Sally abriu a porta do banheiro, chamando Justin. Ela percebeu que estava sozinha, então correu colocar a lingerie, e se perdeu no tempo enquanto escolhia uma roupa apresentável para sair de casa.

Finalmente ela se tocou de que Justin deveria estar com sua mãe no andar de baixo, e isso fez a garota estremecer, saindo do quarto sem nem arrumar os cabelos.

No corredor, ela ouvia vozes baixas que mostravam que havia mais de uma pessoa lá embaixo e que estavam mantendo uma conversa.

A porta do quarto de sua mãe se abriu atrás dela, fazendo com que ela parasse e virasse pronta para chamar sua mãe.

Assim que seus olhos encontraram os dele, sua garganta travou a impossibilitando de gritar.

Sally deu alguns passos para trás, mas o garoto foi mais rápido, puxando-a pelo braço, forçando-a a ficar próxima a ele.

Ele sorriu malicioso, prendendo-a a seu corpo de uma forma que ele julgava sensual. Seus lábios seguiram até seu ouvido, fazendo-o proferir as palavras em um sussurro que assustou ainda mais a garota.

– Sentiu saudades, Sally?

A garota se concentrou em acalmar a respiração, tentando ignorar o garoto. Ela fechou os olhos e tentando ignorar o enjoo que ele lhe causava, ela se concentrou em sua própria voz, pronta para gritar.

Brian começou a arrastar a garota, prevendo seus planos e tapando sua boca. Sally passou a se contorcer nos braços dele, tentando fugir. Brian a arrastou para o quarto de sua mãe, derrubando ela no chão e fechando a porta com cuidado.

Ao se virar pra ela, viu que Sally se arrastava de costas até a parede oposta. Mais uma vez ele sorriu malicioso, se jogando no chão de joelhos, deslizando como um astro do rock, até ficar próximo a ela.

Para não perder tempo, Sally começou a tentar gritar, tentando fugir para seu lado esquerdo. O grito em sua garganta saía baixo, por mais que ela tentasse gritar mais.

– Volta aqui vadia!

– JUSTIIIIIIIIIIIIINNNNNNN AAAAAAAAAAAA JUSSSSS-JUSSSS-JUSTIIIIIIINN JUSTIIIIN! AAAAAAAAAAAAAAAA – Sally finalmente conseguiu soltar a voz, ao sentir Brian subindo por suas pernas e levando uma mão até suas costas. Sally agarrou a cama, sentindo as lágrimas que caíam fortemente por seu rosto, atrapalharem sua visão.

Ela ainda proferia o “aaaaaa” interminável, enquanto tentava se meter em baixo da cama, o que parecia impossível com Brian a puxando pelos cabelos.

A garota lutava contra Brian, que a xingava de coisas que ela se obrigava a não ouvir. Ela não podia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo de novo.

Depois do tempo que parecia infinito para ela, finalmente o peso de Brian desapareceu, e a garota virou a tempo de ver imagens borradas de Justin arrastando Brian pelo quarto.

Ela sentou, vendo Brian cair no chão e Justin sentou em seu colo, completamente descontrolado, dando socos pelo rosto do outro.

Sally observou seu anjo de uma forma descontrolada.

A expressão em seu rosto era de um ódio que podia ser sentido na atmosfera, a quilômetros de distancia.

Seu corpo sempre tão caloroso, aconchegante, agora prendia e batia em Brian com tamanha brutalidade, que de certa forma assustava Sally.

– Maldito humano! Você já machucou minha Sally uma vez, não fará isso de novo, nem que eu tenha que desistir de tudo pra te levar pessoalmente ao inferno!

Sally levou as mãos até a boca, tentando prender o grito de espanto, mas falhando, fazendo Justin paralisar momentaneamente, lembrando-se de sua presença.

– O que você...? – Brian tentou soltar, exclamando de dor em seguida. Tinha o rosto manchado de sangue, e tentava olhar o garoto, o que parecia impossível no momento.

No mesmo instante, Justin voltou sua total atenção a ele, voltando a criar a expressão um tanto quanto demoníaca em seu rosto.

– Cale a boca, imundo! Você é o humano mais falho que já existiu! Seu animal, eu vou matar você!

Logo que ele voltou a bater em Brian, a mãe da garota entrou no quarto correndo, paralisando e gritando ao ver a mesma cena de brutalidade. Até que acordou, e seguiu correndo até os dois garotos, tentando acalmar Justin.

– Justin! Não faça isso! É errado. Por favor, querido. Por favor! Vamos, vamos levá-lo até o banheiro. Querido, por favor!

Justin parou, levando os olhos até a mulher, para em seguida ceder a seu pedido, saindo de cima de Brian. Ele ajudou a mulher a arrastar Brian que agora estava fraco, para o banheiro, perto deles. A mulher ficou lá, dando um jeito de prender o garoto.

Justin voltou para dentro do quarto, com o olhar perdido no chão. Ele soltou a respiração lentamente, levando os olhos com cuidado até Sally.

Então foi ela quem abaixou o olhar, sentindo a respiração acelerar. Os passos do anjo seguiram lentos, até ele parar em sua frente. Ele se abaixou, ficando próximo dela, esperando que ela o olhasse.

Sally levantou os olhos até ele com cuidado, percebendo que ainda tinham lágrimas ali, agora silenciosas, mas ainda mostrando o choque em seu interior.

Justin respirou fundo, observando o rosto dela com cuidado.

– Você está bem? O que sente? Onde ele machucou, baby? Onde tá doendo? Tá doendo muito? - Ele despejou as perguntas, em uma só vez. Sally observou a expressão dele, agora preocupada.

Ela gemeu, levando as mãos até os ouvidos, tapando-os e se encolhendo no pequeno espaço entre a cama, a parede, e Justin.

Os segundos se passavam e ela gemia, chorava, tremia, se balançava, completamente maluca com toda a situação.

Justin mordia o lábio, observando a garota, sem saber o que fazer. Ele sabia que parte de tudo que ela sentia era culpa dele.

– Baby. Por favor, me desculpa. Aquela era uma parte minha que nem eu conhecia. Era apenas eu. Revoltado com tudo isso sempre ter que acontecer com você. Isso não justifica o que eu fiz, eu sei, mas. Baby. Desculpe-me por deixá-la presenciar isso. Eu realmente não queria... Eu... - Justin tinha a voz baixa, sabia que se possível estaria chorando junto dela. Ele tinha a voz falha. Ele falava devagar, fazendo a garota olhar até ele. - Me perdoa. Por favor, me perdoa... Pequena... Eu te amo!

Os olhos de Sally encontraram os dele, no instante em que ele se declarou todo sem jeito. Ela viu os olhos dele com uma pequena chama acesa, esperando uma reação dela, para poder acender de novo.

E foi o que Sally fez.

Ela acendeu a chama que mantinha Justin vivo, ou o que quer que ele esteja.

Ela o abraçou o mais rápido e forte que conseguiu, fazendo o anjo cambalear para trás, quase caindo.

Eles se abraçaram o mais forte que conseguiram, ignorando seus corpos que reclamavam tanta força...

Parada na porta do banheiro, agora já trancada, estava Sam. A mãe da pequena Sally, observando a cena com lágrimas nos olhos.

Tanta coisa estava acontecendo com sua filha. Tanta coisa, em todos os anos...

E no fim, ela sempre esteve certa sobre ter seu anjo. Ela sempre esteve certa por dizer que tinha alguém que mataria por ela, se preciso.

E mesmo sendo muito errado, era impossível aceitar essa classificação.

Porque não havia nada de errado em tanto amor, tanto carinho, atenção, tanta conexão...

Era tudo muito certo. Tudo pronto. Tudo feito para eles.

– Vou ligar pra policia. Não acha melhor levar ela pro andar de baixo?

– Acho que sim. Vamos baby?

– Tá... - Justin a pegou no colo. Desceu até a sala devagar, sempre depositando beijos pelo seu pescoço.

Ele sentou Sally com cuidado, logo se colocando ao lado dela.

A garota o abraçou forte e ele percebeu que ela tremia fraquinho.

– Que foi, Sally?

Ela levantou o olhar até ele, apoiando seu rosto no ombro dele, pensativa.

– Sally.

A garota apenas resmungou, sentando no colo dele, de lado, as pernas encolhidas de uma forma que permitia a Justin fazer um carinho, por mais que ele não tivesse total consciência do ato.

Já ela, envolveu o pescoço dele e escondeu o rosto no espaço disponível ali, respirando o cheirinho dele com uma atenção exagerada.

Foram interrompidos pela mãe dela, que desceu a escada, nervosa. Com o telefone na mão.

– Precisamos esperar a policia chegar e então vamos pro hospital, ok?

– Não! - Sally protestou, encarando a mãe. – Eu não vou.

– Você precisa ir. – A mulher se aproximou devagar.

– Não! Eu to bem! Eu não vou! – Sally encarou a mãe, a expressão furiosa.

– Não comece com esses ataques de novo! O Brian não fez nada! Ele tá preso lá! O seu anjo queridinho tá do seu lado! Não vem reclamar de nada, Selena! Você VAI sim até aquele hospital nem que eu te arraste pelos cabelos!

– O caralho a quatro que você vai me levar praquela porra de lu-

– HEY! HEY! Baby! – Justin interrompeu Sally, segurando ela pelos ombros. Ele a observou horrorizado. – Ei! Que palavras são essas?

– Não começa você também, Jus-

– Sally! – Justin a interrompeu mais uma vez, se afastando dela, ainda mais chocado com ela. – Vai brigar comigo também, baby? É isso?

–...

– Eu fiz uma pergunta, Sally.

– Mas ela começou com isso de-

– Não me importa! – Justin se levantou, levando as mãos até os cabelos.

Ele começou a andar de um lado pro outro, nervoso.

– ÓTIMO! Agora ele brigou comigo e a culpa é sua! – Sally se levantou apontando pra mãe, ainda parada perto deles.

– SELENA! – Justin gritou de novo, andando enérgico até ela.

– Você me-me... Justin você me chamou d-d-de... Você me... – Sally tinha a respiração acelerada, os olhos fechados fortemente, segurando sua vontade de chorar.

– Sim. Eu te chamei de Selena. – Justin a encarava, sério. – Para de agir assim. Você já notou como as coisas funcionam? Você tá bem e ai de repente tá mal. Você muda tão depressa, que me assusta. Porque culpar sua mãe? Ela só está preocupada com você! E esses palavrões? Onde você andou ouvindo? A minha pequena não é assim. Minha Sally é uma dama.

Justin deu as costas a ela, se afastando. Ele parou do outro lado da sala, olhando pro chão. Suas mãos estavam nos bolsos, ele estava pensativo.

Eles permaneceram um tempo em silêncio, até que ele olhou de relance pros pés da garota.

– E você vai para o hospital.

E então ele sumiu. A luz nem piscou. Ele simplesmente... Sumiu.