– Filha não faz assim. Sabe que ele não tá aqui.

– Mãe eu vi. - Sally se sentou na cama, vendo a mãe andar de um lado para o outro, em sua frente.

– Mas filha eu entrei. Não tinha nada, não tinha ninguém aqui.

– Sally. Tem certeza?

– Sim Justin. Eu vi! Eu juro que eu vi. - A garota tinha a voz tremida, com o garoto a abraçando pelo ombro.

– Filha. Para.

– Mas... Mãe!

– Ela precisa me ver. – Justin se levantou. Andando de um lado pro outro.

– Como se você é meu anjo?

– Não sei. Mas temos que dar um jeito.

– Já sei! - Sally se levantou, pegando um papel e uma caneta. - Mãe. Pega.

– Pra que isso? - Sally estendeu os objetos para a mãe, se afastando em seguida.

– Justin, vai lá. Mãe, você escreve qualquer coisa. Ai o Justin vai ler e me falar. Se eu acertar o que você escreveu, você vai ver que eu não to maluca e que o Justin existe mesmo. Que é o que vai acontecer. - A mãe olhou para a menina, triste.

Não custava tentar.

– Tudo bem. - A mulher respirou fundo e começou a escrever, tomando o cuidado para que a filha não visse nada.

Segundos depois ela parou, levando o olhar até a filha, assentindo.

– Justin? - Sally olhava para o garoto, que parecia confuso, relendo o que sua mãe havia escrito.

– Melhor eu simplesmente responder a pergunta dela. - O garoto mexia no cabelo, nervoso.

– Mas... Eu preciso.

– Diga sim. Diga que eu penso assim também. Mas não tenho como.

– Mas... - Sally se sentou na cama. - Sim mãe. Ele pensa assim também. Mas ele não tem como.

O caderno e a caneta da garota caíram no chão enquanto a mulher levava as mãos até o coração. Em choque.

Sally aproveitou o momento para pegar o caderno, lendo o que estava escrito.

"SE você existe mesmo, sabe que já fez minha filha sofrer e que o melhor que tem a fazer é ficar longe dela."

Sally perdeu o foco da visão, sentindo a respiração acelerar.

Porque sua mãe tinha que dizer tal coisa a ele? Porque justo aquilo?

– Vou voltar a dormir. - Sua mãe saiu do quarto, estranha.

Justin se aproximou de Sally, levantando seu rosto e olhando em seus olhos.

– Não pode ouvir o que ela diz Sally. - A garota levou o olhar até os próprios pés, desanimada.

– Ela está certa, Justin.

– Não. Eu não poderia existir sem você, meu amor.

O menino sorriu fraquinho, puxando a garota para que ela ficasse em cima de seus pés e a abraçou o mais forte que conseguia.

– Porque é assim, Justin?

– Eu não sei Sally... Eu não sei. - Justin escondeu o rosto nos cabelos da garota, respirando seu perfume e então permaneceram em silêncio.

– Você não vai dizer nada?

A garota estava parada no batente da porta, vendo a mãe fazer o café-da-manhã.

– Dizer o que Sally? - A mulher olhou em sua direção. Tinha um sorriso irônico no rosto.

– Você sabe que eu não to maluca?

– Eu não sei de nada, Sally. Porque você na senta e come?

– Não! Não vou ficar aqui agüentando você fazendo isso.

– Selena!

– Samantha! - A garota gritou de volta, se aproximando da mulher.

– Não fale assim comigo! - A campainha tocou, chamando atenção das duas.

Sally encostou-se ao balcão, vendo a mãe sair para atender o infeliz que tinha interrompido a conversa delas.

A garota sabia que o anjo estava no quarto e precisava do abraço dele.

– Vai me fazer subir as escadas? - Ela sussurrou, olhando pro teto. Logo sentiu os braços do garoto em sua cintura enquanto ele a abraçava por trás.

– Não faria você subir lá em cima. Além disso, iria demorar mais. - Ele tinha um tom divertido, acolhendo a menina.

Sally sorriu, sentindo o garoto apertar o abraço.

– Mas... Calma. Eu posso ir rapidinho no banheiro? - Ela se virou de lado, encarando o menino.

– Claro. Isso eu não posso mudar. - Sally riu, seguindo até o pequeno corredor onde tinha uma despensa e o banheiro.

Estava escuro e ela pensava ouvir algo na despensa atrás de si conforme entrava no banheiro.

Ela se virou para fechar a porta, e um grito saiu de sua garganta ao ver Brian escondido na escuridão, o rosto na fresta da porta entreaberta da despensa.

Justin apareceu em sua frente no corredor, olhando para a mesma direção que a garota. Os passos da mãe correndo em sua direção se faziam audíveis por trás de seu grito.

– Sally! Sally! - Justin gritava tentando fazê-la parar.

– Fique calma. - O grito da garota se intensificou por mais alguns instantes enquanto outro homem, Julius, aparecia ao lado de Justin. Ele tocou no ombro da garota levemente e ela recebeu uma carga de calma, parando o grito para manter a respiração acelerada.

– Justin, você sabe o que tem que fazer. - Julius sumiu assim que Justin abraçou Sally, levando-a para dentro do banheiro. Ele abraçava a garota enquanto ela começava a lavar o rosto, um pouco mais calma.

Sua mãe apareceu na porta, soltando um resmungo enquanto paralisava.

Sally virou para ela, vendo que a mãe encarava o garoto ao seu lado.

Ela finalmente estava vendo seu anjo?

Sally estava sentada no sofá, vendo a mãe aparecer em sua frente, lhe estendendo um copo com água. A garota ainda tremia muito, confusa.

– Filha, eu juro, não tinha ninguém lá. - A voz doce da mãe somente deixou Sally ainda mais confusa.

– Você tem certeza, Sally? Quero dizer, você só podia tá nervosa.

– Não Justin. – Ela levantou seu olhar até o menino que estava andando de um lado pro outro, em frente a TV. Sua mãe se afastou, bufando. - Eu juro que o vi, Justin. Eu juro! Você tem que confiar em mim. Por favor, Justin. Eu preciso, por favor.

– Tudo bem, calma... Calma. - Ele se ajoelhou em sua frente, tirando o copo das mãos da menina, para poder segura-las. - Eu acredito em você, pequena.

– Se afaste de minha filha. - Sua voz cortou a frase do garoto. Fazendo todos paralisarem.

– Mãe... Você-Vo-você... Realmente tá vendo ele? Ai Meu Deus, você tá vendo ele! – Sally se levantou rápido, andando até a mãe.

– O que?

– Mãe. Você tá vendo ele! - Sally sorriu, abraçando a mulher.

– Não filha. Pare. - Ela separou o abraço, andando para as escadas. - Isso ainda me assusta. Vou... Dormir. Eu sei que agora você vai ficar bem...

A mais velha jogou um ultimo olhar na direção do garoto antes de subir as escadas, deixando o anjo e a filha sozinhos.

– Como você fez isso? - Ela arqueou as sobrancelhas, ainda meio perdida.

– Não sei. - Ele sussurrou, se aproximando.

– Hm...

– Sally. Nós precisamos conversar. - Ele respirou fundo, segurando as mãos dela novamente.

– Sobre...?

– Nós dois.