Meredith havia criado uma máscara para si, não para impedir as pessoas de a conhecerem ou para afastá-las de si. Mas para se proteger, proteger seu coração das emoções, sempre se mostra forte, indiferente e inabalável aos outros, esse fora o personagem que criara.

Sua proteção de tudo e de todos, porém a personagem começou a se misturar com a pessoa, e então já não era mais uma máscara, Meredith não conseguia mais separar as duas, e logo ela havia enterrado a doce e risonha garota que fora na infância dentro de um baú e a trancado, e agora restava apenas a personagem fria e indiferente, que se mostrava forte e corajosa aos outros, a personagem que havia criado na adolescência.

Fazia tanto tempo que vivia aquele personagem quem nem ao menos se lembrava qual fora a ultima vez que havia chorado, seja de felicidade ou tristeza. Ela não chorou aos 14 anos quando Lexi sua York Shire morreu, ou quando naquele verão sua melhor amiga se mudou para fora do país, aos 16 anos não chorou com a noticia da morte da avó a quem era muito apegada. E ela também não chorava agora no enterro de Bianca, que havia sofrido uma morte prematura em um ataque de animais.

O dia era nublado e chovia, era como se a natureza também lamentava pela morte da jovem morena deitada sobre o caixão branco, estava lá pálida e inerte, Gabrielle  chorava em seu ombro, olhando para o rosto de porcelana de Bianca, e ao desviar por um momento o olhar para a ruiva à seu lado. Meredith não tinha expressão, era impossível de saber o que a ruiva pensava.

Gabi parou a sua frente chamando a atenção dela para si.

“Grite, chore... não importa... mas faça alguma coisa!”suplicou a morena.

Meredith a olhou fixamente.

“O que quer que eu faça?”Perguntou a ruiva.

“Não seja tão fria”

A ruiva apenas virou as costas para a amiga e caminhou para fora do local, e assim que passou pela porta sentiu os primeiros pingos d’ água em seu rosto, ela ao em vez de pegar seu carro, seguiu a pé pelas ruas da pequena cidade, suas roupas já estavam encharcadas e sua maquiagem inteiramente borrada, e apesar do frio e da ocasião seu rosto ainda era um papel em branco.

Quando chegou a casa foi direto para seu quarto deixando um rastro de água por onde passava, arrancou todas as roupas no banheiro e passou a toalha nos cabelos cor de fogo, voltou para o quarto apenas de peças intimas, e quando viu sua imagem no espelho, pensamentos vieram a sua mente.

Quem era aquela pessoa fria e indiferente que via a sua frente? Cadê a garotinha  que chorava, sorria, ria, tinha medo e demonstrava o que sentia? Ela havia se destruído, se transformado em algo que nem ela própria reconhecia mais.

Ela pegou o despertador na cabeceira da cama e o acertou no espelho, o transformando em mil pedaços, ela gritava, chora e se debatia, quebrando tudo pela frente, seu rosto agora estava vermelho e marcado pelas lágrimas.

Meredith nem reparou quando o moreno entrou no quarto e a abraçou, Gabriel havia observado tudo de longe, a curta conversa entre ela e Gabrielle no enterro, até o surto dentro do quarto, ela não gostava de vê-la daquela forma, sentia uma imensa vontade de pega-la no colo, niná-la e dizer que estava tudo bem.

A tristeza e frustração no rosto da ruiva faziam com que a muralha de garoto mal e o jeito de quem não se importa com nada do moreno caíssem.

Ela enterrou o rosto no peito dele e continuou a chorar enquanto ele lhe acariciava os cabelos.

E naquela tarde as mascaras caíram.

A ruiva se mostrou frágil e indefesa pela primeira vez perante o moreno de hipnotizantes olhos azuis. E o rapaz se mostrou humano e sensível a ruiva de lindos olhos verdes grama.

Eles não falaram nada durante todo o tempo, nenhuma palavra sequer, mas sabiam que seus segredos estavam a salvo um com o outro, e pela manhã poderiam voltar a ser o que demonstravam ser.