Valor da Vida: Aprendizado Cego escrita por 483---Naai


Capítulo 1
1. Meu pequeno anjo


Notas iniciais do capítulo

Eu fiz esse one-shot para um concurso que eu vi na net.Não me lembro agora.
Eu realmente gostei,ficou bonita e eu confesso que chorei escrevendo.
Espero que gostem!
xoxo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/127234/chapter/1

Morta e tudo isso era minha culpa. Eu era um estúpido imbecil. Ela era tudo o que eu tinha de família e eu a matei. Ódio. Era tudo o que eu sentia nesse momento. A dor me consumia e as lembranças daquele dia infeliz vieram à minha cabeça:

Flashback on

-Mãe,você não acha que estou muito grande para isso? – Perguntei para a mulher ao meu lado,enquanto estávamos paramos na frente de um restaurante.

-Tom,essa é uma das poucas coisas que seu pai gostava aqui na cidade. Não quer relembrar os bons momentos? – Ela me olhou,com um doce sorriso.

-Seria bom,mas dói. É realmente doloroso. – Pausei. – Já faz 10 anos. Eu tenho 17 anos agora mamãe,uma hora eu vou ter que superar isso.

-Eu te entendo. Se não quiser ir à aquele restaurante,tudo bem. Não te obrigarei a ir. Eu acho que eu também não me sentiria muito bem.

-Então vamos voltar?

-Claro. – Simone terminou de dizer isso e me estendeu sua mão.

Eu já era bem grande,mas sempre que eu andava pelas ruas,eu segurava na mão dela. Era como se ela fosse minha proteção e eu morreria se ficasse longe dela durante meros segundos.

E assim caminhamos de volta para casa. Eu segurando sua mão e ela me contando sobre o programa preferido de TV dela. Qualquer outro adolescente teria achado isso chato ou irritante,mas eu não. Eu adorava cada palavra que saia da boca dela,cada olhar e cada sorriso.

Eu era feliz por causa da minha mãe.

Estava tudo tão perfeito,até que eu vi a coisa que futuramente arruinaria minha vida: No ponto mais alto de uma ponte  próxima ,que passava por cima do rio,estava uma garota. Linda,parecia um anjo sem asas. Os cabelos negros ricocheteavam por sua face e seus olhos de um azul intenso pareciam estar inundados. Suas lágrimas escorriam até seu queixo e seguiam por seu pescoço. Seu vestido negro esvoaçava junto com seu cabelo e isso tudo criava um visual magnífico e assustador ao mesmo tempo.

Eu gritei para ela:

-Hey,moça. O que está fazendo ai? – Perguntei,dando alguns lentos passos até lá.

Claro que eu sabia a resposta: Ela queria se jogar,acabar com sua vida. Eu só queria ganhar tempo,até alguém perceber e puxá-la e colocá-la num local seguro.

Ela virou sua cabeça e eu pude olhar seus olhos,entrando em contraste com sua pele pálida. Ela deu um sorriso melancólico e pulou.

Simplesmente se jogou.

-Não! – Eu berrei e corri eu sua direção,arrastando minha mãe junto comigo.

Ela parecia cair lentamente. Eu via seu vestido esvoaçando enquanto ela caia de barriga para cima e seus braços pendendo para cima,de um modo cinematográfico.

Soltei minha mão da mão de minha mãe e corri ainda mais rápido. Havia uma avenida e eu tentei atravessá-la. Na metade da rua,um carro veio velozmente. Eu só vi quando ele estava muito próximo de mim. Arregalei os olhos e esqueci da garota da ponte. Eu estava pensando é que agora tinha chegando minha hora. Poucos centímetros antes da colisão, senti duas mãos delicadas agarrando minha cintura e me empurrando para longe.

Eu rolei e cai no chão,pouco milímetros de onde o carro havia passado. Mais alguém tinha sido ferido. Olhei para em volta para ver meu salvador e para meu horror ela estava lá caída. Minha mãe estava com um braço da blusa rasgada e sangue brotava da lateral esquerda de sua cabeça. Eu cheguei perto dela. Sua respiração era fraca e ela olhou para mim:

-Eu te amo. Jamais se esqueça disso meu querido. – Ela sorriu fracamente e tentou tocar meu rosto. Antes de sua mão chegar a minha bochecha seus olhos fecharam e sua mão tombou.

-Mãe! – Eu berrei desesperado,pegando sua mão. – Não mãe.

As lágrimas vazaram e eu chorei,agarrado a sua mão. Eu abracei seu corpo.

-Não mãe,eu preciso tanto de você.MÃE!

Flashback off

Acho que eu nunca senti tanta dor como eu senti naquele dia. Se eu não tivesse corrido para salvar aquela garota,minha mãe estaria viva. Se eu tivesse entrado naquele restaurante,minha mãe estaria viva.

Eu queria culpar alguém,mas quem eu culparia a não ser eu mesmo? Deus? O Diabo? A garota da ponte?

A garota não tinha nada a ver com isso,eu que era um imbecil pronto para ajudar qualquer um.

Eu queria simplesmente ir até minha casa e pensar em um modo de me suicidar,para poder ir para o seu lado.

Meus pensamentos iam e voltavam daquela tarde,até que eu trombei em alguém.

Escutei um baque surdo e olhei para baixo. Um garoto magrelo de cabelos negros estava estatelado no chão.

-Mais que droga. Por que isso sempre acontece? – Ele resmungou. – E eles nunca se dão ao trabalho de me ajudar. Quer apostar quanto que a pessoa nem ficou aqui para me ajudar a levantar?

Ele era doido? Não estava me vendo aqui?

-Ei,eu estou aqui. Não esta me vendo? – Eu estendi a mão e fiquei esperando ele à pegar.

-Ah,você está ai. – Ele sorriu em minha direção.

Seus olhos eram meio opacos.

-Você não está me vendo? – Eu perguntei confuso.

-Não. Infelizmente eu não posso ver.

Naquela hora meu coração pareceu se partir em mil pedaços. Como alguém tão sorridente poderia viver privado da luz e das cores?

-Oh,eu sinto muito! Como você pode viver assim? Com essas limitações?

-É isso mesmo que você acha de mim? Que sou um mero deficiente inútil? – Ele agora estava de pé e parecia irritado. – Quero que saiba que as vezes é bom não poder ver. Você conhece melhor as pessoas.

-Me desculpe. Fui meio insensível. – Me desculpei,envergonhado.

-Tudo bem. Meu nome é Bill. – Ele sorriu.

-Prazer,Tom.

-Tom,poderia me acompanhar por um momento? – Ele pediu. – Não quero que tenha essa imagem decadente de mim.

-Claro.

Minha tentativa de suicídio poderia esperar. O que custa sofrer de culpa e agonia durante mais algumas horas?

Fomos andando por um caminho que eu não conhecia,mas ele apesar de ser cego,parecia conhecer perfeitamente.

-Você nunca sorri? – Ele perguntou de supetão.

-Como sabe disso? – Perguntei,admirado por ele notar isso.

-O seu tom de voz nunca muda,é sempre frio.

Ele estendeu a mão em direção ao meu rosto:

-Posso? – Ele perguntou receoso.

-Pode.

Ele tocou meu rosto todo,delicadamente. Suas mãos me lembravam as mãos de minha mãe. Ao pensar nisso,senti vontade de chorar novamente.

-Sua expressão é tão triste,melancólica e cansada. – Ele disse,com a voz baixa.

-Eu tenho tidos muitos problemas ultimamente.

-Como o que?

-Prefiro não falar sobre isso.

-Tudo bem.

Paramos,depois de um tempo,na frente de uma pista de skate.

-Bill,minha nossa. Que saudades! – Uma moça loira veio correndo em sua direção e o abraçou.

-Olá Kate. – Ele retribuiu seu abraço.

-Como está diferente. Cortou os cabelos. – Ela disse passando as mãos por seus abelos negros,na altura dos ombros.

-Só um pouco. Estava ficando difícil de cuidar.

-Entendo. Veio treinar? – Ela perguntou animada.

-Sim! – Ele respondeu com a mesma animação.

-Ótimo,já vou pegar seu skate. –Ela disse isso e correu para um tipo de uma cabana que tinha ali perto.

Skate?Ele disse mesmo skate?

-Aqui está Bill. – Kate tinha voltado,com um skate preto e vermelho nas mãos.

Ele o pegou e seguiu,cauteloso,para a pista.

Me sentei ali no chão e Kate ficou ao meu lado.

-Bill é um garoto de ouro.- Ela disse,olhando o rapaz com admiração.

-Eu acabei de conhecer ele.

-Eu o conheci num dia de treino. Ele apareceu aqui todo machucado e sangrando. Um caras haviam dado uma surra nele,aproveitando a falta de visão dele. – Ela suspirou. – Não sei como conseguem fazer isso.

-É triste mesmo.

O diálogo foi curto. Fiquei olhando para a pista e fiquei abobado: Bill executava manobras perfeitas,melhor que muitos outras caras de lá,não caiu nenhuma vez.

Depois de uma hora de treino,ele parou e veio até mim.

-Meu Deus. O que foi isso? – Perguntei,espantado

-Resultado de dois anos de treino com a melhor professora que existe.

Ele certamente olharia para Kate se ele soubesse onde ela estava.

-Foi perfeito.

-Que bom que gostou.

Daquele dia em diante,Bill virou meu melhor amigo e vice-versa. Eu não pensava mais em me matar e eu só queria viver. Ele havia virado modelo para meus desenhos e inspirações para minhas músicas.

Meu sonho antigamente era ter uma banda,mas nunca deu certo,então eu escrevia músicas por hobby.

Pena que toda aquela felicidade duraria pouco.

Alguns meses depois,estávamos passeando pelo parque,quando avistei um lindo ipê rosa,ao lado de um outro lilás.

Era perfeito. Eu sorri.

-Bill? – Chamei.

-O que foi Tom? –Ele perguntou.

Peguei sua mão delicada e levei a meu rosto. Sorri.

-Você sorriu! – Ele sorriu também.

-Você me ensinou a sorrir,me fez voltar a ser feliz. Eu devo tanto a você,meu pequeno anjo. – O abracei.

-Obrigada. – Ele disse.

-Pelo que? – Perguntei,intrigado.

-Por existir. – Ele colocou a cabeça em meu peito.

Eu me senti como um pai que protege seu filho.

-Eu soube que estava doente. – Ele disse,choroso.

-Como soube? – Arregalei os olhos com sua frase.

-Kate estava no hospital ,num exame de rotina, esses dias e te viu por lá. Então ela escutou o médico um médico comentando,depois que você saiu,que você estava com uma doença de tratamento difícil.

-Mas a Kate não perde uma oportunidade de xeretar,heim? – Dei um sorrisinho.

-Isso não importa agora,o que você tem? – Ele perguntou,chorando agora.

-Nada demais. Eu vou ficar bem.

-Espero. Eu preciso de você.

Essa frase me atingiu em cheio. Eu novamente lembrei da cena de minha mãe caída no asfalto e eu gritando dizendo que precisava dela.

Depois disso,passeamos mais um poucos pelo parque e eu fui deixá-lo em casa. Não achava seguro deixar ele por ai sozinho,durante a noite.

-Entregue.

-Obrigado.

-Agora eu preciso ir. – Me virei para sair.

-Tom? – Sua voz doce me chamou.

-O que foi? – Me virei de novo para ele.

-Nos vemos amanhã? – Ele perguntou sorrindo.

-Talvez,meu pequeno anjo . Agora tenho realmente que ir.

-Tudo bem.

Narração em 3° pessoa

Na tarde seguinte,enquanto Bill esperava seu amigo para saírem,o pequeno recebeu o notícia do falecimento de Tom.

Ele não foi ao velório,se trancou no quarto e ninguém mais o via.

Sua situação era preocupante,ele não comia,não saia de casa,até mesmo os treinos de skate ele havia abandonado. Seu sorriso era inconstante.

Algumas semanas depois,o hospital ligou com a notícia que haviam encontrado um doador. Iria fazer um transplante de córnea na tarde seguinte.

Dois dias depois,lá estava ele,sentado em uma cama de hospital. Seus olhos estavam enfaixados.

-Então Bill,pronto para tirar a faixa? – O médico perguntou animado

-Sim. – Bill respondeu melancolicamente.

O médico se aproximou dele com um tesoura e cortou a parte de trás da faixa branca. Ela caiu sobre o colo do garoto e este abriu lentamente seus olhos castanhos.

-E então,como se sente? – O médico perguntou.

Bill olhou em volta,apreciando cada cor,cada curva,cada pequeno detalhe do quarto.

-Ótimo,acho que nunca me senti melhor. – Ele deu um sorrisinho fraco.

-Vou deixar você sozinho com a sua visita.

-Visita? – Bill perguntou,com uma expressão confusa.

-Sim,é uma garotinha. Ela é realmente bonitinha.

Ao terminar de dizer isso,o homem se retirou e uma garota de cerca de 10 anos entrou no aposento.

-Olá. Você pode me ver? – Perguntou ela,um pouco tímida.

-Sim,posso sim. – Agora ele havia sorrido verdadeiramente.

-Então poderia ler isso? – Ela lhe estendeu uma carta.

Bill apanhou o papel e abriu o envelope:

-Está escrita em Braille.

Ele colocou o papel sobre o colo e foi passando os dedos pela folha:

“Querido Bill,você não tem noção de como está sendo difícil escrever essa coisa,nunca pensei que Braille fosse tão complicado. Mas isso não vem ao caso agora.

Eu espero que você esteja bem. Se está lendo isso,é por que eu já parti e você já recebeu meu olhos.

Sim,antes de morrer eu fui até o hospital e disse que queria doá-los para Bill Kaulitz.

Eu tinha câncer no cérebro. É,eu descobri isso muito tarde.

Mas cada momento que eu passei com você foram especiais e únicos. Você não tem noção de como eu fui feliz enquanto eu estava ai na terra.

Quando eu soube que iria morrer,fiquei desesperado,quis culpar tudo e todos ao meu redor. Eu tentava parecer bem ao seu lado. Eu fiquei preocupado com você,com minha irmã.

Eu sei que você é forte,ficara tudo bem.

Eu te dei meus olhos e te dou total liberdade para usá-los como desejar. Só que nunca chore por saudades e nunca fraqueje. A coisa que eu mais amava em você era seu lindo sorriso,se quer me alegrar,sorria. Isso é tudo que eu peço.

Como você nunca me viu,eu tirei uma foto e coloquei dentro do envelope da carta,é a mesma foto da minha lápide. É a única foto minha que estou sorrindo e este sorriso é graças à você.

Acho que nunca vou poder agradecê-lo o suficiente.

Anjo,viva. Viva tudo o que eu não pude viver.

Mesmo quando não puder me ver,eu estarei ai com você. Eu estarei ai sempre que precisares de mim.

Isso não é um adeus,é só uma breve despedida.

Eu tenho um pedido a te fazer. A garota que te entregou a carta é minha irmã. Cuide dela,por mim.

P.S:Quando tiver um tempo,vá até o parque.  Olhe para o ipê rosa,vai entender um dos motivos pelo qual te dei meus olhos.

Assinado,Tom

As lágrimas caiam e escorriam teimosas pelo rosto do garoto. Ele apertou o papel contra o peito e chorou,mas agora as lágrimas vinham juntas de um sorriso sincero.

Quando recebeu alta,o pequeno foi até o parque,e passou durante alguns momentos. Depois de um tempo,ele avistou o lindo ipê rosa florido. Ele ficou maravilhado e se aproximou da árvore.

Sua atenção foi chamada por uma imagem entalhada no tronco: A letra B com uma pequena auréola em cima e abraçada pelas asas grandes e frondosas de um anjo. Ele passou os dedos pela imagem e compreendeu : Ele sempre teria um anjo da guarda.

-Obrigada Tom. Descanse em paz,meu anjo. – Ele sussurrou.

Uma lágrima escapou e ele ficou ali parado durante um tempo,agradecendo ao homem que o tinha tirado da escuridão,pelo tempo que lhe restava,ou melhor,por toda a sua eternidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai,o que acharam?Ficou boa?Ruim?Deixem seus reviews!!!Beijos =*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Valor da Vida: Aprendizado Cego" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.