Filosofias de Uma Palmeira escrita por camila-nona


Capítulo 2
Capítulo 2




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No dia seguinte, a Sra. Foster acordou suas filhas bem cedo, apesar delas terem ido dormir tarde, devido ao baile.

            -Vocês precisam se arrumar imediatamente! –disse ela enquanto arrancava os cobertores das garotas -Acreditam que ontem eu tive a oportunidade e o prazer de conversar com seus futuros esposos e convida-los para um almoço aqui em casa?

            -Mas já? Tão cedo assim?

            -Exatamente, Jane. Quanto mais cedo melhor. Pois bem, minhas filhas. O dia é hoje, e temos muita coisa a fazer.

            -Mamãe, ainda são oito horas! –reclamou Daya, em meio a uma tentativa mal sucedida de se cobrir com o travesseiro -Quando estes cavalheiros pretendem vir?

            -A hora marcada foi meio-dia. –A Sra. Foster tratou logo de pegar os travesseiros também -Portanto, apressem-se a se embelezar.

            -Santo Deus –suspirou Jane –quanto exagero!

            As duas garotas, porém, não conseguiram se livrar da afobada Sra. Foster, e tiveram que passar as próximas quatro horas cuidando de suas aparências. Como era de se esperar, elas ficaram muito belas, ambas com vestidos cor-de-rosa, mas de tons diferentes.

            Ao meio-dia em ponto, a família ouviu o barulho dos cascos dos cavalos se aproximando. Olharam pela janela da sala e avistaram duas belas carruagens.

            -Olha como a segunda é pomposa! –disse Daya, dando uma última ajeitada no cabelo – Deve pertencer a um cavalheiro muito rico!

            -Absolutamente –disse sua mãe –Vocês irão se surpreender!

            A família se encaminhou para fora, e da primeira carruagem viram sair os Srs. de Fadyen.

            -Ora! –exclamou Jane, enquanto eles caminhavam na direção dos Foster – Eu não poderia estar mais surpresa!

            Todos se cumprimentaram e prestaram reverência. Depois, o Sr. Lucas foi até Daya e beijou-lhe a mão.

            -Oh! –a expressão de Daya fora de total espanto, pois até tal momento acreditava que o Sr. Lucas estava comprometido à sua irmã.

            -Se me permite Srta. Daya –ele falou –Gostaria de mencionar o quão bela és tu à luz do dia.

            -Sinto-me lisonjeada, Sr. Lucas. Mas... Isso é tão estranho! Ontem eu...

            -Sua mãe não queria que você desconfiasse das minhas intenções, senão estragaria a surpresa.

Daya deu-lhe um sorriso de compreensão. Era bem o tipo da mãe fazer esse tipo de coisa.

            -Olhem! –interrompeu a Sra. Foster – A outra carruagem se aproxima!

            Quando o cocheiro a parou, dela desceram o Sr. e a Srta. Harris.

            -Não! –exclamou Jane – O Sr. Harris! Justo ele?

            -Foi uma ótima escolha, não? –sua mãe não poderia estar mais feliz – Ele é rico e belo, querida Jane. Espero que lhe agrade.

            Daya olhou para sua irmã, ressentida pela infelicidade da mesma.

            O Sr. e a Srta. Harris foram recebidos afetuosamente pelos pais de Jane, aos quais eles trataram com civilidade, porém não tão afavelmente.

            -Srta. Foster -foi o único som emitido pelo Sr. Harris à Jane. Ele nem ao menos beijou sua mão. Ao invés disso, cumprimentou-a a distância.

            “Arrogante” pensou Jane. “Um homem tão nobre, no entanto nem um pouco cavalheiresco!” Seus pensamentos foram interrompidos pela Sra. Foster, que convidava todos a entrar, pois o almoço já estava na mesa.

            Jane arriscou, durante a refeição, olhares furtivos para o seu pretendente, mas não conseguiu extrair nada deste, que permanecia ocupado em responder às intermináveis perguntas de sua mãe.

            -Agora me diga Sr. Lucas –falou a tal –O senhor tem muitos legados por aqui?

            -Perfeitamente. Como o meu irmão não quis ser padre, nós tivemos de dividir grande parte da fortuna de nosso pai, não é, Antony? Já que não era de seu desejo deixar tudo para o primogênito –ele deu um risinho falso -Porém, utilizamos tudo em conjunto, e tudo o que é dele é meu, e vice-versa. Não por direito, mas é assim que decretamos. Mas como sou mais velho, muitas terras ficaram em meu nome, e se caso vier a me casar, pretendo adquirir mais propriedades. Afinal, precisarei assegurar a herança de meus filhos.

            -Que belo pensamento! E você, Sr. Antony, também pretende se casar?

            -É a minha aspiração, senhora. Porém, ainda não encontrei a moça ideal.

            -Há muitas moças bonitas e solteiras por aqui –arriscou Daya, enquanto tentava espetar uma cenoura fujona com o garfo –Temos vizinhas adoráveis!

            -Não acho certo que se procure um amor –revidou Antony, parando logo de comer e olhando para a futura cunhada –Ele deve aparecer como uma folha seca na ventania. Sabemos que tem várias soltas por aí, mas é complicado que agarremos uma.

            Daya ficou nervosa com as belas palavras de Antony e deixou a cenoura cair no chão. O Sr. Lucas mexeu-se na cadeira, mostrando seu desconforto.

            -E então, Sr. Harris –perguntou a Sra. Foster, tentando desviar o foco de sua desastrada filha mais nova –A comida está de seu agrado?

            -Sim. Realmente muito saborosa.

            -Srta. Foster –surpreendeu a todos a Srta. Harris, com sua fala inesperada –Sabe tocar piano?

            -Sim, sei. –ela terminou de mastigar e acrescentou -Porém minha irmã se sai melhor nessa tarefa do que eu. Minha habilidade mesmo é desenhar. Modestamente, creio que desenho muito bem.

            -Gostaria de ver os seus desenhos quando possível, se não for incomodá-la.

            -Sim. Depois do almoço eu lhe mostrarei, enquanto minha irmã nos dará a honra de tocar para nós.

            -Que idéia maravilhosa! –suspirou o Sr. Lucas –Nada me proporcionaria tamanha felicidade!

            Daya fuzilou Jane com o olhar, entretanto não conseguiu se livrar de ir para o piano depois do almoço.

            Todos estavam sentados em confortáveis poltronas. Jane mostrava à Emma seus desenhos, enquanto a Sra. Foster engatava numa longa conversa com o Sr. Harris, se é que era possível chamar aquilo de conversa, pois só a mulher é que falava.

            Os três irmãos Foster falavam de caça com o Sr. Lucas, que se interessava bastante pelo assunto. Sr. Antony e Sr. Foster eram os únicos que prestavam atenção em Daya, que ficava ruborizada por cada comentário importuno de seu pai.

            Assim que eles foram embora, Jane logo procurou a irmã para comentar os fatos. Ela a encontrou em seu quarto, terminando de mudar de roupa.

            -Que homem insuportável! –disse a mais velha enquanto ajudava a mais nova a se vestir– Que mulher em sã consciência poderia aceitar se casar com um homem desses?

            -Jane, não se aflija. Podemos convencer mamãe de que ele não é o homem ideal para você.

            -Ora, você ainda crê nessa possibilidade? Mamãe só pensa em dinheiro e não está nem se importando com os meus sentimentos!

            -Querida Jane, não sabe o quanto eu lamento por você!

            Ela terminou de abotoar o vestido e abraçou a irmã.

            -Não lamente, Daya. Apenas contente-se com sua própria alegria. Você não pode fazer o mundo feliz. Portanto, não pense mais no meu infortúnio. Poupe a sua mente para o Sr. Lucas, seu futuro e amado esposo.

            Jane não pôde deixar de perceber uma expressão de consternação no rosto da irmã.

            -O que houve Daya? Você não ama o Sr. Lucas?

            -Não é isso. É que o meu coração não corresponde às suas investidas, e não palpita de emoção ao vê-lo. Entretanto, ele é um homem agradável, e creio que se me esforçar um pouco, eu posso vir a sentir algum tipo de afeição por ele.      

            -Mas no baile eu pensei que ele tivesse lhe chamado a atenção.

            -Sim. Porém, hoje, eu percebi que ele é um tipo de homem que não mede muito as suas palavras.

            -Realmente. A fala lhe é um dom dominante. Mas pelo menos há chances de você amá-lo. –ela fez uma careta antes de acrescentar: -Quanto a mim, serei obrigada a conviver com o meu marido orgulhoso.

            -Jane, quem sabe ele reconheça os seus talentos e sua galhardia e seja um marido agradável?

            -Creio que este pensamento não irá se concretizar, mas irei procurar ser uma boa esposa.

            Neste instante, a Sra. Foster entrou no quarto e perguntou-lhes:

            -E então, minhas filhas, lhes agradaram seus pretendentes?

            -Sim, mamãe. –mentiu Jane.

            -Na verdade, Jane não se sentiu feliz por ter sido indicada a esposa do Sr. Harris.

-Jane! –abismou-se a mãe -Ele é um cavalheiro rico e bonito, portanto, deve se tornar sua esposa.

-Mas mãe, Jane não quer se casar com o Sr. Harris!

-Cale-se, Daya. Isso não importa. Jane vai se casar com ele e será a melhor das esposas.

-Mas...

-Daya, não me contrarie! Vocês devem aceitar os desejos meu e de seu pai e não questiona-los.

-Sim, mamãe.

A Sra. Foster se retirou em meio aos resmungos, deixando novamente as irmãs à sós.

-Daya, perdeu o juízo? De onde veio esse pensamento de tentar contrariar os desejos de nossos pais?

-Jane, minha irmã, você não merece casar-se com um homem como o Sr. Harris. Até mesmo porque você não o ama.

-Daya, me cabe ser apenas uma boa esposa e não contrariar as vontades de meu futuro marido.

-Sinto que pense assim. Uma mulher como você não merece um cônjuge daqueles. Não merece ser infeliz!

-Não ouse proferir tais dizeres sobre meu futuro esposo. Serei uma mulher agradável, e assim, tentarei faze-lo feliz.

Com tais palavras, Jane se afastou, deixando sua irmã sozinha, e dirigiu-se à biblioteca. Lá, apossou-se de pena, tinta e papel. Sentou-se numa escrivaninha em frente à janela e, com linhas finas e delicadas, traçou desenhos que evidenciavam seus sentimentos. Cada desenho seu, trazia ao campo de visão o que ela sentia.


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