Ainda tentei falar mas já ouvia o som de chamada interrompida do telefone. Só mesmo o Jacob para me fazer rir daquela maneira. Senti-me agradavelmente bem disposta depois daquela atitude. Desejei que tudo ficasse bem, como estava no inicio, quando eu e ele passávamos os dias na garagem a arranjar as motas, uma actividade que poderia ser considerada desinteressante por muitos. Pensei em Jessica numa garagem a arranjar motas e só essa ideia fez-me rir novamente. Foram as tardes passadas na companhia de Jacob que me fizeram voltar a sentir feliz, que me arrancaram do buraco onde me encontrava. A agradável companhia de Jacob que me fez renascer das cinzas. Com sorte talvez pudéssemos reviver tudo isso novamente.

Victoria assombrava-nos constantemente, mas tinha a certeza que um dia isso acabaria. Se conseguisse sobreviver, e com esperanças que isso realmente aconteça, eu e Jacob voltaríamos a ter a nossa paz. Talvez ela tomasse consciência que, depois de Edward ter partido, a sua vingança deixou de ter sentido. Perseguir-me não adiantava nada para ela, não havia nada a ganhar. Pensar dessa forma tranquilizou-me.

Aparentemente tinha acordado bastante positiva, isso era bom, ia precisar de todas as energias positivas que pudesse encontrar para falar com Jacob.

Estava um dia solarengo pelo que decidi sair e esperar pelo Jacob lá fora. Sentei-me confortavelmente na relva com o sol quente a bater-me no rosto, adorava aquela sensação. Dias como aqueles eram raros em Forks, gostava de aproveitar bem cada um deles. Era fantástico poder estar ao ar livre e apanhar um pouco de sol, como fazia imensas vezes quando morava em Phoenix. Deixei-me invadir por aquela sensação reconfortante, o sol transmitia-me alguma da sua vitalidade.

Nos dias como o de hoje ele nunca podia estar comigo, assim o sol também me ajuda a pensar menos nele. Mas agora foi diferente, uma imagem aflorou à superfície da minha mente. Deitei-me na relva, fechei os olhos e não resisti àquelas lembranças. Senti-me quase transportada para a clareira da floresta, vi o rosto dele brilhar à luz solar, sorria-me calorosamente. Lembrava-me de todos os mais pequenos detalhes daquilo que tinha vivido na altura e podia recordar tudo o que senti, todas as sensações que o meu corpo experimentou. A saudade é mesmo um mal muito difícil de vencer, destroça o nosso coração de uma forma inimaginável. Magoa e deixa feridas tão profundas que chegamos a duvidar se poderão algum dia curar. E a saudade que senti ao recordar parecia capaz de me destruir por completo e arrancar toda sanidade que me tinha impedido de saltar daquele penhasco no dia anterior.

O som de um roncar distante proveniente de um motor de carro que se aproximava despertou-me. Pus os olhos na estrada e desejei que fosse Jacob. Se o sol hoje não conseguia afastar as imagens da minha cabeça, Jacob com certeza conseguiria, afinal ele era mesmo o meu sol particular. Não pude deixar de reparar que estava novamente a pensar como uma verdadeira egoísta. Não podia agarrar-me a ele como se fosse apenas a minha tábua de salvação e nada mais. Tinha que parar de agir assim porque o Jake para mim era muito mais que isso, não estava com ele para escapar de mim mas para me reencontrar. Queria-o sempre ao meu lado porque era o meu melhor amigo e eu amava a sua companhia.

Quando percebi que de facto se tratava dele a minha tristeza esfumou-se lentamente e esforcei-me por esboçar o meu melhor sorriso. Ele estacionou o carro e caminhou toscamente até mim. Parecia bem-disposto, gostei de o ver assim um pouco mais relaxado. Os últimos tempos tinham sido complicados para ele e apesar de não ser inteiramente humano também não era de ferro, precisava descansar e divertir-se um pouco, tanto quanto eu.                     

- Olá Bells! – Cumprimentou-me sorridente.

Depois sentou-se ao meu lado. Eu apenas retribui o sorriso e fiquei uns segundos a tentar recapitular mentalmente tudo o que me tinha proposto a dizer-lhe.

- Nem sei por onde começar… – confessei-lhe por fim embaraçada.

- Sempre podes começar por explicar o motivo pelo qual estavas naquele penhasco! O que te deu para tentar saltar de lá de cima sozinha Bella? Eu não percebo, prometi-te que um dia íamos os dois, mas não esperaste por mim. Tentas-te saltar sozinha para te colocar deliberadamente, em risco – Disse-me quase furioso.

 A medida que empregava cada palavra a boa disposição, explícita no seu rosto quando chegou, foi-se desvanecendo, dando lugar a uma expressão incrédula e verdadeiramente irritada. A atitude dele assustou-me um pouco e estava a dificultar imenso a minha tarefa, embora soubesse que ele tinha toda a razão. Um amigo não pode ser constantemente uma carga de problemas para outro e era só o que sabia fazer. Não consegui abrir a boca para articular uma só palavra e mantive-me estática.

Então ele pareceu aperceber-se da minha atitude defensiva, senti a sua guarda baixar e vi a serenidade voltar aos poucos ao seu rosto.

- Sinceramente Bells, se não quiseres falar eu vou entender – Tentou explicar-se – Afinal posso ser eu a exagerar. Tu tens os teus motivos para agir dessa forma e eu não sou ninguém para te fazer qualquer tipo de cobrança.

Olhou-me fixamente de forma carinhosa, tocou de leve no meu cabelo para me tranquilizar.

- Olha logo eu a fazer cobranças..! – Argumentou rindo descontraidamente. Notei preocupação da sua parte em tentar aliviar o ambiente e deixar-me relaxada – Não sou propriamente um grande exemplo. Afinal deixei-me corromper por uma mulher mais velha e manipuladora, que me induziu a consertar umas verdadeiras máquinas assassinas.

Foi o que bastou realmente para melhorar tudo novamente, rimo-nos juntos. Não havia como não rir, lembrar as aventuras ao volante das velhas motos era verdadeiramente hilariante.

- Lembras-te Bells? Tu disseste que eu era mais ou menos lindo! – Continuou sorrindo e brincando com a situação.

Lembrava-me também perfeitamente desse momento e do quanto me senti envergonhada depois de o dizer. Na altura fiquei preocupada com o efeito que aquele elogio poderia ter em Jacob, senti muito receio de lhe criar falsas expectativas ou de o induzir em erros acerca dos meus sentimentos por ele.

- Voltando ao assunto principal – Disse ele, agora com uma expressão mais séria – Não tens que te sentir obrigada a contar seja o que for. Desculpa se te pressionei, espero que percebas que não era minha intenção faze-lo, penas fiquei preocupado contigo. Consegues desculpar-me?

- Jake por favor não peças desculpa, só me fazes sentir pior. Tu tens toda a razão, nunca deveria ter tentado saltar daquele maldito penhasco - Eu fazia as aneiras todas e Jacob ainda se tentava desculpar. Ele tinha razão em ter ficado desiludido com a minha atitude inconsequente. Eu quis realizar um capricho e testas-me mas Victoria podia ter-me apanhado. Um gesto poderia ter arruinado todo o sacrifico que eles todos andavam a fazer para me proteger – E ainda bem que não o fiz. Sou eu que te devo um pedido de desculpa. Por favor… não quero que te desiludas comigo!

- Bells, tu sabes que isso é impossível! – Confortou-me carinhosamente.

- Eu senti-me tão perdida. Nós nunca falamos abertamente sobre o que se passou comigo. Mas a minha vida tem sido um verdadeiro inferno. Pelo menos antes de nos aproximarmos – Tentei explicar-me hesitante.

- Bella não precisa falar mais nisso…

- Eu sei, mas sinto essa necessidade, preciso liberta-me de tudo isto. Se continuar a fugir dos assuntos eles vão perseguir-me sempre e eu nunca vou ter paz.

- Então eu estou aqui para ouvir tudo o que me queiras contar Bells. Eu não faço julgamentos.

- É complicado… - disse-lhe, tentando ganhar coragem para desabafar com ele.