Ao ver a reação dela, algo mexeu comigo. Senti uma forte vontade de beijá-la naquele instante. Mas não o fiz. Talvez ela pudesse nunca mais me perdoar. Dei a volta na mesa e me aproximei dela. Quando estava para tocar seu rosto, a porta se abriu.

- Com licença Heero eu...

    Quatre para e observa a cena com assombro. Relena estava encostada na mesa e Heero levemente encostado nela com a mão em seu rosto. Os dois olharam para Quatre assustados. Ao mesmo tempo em que Relena estava envergonhada da situação, estava também aliviada, por não ter sido David quem viu a cena.

- Quatre... – Disse, olhando-o com decepção. – O que deseja?

- Desculpe Heero... Eu só... Queria te entregar essa planilha.

- Quatre... É esse seu nome, não é? – Perguntou uma Relena, claramente afobada.

- Sim, senhorita...

- Poderia me passar o orçamento dos seguranças?

- Bem... – Quatre olhou para mim, sem saber o que fazer. – Claro que sim. Mas, você não prefere conversar com o Heero?

- Não. O senhor Yui esta, muito ocupado... E eu estou com muita pressa. Por isso se você puder me ajudar... Agradeceria.

    Quatre voltou a olhar para Heero. Ele vendo que Relena não cederia, assentiu com a cabeça para Quatre. Este deu sinal a Relena que se sentasse.

- Muito bem... Vamos começar.

- Sim. Obrigada...

- Bom. Se vocês não precisam mais de mim... Retiro-me. Foi bom revê-la Relena.

- Digo o mesmo Heero...

    Saí. A atitude dela me irritou. Mas eu entendia... Eu não tinha o direito. Mas, se alguém puder me dizer como faço para controlar esse desejo, agradeço.

- Perfeito... Obrigada Quatre. Segunda sem falta, a quantia estará depositada no banco.

- Certo... Antes de você sair...

- Sim?

- Posso lhe fazer uma pergunta?

- Sim...

- O que há entre você e o Heero?

- Nada... Sou a noiva de David e Heero é o filho do marido da minha sogra. Só isso!

- Entendo... Será que você esta sendo honesta com você mesma?

- Como?

- Eu não tenho nada haver com isso. Não quero que você me interprete mal. Mas, se você não ama verdadeiramente a David e esta atraída por Heero... Seria melhor que terminasse o noivado. Seria melhor para todo mundo. Principalmente para você.

- Obrigada... Tenha um bom dia. Com licença...

    Após me despedir, saí. As palavras de Quatre martelaram na minha cabeça durante todo o dia. Ele realmente estava certo. Mas, como poderei resolver essa situação. Nunca estive tão confusa em minha vida. De um lado esta o homem de quem sou noiva. Do outro esta o homem por quem estou totalmente atraída e por quem sinto algo tão forte, que nunca senti, nem mesmo pelo David. Não sei o que devo fazer...

-/-/-

- Boa noite querida. Como foi seu dia? – David foi buscar Relena para jantar.

- Boa noite meu bem. Cansativo... – Entrei no carro e dei-lhe um suave beijo.

- Aonde quer jantar?

- Onde quiser... Você escolhe.

- Ouvi dizer que abriram um novo restaurante francês, gostaria de ir lá?

- Me parece ótimo.

- Então vamos...

    David deu a partida e fomos para o restaurante. A chegarmos pegamos a melhor mesa e fizemos os pedidos.

- Bom... Agora me conte. Como foi seu dia?

- Nada de especial.

- Tem certeza? Ou será que tem algo que você não quer me contar?

- David, eu já disse que não teve nada de especial.

- Mesmo? Eu te vi...

- Viu?

- Sim... Te vi saindo do The Preventer’s...

- Muito bem... Você estava me espionando?

- Não. Eu só estava passando em frente da empresa e te vi entrar...

- Junto com o Duo e o Wufey.

- Sim... Mas eles saíram sem você.

    Fiquei perplexa com o comentário final. Não era possível que ele estava me vigiando. Isso me irritou.

- Você não muda... Não muda mesmo.

- Relena... Eu te amo! Eu só...

- Não David... Isso não é amor. É obsessão. Eu pensei que você havia mudado.

- Relena, por favor... Eu não estava te vigiando. Como disse, eu estava passando por ali e...

- E... Ao me ver entrar, resolveu que deveria estacionar e ficar observando o tempo que eu demorava pra sair e com quem... Estou certa?

- Relena, por favor, compreenda...

- Não da... Ta ficando sufocante. Do que você tem medo?

- De você me deixar... Eu não posso viver sem você Relena.

- Pára com isso. Do jeito que você fala parece que eu sou indispensável.

- E é, meu amor...

- Pára. Não sou. Eu já não agüento mais... Será que é tão difícil confiar em mim?

- Tudo bem... Tudo bem. Eu vou me controlar... Ta?

- Já não consigo confiar. Toda hora eu penso que você deve estar escondido em algum lugar me vigiando. Poxa... Confia em mim...

- Relena...

    David eu ainda estávamos discutindo quando uma voz nos chamou a atenção.

- Ora, ora... Quem diria...

    Voltamos-nos para ver quem era e levamos um susto...

- Heero? – Dissemos em uníssono.

- Boa noite.

- Boa noite. O que faz aqui? – David se levantou e apertou a mão de Heero. Ao mesmo tempo em que trocavam olhares assassinos.

- Por quê? Pensei que o restaurante fosse publico.

- E é... Para minha infelicidade...

- Nossa, nossa infelicidade!

    Completei, apertando mais forte a mão dele. David ao perceber minha atitude tira a mão e volta a me encarar...

- Cavalheiros, por favor... – Chamei a atenção deles para mim.

- Sim querida...

- Pois não Relena?

- Vocês poderiam se comportar?

- Mas eu estou comportado, Relena... – Heero me disse na maior naturalidade do mundo.

- O que acha de você nos deixar sozinhos, Heero? Relena e eu gostaríamos de namorar um pouco...

- Como queiram! – Heero dirigiu para David um olhar frio. Que assustou até a mim mesma.

    Após ele sair. David e eu voltamos a nos sentar.

- Porque vocês dois se odeiam? Por que você não tenta ser amigo do Heero?

- Nunca! Eu o detesto...

- Você me assusta. Nunca imaginei ouvir isso da sua boca.

- Desculpe meu amor... Não é nada contra você é só que... Deixa pra lá!

- Fala...

- Não. Qualquer dia eu falo. Essa noite eu não quero mais ouvir problemas, nem discussão. Quero estar contigo e só...

    Eu não soube o que dizer a ele nesse momento. Simplesmente sorri. Disfarcei e olhei para o lado. Meu olhar cruzou com o de Heero. Ele me observava penetrantemente. Fiquei perdida por alguns segundos, dentro daqueles olhos que mexiam comigo. Até que notei uma jovem, com mais ou menos minha idade, que não parava de olhá-lo. Nesse momento aquele sentimento desconhecido se apossou de mim. Nunca havia sentido ciúmes de ninguém... Até essa noite...

    Voltei a olhar para David, quem nesse momento falava ao celular. Ele me sorriu e eu tentei esboçar um sorriso que não tinha.

- Bom... Perfeitamente. Segunda, marcaremos uma reunião com o juiz. Tudo bem... Tchau. – David desligou o celular e me olhou com uma mescla de ternura e possessão. – Desculpe amor...

- Trabalho?

- Sim... O de sempre. Eles fazem à besteira e eu tenho que ajuda-los a consertar.

- Entendo.

- Amor... O que você acha de passarmos a noite juntos?

- É... Desculpe David... Mas hoje será impossível!

- Por quê?

- Bem... Eu estou muito cansada...

- Relena... Hoje é sexta. Você não trabalha amanhã.

- Eu sei... Mas eu realmente estou cansada. Desculpe...

- Tudo bem... Dessa vez passa.

    Apesar do comentário dele me incomodar, preferi não responder. No começo eu conseguia entender esse ciúme. Não era possessivo. Mas depois de um tempo ele foi piorando. E a melhor coisa que tenho pra fazer quando ele fala assim, é me calar.

- Bem... O jantar chegou. Vamos comer? – Falei, mudando de assunto.

- Sim. Bom apetite, querida.

- Obrigada. Para você também!

    Comemos. Conversamos. Inúmeras vezes, me peguei, olhando disfarçadamente para Heero. Todas às vezes ele estava me olhando. Ele sempre me encarava penetrantemente. Gostaria de saber o que ele pensa e porque faz isso.

- Garçom a conta, por favor... – David pagou e fomos embora.

-/-/-

    O carro de David estaciona em frente o prédio de Relena.

- Me deixa descer... Vamos passar a noite juntos!

    Olhei para ele e esbocei um sorriso. O beijei e disse...

- Outro dia...

    Desci do carro. David que havia ficado bravo com minha resposta, nem me esperou entrar e foi embora. O observei partir com decepção. Voltei-me para a porta e a abri. De repente ouvi um barulho de carro, seguido por alguém me chamando.

- Relena...

    Ao ver quem era me surpreendi...

- Heero?

- Boa noite... Então você mora aqui?

- Sim... O que faz aqui?

- Eu segui o carro. E pra variar ele nem percebeu.

- O que quer aqui?

- Falar com você... Ele não é nada educado. Nem esperou você entrar.

- Ele estava com pressa.

- Rsrs... Nem você acredita no que acabou de dizer...

- E...

- Vai me convidar para entrar ou prefere ir ao meu apartamento?

- Nem um, nem outro... Você pode ir embora!

- Desculpe... Mas não irei... Então escolhe.

    Meu ponto fraco. Ele me encarou penetrantemente. E os olhos dele é o meu ponto fraco. Respirei fundo e pensei. Depois decidi.

- Vamos para outro lugar...

    Tranquei a porta do prédio. Heero abriu a porta do carro e me deu a mão para entrar. Deu a volta no carro e saímos dali. Se David me visse, realmente eu estaria encrencada!

...Continua...