logo as contive, não queria que ela me visse em desespero daquela maneira. Levei a mão até os olhos, logo esfregando os olhos, evitando que escorresse a lágrima que mal se criara. Para mim, seria cruel e doloroso para sempre, porém, para ela, seria apenas naqueles instantes, e o restante de sua vida estaria em paz, e era exatamente isto o que eu queria. E nada impediria que isso acontecesse...

Andava depressa, descia as escadas rapidamente, pé ante pé, em direção ao quarto de Maylene; com certeza estaria acordada, à minha espera, como fazíamos todas as noites. “Maylene, perdoe-me...”

- Ah...!

Foram duas vozes emitindo som de surpresa ao mesmo tempo. Enquanto andava às pressas, Maylene corria, e logo trombamos os corpos, e, por consequência, segurei-a pelo braço, apertando-a ali, evitando um tombo seu. Fitei seus olhos, alternando de um para outro com uma feição preocupada; logo notava nela um ar de tristeza, e em seus olhos criavam-se lágrimas logo que me vira. Seus olhos estavam vermelhos, deveria ter chorado por muito tempo... Com toda a certeza imaginara o que eu havia planejado fazer.

- Maylene...

- S-Sebastian-san...!!

- Eu...

Mal cheguei a começar a falar, e Maylene apertou os olhos fechados, fazendo com que uma lágrima escorresse uma a uma. Logo quis se soltar de mim, esquivando-se em desespero, tentando fazer com que eu a soltasse; firmei os dedos e apertei seu braço, prendendo-a para mantê-la próxima a mim sem que a machucasse. Fitei seu rosto por alguns segundos, sério, determinado, até que ela olhasse em meus olhos e enfim se acalmasse. Notei seu rosto corar pelo choro e esforço que fizera, e logo em seguida abriu os olhos, desviando-os dos meus, evitando trocar olhares comigo, enquanto as lágrimas ainda se eclodiam. Franzi o cenho e sem pensar em resistir, tomei-a em meus braços e a beijei, um beijo longo e triste, banhado com as lágrimas de Maylene. Eu não queria mais soltá-la, o que desejava era estar para sempre com ela junto a mim. Aquele sentimento doloroso no meu peito corroia-me, a dor do arrependimento destruía-me. Beijei-a, beijei-a mais e mais, sem parar. Desesperador, compungido. Aquele seria o nosso último beijo, nunca mais lhe daria outro. Eu necessitava daquele beijo antes de cumprir o meu dever, precisava sentir o toque de seus lábios macios e sentir seu rosto quente com minhas próprias mãos em uma carícia. Sentir seu corpo tão próximo ao meu daquela maneira fazia com que eu quase me arrependesse e desistisse de retirar sua memória... Porém, infelizmente, eu não podia tomar a liberdade de “ter um final feliz”, sendo que ela sofreria.

- Maylene... – abracei-a em seguida, recostando seu rosto em meu peito.

Deslizei as mãos por seus cabelos, e acariciei-a daquela forma por um longo instante. Queria demonstrar todo o meu amor e todo o meu afeto por ela da melhor forma possível. Minha garganta começou a ficar incômoda, enquanto meus olhos já começavam a marejar por si só, apenas ao ouvir a voz soluçante, angustiada de Maylene, enquanto estremecia em meus braços.

- S-Sebastian-san... – podia ouvir sua voz baixa pronunciando meu nome em meio a um soluço, interrompendo aquele momento por alguns segundos, ainda com o rosto em meu peito, abafando a voz – E-eu... n-não quero... não... quero... p-perder... o senhor...

As suas palavras eram capazes de fatiar meu coração, despedaçando-o apenas com a força do meu remorso. Saltava, doía, apertava dentro do meu peito. Por qual motivo o necessário deveria ser o doloroso? Por que não existia outra opção senão esta tão cruel? Vi seu rosto se erguendo, Maylene estava com o nariz e as bochechas vermelhos, o rosto completamente úmido pelas lágrimas já escorridas, misturadas com as que começavam a se formar e percorriam seu rosto lentamente. Seus belos olhos, livres dos óculos, me fitavam tão tristes, implorantes. Não desejávamos que aquela situação ocorresse novamente, mas era inevitável. Mantive o cenho franzido, segurei as lágrimas para que não escapassem; estava acontecendo tudo novamente, e teria que continuar como da primeira vez. Aquela seria a segunda e a última.

- Maylene... devo pedir-lhe por desculpas por não ter cumprido minha promessa. – escondia um dos olhos com a palma da mão, enxugando a lágrima que mal se formara, evitando sua aparição para a ruiva o quanto antes – Agi como um tolo egoísta mais uma vez.

- N-não, S-Sebastian!! Não... n-não foi nada disso!

- Sim, fui estúpido o bastante para repetir um ato incorreto. Nunca deveríamos ter começado este romance, Maylene... Eu fui fraco e me deixei levar.

- M-mas... Amar... nunca foi e nunca será um erro, ou egoísmo! Nós... nós... – fez então uma pausa para alguns soluços, enxugando lágrimas que não paravam de escorrer – Sebastian-san... nós... podemos ser felizes...! P-podemos ter uma vida comum... é só o senhor querer, e...

- Por favor, acalme-se... Mesmo querendo, não há como ficarmos juntos futuramente. Eu... já lhe expliquei isso, sim?

- Sim...

Demos mais alguns passos no corredor, e já estávamos na porta de meu quarto; logo adentramos ali e Sebastian fechou a porta, trancando-a por dentro. Meu coração saltava fortemente, parecia até que em algum momento que eu menos esperasse ele iria explodir em meu peito. O beijo de Sebastian havia me acalmado naquele momento, mas naquele instante eu já começara a ficar nervosa novamente. Poder sentir seu abraço quente e confortador pela última vez era ao mesmo tempo bom e cruel. O lado bom era que aquele carinho me envolvia de forma tão amorosa como nunca, porém o lado cruel estava junto, latejando em minha mente e coração, que aquele momento maravilhoso seria o último, e por isso deveria valer como todos os futuros que não teríamos...

- Eu... só não quero... perder minhas... lembranças preciosas...

- Será melhor assim, Maylene... – acariciava meu rosto, e percorria até a orelha, roçando os dedos por ali – Não quero que tenha lembranças de que foi amante de um demônio. Não quero que este amor impossível te machuque pelo restante de sua vida...

- Não irão me machucar, pelo contrário...! Eu... eu prometi ficar na Mansão por tempo indeterminado, se lembra? Não sairei daqui, Sebastian-san... Me deixe... me deixe amá-lo...! Não arranque... o que me mais importa...

Meu coração pulsava tão intensamente que eu mal podia respirar; falava em meio aos soluços, estava em extremo desespero de amor. Não queria perdê-lo mais uma vez. “Está sendo exatamente como da primeira vez...!” Eu me determinara a não deixar que ele fizesse aquilo, mesmo que eu tivesse que fazer qualquer coisa para convencê-lo. Mantive a cabeça recostada em seu peito, apertando-o em um abraço carente, segurando firme nas costas de seu fraque, chegando a amassá-lo. Senti, então, sua mão e seus dedos longos tocarem meu rosto carinhosamente, erguendo-o e fazendo com que eu olhasse em seus olhos mais uma vez. Meus olhos não cessavam um instante de criar lágrimas e mais lágrimas; olhava Sebastian agora com os olhos completamente mareados novamente. Quando escorriam, pareciam cortar meu coração por onde deslizava em meu rosto.

- Eu... apenas não quero tirar sua felicidade.

- Mas, Sebastian-san...! A minha felicidade... é o senhor... eu... eu... seria... apenas um estorvo...

- Maylene, sabe que sou um demônio, e não posso me relacionar com humanos, como você. O grande problema que nos empaca é esta muralha que nos separa: a diferença entre nós. Não por mim, lhe garanto que nada me prejudicaria, sua presença nunca foi e também nunca será um estorvo, muito pelo contrário; com sua presença eu seria feliz. Mas a sua vida, Maylene... Não seria comum, nem ao menos feliz, como imagina. Não se casaria, não teria uma casa própria, não poderia formar uma família, e eu sei que este é o desejo de toda mulher. O meu dever aqui no mundo dos humanos é apenas fazer com que bocchan viva até que cumpra com sua vingança, como já lhe expliquei da outra vez. Eu praticamente fora proibido por mim mesmo de me relacionar com qualquer humano, já que isto nunca acontecera antes no Mundo dos Demônios. Logo o jovem mestre cumprirá com sua vingança, e eu então voltarei para o meu lugar. Apenas voltaria para a Terra quando algum outro humano fizesse um contrato comigo.

Cada palavra dita por ele me machucava por dentro, apertando meu coração sem cautela, ferindo-me, arrancando-me lágrimas como nunca. De fato, eu sabia que ele não queria me magoar, apenas dizia-me a verdade, evitando esconder qualquer outra coisa. Infelizmente a verdade doía... Eu sabia que ele não queria que eu tivesse um futuro ruim ao lado de um demônio, já que as preocupações de um demônio e de um humano são completamente diferentes. Ele já havia me explicado tudo da outra vez, mas ainda assim eu me lembrara de tudo e nosso romance ocorreu mais uma vez. Era doloroso ter que passar pela mesma situação tão cruel por duas vezes. Sebastian-san, da outra vez, tirara minhas memórias sem mesmo eu assentir; com isso, minha teimosia fora mais forte do que os poderes dele, e eu recordei de todo o nosso amor juntos. Mas, desta vez, ele teria que me convencer antes de retirar minhas lembranças.

- Eu... eu faço um contrato com o senhor! Não me importo... c-com o futuro de minha vida, o-ou da minha alma! Eu apenas... te quero... – continuava a chorar sem parar, os soluços mal deixavam eu falar, enquanto tentava convencê-lo.

- Não, Maylene, eu não posso deixar que faça uma coisa desta! Alimentar-me de sua alma seria algo que nunca teria coragem de fazer... – apertava meus braços com firmeza, fixando-me à sua frente, olhando-me com seus olhos penetrantes – Eu quero te ver feliz, Maylene... Por favor, deixe-me retirar suas memórias mais uma vez. Se sofrer, eu também sofrerei. Tudo ficará bem para ambos os lados; terá uma vida comum, e eu também, de certa forma. Temos nossos futuros completamente opostos, Maylene. Entenda-me, por favor...

- Mas... Sebastian... se o senhor r-retirar minhas memórias, eu... eu... apenas... esquecerei... de tudo! O senhor não esquecerá, g-guardará estas recordações... e... irá... sofrer sozinho!! Sebastian-san...!! Eu não quero isso... eu não quero que sofra assim...!! – eu tentava convencê-lo quase aos gritos em meio aos soluços, em seguida abraçando-o apertado, umedecendo seu fraque com lágrimas – Eu... o amo... e também... não quero que sofra...

Permaneci abraçada a ele por um longo instante, e ambos ficamos em silêncio por todo este período de tempo, onde no quarto apenas se ecoava os meus soluços, nada mais além disto. Minhas lágrimas, quanto mais escorriam pelo meu rosto mais se formavam em meus olhos, e as que se formavam também escorriam rapidamente, e assim sucessivamente. Eu estava tão atordoada que nem sabia mais o que dizer, como fazê-lo desistir daquilo. Nunca pensara que viria Sebastian-san sofrendo por mim daquela maneira, mas eu nunca desejei isto, e também nunca desejarei. Seria estranho ver Sebastian tristonho em algum dia, após a perda da minha memória; mesmo que seja uma cena rara de se ver, imagine o quão doloroso seria para ele eu, sem saber de nada que nos ocorreu, perguntando o que houve, e não o compreenderia de forma alguma, já que daria qualquer desculpa para que eu não voltasse a me recordar... Se não há como escolher a felicidade, e as opções são apenas as mais dolorosas e as mais cruéis, eu escolhi a de sofrer junto dele, e não deixá-lo sozinho. Por mais que ele pense que era egoísmo dele, mesmo que não o fosse, eu insistiria. Apenas queria fazê-lo feliz com todo o meu amor...

- Maylene, meu amor... Meu anjo... – tomou a palavra, quebrando o silêncio do meu quarto, e após alguns segundos prosseguia – Perdoe-me... não há outra maneira. Eu não me importo em sofrer, um demônio deve ser frio e forte em qualquer circunstância, nem que valha a sua própria vida. Eu quero poder presenciar a sua real felicidade, mesmo distante de mim, ao lado de outro homem que te ame, te mereça e que não te faça sofrer como eu faria.

Aquelas palavras que ecoavam pelo meu quarto, cada uma delas, adentravam em meu coração e transbordavam por meus olhos. Sua voz doce juntava-se com meus soluços infinitos, que me faziam chorar com ainda mais intensidade. A voz macia de Sebastian sempre me acalmava, mas, desta vez, naquela situação, era impossível eu me acalmar. Eu iria perdê-lo para sempre! “Eu não queria deixá-lo fazer isto...”

- Outro homem te fará mais feliz, Maylene, muito mais do que eu lhe podia oferecer. Mas nenhum homem será capaz de amá-la mais do que lhe amo, como eternamente lhe amarei. Eu lhe amo mais do que tudo, ruiva. – ele continuava tentando me acalmar, acariciando meus cabelos, com amor, fitando-me de forma tão intensa – Deixe-me te fazer feliz da melhor forma que posso...

Ergui a cabeça lentamente, direcionando-a a Sebastian, guiando os olhos até os dele. Ele tentava demonstrar-me calma com sua expressão, tentava causá-la em mim, transmitindo-me paz. Eu sentia e também notava que sofria com o que estava me dizendo, e que não era o que realmente desejava. Meu lábio inferior tremia, conforme franzia o queixo e deixava as lágrimas escorrerem; joguei-me em seu pescoço, agarrando-o e roubando-lhe um beijo dos lábios. Sebastian me retribuiu, e permanecemos um longo momento dando e recebendo amor que, ao mesmo tempo em que era carinhoso, era doloroso. Nosso amor era impossível, de fato não havia como ficarmos juntos. “Um conto de fadas sem um final feliz.”

- Posso...?

Após o beijo, ele então me fitou por alguns segundos, pedindo por permissão com aquela sua voz baixa, aqueles olhos doces e apaixonantes. Eu, então, assenti com a cabeça, logo em seguida tapando o rosto com as mãos, abafando o choro alto, soltando o que me fervia pelas lágrimas e soluços. Perderia tudo novamente, esqueceria das situações que mais me fizeram feliz, por toda a minha vida. Esqueceria a minha felicidade, a parte mais importante da vida. O meu maior e mais verdadeiro amor.

Abracei-a por um momento, mantendo-a em meus braços, recostada em meu peito, aconchegando-a ali, até que se acalmasse ao menos um pouco. Ela estava em enorme desespero, eu não podia forçá-la, nunca possuí este direito. Da mesma forma como eu me sentia dolorosamente magoado, sabia que Maylene estava tanto quanto eu. Desta vez, sua amável teimosia não venceria meus poderes, porque eu tinha seu consentimento.

- Eu te amo...

Pronunciei tais palavras, pretendendo acalmá-la. Eu realmente a amo, de uma forma tão extrema que eu mesmo não sou capaz de poder medir tamanha proporção. Fitei seus olhos em seguida, fixando com firmeza, até que os vi lentamente se fecharem. Meu coração saltava louco, aflito, sabendo o que ocorreria dali em diante. Franzi as sobrancelhas enquanto meus olhos se prontificavam a lacrimar; eu não desejava retirar algo de enorme importância de minha amada, pelo contrário. Eu apenas desejava-lhe a maior felicidade e, para isso, eu possuía apenas uma alternativa. Deslizei a mão por seu rosto, levando-a até seus cabelos e subindo carinhosamente até sua testa, com os dedos no seu couro cabeludo, acariciando-o. Logo que fechei os olhos, aquela mesma lágrima forte e teimosa que eu tanto evitei escorreu por meu rosto. Comecei então a me concentrar. Seu choro e seus soluços entoavam por todo o quarto, quebrando o silêncio que nos envolvia. Não chegaram a durar cinco segundos que fossem, e Maylene já dormia; caíra em meus braços, inocente, confiante, linda. Deitei-a em sua cama com delicadeza, cobrindo-a e acariciando-a pela última vez. Não me atreveria novamente a ter uma aproximação maior, e evitaria olhá-la nos olhos para que meu coração não falasse mais alto. Eu já não sentia mais as pulsações de meu coração, já não mais os sentia no peito, como se estivesse morto, sem um coração. Mas eu prometi a ela e a mim mesmo que seria forte, frio, e a observaria apenas à distância feliz como uma mulher comum. Cumpriria com minha missão e não me envolveria novamente com mulher alguma como me envolvi com Maylene. “Não havia como eu me envolver novamente da mesma forma como me envolvi com esta bela mulher. Este meu amor por ela nunca se findará.”

Permaneci ao seu lado, observando-a e admirando-a ressonar tão calmamente, dormindo com uma feição tranquila, como se nada tivesse acontecido. De fato, esquecera-se de tudo, e não mais possuía a angústia e a preocupação que a tomava em instantes anteriores a aquele. Sua beleza me encantara. Acariciava sua pele tão macia, sentindo sua textura, como não faria uma vez mais. Rocei os dedos em seu rosto, enxugando a última linha de lágrima que se formara por minha causa. Desci delicadamente, cauteloso, até seus lábios entreabertos, pouco o suficiente para a entrada e saída de sua respiração calma, e desenhei com o indicador por todo o seu redor, desejando-a. Permaneci daquela forma por alguns segundos mais, apreciando cada detalhe seu. Só então pude erguer-me, dar-lhe as costas e sair; antes de fechar a porta, olhei-a por uma última vez, pronunciando em meio a um sussurro:

- Seja feliz, minha Maylene. Tenha uma boa noite...

Fora mais uma noite tranquila como todas as outras; eu apenas despertara pelo brilho do sol ter invadido meu quarto iluminando minha face, obrigando-me a levantar. Esfreguei os olhos e olhei ao meu redor, sonolenta. Acordara com o coração acelerado, e eu mesma não sabia o motivo para tal; havia acabado de levantar, precisava lavar o rosto e começar o trabalho do dia-a-dia.

- Waaah! Acordei tão bem disposta! – espreguicei-me longamente, coçando o couro cabeludo logo em seguida – Mesmo que tenha algo que pareça estar me sufocando...

A bela imagem de Sebastian-san não saía da minha cabeça. Porém, sempre que pensava nele, meu coração saltava ansioso e contente no meu peito, mas desta vez parecia estar ao contrário; meu peito saltava de uma forma dolorosa. Pulsava doído, como se algo preocupante há pouco estivesse acontecido. “O que houve...? Por que estou assim? Aconteceu algo e eu não estou me lembrando...?” Segurei com firmeza a camisola, puxando-a de leve e apertando na região do colo; eu tremia. Sentia uma intensa vontade de chorar, um louco desejo de correr o mais rápido que podia e... abraçar apertado o senhor Sebastian. “Por que isso...? Eu... não gosto deste sentimento ruim...”

Enxaguei o rosto e em seguida troquei as vestes, caminhando às pressas para a cozinha. Peguei um pão e, logo que ia começar a cortá-lo, ouvi a voz de Sebastian-san conversando. Ergui-me da cadeira na qual havia sentado, sem motivos, andando apressada até onde havia a voz. Nem eu mesma sabia o porquê havia feito aquilo, parecia que estranhamente eu havia sido levada. Não tardei a encontrá-lo ao longe, numa conversa com Bard que não me interessava. Firmei a vista, e mal podia enxergar por causa dos óculos que ganhara de bocchan. Retirei-os de frente de meus olhos, repousando-o em minha testa e, ainda o segurando, visualizei de melhor forma Sebastian-san. Um estalo. Minha respiração se modificara sem eu mesma notar. Meu coração disparava. Não, não havia nada diferente em Sebastian, ou no que ele conversava com Bard. O que me deixou daquela forma foram... as lembranças. Eu não havia me esquecido. Estavam todas guardadas comigo...

- Sebas... tian... san...

Pronunciei seu nome, tão baixo, que era quase impossível de se ouvir, pela distância que estavam de mim. Eu não poderia estar enganada, me lembrava realmente de tudo. Cada toque, cada carícia, cada beijo, cada amor que fizemos. “O que acontecera? Ele, afinal, não retirou minhas memórias…?” Eu não sabia o que fazer naquele instante, naquele segundo que me dera o estalo. Tinha vontade de correr até ele e abraçá-lo até cansar! Mas... tinha medo...

- Maylene...? Aconteceu alguma coisa? Está atrasada, por sinal.

Sebastian assustara-me ao virar em minha direção e falar comigo tão repentinamente. Ele falava de uma forma tão natural, sem disfarces para Bard de forma que eu soubesse; parecia desentendido. Só então pude compreender: ele não sabia que eu ainda possuía as lembranças dos nossos momentos maravilhosos juntos, nossos momentos perfeitos, nossos amores, nossa paixão. Pareciam levemente falhadas, haviam ainda coisas que eu não conseguia lembrar, mas no momento eu não parei para reparar nisto. Estava contente, poderia guardá-las em meu coração...!

- N-nada, s-senhor Sebastian!! E-eu q-quase tropecei no tapete, huhu...!

Eu me decidira. Desta vez, eu não agiria como da outra vez que me recordei. Não reclamaria, não o daria carinho com toda a liberdade que havia tomado. Simplesmente fingiria ter me esquecido de tudo, e assim na visão de Sebastian não recordaria nunca mais. Seria forte, e não deixaria que Sebastian-san voltasse a sofrer por minha causa. Não faria com que tivesse que voltar a retirar a minha memória uma vez mais, que passássemos por toda aquela situação novamente. Eu me lembraria de nossos momentos lindos e amáveis, e ele não precisaria saber disso. Viveríamos como se nada tivesse acontecido, cada qual com suas lembranças, cada qual fingindo do seu modo para evitar o sofrimento do outro. Manteríamos nossas recordações, amaríamo-nos apenas por pensamento e por lembranças. Naturalmente. Sem ninguém saber, sem ninguém dar forças para continuarmos e voltarmos, nada mais. Eu continuaria o amando, e ele também, como o que havia me prometido, porém esconderíamos isto um do outro, para ambos evitarem sofrimentos. Por amor, apenas por um amor puro entre um demônio e uma humana...

Fim!


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