Filosofias de Uma Palmeira escrita por camila-nona


Capítulo 7
Capítulo 7




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No dia seguinte, após o café da manhã com seu marido e sua nova irmã, Jane dedicou-se aos desenhos, já que Sr. Harris havia saído para tratar de negócios e Emma reservava-se em seu quarto. Ela transmitiu para a folha uma nova onda de sentimentos, que nem ela mesma conseguia identificar. Talvez houvesse se tornado mais madura e mais mulher, abandonando os pensamentos de menina. Lembrou-se de sua irmã, e dedicou-se então a desenhar uma palmeira da forma que gostaria que ela fosse. Imaginou que Daya sonharia com ela, e até a veria como um berço para amantes fugitivos. Riu desse pensamento, pois sabia que era bem o perfil de sua irmã sonhar com tal coisa. E antes que pudesse completar o desenho, o mordomo, Walter, interrompeu-a, avisando que tinha visitas.

-Quem? –ela perguntou.

-Sua mãe e sua irmã, Sra. Harris.

Jane abriu um largo sorriso e, pela primeira vez, foi recebê-las em sua casa de Sra. Harris.

-Mamãe! Daya! Que surpresa em vê-las aqui! A que se deve o motivo dessa visita?

-Nós viemos devolver um casaco na residência dos Fadyen –respondeu Daya, lançando um olhar significativo para a irmã –Então decidimos vir aqui visitá-la.

-Agradeço muito que tenham vindo –pronunciou Jane, dando um aceno de compreensão para a irmã –Bem, agora me acompanhem. Vou levá-las até a sala de música, onde poderemos conversar melhor.

As três dirigiram-se à sala citada, onde Daya, não contendo o desejo de ver tão bela peça, começou a tocar uma bela melodia no piano.

-Daya, eu sabia que você não iria resistir ao desejo de tocar neste piano. Assim que o vi pela primeira vez, lembrei-me de você.

-Mas ele é realmente belo! Srta. Emma sabe tocar?

-Sim, e toca muito bem. Como eu nunca desenvolvi bem essa atividade, pedi a ela que me ensinasse, e ela concordou de bom grado.

-Ela terá de ter grande paciência –disse a Sra. Foster –Lembro-me de quando tentei ensinar-lhe, e você insistiu em tocar com as pontas dos dedos uma nota de cada vez. Era um barulho horrendo de estourar os ouvidos.

As três começaram a rir do comentário e Jane lembrou-se do desenho que havia feito, resolvendo presentear sua irmã com ele.

-Fiz para você –ela falou, levantando-se de sua cadeira, pegando a folha e dando-a a irmã.

-Jane, é lindo! –suspirou Daya –Como posso retribuir-lhe?

-Sua bela música já me basta, querida.

Nesse momento o mordomo entrou na sala e serviu um chá às visitas, que revelaram estar de seu agrado. Ainda foram visitados o jardim e o saguão das esculturas, que também contribuíam para a grandiosidade da casa.

Antes da partida das Foster, em um momento de distração de sua acompanhante, Daya ouviu sua irmã sussurrar-lhe:

-Não quero que a palmeira seja apenas um ninho de amor secreto para sua vida, mas sim que represente a sua vida por inteiro, composta de um amor verdadeiro.

-Assim será, minha querida. Eu arranjarei um jeito. Não posso lutar contra um amor como esse –e dizendo isso, entregou a Jane uma pequena carta que Antony havia lhe dado naquela mesma tarde em sua mansão. Jane a leu rapidamente:

Eu quero estar contigo em todos os momentos da minha vida. Eu pretendo enfrentar o mundo para estar ao seu lado. Não imaginei que encontraria alguém que me completasse por inteiro, mas eu sinto que você e mais ninguém me completa. Eu te amo, Daya.

-Vejo que isso está ficando sério –ela falou após ter lido. Entregou o papel de volta a irmã e suspirou – Espero que seja feliz.

-Ande logo –interrompeu-as a Sra. Foster que nada ouvira da conversa –A carruagem está esperando!

E assim as duas deixaram Jane, que acenava contente para a carruagem que partira.

Ao se recolher para o interior da casa, ela viu-se sozinha e logo tratou de procurar Helena. A criada estava na cozinha, enquanto Walter preparava um suco.

-Senhora Harris? –ela perguntou quando a viu -Deseja algo de mim?

-Não, Helena. Quero apenas uma amiga para poder conversar. Esta casa, apesar de bela, me faz ficar muito solitária. E por favor, me chame apenas de Jane.

-Sim, senhora. Ou melhor, Jane. O meu irmão, Walter, estava preparando um suco para a senhora –ao receber o olhar amargo de Jane ela concertou –Para você.

-Obrigada, Walter. –ela fez uma pausa e continuou –Walter, a quanto tempo conhece meu esposo?

-Desde quando ele era apenas um garoto. Tinha seis anos quando comecei a trabalhar para sua família, senhora.

-Não me chame de senhora, por favor! Eu não quero esse distanciamento todo!

-Claro, Jane, se assim prefere...

-Obrigada. Mas... Diga-me, ele sempre foi assim, seco e mal humorado?

-Não, Jane! Não é secura nem mal humor! Ele é apenas um homem triste que sofreu muito em sua vida.

Jane se surpreendeu com a resposta daquele senhor, que aparentou mostrar infelicidade ao proferir tais dizeres.

-Jane –disse Helena –Meu irmão cedo ou tarde precisaria contar-lhe os motivos do Sr. Harris ser tão sério. Creio que será melhor conhecer essa história agora para que não o subjugue ou cometa algum equívoco para com ele.

-Sim, eu concordo. Conte-me, por favor, Walter.

O homem se sentou em uma cadeira após servir o suco às moças e, em meio a um suspiro, falou:

-Como eu já havia dito, conheci o seu esposo quando ele possuía seis anos completos. Trabalhei para o pai dele por certo tempo, mas depois de alguns meses aconteceu a tragédia. –ele fez uma pausa dramática –O pai do Sr. Harris precisou viajar a negócios, e desejou levar a sua pequena família com ele. Quando a carruagem dos Harris foi atravessar uma ponte, esta se partiu devido a uma forte tempestade que aumentou o nível das águas do rio. A correnteza os arrastou até que batessem em uma pedra e fossem arremessados para fora. Visto que não havia como salvar toda a sua família, pois sua mulher havia batido com a cabeça e submergido, o pai do Sr. Harris empurrou-o para a margem junto de Emma que era apenas um bebê, e deixou-se ser levado pela correnteza. Dois dias depois, Rafael encontrou um camponês que o ajudou a localizar os corpos de seus pais e tira-los da água, para depois enterra-los numa pequena aldeia. Esse camponês também o ajudou a voltar para casa, e desde então eu venho cuidando dele e da Srta. Emma como se fossem meus filhos. A partir da morte de seus pais, Rafael passou a assumir essa postura séria e triste, como se não acreditasse numa verdadeira felicidade ou num verdadeiro amor, pois o maior amor que tivera na sua vida, sua família, foi destruído.

Tocada pelas palavras do Sr. Walter, Jane começou a desenvolver um sentimento mais piedoso em relação ao seu marido e jurou para si que procuraria ser mais carinhosa com Rafael, consolar sua dor e mostrar-lhe que o amor era algo possível entre eles.

No dia seguinte, Daya foi surpreendida por sua mãe, que a acordara cedo.

-Adivinhe quem está aqui? –perguntou a mulher.

-Os Srs. de Fadyen? Mas tão cedo?

-Não são eles, sua bobinha! É a costureira. Ela já pegou suas medidas certas da outra vez que veio aqui, agora só falta que você escolha o modelo de seu vestido de noiva. Ela trouxe alguns modelos para que possa ver o que mais lhe agrada.

-Mas já? –desesperou-se a garota –Nem resolvemos a data do casamento!

-Como não? Ontem, quando fomos à casa do Sr. Lucas eu tive uma oportunidade de falar à sós com ele, e decidimos tudo! Já está acertado!

-Mas... Quando será?

-Veja como está nervosa! Se pudesse se ver no espelho! Que maravilhoso quando nos apaixonamos assim pelo nosso marido! Você está corando, Daya!  Vejo que está ansiosa para que chegue logo a data! Pois não se preocupe! Cinco semanas passam depressa...

-Cinco semanas? –gritou Daya em desespero. Sua mãe, que encarou essa demonstração como afobação para que chegasse logo a data, soltou um risinho contente.

-Não podemos marcar para amanhã, minha filha, se bem que nossos desejos se coincidem. Mas fico alegre em saber que não vê a hora de se casar. Por isso arrume-se. Precisamos escolher o vestido.

Daya vestiu qualquer coisa e seguiu a mãe até a sala. Seus olhos estavam nos esboços dos vestidos, mas seus pensamentos iam longe. Jane, como era mais racional, aceitou se casar sem amor. A mais velha costumava ser mais “revolucionária” e brigar pelas suas causas, mas nesse caso não agiu como o seu normal, casou com o Sr. Harris mesmo não o amando. Já Daya, que era a mais bondosa e obediente, era também muito romântica e sentimental. No quesito do amor ela não poderia e não aceitaria ser infeliz. Foi pensando nisso que apontou para um desenho qualquer e disse:

-Estou decidida.

-Ótima escolha –disse a mãe, que logo se virou para a costureira –Em quanto tempo faz isso?

-Três semanas –ela respondeu –E isso porque essa convicção da Srta. Daya me animou. Nunca vi uma noiva escolher o seu vestido tão depressa e com tamanha determinação!

Daya sorriu, mas não pelo comentário da mulher, e sim pelos planos que traçava em sua mente. Se as outras pensaram que aquele “estou decidida” se referiam ao vestido, estavam completamente enganadas, pois Daya nem havia se dado ao trabalho de olhar o desenho, afinal, não pretendia se casar. Pelo menos não com o Sr. Lucas.

Naquela manhã, Jane despertou e se virou para o seu esposo, que ainda dormia. Observou suas feições, as de quem estava imerso em um sono profundo. Ficou um bom tempo apenas imaginando como teria sido triste a vida de Rafael. Quando estava recordando de sua primeira noite com ele, este despertou.

-Bom dia, querida –ele passou o braço pela sua cintura, puxando-a para mais perto de si.

-Bom dia. Teve uma boa noite?

-Ao seu lado sempre tenho uma boa noite. Está uma manhã fria, não acha?

-Sim. Tenho a vontade de não levantar-me nunca desta cama.

-Então não o faça. Fiquemos aqui. Não tenho negócios a resolver hoje. Ficarei somente por sua conta.

Jane sorriu. Ficaram em silêncio por um bom tempo até que, repentinamente, Rafael voltou a falar:

-Finalmente, depois de muito tempo, estou conseguindo suprir minha solidão. Mas preciso saber se você gosta da vida que levamos juntos, afinal, não são somente os meus sentimentos que importam.

Jane surpreendeu-se e pensou se diria o que realmente sentia ou apenas o que ele gostaria de ouvir. Decidiu-se então pela primeira alternativa.

-A princípio eu não estava muito satisfeita, pois o julgava um homem demasiadamente sério. Mas, após entender seus motivos, eu consegui entender o seu jeito de ser, e também enxergar o verdadeiro Sr. Harris. Um homem maravilhoso por quem estou apaixonada agora.

Rafael, satisfeito e lisonjeado, agradeceu e propôs que ambos fossem tomar o café da manhã. Quando assim foi feito e ambos estavam por terminar a refeição, um mensageiro, anunciado por Walter, entrou na sala e anunciou:

-Boas novas Sra. Harris. Sua mãe me pediu que viesse até aqui para que lhe desse a notícia do casamento da Srta. Daya Elizabeth Foster, sua irmã, com o Sr. Lucas Adolf de Fadyen daqui a cinco semanas. A Sra. Foster pediu também para lhe avisar que preparasse o seu melhor vestido para a ocasião.

O rapaz se retirou com uma reverência.

-Jane, querida... Você está bem?

-Não, Rafael. Eu não estou bem. Minha irmã vai se casar!

-E este não seria um motivo para alegria e comemoração?

-Seria, mas se ela estivesse se casando com o homem certo.

-O que quer dizer? Há algo que queira me contar sobre minha também irmã, a Srta. Daya?

Jane hesitou, mas acabou cedendo aos apelos do marido e contou-lhe toda a história de Daya, tal como o amor de Sr. Antony pela mesma. Por fim, Rafael perguntou:

-Parece que Daya não pretende viver ao lado de um homem sem que o ame, não é mesmo?

-Sim, ela é guiada por seu coração e eu estou pronta para intervir nessa união dela com o Sr. Lucas caso ela venha a acontecer. Não deixarei Daya viver condenada a um amor não realizado.

-Não sei até que ponto está certa, mas irei ajudá-la onde for possível.

-Não é necessário, não quero que enfrente esse tipo de problema. Não sei como o Sr. Lucas reagirá quando souber do amor de sua noiva por seu irmão. Que os céus protejam a todos!

-O Sr. Lucas me parece ser um homem bem instável. Ao menos é essa a imagem que tive dele nas poucas vezes que o vi.

Jane concordou em silêncio, imaginando o sofrimento que estava por vir.


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