Filosofias de Uma Palmeira escrita por camila-nona


Capítulo 1
Capítulo 1




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   Era dezembro do ano de 1811. A família Foster sempre teve o costume de se reunir no natal, e este era só mais um dos anos. Sr. e Sra. Foster, um casal mesquinho, porém saudável, juntos de seus três filhos e duas filhas, sempre serviam um banquete para os tios, primos e irmãos, e altos membros da sociedade. Este ano, o jantar seria acompanhado de um baile, o que contribuiu para que mais pessoas participassem do encontro.

            A bela mansão fora arrumada e decorada especialmente. Guirlandas pendiam do teto, vasilhas de prata se encontravam sobre a mesa e um belo pinheiro foi cortado e enfeitado especialmente para a ocasião.

As Srtas. Foster se encontravam na sala de música, e não viam a hora da chegada da noite.

            -Querida Jane! –disse a mais nova, Daya. Ela tinha feições delicadas, grandes olhos negros, que demonstravam toda sua bondade, bocas cheias e vermelhas, e mãos finas e belas. Seu cabelo caía em leves ondas castanhas sobre as costas, e cessava num enrolar de cachos na cintura –O quão maravilhoso seria se encontrássemos nossos cônjuges neste baile!

            -Sim, Daya. – Jane era um pouco mais pálida que a irmã, seus cabelos eram negros, lisos e chegavam aos ombros, seus olhos de um azul tão escuro que quase podiam confundi-los com pretos. Elas não se pareciam muito em alguns aspectos, mas seus traços denunciavam a genética, como a linha fina que surgia em suas testas quando estavam estressadas, o queixo redondinho ou o nariz levemente arrebitado. -Mas não iluda o seu coração com falsas esperanças. Nunca é bom que fiquemos entusiasmadas, pois se não encontrarmos maridos, devemos continuar erguidas e a busca de um.

            -Porém, sem amor, eu não me casarei. Sonho em viver um romance que torne até o brilho da lua mais intenso.

            -Não tenho dúvidas de que você encontrará um marido fiel e cheio de amores, minha irmã. Mas eu, cuja exigência é tamanha que nem ouso mencionar, viverei para sempre só.

            -Não diga uma coisa dessas, Jane! Você é bela e prendada, e certamente encontrará um homem merecedor de seu amor.

            -Terá que ser alguém realmente diferente, minha querida. E temo que esse cavalheiro não exista em lugar algum.

            -Mas é certo que independente de onde, ele pode existir. Alguém que você queira que te deseje como és.

            -Pode ser que haja, mas por hora eu prefiro afogar-me em minha solidão.

            -Minha irmã, não imagina o quanto me faz sofrer quando age como se o amor não existisse! –segurou ternamente a mão da irmã e percebeu, pela sua expressão, que aquele assunto terminaria ali - Venha, vamos escolher nossos vestidos. Talvez essa tarefa te anime.

            -Duvido que vá me animar - pronunciou uma desanimada Jane - Mas é necessária. Vamos.

            Ambas subiram os degraus de pedras de mãos dadas, e caminharam até seus quartos onde, com a ajuda das empregadas, se vestiram para o baile.

            -Você está realmente bela-suspirou a mais nova, enquanto a irmã se olhava no espelho - E eu também gostei bastante da minha aparência.

Jane trajava um belo vestido vinho que combinava com seu tom de pele, enquanto Daya usava um alegre tom azul, perfeito para seu aspecto bom e amável de ser.

-Você está sempre formosa, Daya. Não há nada que lhe caia mal. –Jane penteou os cachos da irmã com ternura e em seguida colocou-lhe um colar. –Agora vamos. Os convidados já devem estar chegando.

Daya assentiu e as duas desceram para o grande salão, onde seria a recepção. Ninguém pôde deixar de notar que elas se destacavam por sua elegância e beleza em meio às outras mulheres presentes.

            Como eram damas da alta sociedade, Daya e Jane ocupavam lugares na mesa junto a seus pais, enquanto seus irmãos tentavam encantar as outras mulheres que no baile se encontravam, e convida-las para dançar.

            -É notável o modo com que nossos filhos conseguem conquistar a confiança das moças. Assim, logo estarão casados! –disse a Sra. Foster, que era uma mulher robusta e de cabelo curtinho. Ela engolia várias uvas enquanto conversava com seu marido.

            -Sim –concordou o Sr. Foster. Ele era mais sensato do que a mulher, porém fazia tudo o que esta o pedisse. Virou-se de imediato para Jane e Daya e acrescentou: -E por falar nisso, minhas filhas, como minha idade está chegando e eu não sei até quando irei viver, pretendo casa-las em breve. Dessa forma, lhes apresentarei seus pretendentes.

            -Como será emocionante vê-las casadas, minhas filhas! –ela fez uma pausa para jogar uns caroços sobre o guardanapo e continuou : -Saibam que já estão na idade. Se envelhecerem, nenhum rapaz irá querê-las.

            -Eu tenho dezoito anos apenas, mamãe! –contestou Daya –E Jane vinte e dois. Portanto, não há necessidade de tanta afobação. Quero encontrar um marido que me conquiste, e a pressa é uma inimiga neste caso.

            -Ora, Daya! –disse a Sra. Foster, num tom de revolta – Você não quer alcançar a idade de vinte e sete para pensar em se casar, não é? Já estará uma velha! E é preciso apenas que o seu marido tenha dinheiro e possa lhe conceder mordomias. O amor não leva a nada, minha querida. Você acha que eu casei com seu pai por amor?

            Diante desse comentário, o Sr. Foster corou, e as garotas permaneceram caladas. Quão indiscreta era a Sra. Foster, dizer tais palavras na frente de seu esposo!

            Jane pegou a mão de Daya e a puxou da cadeira.

            -Vamos dar uma volta pelo salão – ela disse.

            -Vão mesmo! –falou a Sra. Foster, um pouco alto demais – E aceitem se algum rapaz convidar-lhes para dançar! Nunca é tarde para mudarmos os pretendentes, de preferência se eles forem mais ricos do que os escolhidos...

            Afastando-se dali, as duas irmãs andaram pelo salão de braços dados, comentando os dizeres da mãe e as roupas elegantes das mulheres presentes. Os três irmãos já estavam dançando com moças distintas, e sorriram para elas assim que passaram.

            -É bom saber que alguém está se divertindo. –disse a mais velha.

            -Ah, Jane, pare com isso! Tenho certeza de que daqui a pouco algum cavalheiro irá tirá-la para dançar.

            -Certamente que sim – ouviram uma voz atrás delas. Viraram-se de imediato e encontraram dois homens de aparência saudável e jovial. O que lhes falava era alto e corado, de cabelos castanhos um pouco mais claros dos que os de Daya, expressão simpática e olhos azuis da cor do mar, iguais aos do segundo homem. Este por sua vez era sério e menos corado, seu cabelo de um loiro muito claro, cujos fios lisos caíam na testa de um modo charmoso e atraente – Permitam-me apresentar-me, Srtas. Foster. Meu nome é Lucas de Fadyen, e este é meu irmão, Antony.

            As garotas se entreolharam.

            -Muito prazer, cavalheiros –disse Jane, por fim, e as duas prestaram reverência.

            -Você me concederia a próxima dança, Srta. Foster?

            -Certamente, Sr. Lucas. –respondeu-lhe Jane.

            -Srta. Daya –falou Antony – Peço-lhe o mesmo.

            -Sim, Sr. Antony. Será uma honra.

            E assim, os cavalheiros se afastaram, deixando-as um pouco a sós antes que se começasse a próxima música.

            -Eu lhe disse, não? –sussurrou Daya –Quão agradável é o Sr. Lucas! Viu os modos educados dele? O marido ideal para você! Senhor de Fadyen... Mais encantador não poderia!

            -É impressão minha ou você está me empurrando para o senhor Lucas? O que me diz então do Sr. Antony?

            -Ele não é de longe tão agradável. Parece ser muito fechado para o meu gosto, mas dançarei com ele. Quem sabe não são somente aparências?

            -Pois bem, minha irmã. –e perdendo totalmente o rumo da conversa, Jane parou o olhar em um cavalheiro que estava sentado numa mesa não muito longe delas e perguntou: -Você conhece aquele senhor?

            Daya seguiu seu olhar até um homem carrancudo e de modos arrogantes, sentado ao lado de uma dama de verde. Ele era alto, tinha cabelos cor de bronze e traços nobres. Suas mãos eram fortes e suas roupas, distintas.

            -Ah, sim. Admiro que não o conheça, Jane. –Fez uma pausa na qual olhou interrogativamente para a irmã e logo continuou - Ele é um dos homens mais ricos de quem já ouvi falar. É o senhor Harris, e aquela é a irmã dele, Emma Harris. Consideram-se muito superiores, não?

            -Isso se chama arrogância. Com tantas damas sozinhas no baile e ele não convida nenhuma para dançar. Permanece sentado em sua cadeira com o rosto sisudo e ar supremo.

            O Sr. Harris provavelmente percebeu que as duas irmãs o examinavam, pois de imediato, encarou-as. Essas, ruborizadas, desviaram o olhar, e foram salvas pelos Srs. De Fadyen que vieram buscá-las para a dança.

            -Srta. Foster – disse o Sr. Lucas estendendo-lhe a mão. Jane logo a segurou e deixou-se ser guiada para o meio do salão.

            -Srta. Daya – Antony repetiu o gesto do irmão e Daya sorriu-lhe.

            -Sr. Antony – ela colocou sua mão sobre a dele e não pôde deixar de notar o quanto era fria a sua pele. Ela fingiu não perceber, e ambos deixaram-se ser guiados pela música.

            Os dois casais rodopiaram pelo salão com tamanha elegância, que os demais pares logo lhes deram espaço, formando um círculo, no qual Daya e Jane, com seus respectivos pares, bailaram suavemente.

            De longe, o casal Foster observava suas filhas e se orgulhava da criação que ambas receberam.

            -O quão feliz eu estou por ver que nossas filhas são muito habilidosas e que atraem a atenção dos rapazes. –disse o Sr. Foster, enquanto devorava uma lagosta -Dessa forma, os seus pretendentes não irão recusá-las, e poderemos, enfim, ter para nós um melhor ponto de colocação social.

            -Sim, seremos mais ricos ainda e considerados membros da mais alta sociedade. Quem sabe poderemos viajar e cear com os reis e rainhas? Assim, valeu a pena dotar Jane e Daya de grandes habilidades e formosuras. Isso sem mencionar nossos filhos. Belos e cavalheiros, eles são dignos das damas da elite suprema. E como seus maridos terão acesso ao dinheiro das moças que irão desposar.

            -Porém, temos que pensar num banquete ainda melhor do que este, para que possamos oferecer às famílias de nossos futuros genros. Esta tarefa, devido ao bom grado que este baile está causando, destinarei a ti, minha esposa.

            -Sim. Darei o melhor que puder para a sua satisfação e a de todos os outros convidados. –Ela comeu mais uma uva –E farei isso o mais rápido possível –com um sorrisinho de triunfo, ela se levantou e se dirigiu até uma mesa em que duas pessoas distintas estavam sentadas.

            A dança havia terminado, e as irmãs Foster seguiram em direção ao jardim de sua mansão para que pudessem admirar as belezas da noite, enquanto os Srs. de Fadyen convidavam outras damas para dançar.

            Animadas, as duas conversavam, sentadas num banco sob um frondoso salgueiro.

            -Veja Jane! –apontou Daya -Uma borboleta! Que incomum vê-la assim, voando à noite.

            -Sim. É incomum.

            -Como são belas e elegantes as borboletas, não é mesmo? Trazem-me o desejo de ser como elas.

            -Lembram-me da nossa amada avó. –comentou Jane nostalgicamente -Antes de falecer, tinha o costume de dizer-nos que apesar de belas, as asas das borboletas liberam um pó que pode cegar-nos. Recorda-se disso?

            -Sim, eu me recordo. E que saudades eu guardo de nossa avó!

            Elas observaram enquanto a borboleta sumia na noite, voando livremente.

            -Vovó era mesmo excelente. Mas, Daya, quanto ao seu desejo de metamorfosear-se em borboleta, saiba que é bela e elegante como ela. Assim não precisa abdicar de sua humanidade.

            Daya, que adorava receber elogios, sorriu com isso, e Jane voltou-se a falar:

            -E então, minha irmã, o Sr. Antony é como pensavas? Completamente sério?

            -Não. –ela fez uma pausa para refletir -De certo modo ele é um homem agradável. E você, Jane? Agradou-lhe a companhia do Sr. Lucas?

            -Ele é um cavalheiro bem prendado em relação à dança, mas digamos que não é o tipo de homem que me agrade.

            -É uma pena, ele parece ser um homem muito interessante. E com tal assunto, lembrei-me dos dizeres de nosso pai. Estou temerosa de que não me agrade o meu pretendente. E se eu não amá-lo?

            -Também estou. Espero que não seja um homem muito sério ou que me maltrate.

            -Mas devemos cumprir com as nossas obrigações de boa esposa e sermos amáveis, independente de como for a personalidade de nosso marido.

            Jane se surpreendeu.

            -A pouco tempo atrás estava falando que não se casaria sem amor, e agora...

            -Ando me questionando sobre isso. Não sei se teria a coragem de submeter nossos pais a tamanho desgosto ao ver-me recusar meu pretendente. Porém... Se for alguém que valha realmente a pena... Entregaria minha vida.

            Jane sorriu, pois conhecia bem o romantismo da irmã.

            -Pelo que conheço de você, certamente que sim.


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