Eu estava no banho e me sentia quente e relaxada. Ouvi um barulho do lado de fora do blindex, perto da pia. Era Daniel, eu podia senti-lo. Eu vi sua forma definida e atlética se aproximando do box e abrir a porta. Era a melhor visão do mundo pra mim: seu corpo surreal totalmente nu e rodeado pelo vapor que pairava. Seu cheiro me invadiu rapidamente e preencheu o ar a minha vol. Vi seus olhos violetas me encararem cheios de luxúria e desejo. Ele se aproximou devagar e ficamos nos contemplando mutuamente, apenas com a ducha quente caindo entre nós. Ele estendeu o braço forte em minha direção e afagou meu rosto. Sua mão deslizou para minha nuca e me guiou até ele.
Nos beijamos intensamente e eu me senti completa mais uma vez. Minhas unhas arranhavam de leve seu peito musculoso enquanto as mãos dele exploravam meu corpo. Era tão habilidoso, tão perfeito. Eu estava subindo pelas paredes com vontade de senti-lo dentro de mim, não conseguia mais me controlar.
Ele desceu as mãos por meus quadris e deslizou até minhas coxas, fazendo a pressão exata pra me enlouquecer. Com um pequeno puxão, Daniel me levantou, me pegando no colo. Eu entrelacei as pernas em sua cintura e joguei a cabeça pra trás... Meu Deus, como ele era perfeito! Fechei os olhos para sentir sua boca percorrer meus seios e nada mais me importava nesse mundo.
Entrelacei meus dedos em seus cabelos e ele começou a mordiscar minha pele ao mesmo tempo em que me apoiava no blindex embaçado pelo vapor. Eu estava tão excitada que soltava gemidos de prazer em seu ouvido e ele correspondia com toques cada vez mais selvagens e cada vez melhores. Foi então que percebi uma mudança sutil no ambiente, o cheiro ficou um pouco mais forte, mas era igualmente sedutor e familiar. Os braços que me envolviam e que me mandavam ondas de prazer ficaram um pouco mais musculosos, levemente diferentes e o cabelo pelo qual meus dedos percorriam ficou mais grosso.
Abri meus olhos e vi que ao invés do par de olhos violetas, eram os verde-esmeralda que me encaravam. Os cabelos negros molhados caíam até a sobrancelha e seu corpo moreno escultural me prendia por todos os lados. Uma parte muito distante do meu cérebro assimilou que havia algo tremendamente errado, mas meu corpo apenas continuou a sentir um prazer infindável, um choque permanente. Quando os lábios perfeitos de Cam alcançaram meus ouvidos e sussurraram “Eu te amo, Lucinda”, eu acordei.
...
Eu estava tomando café da manhã com Shelby no restaurante de Shoreline. Ela devorava panquecas com mel, enquanto eu estava enrolando pra engolir um pedacinho da melancia que escolhi.
- Ai, Luce, o que você tem? Tá com uma cara péssima! – ela exclamou entre uma mordida e outra.
- Eu... tive um sonho estranho... não dormi direito, é só. – respondi afastando definitivamente a fruta de mim. Nada passaria pela minha garganta agora.
- Bom, não esqueça de se alimentar bem pra hoje a noite... é o grande dia. – ela disse exagerando as últimas palavras propositalmente.
Ninguém me deixaria esquecer esse baile idiota. Todos em Soreline estavam alvoroçados por isso. E o grande dia tinha chegado. Eu não estava com a mínima vontade de festejar nada, minha vida estava um caos total e provavelmente pioraria após o dia de hoje.
- Onde está Miles? – perguntei tentando mudara de assunto.
- Ele foi comprar uma coisa descente pra vestir... sabe como é. – ela falou finalizando o terceiro copo de suco de laranja... ela era invejável! – E você, o que vai vestir?
- Daniel me comprou um vestido há alguns dias.
- Ai, que inveja! – ela falou apoiando os braços na mesa e fazendo beicinho – O imbecil do Trevor não se ofereceu nem pra pagar um refrigerante, que dirá um vestido novo!
- Trevor? – perguntei confusa.
- É, o cara que vai me acompanhar. – ela falou sem o menor entusiasmo.
- E você nem me contou que foi convidada!
- Mas eu não fui – ela falou ainda mais deprimida - EU é que tive que chamar o panaca! Você acredita nisso?
- Bom, mas ele é bem bonitinho, pelo menos – falei tentando melhorar o astral dela. Trevor McLouding era um dos nephilins guerreiros que estudava em nossa turma. Era moreno e alto, apesar de um pouco magro, tinha uma aparência bonita e era bem educado também.
- Bom... do jeito que ele é lerdo pra convidar meninas pro baile eu não sei se espero grande coisa pra essa noite... – ela disse se levantando – E você, está tudo certo com Daniel, eu suponho.
- Bem... eu acho que sim, não sei. – respondi começando a caminhar ao seu lado. Fomos andando lentamente na direção do jardim principal. O dia estava frio, mas um frio suportável, agradável até.
- Nossa, nunca esperei ouvir isso em vida...
- A gente tá passando por uma... fase complicada.
Ela me encarou, com uma sobrancelha arqueada.
- Complicada? Você e Daniel? Meu Deus, o mundo tá perdido! – ela disse exagerando novamente as palavras.
Nós sentamos em um dos bancos do jardim magnífico do campus e algumas pessoas, como nós, estavam passeando e tagarelando sobre o baile. Eu senti falta disso, de apenas poder falar sobre coisas normais, sobre eventos normais. Sentia falta de conversar com uma amiga, desabafar. Então eu pensei em tudo que Shelby e eu – e Miles – tínhamos vivido juntos, mesmo que por um período tão curto de tempo, e vislumbrei ali a oportunidade de ser normal de novo, de fazer coisas normais de garotas.
- Shelby... – comecei – eu posso te pedir um conselho?
Ela se espantou um pouco ou com meu pedido, ou com a forma séria que eu falei com ela, mas em todo caso, respondeu:
- Claro.
Então eu contei – resumidamente – tudo o que tinha acontecido desde o dia da revelação de Daniel sobre quem eu era de verdade. Shelby e Miles já sabiam sobre a história do fragmento e meu destino enfadonho, mas a parte sobre Cam ela desconhecia totalmente... até agora.
Eu contei sobre o beijo na sala de dança, sobre minha visita a Margarett e os desentendimentos com Daniel... e sobre minha inegável e inconveniente atração por Cameron.
Ela ouviu tudo atentamente, sem perder nenhum detalhe. Eu percebi o espanto e a surpresa dela em cada revelação e no final ela estava de queixo caído.
- Eu não acredito na sorte que você tem!
- Sorte? – eu perguntei confusa.
- Cara, os dois caras mais gatos e fodásticos do planeta querem você e você não se acha sortuda?
- Eu estou enfrentando uma crise, Shelby!
- Crise? – ela perguntou abobalhada – Entre ficar com o loiro gostoso que desistiu do paraíso por você ou ficar com o morenaço super sexy que também tá caidinho? OMG, é muita sorte pra uma garota só!
- Shelby!
- Luce, querida, não me leva a mal, mas se fosse eu...
- É melhor você nem continuar! Eu sei muito bem o que sua mentezinha pervertida está pensando. – falei séria... mas um sorriso brotou no final.
- Eu não estou dizendo que ficaria com os dois ao mesmo tempo, só que eu gostaria de fazer um test drive neles pra saber com qual eu gostaria de ficar.
- Shelby, você não existe, sabia?
Ela riu.
- Luce, eu estou brincando. Eu entendo pelo o que você deve estar passando... quer dizer, eu não tenho anjos maravilhosos atrás de mim, mas quer saber? Se eu tivesse alguém que fizesse por mim um décimo do que Daniel fez por você... eu já seria muito feliz.
As palavras dela foram profundas e eu senti que havia uma história por trás disso. Shelby era impulsiva, autêntica e meio maluca pra muitas coisas, mas ela também tinha as palavras certas nos momentos mais importantes. E o mais importante de tudo, eu vi sinceridade em seu olhar, o tipo de sinceridade de amiga, de confidente. Abri um sorriso em sua direção.
- Eu queria que tudo fosse tão fácil como sempre foi... amar Daniel e nada mais. – falei respirando fundo.
- Bom...se você quiser... – ela continuou – eu posso cuidar de Cameron pra você, faço esse sacrifício – ela piscou o olho e sorriu.
Nós rimos como a muito tempo não ríamos juntas. Era tão bom conversar com ela.
- E eu já sei o que vai animar você pra valer... aliás, a nós duas!
-O quê? – eu perguntei interessada.
- Um dia de garotas, é claro! Unhas, cabelo, salada, sorvete, música e fofoca. O que você acha?
- Perfeito! – respondi já me pondo de pé.
Passamos uma tarde perfeita juntas. Falamos de tudo, fofocamos, fizemos as unhas e massagem nos cabelos e uma loucura incrível: eu decidi mudar o visual. Então entramos no YouTube e procuramos tutoriais para cortar o próprio cabelo (!!!). Meu cabelo era curto, mas já estava na altura dos ombros e totalmente desgrenhado – sempre que me olhava no espelho sentia falta da vasta cabeleira ondulada que eu tinha e que perdi na tragédia que mudou o rumo da minha vida.
Eu deixei Shelby cortar meu cabelo do jeito que vimos na internet e ficou maravilhoso! Ela tinha mesmo jeito pra coisa! O resultado final ficou fashion, moderno, com meu cabelo na metade do pescoço cortado de forma despojada. Ele ficou espetadinho pra fora e finalizei com um franjão de lado, ficou super sexy! Eu amei! *
- Menina, eu sou ou não sou f.o.d.a ? – ela perguntou enquanto olhava o resultado final.
- Você é, definitivamente, f.o.d.a! – respondo sacudindo a cabeça de um lado para o outro e vendo meu cabelo balançar.
Eu já estava com um ânimo totalmente diferente quando me aprontei pro baile. É claro que eu usei o vestido que escolhi e que Daniel me comprou, mas também não resisti em ver o que Cam me dera.
W.O.W – Foi tudo o que pensei quando vi o vestido vermelho ultra-maravilhoso que saiu da caixa que ele trouxe.** Não me atrevi a vesti-lo, mas as palavras dele estavam dançando em minha cabeça...
...
Eram oito da noite em ponto quando eu finalmente me olhei no espelho. Eu parecia uma outra pessoa, sem dúvidas! Meu cabelo recém-cortado estava escovado – não que mudasse muita coisa – e lindamente penteado com o franjão cobrindo parcialmente meu rosto, dando um ar sexy. A maquiagem não estava carregada, mas eu caprichei no trio lápis- delineador- rimel e arrematei com um gloss cor natural.
O vestido era prateado, tomara-que-caia e fazia um pequeno volume na saia, que ia até o joelho*** e a sandália de salto era preta e maravilhosa – essa eu devia a Shelby. Sorri bobamente quando me lembrei da noite em que Daniel comprou o vestido pra mim, de quando ele me convidou para ir ao baile com ele. Sinceramente, nós não tínhamos combinado nada sobre horário ou qualquer coisa assim, eu nem sabia se ele viria me buscar! Mas meu sexto sentido sabia sim.
Arrematei com meu perfume favorito, posto estrategicamente nos pulsos e pescoço e esperei.
Ouvi uma batida leve na porta do quarto e meu coração deu um salto. Respirei fundo antes de abri-la e lá estava ele, meu anjo loiro lindo e perfeito tinha vindo me buscar. Meu sorriso foi instantâneo e meus olhos estavam vidrados na visão que tinham: o cabelo estava estrategicamente bagunçado, a barba levemente por fazer, dando-lhe um ar tipo Brad e os olhos violetas brilhantes. O blusão branco impecável estava com a gola levantada e as mangas dobradas de maneira despojada até o cotovelo e calças e sapatos pretos completavam o look mais que sexy do meu príncipe.
Ele me encarou por vários segundos e eu fiquei agoniada pra saber o que ele tinha achado do meu novo visual. Mas pela expressão em seu rosto, eu julguei que ele tinha adorado.
- Que bom que veio. – eu quebrei o silêncio.
- Nossa, você... – ele ficou com as palavras presas... e eu adorei causar esse efeito!
- Gostou? – perguntei dando uma voltinha.
- Absolutamente linda. – ele disse se aproximando para me beijar.
Nos beijamos com carinho e muito amor e por mim, a noite já tinha valido a pena. Quando terminados – o que demorou bastante por sinal – eu sorri e disse enquanto limpava o gloss de seus lábios:
- Você demorou.
Ele acariciou meu cabelo com delicadeza pra não acabar com meu penteado e afagou meus braços nus.
- Eu estava tomando algumas precauções pra essa noite.
- Sobre os banidos?
- Sim. A segurança precisa ser mais que perfeita a partir de agora.
Eu fiz uma careta... já sabia o que ele queria dizer.
- Então você não vai ter muito tempo pra ficar comigo hoje, né? – perguntei.
Ele sorriu e respondeu.
- Não o tempo que eu gostaria... mas vou fazer o possível.
Eu concordei com a cabeça, mas fiquei um pouco triste. Eu sabia que tudo isso era por mim, mas ficar longe dele – ainda mais ele estando tão quente desse jeito – era uma tortura.
- Vamos, então?
Ele me deteve quando eu ia passar pela porta.
- Espera, tem ... uma coisa que eu quero dar a você.
Nesse momento os olhos dele recaíram no vestido vermelho que Cam havia me dado e que eu – displicentemente – havia deixado sobre a cama.
- Hummm.. belo vestido. – ele falou com uma expressão esquisita.
- Eu... é... sabe que eu não ... gostei muito, não. – falei gaguejando.
Ele sorriu.
- Isso é a cara dele mesmo.
- Pois, é... eu vou me livrar dele depois... A gente pode ir agora? – me apressei em sair do quarto e fechar a porta. Não queria nem tocar no nome de Cameron agora.
- Eu queria te dar uma coisa antes de irmos. – ele insistiu. Nós entramos no quarto e eu me apressei em pegar o vestido vermelho e embolar dentro da caixa de volta, como se não desse a menor importância. Daniel esperou eu tirar a caixa de vista e falou.
- Eu sei que não é o momento mais adequado ou mais romântico pra isso... – ele começou e minha curiosidade só aumentou ainda mais – Mas... eu sei que venho me comportado igual a um idiota durante essa semana, mas eu só queria que soubesse que eu te amo demais e que... eu decidi que não vou deixar mais o meu ciúme atrapalhar as coisas entre nós.
Eu dei um passo a frente. Estávamos no centro do quarto, de pé um pro outro, e meu estômago estava repleto de borboletas novamente. Ele estava sendo sincero e suas palavras penetraram em mim como uma brisa de verão. Era tudo o que eu queria ouvir. Ele continuou:
- Eu entendo que você está confusa e que uma parte de você... se afeiçoa a Cameron. – ele fez uma careta nessa hora – Mas eu quero que saiba que eu não vou me afastar mais, que vou lutar por você e por seu amor com tudo o que tenho.
- Daniel – eu comecei a falar antes que as lágrimas caíssem e borrassem a maquiagem – eu já disse que o que eu sinto por você nem se compara ao que sinto por ele.
- Eu sei. – ele se apressou em responder com seu tom suave e carinhoso que sempre usava comigo – Eu só estou dizendo que vou parar de agir como um idiota e ser pra você aquilo que você merece, ser o cara por quem você se apaixonou.
Eu sorri e uma danada de uma lágrima escorreu pelo cantinho do olho esquerdo. Mas antes que eu dissesse qualquer coisa, ele continuou.
- Eu confio em você e confio no amor que a gente sente um pelo outro, é por isso que eu quero te dar isso.
Ele estendeu a mão direita e nela estava uma pequena caixinha preta de veludo. Meu coração parou de bater e meus olhos estavam mais arregalados que em noite de apagão.
- Lucinda Price... – ele começou, ao mesmo tempo em que pôs um joelho no chão.
- Ai. Meu. Deus. – eu disse tremendo igual uma vara verde, lavando a mão à boca.
- ... você aceita se casar comigo?
O sorriso dele era lindo e seus olhos brilhavam no violeta mais incrível que já vi. Sua voz perfeita e angelical continuou:
- Eu me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi e prometo que vou continuar te amando por toda a eternidade. Você me daria a honra de ser minha esposa?
Não pude conter mais as lágrimas e o sorriso que minha boca deu automaticamente.
- Sim. – respondi com todas as forças que consegui reunir.
Ele se levantou e me abraçou carinhosamente e me beijou. Tudo foi tão maravilhoso que nada que eu dissesse poderia descrever o momento.
- Ah! – ele disse, me soltando e dando um passo pra trás. – Seu anel.
A caixinha preta portava o anel mais incrível de todos – pelo menos pra mim. Era de ouro branco com um diamante rosa raríssimo em forma de coração e com três diamantes brancos de cada lado do anel. Era imponente e raro, ao mesmo tempo em que era delicado e romântico. Eu não lembrava nem mais como respirar.
Ele retirou o anel da caixinha e pôs delicadamente em meu dedo anelar direito. Minha mão pareceu pesar uma tonelada de tão maravilhoso era o objeto.
- Daniel... eu nem sei o que dizer...
Ele se aproximou e pôs a mão na minha nuca e outra em minha cintura. Seu rosto foi se aproximando vagarosamente do meu e sua voz rouca respondeu antes de me beijar ardentemente:
- Você já disse tudo o que eu queria ouvir.