Livre Arbítrio: Eu Escolho Você. escrita por MilaBravomila


Capítulo 31
Capítulo 31




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Eu estava no quarto de Luce, deitado ao lado dela na cama. Depois que conversamos na floresta ela assistiu ao resto das aulas e eu fiquei esperando por ela em seu quarto. Era o único lugar seguro para eu ficar. Meu corpo estava no limite do controle. Eu queria ver Cam a qualquer custo e mostrar toda a raiva que eu estava sentindo por ele, mas a promessa precipitada que fiz a ela estava me impedindo de arrebentar a cara dele.
Desde quando eu assumi meu corpo humano, as experiências que tive com Lucinda durante todas as outras vidas dela e, principalmente, nessa vida, quando fazíamos amor, eram os momentos nos quais eu me sentia quase que totalmente mortal. Exceto agora. Cam despertou em mim sentimentos tão tipicamente humanos que eu estava quase fazendo tudo que ia contra meus princípios: meu ciúme dilacerante estava a ponto de transforma minha raiva por ele em ódio.
Fiquei preso no quarto dela por vontade própria, apenas para impedir que cometesse uma loucura. Quando ela chegou, no início da noite, se surpreendeu com minha presença. Disfarcei, dizendo apenas que precisava ficar com ela – o que não era mentira, pois sempre queria estar com ela – mas o motivo principal era pra me manter longe dele.
Nós conversamos mais um pouco, mas o clima entre a gente estava um pouco tenso, principalmente porque o instinto de vingança estava aflorando em mim.
Ela se deitou para dormir e eu apenas me deitei ao seu lado; sentir seu calor, seu cheiro, sempre me tranqüilizava. Mas essa noite, eu sabia que não conseguiria dormir, não quando imagens deles dois juntos assombravam meus pensamentos, alimentando meu ciúme.
Quando Luce finalmente adormeceu em meus braços eu não me contive mais. Fiz uma prece silenciosa, pedi pra que um dia fosse perdoado por estar sucumbindo a sentimentos tão baixos, mas eu não agüentei mais.
Saí da cama o mais suavemente possível para não acordá-la, cobri-a totalmente com um segundo edredom para protegê-la do frio intenso e saí.
Encontrar Cam nunca era um problema e eu senti sua presença forte no ginásio, onde ele e Roland estavam treinando. Cam imediatamente percebeu minha presença e se pôs em defesa.
- Sabia que viria mais cedo ou mais tarde. – ele falou me olhando diretamente.
- OK. Não sei qual é a de vocês, mas eu tô fora. – Roland avisou já se encaminhando para a saída mais próxima, uma atitude típica de demônios, sempre se preocupando apenas com eles mesmos.
Parei a poucos metros de Cam, minha expressão séria, meu corpo tenso.
- Veio arrebentar a minha cara porque eu beijei sua namorada? – ele provocou.
Sorri sarcasticamente, tudo de bom em mim estava saindo do meu corpo.
- O dia que eu decidir brigar com você pra valer, vai ser pra te matar.
Cam engoliu seco, apesar de não retirar o sorriso irônico do rosto. Ele sabia que eu era capaz de derrotá-lo em um combate a vera.
- Seu lado bonzinho nunca permitiria isso. – ele disse mantendo o tom e o sorriso irritante.
- O problema é que eu já não sei o quanto desse lado ainda existe em mim. – respondi seco.
Cam olhou inconscientemente para a mesa atrás de mim, onde eu sabia que estavam as armas de batalha. Ele sentiu verdade em minhas palavras.
- Ela se interessa por mim, Daniel, isso é um fato que você tem que aceitar.
- Não, é um fato que eu tenho que saber, não que aceitar. – minha voz era fria e nem mesmo eu estava me reconhecendo. Era o monstro em mim que falava. – E eu acho melhor você nem pensar em tocar nela novamente porque se isso acontecer, eu não respondo por mim.
O sorriso, de repente, diminuiu em seu rosto, mas não desapareceu. Ele se aproximou vagarosamente, o olhar fixo ao meu.
- Então eu quero que você saiba que eu não tenho medo e que eu vou fazer de tudo pra ter Lucinda pra mim.
- Mesmo sabendo que eu mataria você por isso? – perguntei encarando-o decidido.
- Mesmo assim – ele respondeu parando a centímetros de mim.
Ele amava Lucinda, disso eu não tinha mais dúvida, mas as questões agora eram outras. Até que ponto iam os sentimentos dela por ele? Até que ponto eu deixaria a raiva me controlar?
Uma fração de segundo levou para eu reviver a cena dele imprensando ela contra a parede do corredor e no mesmo instante eu soube que seria capaz de tudo.
- Então é melhor você pensar duas vezes antes de tomar qualquer atitude, porque poderá ser sua última. – o monstro em mim respondeu sombriamente antes de eu sair.
...
Os dias seguintes passaram rapidamente e logo o fim de semana anterior as provas finais havia chegado. As coisas entre Daniel e eu estavam se normalizando, mas eu sentia que ainda não estavam 100%. Cam me mandava olhares significativos todas as vezes que nos cruzávamos, mas ele não tentou nenhuma outra abordagem, graças a Deus. Eu desconfiei que tudo isso era devido ao retorno de Gabbe, que havia passado alguns dias afastada. Desde que ela retornou de sei lá onde, Daniel e os outros estavam um pouco inquietos e somente depois eu soube o motivo: ela tinha ido atrás de informações sobre os banidos, que estavam muito quietos ultimamente. Toda essa calmaria despertou nos anjos um interesse em descobrir o que poderia estar por vir e Gabbe foi tentar obter informações. Eu ainda não sabia o que ela tinha descoberto exatamente porque ainda não tinha parado pra conversar com Daniel sobre isso, mas eu sentia que não devia ser nada de bom.
Shelby, Miles e eu estávamos atolados de coisas para estudar e a cada dia que passava o assunto baile não parava de surgir entre os alunos.
- Sério – Shelby comentou no domingo à noite, logo após nossa saída da biblioteca – eu já estou entrando em desespero. Vocês acreditam que ninguém me convidou pro baile ainda? Esse mundo tá perdido!
- Miles, eu acho que você vai ter que se encarregar disso! – falei brincando passando um braço em torno do pescoço dela, que me olhou incrédula.
- O quê? Você tá brincando? Fala sério, Miles me levar?
- Muito obrigada, Shelby. Muito tocante sua observação. – ele disse bem humorado.
Eu ri.
- Não é isso Miles... você até que é bonitinho e tal, mas... fala sério, nós somos amigos! Seria o maior mico a gente ir junto, todos iam saber que você só me chamou por pena.
- Não se preocupe Shelby, você não corre esse risco. – ele respondeu.
- Não? – perguntamos juntas eu e ela.
- Vocês podem não acreditar, mas eu já tenho uma parceira. – ele disse triunfante.
Shelby ficou boquiaberta e eu sabia que minha expressão era idêntica a dela. Em meu interior eu fiquei feliz. Gostava muito de Miles e queria que ele encontrasse alguém legal que o merecesse e o amasse. Eu não podia dar a ele esse tipo de amor, o amor que ele merecia.
- Pronto. Agora fudeu tudo! Eu vou ter que inventar um pé quebrado ou me contentar em acompanhar um nerd qualquer... – Shelby reclamou com os braços pro alto e com um tom exagerado de “fim do mundo”.
- E eu posso saber quem é a felizarda? – perguntei a Miles ainda rindo da reação de Shelby.
- O nome dela é Ashley. Ela faz algumas disciplinas junto comigo e é uma garota bem legal.
Eu vi que a empolgação dele era bem limitada, mas eu respondi que estava feliz por ele e que torcia para que tudo corresse bem.
- Bom... – falei para ambos quando alcançamos o prédio dos dormitórios – acho que vou me separar de vocês aqui, vou me encontrar com Daniel.
Eles acenaram e seguiram em frente. Shelby estava tão entranhada em seus próprios pensamentos que mal disse nada e Miles me enviou um rápido sorriso antes de sair.
Eu me encaminhei para o prédio ao lado, onde haviam algumas salas de aula e também alguns auditórios para conferências e apresentações. Daniel e os outros iriam discutir coisas importantes que estavam relacionadas com as descobertas de Gabbe, e seria a minha oportunidade de saber melhor sobre o assunto. Já que eu sabia da verdade, Daniel concordou que eu participasse desses eventos sempre que possível.
Eu estava ainda uns bons vinte minutos adiantada e resolvi esperar no térreo, onde havia uma espécie de saguão. O lugar era belíssimo, como todas as dependências de Shoreline. Animais de madeira esculpida jaziam em torno de todo o saguão. Eram elefantes, leões e tigres-dente-de-sabre feitos em madeira elegante e em tamanho ampliado. As pouquíssimas vezes que tinha estado ali, sempre perdi vários minutos contemplando essas obras.
Bem no centro caía um lustre de cristal, enorme e luxuoso, e poltronas em couro se espalhavam ordenadas pelo amplo local, contrastando com o piso de porcelana fina cor de creme. O saguão era todo rodeado por grandiosas janelas de vidro, que davam o aspecto de um grande aquário e faziam o lugar amplo e arejado – exceto pelas noites de frio como essa, que as mantinham bem trancadas.
O que eu mais gostava, porém, era o leve cheiro amadeirado que pairava no ar, leve e delicioso. Era um cheiro muito semelhante ao de Daniel.
Eu estava sozinha e me aproximei da estátua de uma enorme girafa de madeira. Minhas mãos passeavam lentamente pela superfície lisa e brilhosa.
- Você sempre chega adiantada em seus compromissos?
Tremi. A voz grave e sedutora de Cam soou a centímetros do meu ouvido direito.
- E você sempre chega de mansinho? – perguntei virando em sua direção e dando um passo pro lado.
Ele estava deslumbrante, como sempre. Respirando fundo Cam se reaproximou e levou uma
mão ao meu queixo, deslizando seu dedo suavemente por minha maxila.
- Eu posso chegar da maneira que você quiser, Lucinda. Da próxima vez eu faço mais barulho, então.
Minhas mãos começaram a suar um pouco, como sempre acontecia quando ele estava próximo desse jeito de mim. E seu olhar tão profundo, me paralisava.
- Eu vou me encontrar com Daniel agora, com licença. – falei saindo de perto dele e me direcionando a saída mais próxima. Ficar a sós com ele era a última coisa que planejava, eu não arriscaria minha relação com Daniel pelo o que eu sentia por Cam.
Ele me deixou dar apenas três passos antes de me abraçar delicadamente por trás.
- Você está enganada se acha que Daniel é único que merece você, se acha que ele o único destinado a ter você.
Parei instantaneamente pelo poder de suas palavras. Cam apoiou a cabeça em meu ombro e apertou seu abraço. Eu estava paralisada.
- O que você quer dizer com isso? – perguntei olhando pro nada.
Ele me virou de frente pra ele. Estávamos tão próximos, mas meu cérebro estava martelando a última coisa que ouviu.
- Ele não é o único que merece sentir seu cheiro... – ele falou num sussurro, aproximando o nariz de meu pescoço arrepiado – ou seu corpo... – suas mãos passearam firmes por todo o comprimento das minhas costas – ou seu beijo... – seus lábios se aproximaram lentamente dos meus.
Senti sua respiração em mim. Ele estava me dominando novamente. Até onde eu resistiria a seus encantos? Será que eu poderia resistir?
Meu coração estava acelerado e quando eu fechei meus olhos e senti a boca macia e morna dele na minha, o cheiro amadeirado do saguão me atingiu mais uma vez e eu levantei o rosto, interrompendo o futuro beijo entre nós.
- Em primeiro lugar – falei em bom som e fiquei feliz por minha voz soar tão firme – eu não sou um objeto que você ou qualquer outro possa possuir. Segundo, o que você quis dizer com isso, Cameron?
Ele fechou os olhos e um sorriso se formou em seus lábios quando e pronunciei seu nome.
- Quanto tempo que eu não ouvia meu nome vindo de você.
- Me responde. – exigi. Nessa altura, toda nossa proximidade já não era importante pra mim, eu queria saber a verdade escondida atrás de suas palavras.
Ele levou a mãos ao meu rosto e, cariciando-me de forma carinhosa respondeu:
- Me encontra amanhã na hora do almoço e você vai descobrir. Espero você na praia.
Eu o encarei e antes que eu pudesse fazer algo mais, uma voz severa nos interrompeu.
- Lucinda...
Olhei em direção ao som. Parada a alguns metros de distância etava a figura imponente de Gabbe. Suas roupas impecáveis e sua postura de modelo completavam o corpo perfeito e o rosto divino. Sua feição era grave, parecia que ela estava repreendendo um casal de namorados pegos escondidos, mas isso multiplicado por mil.
Instantaneamente me afastei de Cam e percebi, então, a cena que ela deve ter presenciado: Eu e Cam agarrados – e a ponto de nos beijar – no meio do saguão.
- Gabbe. – Cam acenou levemente a cabeça, seu sorriso presunçoso estampado no rosto.
Ela apenas me encarava desgostosa. Era como se eu tivesse cometido o maior dos pecados - literalmente. Isso me incomodou bastante. Eu estava errada, OK, mas o que ela tinha a ver com, isso?
- Vocês vão para a reunião agora ou vão ficar aqui se agarrando mais um pouco? – ela perguntou seca.
- O quê? Eu não... – comecei.
- Pouco me importa – ela interrompeu e mandou um olhar de desprezo pra mim – Vocês são todos iguais.
Minha boca caiu e meu sangue começou a esquentar.
- Desculpa Gabbe, mas houve um mal entendido... – comecei tentando remediar a situação. Ela me interrompeu mais uma vez:
- O único mal entendido foi Daniel ter escolhido você, nada mais.
Aí meu sangue ferveu de vez. Cam pareceu apenas estar ouvindo algo normal, como se estivesse concordando com ela.
- Escuta aqui – comecei aproximando-me dela – Quem você pensa que é pra dizer uma coisa dessas? – eu já nem me lembrava que ela era um Arcanjo caído, pouco importava.
- Eu sou a pessoa que arriscou a vida pra saber informações dos banidos pra salvar a sua vida. – ela disse firmemente, também dando um passo em minha direção. Sua voz era cheia de vontade e eu percebi que ela queria me dizer isso faz tempo – Eu sou um Arcanjo que caiu nesse mundinho podre de vocês apenas pra salvar você de você mesma; a pessoa que é obrigada a ver você pisar em Daniel e fazê-lo sofrer a cada vez que você aparece na vida dele... e agora isso. – ela se referiu a Cam.
Dessa vez, fui eu quem interrompeu:
- Pisar em Daniel? Fazê-lo sofrer? Que merda é essa que você está dizendo? Eu sempre sofri tanto quanto ele por todo esse tempo! – eu já estava gritando e meu rosto queimava de raiva – Eu não pedi por nada disso, Gabbe. Não pedi por sua ajuda e nem pra que você arriscasse sua vida por mim, então você não tem o direito de falar de coisas que não sabe!
Ela também estava exaltada e eu percebi que Cam estava pronto para intervir se algo ruim acontecesse entre nós duas – o que eu estava torcendo bastante.
- Você não pediu? O que me interessa o que você pede ou não? Eu nunca fiz nada por você sua humana estúpida! Eu não consigo entender por que o nosso destino foi posto nas mãos de um ser tão inferior quanto você, é absurdo! – ela cuspiu.
Então eu percebi. Gabbe nunca fazia nada por mim. Ela não arriscou sua posição como Arcanjo divino ou sua vida como anjo caído por mim, foi tudo por Daniel, sempre.
Desde Sword & Cross eu podia perceber a adoração e o respeito que ela tinha por Daniel. Sempre desconfiei de algo a mais entre os dois, mas depois, com o tempo, eu percebi que eu era a única na vida de Daniel, assim como ele era o único pra mim. Mas pra Gabbe não era assim. Eu percebi, então que o que ela sentia por ele era amor e que tudo o que ela arriscou foi em nome disso: cair por mim era cair por ele, me salvar era salvá-lo. Sempre foi ele.
Mas meu sangue estava tão quente e minha raiva tão aflorada que eu não fui capaz de perceber a beleza em seus atos, eu percebi, apenas, as pedras que ela estava deferindo contra mim. Sem hesitar, eu respondi.
- Eu acho que Daniel não pediu por nada disso também. Nem por mim, nem muito menos por você.
Ela não respondeu. Eu senti que minhas palavras a atingiram profundamente. Gabbe olhou no fundo os meus olhos e se retirou.
Minhas mãos estavam cerradas e um nó estava em minha garganta.
- Luce? – ouvi Daniel me chamando ao longe, ele havia acabado de adentrar o saguão.
Eu fui em direção a ele e o abracei forte. Apesar dele ficar me perguntando o que tinha acontecido, eu não respondi.
Antes de deixarmos o saguão meu olhar cruzou com o de Cam, e isso foi o suficiente para eu lembrar de seu convite para o dia seguinte, havia mais coisa que eu devia saber.


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Notas finais do capítulo

aiaiaia... o que será q o Cameron estah armando, hein???

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