Andaram sem comentar o que havia acontecido. Era confuso demais para Sarah. O que havia acontecido à fez esquecer sua força que fez para esquecê-lo. E Henry... Ficava pensando se deveria contar para ele. Não. Eles apenas se beijaram nada de especial. Mas será que conseguiria beijar e construir um relacionamento com Henry, já que tudo o que sentia por Bill havia resplandecido?  Ela chegou perto da mesa com Bill atrás dela quando ele saiu da cozinha. Henry. Era fofo, carinhoso e protetor. Mas não era Bill. Como ela poderia ter deixado aquilo acontecer? Ela sentou-se ainda olhando para Henry, que anotava alguns pedidos de sobremesa. Ela estava feliz que o jantar logo acabaria. No próximo dia, com certeza precisaria de algum descanso e algum tempo para pensar. Ele saiu com seu Pager na mão, rumo à cozinha.

- Sarah, pedimos sobremesa.  Para você, pedimos torta holandesa. Sabemos que você ama. – disse Ramona.

- Obrigada.

Uma voz fraca. Ela se sentia nojenta. Acabara de beijar o cara que tem namorada, sendo que beijara outro há 24 horas. Como ela podia se deixar levar por olhos tão perfeitos e um charme único? Não via à hora de deixar o restaurante e ir direto para sua casa, comer bolo de chocolate ate não agüentar mais. Ela estava a mais quieta da mesa. Pensativa. Finalmente, outro garçom saiu da porta trazendo as sobremesas. Ela iria devorar sua torta favorita e iria embora logo. Ele colocou um prato menor que o anterior, trazendo uma torta caprichada junto de uma bolacha crocante. Ela pegou a colher que veio junto com seu prato e deu uma colherada grande naquela torta. Finalmente, aquele sabor doce entrou em sua boca, deixando o gosto de Bill de lado. A torta era leve, mas ao mesmo tempo intensa de sabores. Com outras colheradas e quieta, terminou sua torta favorita e pensou em um jeito de sair, sem levantar suspeitas. Iria apenas se levantar e dizer tchau.

- Bom, acho que eu deveria ir, já está tarde e amanha quero descansar.

- Não! Fica! A diversão só vai começar daqui a pouco. – disse Bill.

Ela estranhou o jeito de Bill. Antes do jantar ele era rude, e naquele momento estava sendo gentil.

- Desculpem, mas realmente tenho que ir. Tchau, gente.

Ela se levantou, colocou se sobretudo e deu uma ultima olhada para eles. Bill a olhava com um olhar triste, mas ela não sabia o por que. Os outros a olhavam com uma certa desconfiança. A neve caia, e as ruas estavam cobertas.

Após uma caminhada de poucos minutos, chegou em sua casa. Sua mãe já dormia pesadamente em seu quarto e ela entrou no seu. Tirou a roupa, colocou seu pijama favorito e se deitou debaixo das cobertas. Mal conseguia dormir. Pensava em Bill, Henry, o beijo e o que faria se Henry descobrisse. Apenas deixou de lado, e relaxou, por mais difícil que aquilo fosse na sua situação.

- Sarah?

Uma voz grossa e doce a acordou. O sol brilhava, geladamente. Ela abriu os olhos o suficiente para ver quem era. E a visão cortou seu coração em pedaços. Era Henry.

- Oi, o que você está fazendo no meu quarto? Que horas são? Quem deixou você entrar?

- Calma. Só vim aqui para conversar com você. É meio dia e sua mãe me deixou entrar. Já me apresentei para ela. Parece que ela gostou de mim.

- Meio dia? Não acredito que dormi tanto! Mas você quer conversar sobre o que?

- Nós. Nossa relação, e aonde isso vai chegar. Sabe, estabelecer algumas coisas.

- Certo, e o que serias essas coisas que você diz?

- Só rolou um beijo entre nós. Queria saber se só ficaríamos nisso ou se a nossa relação se tornasse algo maior.

Sonolenta, Sarah resmungou:

- Você realmente não é o que parece, já lhe disseram isso?

Ele apenas deu um meio sorriso e continuou a falar:

- Algumas pessoas. Mas enfim, queria saber. Olhe, eu realmente não sei como fazer isso. É a minha primeira vez, então se estiver fazendo algo errado, me diga.

Ela apenas assentiu com a cabeça e ele continuou:

- Não sei se é cedo, mas eu sempre gostei de você, Sarah. Quando fomos ao parque, pelo menos no meu coração eu senti algo mais. E ontem no restaurante, quando te vi chique para seus amigos, senti inveja. Foi ai que eu percebi que te amo. Olhe, sei que ainda é cedo, mas estou sendo sincero.

- Henry, adoraria lhe dar a resposta agora, mas minha cabeça está confusa demais, principalmente agora que acabei de acordar e você já me diz algo assim.

- Me desculpe, mas queria lhe falar isso o mais cedo possível.

- Não precisa se desculpar. Olhe, vamos fazer o seguinte: preciso pensar seriamente sobre a minha vida, e decisões que eu tomei. Quando tudo isso acabar, lhe dou a resposta, ok?

- Ok. Desculpe aparecer tão cedo.

- Imagine, não foi culpa sua. Eu que dormi demais.

- Façamos o seguinte: não foi culpa de ninguém.

- Ok.

Ele se aproximou para dá-la um beijo de despedida, que ela pensara que fosse na bochecha, no entanto foi em seu queixo, perto de sua boca.

- Tchau, e descanse.

Ela esperou Henry sair do quarto para se levantar e ir direto a um banho quente. Precisava acertar as coisas. Só assim daria a resposta a Henry. Saiu do banho e ainda com a toalha envolvida em seu corpo branco e molhado, ouviu seu celular tocar. Era Rebecca.

- Oi Sarah! Como vai?

- Bem, e você?

- Ótima! Vai fazer alguma coisa amanha?

- Não, por que?

- Quer ir num show?

Um show. Era tudo o que ela precisava para sair um pouco de seus pensamentos.

- Claro!

- Certo, minha mãe nos leva de carro. Quando estivermos todas prontas eu te ligo e você sai da sua casa e vamos! Combinado?

- Combinado. Obrigada pelo convite.

- Imagine! Ate amanha!

- Ate.

Desligou o telefone. Um show não parecia tão mal. Ela esqueceria seus problemas por uma hora e meia, que seria o suficiente para Sarah sobreviver mais algumas horas naquele sofrimento. O resto do dia, ela ficara debaixo das cobertas, lendo algum livro. Mais tarde, sua mãe chegou com Ian em casa, mas ficaram o tempo suficiente dela o cumprimentar. Ela voltara para seu quarto e ficara em sua cama. Algumas horas dormia, outras lia, e algumas se levantava e fazia alguma coisa. Mal podia esperar pelo show.