Filosofias de Uma Palmeira escrita por camila-nona


Capítulo 9
Capítulo 9




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No outro dia, Jane foi até a casa dos Foster, onde Daya revelou-lhe sobre sua primeira noite.

-Não contarei detalhes –a mais nova se vingou –Você também não me contou sobre a sua.

Elas riam do fato quando a Sra. Foster entrou no quarto, perguntando quais eram as novidades de Jane que Daya havia mencionado na noite anterior. Jane viu-se obrigada a contar suas suspeitas de gravidez, mas foi interrompida por Rafael que logo entrou no quarto também.

-Jane está se saindo muito bem nas aulas de piano com Emma –ele disse, tentando mudar de assunto. Mais tarde explicou à mulher que não queria dar falsas esperanças à Sra. Foster, e ela concordou com ele.

Os dias se passavam devagar, e o suposto casamento ia se aproximando. Agora, com o casório de Daya já consumado, ambas as irmãs em separado pensavam em qual data, no casório programado, ou antes, iriam Antony e Daya revelar sua união.

  -No que pensa? –perguntou Helena à Jane –Se não for ousadia da minha parte saber.

-Não é ousadia, Helena. Estou preocupada com Daya.

-É tão bela a fraternidade que você tem para com a sua irmã!

-Obrigada. Agora me diga no que tanto pensa ao olhar para esses desenhos.

-Sinto muito, estou sendo intrometida em olhá-los, mas é que eles são tão repletos de sentimentos...

-Sabe desenhar?

-Não senhora. Não tive a oportunidade.

-Mas agora tem. Vamos, sente-se ao meu lado que eu vou lhe ensinar. O segredo é transmitir os seus sentimentos para o papel.

-Mas meus traços não são tão finos e graciosos. Como posso desenhar tão grosseiramente?

-Se estiver com a mão leve, ligada diretamente ao seu coração e aos seus sentimentos, verá como pode criar belas paisagens.

-Como poderei passar meus sentimentos para o papel?

-Não se subestime e não subestime o papel. É como desabafar com alguém: se estiver triste, seus desenhos terão traços tristes, e se estiver feliz, seus traços serão alegres e transparentes.

-A senhora fala tão bem, é tão fina!

-Eu não sou tão digna de elogios, e já pedi que não me chamasse de senhora, sim?

-Se assim deseja...

Ambas ficaram a desenhar pelo período de uma hora. Ao cabo desse tempo, o Sr. Harris chegou dos negócios que tinha ido tratar na casa dos Fadyen e falou um pouco à sós com Jane.

-Não parece que Lucas tenha descoberto nada, portanto desconfia da proximidade entre Daya e seu irmão. Ele está um pouco mais agressivo aparentemente e eu não sei se sua reação ao souber do romance entre os dois será tão passiva como esperamos.

-Creio que não será mesmo passiva.

-Sim, mas o ódio dele pode vir a ser maior do que imaginamos. Ele é instável e não sabemos do que é capaz.

-Então... Quer dizer que Daya e Antony podem estar correndo perigo? Meu Deus, o que faremos?

-A principio creio que alertar Daya do perigo. O Sr. Antony conhece bem o seu irmão e parece estar ciente da inquietação deste. Depois, se preciso for, podemos mantê-los aqui em casa ou na propriedade que possuímos nas montanhas. Creio que tudo será pior se sua irmã, por um acaso, ficar grávida.

-Não creio que ela ficará.

-Mas aproveitando tal assunto, você já tem certeza sobre a gravidez?

-Sim. Percebo a forma com que meu corpo muda.

-Pelo menos uma boa notícia! –ele acariciou sua barriga e ela sorriu –Então é melhor que comecemos a preparar o enxoval. Logo providenciarei vestidos novos a ti. Não quero que se sinta desconfortável com essas roupas apertadas.

Jane riu d modo rápido e eficiente com que seu esposo proferia as palavras tornando o cenário verdadeiramente cômico.

-Então me diga Sr. Harris, o que prefere? Menino ou menina?

-Gostaria de ter um menino primeiro, se bem que não importa, já que pretendo encher essa casa de filhos e filhas.

-Será que terei forças para dar a luz a tantas crianças?

Ele a beijou e sussurrou:

-Se depender da força que tem para fazer os outros felizes será capaz de mudar o mundo, tanto como poderá ter o número de filhos que desejarmos.

Faltavam três dias para o casamento de Daya. Ela e Antony se encontravam na clareira, como faziam quase todas as noites, desde que haviam casado.

-Fico pensando como contaremos para todos –falou Antony enquanto acariciava sua amada –Não sei qual será a reação do meu irmão. Ele tem se mantido muito inquieto e desconfiado ultimamente.

-O Sr. Lucas irá compreender Ele me parece um homem de sentimentos.

-Sim, mas de sentimentos inconstantes.

-Pois bem, não me importa. Amanhã quando vocês forem me visitar, contaremos tudo para todos. Jane e Rafael estarão presentes para nos dar apoio.

-Ótimo. Mas agora nada de discutirmos sobre isso, minha esposa.

-E sobre o que o senhor meu marido gostaria de discutir agora?

-Algo sobre isso –Antony a pegou no colo e saiu correndo, sem dar ouvidos aos seus protestos.

-Antony, ponha-me no chão!

-Só mais um pouquinho.

Ele andou mais alguns metros e então parou em frente a uma árvore.

-Uma palmeira! –surpreendeu-se Daya enquanto pulava de seu colo –Ela está tão deslocada aqui!

-Realmente. Não há nenhum outra desse tipo por perto. Eu a descobri outro dia, enquanto você dormia.

-E se ela estiver vendo o que nós estamos fazendo agora, igual a palmeira de seu livro?

-Tenho a certeza de que ela suspiraria e lamentaria por não poder viver um amor como o nosso.

-Ninguém viverá um amor como o nosso: puro e verdadeiro.

-Nunca –Antony a abraçou com um tom de urgência, como se já não pudesse mais viver sem ela, como se tivesse uma necessidade muito grande daquele amor, como se ela fosse sua vida naquele momento e para sempre –Eu te amo Daya.

-Eu te amo, Antony. Um amor que vai além da minha existência.

No dia seguinte, estavam todos reunidos na sala dos Foster.

-Toque um pouco para nós, Srta. Daya –pediu Lucas.

-Não. –ela respondeu, e todos a olharam. Jane, Rafael, Antony, seus três irmãos, seus pais e o próprio Sr. Lucas.

-Deixe de ser mal educada menina! –repreendeu o Sr. Foster –Toque para o seu marido!

-O Sr. Lucas não é o meu marido.

-Mas praticamente o é –enervou-se a Sra. Foster –Faltam apenas dois dias!

-Se Daya não quer tocar, deixe-a –disse o Sr. Lucas –Faça o que você quiser, minha querida.

-Eu sinto muito a todos e, principalmente, a você, Sr. Lucas, mas eu não mando no meu coração.

-O que você quer dizer com isso? –perguntou o seu irmão mais velho.

-Quero dizer que não posso me casar com o Sr. Lucas, porque eu não o amo como marido. Eu amo outra pessoa.

-Oh!

Todos se surpreenderam e se revoltaram menos os outros três que já sabiam daquilo. O Sr. Lucas se levantou de imediato e se manteve ereto.

-Eu não quero saber de seus sentimentos! –gritou a mãe, avançando na direção da garota –Você vai se casar com o Sr. Lucas por bem ou por mal! Menina vergonhosa! Desgosto da família!

Os olhos da sensível Daya se encheram de lágrimas diante dos dizeres da mãe.

-Eu não posso me casar com ele! Eu não o amo! Por favor, não fale assim comigo, mamãe, o meu coração não agüenta!

-Estúpida! Estúpida! –ela avançou mais ainda na direção de Daya, que recuou a cada avanço dela. Até que chegou uma hora que a menina se viu encostada na parede, sem ter para onde escapar –Nunca pensei que você me causaria tanto desgosto! Mas você irá aprender!

A Sra. Foster ergueu a mão para batê-la, mas Antony segurou o seu punho antes que ela pudesse se mover.

-Não encoste um dedo nela –ele falou,furioso.

Neste momento o queixo de todos caiu por completo.

-Não é possível! –gritou o Sr. Foster.

-Solte-me seu insolente! –disse entre dentes a Sra. Foster –Ela é minha filha e eu faço com ela o que eu quiser.

-Ela é minha esposa, portanto não deixarei que a encoste em um fio de cabelo sequer!

Com esse ultimo dizer a Sra. Foster desmoronou. Ela e o seu marido olharam aterrorizados para os dois, e o Sr. Lucas não se moveu um milímetro. Ele estava paralisado e com uma expressão indecifrável no rosto. Jane e Rafael se levantaram, prontos para assumir a defesa do casal quando fosse preciso. Os irmãos Foster estavam concentradíssimos para não perderem um segundo da discussão.

-O senhor disse “esposa”? –perguntou o Sr. Foster, sem acreditar.

-Sim.

-Nós nos casamos escondidos –explicou Daya –Há três semanas atrás. Descobrimos que nos amávamos já há algum tempo, e até o padre convenceu-se de que morreríamos um sem o outro. Tentem entender!

-Esse anel então é mesmo uma aliança! –suspirou a Sra. Foster, desolada –O que as pessoas vão falar quando souberem que minha filha mais jovem casou-se escondida com o irmão de seu noivo? Isso só pode ser um pesadelo!

-Perdoe-me mamãe, mas eu não poderia viver sem o Antony.

-Perdoe-me, senhora, mas sua filha é tudo para mim. Lamento muito Lucas, eu... Lucas? Onde está o meu irmão?

Naquela confusão toda, eles nem perceberam que o Sr. Lucas havia saído dali, de punhos fechados e vontade de vingança.

-É melhor irmos embora –falou Jane –Daya e Antony, venham conosco. Deus sabe lá o que o Sr. Lucas pretende fazer.

-Você já sabia. Jane? –perguntou consternada a Sra. Foster –Sr. Harris, o senhor também sabia?

-Sim –respondeu Rafael.

-Sinto muito, mamãe –disse Jane –Agora vamos. O Sr. Lucas não poderá fazer nada contra vocês em minha casa.

-Adeus mamãe, adeus papai, adeus meus irmãos.

Daya se despediu em prantos, perguntando-se se algum dia voltaria a vê-los novamente. Eles não a responderam, mas a fitaram de um modo significativo, perguntando-se a mesma coisa, apesar de toda a raiva que sentiam.


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