Olhou para o vestido estendido sobre a cama, sorrindo levemente enquanto se lembrava da primeira vez que o usara, quando Thomas pedira a sua mão em casamento. Balançou a cabeça levemente enquanto voltava a colocar a peça no cabide e o colocava dentro de seu armário, olhando rapidamente para as outras roupas que havia ali dentro. Deixou sua mão deslizar sobre o tecido azul e macio de um casaco que ela se lembrava de seu marido ter lhe dado de presente quando o filho deles nasceu. Decidiu parar de olhar para aqueles vestidos e casacos antigos, afinal, já havia arrumado o que precisava arrumar dentro daquele armário.

Sentou-se na frente da penteadeira e olhou para tudo o que havia em cima dela. Escovas de cabelo, maquiagens, grampos, presilhas, caixinhas de jóias... Esticou a mão e apanhou o único porta retrato que havia ali em cima. Sorriu enquanto observava uma imagem de si mesma mais nova ao lado de seu marido e o filho deles parado entre eles. Os três estavam no jardim de sua casa, na frente de uma das inúmeras roseiras que ela tanto amava, sorrindo... O sorriso desapareceu lentamente dos lábios de Mary enquanto ela deslizava o dedo pelo seu rosto na foto. Bonito, elegante, liso... Não havia nem uma ruga sequer em seu rosto naquela época, nenhum fio grisalho em seus cabelos negros. Na realidade, todos eles estavam mudados. Enquanto seu filho crescia e ficava mais bonito, ela envelhecia e ficava horrível.

Olhou para as próprias mãos, analisando os dedos longos e finos em sua mão levemente enrugada. Era uma mão elegante, mas também era velha. Desviou o olhar, observando o seu reflexo no espelho... Ela estava velha, mas continuava elegante. Pelo menos isso. Deixou um pequeno sorriso surgir em seus lábios enquanto pegava uma escova e passava pelos cabelos, antes de prendê-los com uma das inúmeras presilhas que estavam em cima da penteadeira, uma que ela se lembrava de ter sido um presente de Thomas quando ambos ainda eram adolescentes.

— Mãe?

— Por Deus, Tom, não apareça assim do nada – a mulher riu, olhando para o filho, que se aproximava dela, pelo espelho.

— Me desculpe – ele riu suavemente – O que é isso?

— Uma foto.

— Eu sei disso – o outro sorriu, sentando-se ao lado dela na frente da penteadeira – Eu meio que sinto falta dessa época.

— Você não é o único, querido – ela murmurou – Era tudo tão mais fácil.

— Você continua linda – seu filho riu, apontando para a foto.

— Pare com isso.

— O que foi? – o homem falou, brincalhão, beijando a bochecha da mãe – Estou falando a verdade.

— Espero que esteja - Mary riu.

— O jantar está pronto, vamos descer?

— Claro – a mulher respondeu, olhando mais uma vez para o espelho e sorrindo.

Mary levantou-se, seguida pelo filho, que a acompanhou até a sala de jantar. Naquela noite, a Sra. Riddle permitiu-se sorrir mais, dizendo a si mesma que as rugas que apareciam quando ela fazia tal coisa não incomodavam seu marido, e tentou não olhar tanto para suas mãos, que ela considerava velhas... Não, ela queria esquecer, pelo menos por uma noite, da velhice que a estava atingindo, afinal, como seu filho havia dito, ela continuava linda.

No final da noite, decidiu que deveria ter esquecido a velhice antes e não apenas no último dia de sua vida.