“Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo
e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que,
na verdade, falo porque eu mesmo não posso”

           Eu me apoiei minhas costas no tronco de uma das árvores e respirei fundo. Agora que eu mandei a mensagem para Gilbert, não tenho a mínima idéia do que iremos falar. Sobre o beijo? Pouco provável. Tenho certeza do que vai acontecer: vou tentar falar alguma coisa, mas ficarei vermelho, gaguejarei e, por fim, ficarei calado. Gilbert não entenderá nada e vai embora, me deixando sozinho. Sou muito previsível, Alfred vive me dizendo isso.

           – Matt! – Eu olhei para o lado e ele vinha em minha direção. Aqueles olhos vermelhos brilhavam do mesmo jeito daquela noite. Engoli seco e dei o melhor sorriso que eu tinha (ou, pelo menos, tentei).

           – Gilbert. – Eu senti como se meu coração fosse saltar a qualquer hora para fora do meu peito.

           – Você disse que precisava falar comigo.

           – É, eu... Disse – Droga, nada me vem na cabeça – É que e-eu queria fa-falar sobre... – Droga, o que eu faço? – Sobre... – Eu abaixei o rosto, procurando algo para falar. Nada.

           – Matt. – Eu sentia falta dele me chamar assim. Ele segurou meu braço de leve ao pronunciar meu apelido e eu o olhei. Fiquei ainda mais nervoso – Fique calmo, respire fundo...

           – N-não! E-eu... Eu... Droga – Mas que droga, será que não consigo nem expressar o que eu sinto direito sem que a minha timidez atrapalhe?! – E-eu... Não consigo. Desculpe, Gilbert, mas eu não consigo.

           Tudo o que eu queria era conseguir falar alguma frase que fizesse sentido. Como eu havia previsto, tudo deu errado, eu arruinei tudo. Agora é a vez de Gilbert agir – agora ele vai rir de mim e ir embora. Eu realmente arruinei tudo.

           Quando ele deu a primeira risada, eu já tinha certeza que estava certo. Só não contava que ele fosse me abraçar. Ficamos abraçados por alguns minutos até que eu correspondesse. Eu sentia falta de abraçá-lo, mesmo tendo feito isto poucas vezes. Deixei que algumas lágrimas caíssem, já não ligava mais.

           Mas continuo odiando chorar na frente de outros.

           Quando me soltou, limpei meu óculos e tentei não encará-lo, mas ele segurou em meu queixo e fez-me olhar para ele. Senti meu rosto queimar ainda mais, se é que era possível.

           – Agora é a minha vez de falar, Matthew. – Ele sorriu. Eu também não esperava por essa.