Filosofias de Uma Palmeira escrita por camila-nona


Capítulo 8
Capítulo 8




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Na próxima visita que os Srs. de Fadyen fizeram à moradia dos Foster, exatamente três semanas antes do casamento, enquanto a família se colocava a discutir sobre os assuntos do casório, Daya lançou um olhar avisado à Antony de que queria falar-lhe. Ele logo entendeu a mensagem e saiu com discrição da sala. Como estavam entretidos em discutir sobre os preparativos, os presentes também nem notaram a saída de Daya.

-Eu não suporto mais isso! –disse Antony quando logo viu a amada no jardim – Não podemos deixar isso acontecer! Temos de impedir!

-É por esse motivo que lhe chamei aqui, Antony. Eu tenho um plano. Enfim acho que temos uma chance de ficarmos juntos.

-Daya, se há uma maneira, me fale logo e acabe com essa dor que há dentro de mim!

-Podemos nos casar escondido! –ela pegou sua mão e continuou – Convencer o padre de nosso amor! Ele não nos negará o casório, mesmo sem a permissão de meus pais, afinal, nos amamos! Jane e Rafael poderão ser testemunhas. Eu contei ontem os meus planos para eles e eles prometeram ajudar.

-Certo, e quando contarmos para todos que perante de Deus somos marido e mulher, eles não poderão fazer nada. Mas... A mágoa que causaríamos no meu irmão e o desgosto de sua família!

-Antony, eu já não me importo mais com isso. Eu quero ser feliz ao seu lado e nada mais! Por que não cortamos esse nó que nos prende às nossas famílias e à nossa consciência e vivemos nossas próprias vidas como desejarmos?

-Não sei por que ainda me preocupo! Você está absolutamente certa! –ele então a pegou pela cintura e a envolveu em seus braços. Ela não pôde deixar de sentir um friozinho na barriga quando ele sussurrou em seu ouvido aqueles mesmos dizeres que havia escrito no livro “Filosofias de uma Palmeira” – Não me importa nada além do que sentes por mim. Se me tem como amante e irmão, é o que basta. Não quero saber sua vida passada. Interessa-me sua vida futura: a que criaremos juntos através da união de nossos corações. –ele então a olhou nos olhos e acrescentou – Daya, você é a pessoa mais encantadora que existe. Tudo em ti me deixa apaixonado! Sua voz doce, sua bondade, sua pureza, sua beleza, sua determinação... Como eu poderia não te amar? Seria impossível! Todos que convivem com você se apaixonam de alguma forma... Você é tão querida! Eu tenho sorte por você ter escolhido a mim.

-Eu não sei proferir palavras tão bonitas –ela falou, apaixonada –Mas basta para ti o mero e mais dito “Eu te amo”? Afirmo-lhe que ele vem do fundo do meu coração.

-Para mim é perfeito –ele sorriu e a beijou –E isso ajuda.

Ela riu e olhou em seus lindos olhos claros. Por um momento pensou que estava diante do céu.

-Então amanhã irei falar com o padre. Direi para todos que irei visitar Jane, mas que desejo ir sozinha. De lá eu, minha irmã, e Rafael seguiremos para a igreja.

-Lá eu te encontrarei. Quem sabe por um milagre divino o padre não nos casa amanha mesmo?

-Seria maravilhoso. Às duas horas está bom para você então?

-Perfeitamente.

Eles trocaram mais um beijo delicado, e então se ajeitaram e voltaram à sala, como se nada tivesse acontecido.

Os Srs. de Fadyen ainda permaneceram lá por algum tempo, o que deu a oportunidade de se fazer pensar que Daya estava feliz com sua união com o Sr. Lucas. Este, por sua vez, via erradamente no sorriso da garota uma paixão por ele, sem sequer desconfiar que aquele amor fosse todo destinado ao seu irmão.

Daya, naquela noite, teve os sonhos assombrados pelo possível ódio do Sr. Lucas que, ao descobrir a traição do irmão, não tardou em vitimá-lo, deixando Daya num cemitério, com uma criança pequena no colo. A moça percebeu que uma luz batia em seu rosto e foi logo se aproximando da mesma. Só então acordou com os raios solares que iluminavam o seu quarto naquela manhã. Suspirou de alívio e desceu da cama, pondo-se a escolher as vestes que supostamente vestiria para visitar sua irmã.

O desejo de ver o amado na igreja a impeliu a sair de casa o mais rápido possível, e assim colocou o seu plano em ação. Sua mãe não objetou a sua vontade de ver a irmã, e logo Daya estava em frente a Igreja, sem nenhuma desconfiança da parte da família.

Jane a aguardava ansiosa um pouco antes da hora marcada.

-Como é bom a ver! –disse a mais nova abraçando a irmã –Estou tão ansiosa! Não faço idéia do que pode vir a acontecer depois!

-É provável que você e o Sr. Antony vivam uma vida feliz e cheia de amores, como eu tenho vivido.

-Ao contrário do que pensava, não é mesmo? E por falar nisso, onde está o Rafael?

-Foi comprar uns doces que eu estava com vontade de comer. Rafael é um homem bom e eu descobri nele o amor que eu esperava encontrar, mesmo julgando impossível anteriormente. Aliás, tenho novidades.

-Conte-me então!

-Não tenho total certeza, mas creio estar esperando um filho.

-Mas isso é maravilhoso! Eu vou ser tia! Tem noção de quanto tempo?

-Não exatamente. Imagino que ele ou ela tenha sido concebido na noite em que recebi a notícia de seu casamento. Naquele dia Rafael não teve que sair a negócios e ficamos a mercê um do outro.

-E ele já sabe?

-Sim. Contei-lhe ontem, por isso foi comprar tão urgentemente os doces. Disse que se não me arranjasse torta de amora caramelada nosso bebê nasceria com cara de amora.

Ambas riram da situação, mas logo se recompuseram, tratando de reunir argumentos que pudessem convencer o padre em casar os dois amantes. Pouco tempo depois, Rafael chegou apressado com a torta, a qual Jane devorou com voracidade, oferecendo um pedaço à irmã.

Antony não demorou muito a chegar, e a primeira coisa que fez foi abraçar Daya com força e afeto.

-Isso vai dar certo –ele disse com convicção enquanto pegava a sua mão.

-Sim, vai dar certo. Deixa que eu explique a nossa situação ao padre, eles costumam ser mais bondosos com jovens desesperadas.

Ele sorriu.

Quando entraram na igreja, o padre os olhou com bondade e logo perguntou se poderia ajudá-los em algo.

-Sim, senhor padre –respondeu-lhe Daya –Eu e este gentil cavalheiro que se apresenta ao meu lado nos amamos intensamente. É tanto amor que não cabe dentro de nós, e eu não posso mais agüentar viver sem sua presença.

-Que coisa mais bonita de se dizer! Creio que vieram para marcar o casamento.

-Pois aí está, meu bom padre. Antes fosse por isso. Há um empecilho diante de nós, algo que não nos permite sermos felizes juntos.

-Minha jovem, o que pode causar tal sofrimento?

-Estou prometida ao irmão desse cavalheiro, e terei de casar-me com ele daqui a três semanas. Eu não posso mandar no meu coração e não conseguirei viver sem o amor que tanto almejo.

-Eu estou sinceramente triste, mas creio que não há nada que eu possa fazer para aliviar sua dor.

-Há sim, padre –interveio Antony –Case-nos logo e não teremos de viver essa amargura. Quando estivermos unidos diante de Deus, nada poderão fazer a respeito.

-Sinto muito, meu jovem, mas não posso fazer isso. Cabe à família dessa moça decidir o que é melhor para ela.

-O senhor vai enfiar essa adaga no nosso peito? –revoltou-se Daya –Prefere então que vivemos uma vida desregrada de pecadores imperdoáveis que pelo simples fato de se amar não conseguem se controlar? Prefere ter duas almas perdidas para as trevas do que conceder um simples matrimônio, pelo fato de que não é correto realizá-lo? O que é correto então? Entregar-nos para a escuridão e aliviar sua consciência? Isso deixaria a sua consciência menos pesada? Eu creio que não.

O padre ficou de olhos arregalados diante da dramatização da garota e pensou nas possibilidades.

-Eu não acredito que farei isso –ele suspirou por fim –Que Deus me perdoe, mas eu não posso entregar duas almas ao pecado.

Os amados sorriram e se abraçaram.

-E para quando seria esse casamento? –perguntou o padre.

-Se não estiver ocupado, senhor, -apressou-se Antony -agora seria um bom momento.

-Mas tão rapidamente?

-O quanto menos tardar melhor –respondeu Daya.

-Mas e as testemunhas?

Eles lançaram um olhar significativo para Jane e Rafael.

-Ah sim –deu-se o velho por vencido –Vejo que vieram com esse objetivo já traçado. Pois bem, vou pegar o necessário.

Quando o padre saiu, os amados se beijaram sem acreditar no sucesso do plano.

-Seu discurso abalaria qualquer um, Daya. Tenho de admitir que você é boa nisso.

-Obrigada, senhor futuro marido.

Quando o padre voltou, fechou as portas da igreja e subiu ao altar. Daya e Antony ficaram diante dele enquanto os outros dois se sentaram num banco. O padre leu um versículo da Bíblia que falava sobre o amor e, em seguida, proferiu a frase que os tornavam marido e mulher.

-Agora, para dar cabo à cerimônia, peço-lhes que troquem as alianças.

Daya se assustou, pois havia se esquecido desse detalhe, mas, quando olhou para Antony e percebeu o sorriso estampado em seu rosto, viu que ele havia se lembrado.

Foi com delicadeza que ele pegou sua mão e colocou-lhe o anel, beijando-a em seguida. Ela repetiu o gesto e, agradecendo ao padre, saíram da igreja casados.

-Minha esposa –sussurrou Antony para sua mulher –Hoje à noite eu estarei em seu jardim, esperando em meu cavalo, para que desça depressa e me encontre. Levarei você para o local onde confessamos nosso amor, para que então possamos passar nossa primeira noite juntos.

Daya estremeceu de nervoso, mas concordou. Jane, que estava prestando atenção, não pôde deixar de rir.

-Não há o que temer, minha irmã –ela falou –O amor é algo magnífico –ela olhou para Rafael, que a envolveu pela cintura –Espero que vocês sejam felizes.

 -Não há como não o ser –suspirou Daya –Em qualquer lugar que estivermos seremos felizes, desde que permanecemos juntos.

-É bom saber disso –Jane sorriu, e ela e seu marido entraram na carruagem, enquanto Daya entrara em outra. Antony beijou-lhe a mão e foi embora, não sem antes dizer que a amava.

Chegando em casa, a Sra. Foster perguntou como havia sido a visita à Jane.

-Maravilhosa –respondeu Daya –E Jane tem boas notícias, só que não serei eu a estragar a surpresa.

-Ora, tudo bem. Estou tão entretida com os preparativos para o casório que nem ligo. Mas... Que anel é esse?

-Ah! Ele... Ele... Jane me deu!

-Parece uma aliança.

-Mas não o é. É um anel. O jantar está pronto?

Depois da refeição e de alguns instantes na sala, todos foram dormir, exceto Daya, que ficara de olho na janela. Ela havia colocado um vestido branco de seda pura e manga comprida, com pequenos ornamentos prateados em baixo do peito e um pequeno decote. Prendeu alguns fios do cabelo cacheado em cima da cabeça e passou um perfume cheiroso. Eram umas nove horas quando ela viu Antony atravessar o jardim em um cavalo negro e belo, que era quase imperceptível na escuridão da noite. Ele acenou para ela que logo desceu sorrateiramente as escadas e saiu da casa.

-Você está linda –ele disse em meio a um sorriso, enquanto a ajudava a subir na montaria. Ela beijou o seu ombro e se agarrou em sua cintura para que pudessem ir embora dali. Os olhos dele pareciam estar mais azuis e radiantes, se é que aquilo era possível. Seu cabelo estava molhado e o seu cheiro era maravilhoso. Ela logo percebeu que não fora a única a se preparar para aquela noite.

Ele cavalgou sem dizer uma palavra até a clareira, onde Daya desceu do cavalo sentindo-se um pouco desconfortável, sem saber o que fazer ou o que falar. Antony estendeu um pano branco e bonito sobre a relva, onde ela se sentou de imediato. Ele tirou uma rosa que havia trazido para ela do bolso e entregou-lhe. Ela riu, acanhada.

-O que foi? –ele brincou -Há algum problema em ser romântico?

-De forma alguma, senhor meu esposo.

-Que bom –ele riu e se ajoelhou ao seu lado –Não tenha medo –ele disse –Eu não sou nenhum monstro.

Ele a acariciou e a beijou no pescoço, e depois no ombro, enquanto tirava o seu vestido. Ela nunca havia sentido nada parecido. Era como se seu corpo fosse entrar em ebulição quando menos esperasse. Automaticamente, ela tirou o casaco de Antony e depois sua blusa, beijando suas costas fortes e nuas. Olhou em seus olhos que tanto a encantavam, passou a mão pelo seu cabelo liso e loiro e sussurrou que o amava. Quando eles se despiram por completo, Antony se deitou sobre ela e investiu, quando percebeu que todo o medo, visto antes em seus olhos, havia se dissipado.

Eles estavam tão felizes em estarem casados e poder se amar, que não fecharam os olhos por um minuto, com medo de aquilo não fosse real. Era o mais perfeito sonho vivenciado por dois amantes que descobriram no outro sua razão de viver.

Enquanto isso, Jane não conseguia dormir, pensando em como estava sendo a primeira noite de sua irmã. Rafael, ao seu lado, acariciava sua barriga, contente com a nova vida que se formava ali.

-Está pensando em Daya?

-Sim. Alegra-me muito que ela tenha escolhido o caminho do amor e de sua felicidade.

-Tal como nós, apesar de não sabermos na ocasião que nosso casamento seria tão bem realizado.

-E em pensar que eu não queria me casar! Ora veja como é possível casar sem amor e apaixonar-se depois de já estar casado! Descobri em ti o cavalheiro que sempre sonhei. É tão bom estar amando e acordar todos os dias ao lado da pessoa amada!

-Eu concordo. Ora, já que estamos despertos que tal passearmos no jardim à luz do luar?

-Excelente idéia. Não creio que iremos dormir tão cedo.

Eles se levantaram e se vestiram, rumando juntos em direção ao jardim. Andavam de mãos dadas entre as flores e por cima da grama umedecia pelo orvalho da noite. Jane olhou para o céu e disse:

-Como é belo um céu repleto de estrelas e com tão esplêndido luar!

-Essa noite tão bela é inspirada na sua formosura, meu amor.

Jane sorriu lisonjeada, e Rafael continuou:

-Já ouviste a história da fada da lua?

-Não. Esta é completamente desconhecida por mim.

-Então lhe contarei. A fada da lua determina a intensidade do brilho e a beleza da mesma. A lua fica assim, bonita, quando a fada está feliz e quando há casais que se amam e que transmitem alegria e beleza ao mundo. Mas quando há desapontamentos amorosos e sofrimento, a fada se entristece, tornando a lua opaca e a noite nublada.

Jane sorriu.

-Creio que a noite está tão bela assim devido ao nosso amor e ao amor de Daya e Antony –ele prosseguiu –Fico feliz que eles possam se amar sem problemas vistos no plano de Deus.

-Isso também me deixa feliz: que eles tenham feito isso da forma correta. É uma bela fabula esta da fada da lua, mas acha que quando morremos temos um lugar lá em cima?

-Creio que todos que se redimem de seus pecados são salvos e levados ao céu. Mas por que o motivo dessa pergunta?

-Fico imaginando se é considerado pecado o que nós fizemos hoje.

-Creio que não. Não pode ser considerado um pecado livrar um casal que se ama do mundo da perdição.

Rafael pegou Jane no colo e, segurando-a firmemente em seus braços, falou:

-Se isso for pecado aos olhos de Deus, nós também seremos condenados pelo nosso amor e assim iremos juntos para o inferno.

A mulher envolveu os braços ao redor do pescoço do marido e beijou-o em seguida. Ele percorreu os dedos suavemente pelas suas costas e ela sentiu-se incomodada em saber que tinha mais uma pessoa ali naquele momento. Agradeceu por sua barriga ainda não estar crescida, pelo menos esse era um quesito a seu favor.


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