Tenho certeza que meu coração parou de bater. Quando Daniel foi “apresentado” – como se todos já não o conhecessem – ele entrou no ginásio vindo dos vestiários ao fundo. Parecia até cena de filme. Acho que anjos gostam dessa coisa de dramatização. Por que ele não estava ali desde o início? Assim eu poderia ter tentado arranjar alguma desculpa tola para fugir. Mas agora, assim, de supetão, o que eu poderia fazer além de infartar?

Respirei fundo. O sussurro dos alunos em volta foram muito bem vindos, assim pôde abafar o pequeno palavrão que soltei. Daniel estava incrível. Com uma calça de ginástica branca e uma camiseta também branca. As asas abertas. Ele podia estar vestido como os outros e ter asas como os outros anjos, mas ele era tão, tão diferente! Tão melhor. Eu senti Miles me olhar com o canto dos olhos. Era sempre assim quando Daniel estava perto de nós. Mas não me importei. Tudo o que eu via era ele. Daniel se aproximou de nós. Ficou no tatame principal ao lado de Ravena. Ele fez um pequeno aceno com a cabeça para ela, como forma de agradecimento pelas palavras. Ela se moveu para o lado, onde eu percebi a presença de outros dois anjos, demônios, na verdade, Caius e Malak. Eu já os tinha visto nos treinamentos também. Na verdade, por vezes eles alternavam com Ravena no comando dos treinos. Eles eram muito bons. Mas não tão bons quanto ela.

Olhei de relance para meus colegas mais próximos. Todos pareciam extasiados pela presença de Daniel. Talvez fosse pela sua fama, ou pela sua aparência. Ele se diferenciava dos outros anjos, sem dúvida. Suas asas, principalmente, eram o maior diferencial. Eram do branco mais branco que poderia existir com as extremidades douradas, parecia que alguém tinha derramado ouro líquido nelas e que o ouro tinha se fundido ali, mas nunca deixando de ser líquido. Absolutamente perfeitas. E havia os olhos. Aqueles olhos com um leve tom violeta inebriante. Naquele instante ele me encarou e seus olhos ficaram levemente mais violetas que antes.

- Vamos começar com o aquecimento e os golpes básicos - ele disse voltando sua atenção a todo o grupo – O novos se encaminhem para o tatame da esquerda para começar.

Foi como se um sinal de incêndio tivesse disparado. Todos obedeceram ao comendo de Daniel instantaneamente. Miles, percebendo minha breve hesitação, pôs a mão em meu braço e me deu um leve empurrão. Quando chegamos ao local devido, um dos outros anjos, demônios, ah! que seja, instrutores, o que se chamava Malak, eu acho, esperava por nós. Ele começou com uma série de alongamentos que rapidamente foi substituída por séries de golpes simples, como socos e chutes. Ele nos ensinou a base, do ataque e da defesa. O posicionamento correto e o jeito certo de completar os movimentos. Eu estava prestando atenção apenas parcialmente. Metade de mim estava observando Daniel no treinamento dos guerreiros mais avançados. Ele estava com Ravena corrigindo algumas coisas e ensinado golpes mais aprimorados. Pelo pouco que eu vi da sua movimentação e agilidade, eu percebi o quão bom ele era. Os alunos o encaravam como a um Deus. A outra metade de mim estava meio entediada. Eu estava com aquela sensação estranha de dejavù e me parecia que tudo o que Malak estava ensinado era desnecessário, eu já sabia. Engraçado. Foi ele quem me tirou de meu desvaneio.

- Senhorita Price. – ele chamou.

Dei um pulo. Estavam todos me encarando como se ele estivesse chamando meu nome a séculos. Ele continuou, com uma cara de insatisfação:

- A senhorita poderia vir aqui mostrar o que aprendeu?

Gelei.

Enquanto me dirigia para o centro do tatame, vi Shelby acenando da arquibancada, e não estava sozinha. Parecia que boa parte dos outros alunos que não foram convocados, também tinham suspendido seus planos de estudo para ver o que estava acontecendo... ou apenas para tirar sarro da gente que estava lá. Ótimo. Posicionei-me de frente para um nephilin esmirrado de nome esquisito e que eu não conhecia. O objetivo era simplesmente atacar com o que Malak havia acabado de ensinar. E se defender, é claro. Meu adversário não parecia grande coisa, mas ainda assim era mais alto que eu. Ele tentou o primeiro golpe: um soco direto e reto na minha cara. Um erro enorme. Eu facilmente me esquivei, empurrei seu braço direito com o meu esquerdo, desviando o golpe. Logo em seguida eu mirei uma joelhada em seu estômago. Forte demais, eu acho. Ele caiu em posição fetal no chão do tatame. A coisa toda não tinha lavado mais que cinco segundos, muitos ainda nem tinham processado o que aconteceu, mas pra mim, foi tão simples. Estava tudo ali pra mim, eu só tinha que fazer. E fiz.

Shelby soltou um grande “UHUU” da arquibancada. Meus colegas nephilns pareciam surpresos, mas Malak apenas acenou e disse:

- Muito bem, Price. Vejo que estava prestando atenção apesar de tudo.

Eu voltei ao meu lugar e antes de me virar para ver o próximo duelo, cruzei com os olhos de Daniel a muitos metros de mim. Ele sorria.