Cancer escrita por Dead Fate


Capítulo 1
Cancer


Notas iniciais do capítulo

A história não é baseada nessa música, mas eu resolvi colocá-la mesmo assim.


Eu quero saber
Se você poderia me dar uma bebida
Preciso de água, porque meus lábios estão rachados e desbotados
Chame minha Tia Marie
Ajude-a a juntar todas as minhas coisas
e me enterre
com as minhas cores favoritas
minhas irmãs e meus irmãos, parados,
eu não irei beijá-los,
pois a parte mais difícil disto,
é te deixar

Agora Vire-se
pois eu estou terrível de se ver
porque todos os meus cabelos abandonaram meu corpo,
Ah minha agonia, saber que eu nunca me casarei.
e baby, eu só estou agonizando por causa da químio-terapia
Mas contando os dias para ir.

Simplesmente não é vida
e eu espero que você saiba
que se você disser,
adeus hoje,
Eu te pediria para ser verdadeiro,
pois a parte mais dificil disto,
é ter de deixá-la....

Pois a parte mais dura disto,
é ter de deixá-la....

Porque a parte mais difícil disso,
é deixar você...

My Chemical Romance - Cancer



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- Obrigado. – agradeci a enfermeira com um sorriso – Tenha uma boa noite.

- O senhor também, senhor Kaulitz.

     Caminhei pelo corredor do 13º andar sem pressa, meus seguranças me seguindo como a uma criança mal criada. Sorri para mim mesmo, David estava bem. Só uma perna fraturada, nada com que ele nunca tivesse lidado. Eu me assustei com o barulho que a imprensa tinha feito a respeito do acidente que ele sofreu, mas já devia ter me acostumado, já que para eles um dedo espetado em uma agulha é quase equivalente à morte.

     Estava perto do elevador quando uma mulher surgiu na minha frente. Devia ter uns quarenta e poucos anos, os cabelos eram loiros e cacheados, os olhos azuis claros como uma piscina. Ela era bonita, mas seu rosto estava vermelho e lágrimas não paravam de escorrer de seus olhos.

     Ela correu em minha direção e estava quase em mim quando meus seguranças a pararam. A corrente de água que descia por seus olhos aumentou e ela começou a gritar:

- Bill! Bill Kauliz! A minha filha, ela está morrendo. Por favor, te conhecer é o maior sonho que ela já teve. São só dois andares acima... Por favor!

     Eu parei de andar no mesmo instante em que os seguranças a colocaram no elevador e ela parou de falar. Mais do que o seu pedido, o seu olhar angustiado me fizeram sentir pena dela. Daqui eu iria para casa, encontrar com Tom e assistir a uns dois filmes, provavelmente de terror já que ficou a seu critério escolher. Não faria mal me atrasar uma meia hora e realizar o que parecia ser o sonho da filha daquela mulher.

- Senhor Kaulitz, vamos? – perguntou Heike, que estava mais próximo

     Assenti com a cabeça e voltei a andar em direção ao elevador que estava parado nos aguardando. Quando entrei, me foi feita a pergunta de sempre:

- Andar?

- Décimo quinto, por favor. – respondi antes que alguém o fizesse por mim

- O senhor não vai dar ouvidos ao que aquela mulher falou, vai? – Heike era o chefe da minha segurança e de todos os outros era com quem me sentia mais à vontade para conversar.

- Mas é claro que sim! A filha dela está doente, você não ouviu?

- Como o senhor sabe que ela não estava mentindo?

- Você não viu os olhos dela? Eles não mentiam. Além disso, leia o que diz a placa em cima da minha cabeça, o décimo quinto é o andar especializado em câncer.

     Quando acabei de falar, as portas do elevador se abriram permitindo que eu entrasse no imenso corredor branco que havia na minha frente. Havia portas dos dois lados e entre elas bancos onde algumas poucas pessoas estavam sentadas. Fiquei parado por alguns segundos a procura da mulher e logo a encontrei, mas antes que eu pudesse dar meu primeiro passo uma mão segurou o meu ombro.

- Você tem certeza do que vai fazer?

- Mas é claro! – dei um sorriso – Não precisa se preocupar tanto, meu caro Heike, não estou indo em direção à morte.

- É claro que não senhor. – e então deu um de seus raros sorrisos – O senhor é um jovem muito bom, senhor Kaulitz.

- Muito obrigado.

     E dizendo isso comecei a caminhar em direção à mulher que demorou a perceber que alguém se aproximava. Ela estava sentada em um dos últimos bancos que havia, chorando com as mãos cobrindo o rosto. Quando viu quem estava lá ela abriu um sorriso triste, deu um passo em minha direção, mas logo parou ao ver que os seguranças ainda me acompanhavam.

     Parei na sua frente e pude ouvi-la dizer baixinho:

- Ela está ali. – apontou para a porta do quarto ao lado – Insistiu que queria ficar nesse quarto. Disse que se era para morrer, que fosse sob a lembrança do Tokio Hotel.

     No início não entendi o que ela queria dizer com aquilo, mas logo que vi o número do quarto a minha ficha caiu.

- Zimmer 483. – sussurrei

     Girei a maçaneta e entrei no quarto. Pedi que meus seguranças ficassem do lado de fora, pois não teriam utilidade lá dentro. Fechei a porta as minhas costas e fiquei um bom tempo observando a garota que havia na minha frente.

     Ela estava de olhos fechados, mas não estava morta, pois os aparelhos ligados a ela continuavam apitando num ritmo constante. Seus cabelos loiros desciam em cascatas sobre sua cabeça deitada, cacheados como os da mãe. Os lençóis finos que a cobriam desenhavam sua silhueta sobre o colchão, uma garota magra e alta. Estava pálida, havia olheiras sob seus olhos e seus lábios estavam secos e rachados. Ela devia ter uns vinte anos e mesmo com a aparência doente, era bonita.

     Havia uma cadeira ao lado da cama na qual me sentei. Peguei sua mão que estava fria como gelo e a aqueci entre as minhas mãos. Fiquei lá, observando-a dormir tranquilamente, como se a realidade em que se encontrava não fosse triste e dura. Passados dez minutos, ela acordou. Abriu os olhos que eram brancos como as paredes do hospital, respirou fundo e falou com uma voz fraca:

- Eu ainda não morri.

     Meu coração começou a bater mais rápido e a minha respiração a ficar falha e ruidosa. Aquela voz era tão doce, aquela garota, era ela! Finalmente a minha busca de anos tinha acabado, eu quase pude sorrir, mas a situação em que me encontrava não permitiria isso. Eu sempre acreditei em amor à primeira vista, mas nunca pensei que fosse encontrá-lo tão repentinamente, assim num hospital.

- Não. Você ainda está aqui, comigo.

     Ela se virou para mim, com uma cara assustada e passou a mão que eu não segurava por meu rosto, explorando-o. Parou quando tocou o piercing em minha sobrancelha e depois quando chegou no moicano. Seu toque, apesar de frio era leve e gracioso e suas mãos eram macias como algodão.

     Tirou a mão de meu rosto, inspirou fundo e sorriu. Uma lágrima escorreu por seus olhos e ela se virou para mim. Me fitou com seus olhos brancos por um longo minuto e então falou, ainda com o sorriso no rosto:

- Bill Kaulitz, não acredito que é você mesmo.

- Sim, sou eu.

- Então eu morri. Estou no céu, tem um anjo do meu lado.

- Não fala isso. – meu coração apertou

- Como eu queria poder te ver, mas há duas semanas isso se tornou algo que eu não posso mais fazer.

- O que você quer dizer com isso?

- Eu sempre tive que usar óculos, mas isso nunca foi um problema. – começou – Só que duas semanas atrás, minha visão começou a piorar muito, e eu não enxergava quase nada. Minha mãe me levou num médico e eles descobriram que eu estava com câncer e em questão de dias eu perdi minha visão completamente.

- Mas você vai ficar bem, não precisa se preocupar.

- Não. – deu um sorriso triste – Você não reparou? Eu ainda tenho cabelo.

- É claro que eu reparei, mas o que isso muda?

- Eu não faço quimioterapia. Não preciso.

- Mas isso não é ótimo?

- Eu queria que fosse. Mas no meu caso é porque nós descobrimos meu câncer tarde demais, eu estou em fase terminal. Posso morrer tanto daqui a dois minutos quanto daqui a dois dias, mas não passo de uma semana.

     Senti que ia vomitar. Menos de uma semana? Não podia ser verdade, como o destino pode ser tão mal comigo. Me dar tudo o que eu mais queria para depois tirar em tão pouco tempo?

- Você sabe que até já me acostumei com a ideia? – continuou – O único pensamento com o qual eu não conseguia lidar era a de partir sem te ter conhecido. – voltou a sorrir – Você é mais que um ídolo para mim, sabe? Eu te amo Bill Kaulitz. Obrigada por vir me ver, por perder o seu tempo realizando o meu sonho.

- Eu não perdi o meu tempo vindo aqui hoje.

- Você pode chamar a minha mãe, por favor? Mas não vá, espere um pouco mais.

- É claro.

     Fui até a porta e fiz sinal para que ela entrasse. Ela foi direto para a cadeira em que eu estivera sentado. Segurou a mão da filha de um jeito tão protetor, que só uma mãe poderia fazer igual. Puxei um banco que estava encostado na parede e me sentei do outro lado da cama, segurando sua outra mão.

     Ela olhou para sua mãe, deu um sorriso e disse:

- Me faz uma promessa?

- Sim.

- Você promete não chorar quando eu for embora?

- P-Prometo. – as lágrimas voltaram a escorrer pelo seu rosto

- Você foi a melhor mãe do mundo e não há nada que estava ao seu alcance que você não tenha feito. – sorriu – Você até convenceu o Bill a vir aqui! Realizou todos os meus sonhos e eu serei eternamente grata a você, por ser quem você é. Eu te amo, mamãe.

- Eu também te amo, minha filha. – agora as lágrimas desciam em cascatas por seu rosto

     Deu um beijo demorado na mão da mãe e se voltou para mim.

- Bill.

- Fala.

- Eu quero te dar uma coisa.

     Soltou sua mão da minha e com muita dificuldade tirou um colar do pescoço, que pôs em minhas mãos.

- Toma. É seu agora.

- Obrigado. – apertei o colar que estava frio em minha mão. – Eu queria te pedir uma coisa. Pode parecer muito ousado, mas...

- Não precisa se preocupar. Peça o que quiser.

- Você permite que eu... – fiquei vermelho ao pedir isso – Te dê um beijo?

- Sim. – um sorriso enorme estampou-se em seu rosto – Sim.

     Então me levantei e aproximei meu rosto do seu. Fechei meus olhos e nossos lábios se tocaram. Pedi passagem com a minha língua e ela cedeu. Foi um beijo calmo, como se fosse o primeiro da vida dela e o último da minha, em que nós dois aproveitamos cada segundo que mais pareceu uma eternidade. Quando eu me afastei dela eu estava ofegante pela intensidade com que nos beijamos.

- Isso foi... – comecei ainda ofegante

- Incrível! – ela terminou a frase – Foi o meu primeiro beijo. – sorriu – Mas porque você quis me beijar? Você ficou com pena de mim, ou...

- Não. Eu nunca teria feito isso com você. Eu te beijei porque eu... Eu... Eu te amo. Desde o primeiro momento em que eu ouvi sua voz eu te amo. Eu te amo, eu te amo! Eu nunca senti nada mais incrível e lindo em toda a minha vida!

- Eu não acredito.

- Pois acredite. Eu te amo. Eu te amo. EU TE AMO! – ri

     Ela abriu um sorriso enorme, apertou minha mão com força e me deixou. Os aparelhos começaram a fazer um PIIII irritante e contínuo, médicos e enfermeiras invadiram a sala e me empurraram para fora, lágrimas começaram a escorrer por meu rosto, Heike segurou meu ombro e me levou para o elevador, entrei no meu carro no estacionamento e pedi que eles me deixassem sozinho lá dentro, acelerei para fora do estacionamento e despistei o carro deles, ignorei milhares de ligações do Tom, dirigi durante uma hora sem rumo e sem nenhum cuidado.

     De repente vi-me parado em frente a um lugar conhecido, uma praça na qual eu e Tom brincávamos incansavelmente quando pequenos. Meu telefone voltou a tocar. Eu ignorei. Era a décima terceira vez que Tom me ligava, já devia saber o quão desesperado eu estava e provavelmente sabia também que eu ia fazer alguma besteira.

     Senti uma dor aguda na minha mão esquerda e algo quente escorrendo por ela. Olhei e vi que ainda estava segurando o colar que ela havia me dado e com tanta força que acabei me cortando. Foi a primeira vez que eu parei para ler o que estava escrito no colar:

Anne Arns

01/09/1989

     Ela nasceu no mesmo dia que eu. Parece uma brincadeira do destino, nascidos no mesmo dia, mortos no mesmo dia.

     Ao lado da praça havia um lago fundo. Coloquei o colar em meu pescoço e acelerei o carro em direção ao lago, o destino fez o resto.

Narrador em terceira pessoa.

     Um urro de dor pôde ser ouvido vindo do apartamento dos gêmeos Kaulitz no momento em que a vida deixou o corpo de Bill.

     Algumas horas depois o carro de Bill Kaulitz foi retirado da água. Em seu rosto morto havia um sorriso e em seu pescoço um colar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... É a minha primeira fic one-shot, então desculpem se desapontei alguém!!Reviews??Opiniões??Indicações?? 1000 Küsses



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