O Mistério dos Shinigamis escrita por Bia11mil


Capítulo 1
Um Sequestro Diferente


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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L colocou a mão na cabeça, escorria sangue já que tinha um corte em sua nuca, não muito profundo só o suficiente para desacordá-lo por um tempo. Seus pensamentos vagavam incoerentes, a quanto tempo estava nocauteado, quem o deixara assim e onde estava eram as principais perguntas, mas existiam muitas outras que tomavam aquela mente sempre tão perfeita.

        Uma voz. Ao contrário do que imaginou L, não era grossa ou masculina, era uma mulher que falava.

        -Finalmente acordou L. Já te nocauteei uma vez, espero não ter que fazê-lo novamente, não se debata e deixe-me cuidar desse corte.

        Ele não entendeu muita coisa já que ainda estava com a cabeça dolorida, mas a mulher queria tratar o corte e precisava que cooperasse com ela.

        -Tudo bem.

        Ela emergiu da porta com toda a sua ferocidade, uma imagem única, como a cena que ninguém espera no filme e deixa a todos assustados.

        O quarto que L estava era escuro, quando ela abriu a porta os raios de luz invadiram machucando o olho já acostumado à escuridão de L. A mulher tinha os cabelos loiros soltos que iam até a metade das costas, na altura do umbigo. Eram lisos mas não eram ralos, eram fortes como a dona. Os olhos castanho escuro, nada muito surpreendente entretanto aquele olhar assassino era capaz de matar ou seduzir qualquer um, a depender somente do objetivo. Lábios grossos e preparados para um ataque inesperado, mesmo L sem saber quem teria coragem de atacar aquela mulher. Seu corpo tinha um físico que deixava muitas mulheres com inveja era magra, mas tinha suas curvas bem delineadas e tentadoras.

        Sua roupa consistia em um short jeans rasgado e esfarrapado, típico de uma adolescente revoltada, e uma blusa preta velha e lisa. Um chinelinho de dedo vermelho e um sobretudo marrom escuro aberto que não tinha nada a ver com a roupa e ia até a altura do joelho, ultrapassando o short.

        Roupas muito estranhas e uma mulher misteriosa resultavam numa combinação esquisita e ao mesmo tempo interessante que, com certeza, provocaram um efeito forte em L que ficou analisando-a, sem chegar a resultados satisfatórios.

        -Quanto tempo eu fiquei desacordado?

        -Umas duas horas só, eu esperava que você dormisse bem mais. Não deu nem tempo de limpar o corte, só te trazendo para cá levei mais de uma hora.

        L já formulava para onde ela havia lhe levado, devia ser um lugar afastado para se manter um seqüestrado e como havia levado mais de uma hora e eles haviam marcado de se encontrar naquela praça, ou ela teria o levado para algum lugar que só tivesse passagem pela estrada principal ou para algum daqueles sítios do outro lado da cidade. Provavelmente os sítios já que a estrada principal é sempre movimentada com caminhões passando para lá e para cá.

        -Então estamos em um sítio, podemos andar a cavalo? – L sempre quis andar a cavalo.

        -Como você sabe? – Seus olhos sempre impassíveis mostraram surpresa e sua voz firme saiu confusa.

        -Você seqüestrou o maior detetive do mundo, deveria esperar que eu soubesse as coisas.

        -O pior é que você tem razão. Agora fique quieto que eu trouxe um quite de primeiro socorros e tenho que limpar esse corte.

        Ela se virou e pegou o quite, a maleta branca com uma cruz vermelha contrastava drasticamente com o resto da roupa escura.

        Ela se aproximava e L, que tinha a cabeça dolorida, tentou lembrar porque havia vindo vê-la, e porque não estava acorrentado com Raito. Tinha sido uma idéia dele mesmo e no fundo não se arrependia de tê-la encontrado, aquela mulher feroz lhe pareceu bem... interessante.

------------------------------FlashBack On---------------------------

        Mais um dia de investigações do Caso Kira, L estava cada vez mais próximo de descobrir o culpado. Acorrentado a Raito e investigando um dos empresários da Yotsuba era um dia tecnicamente normal até Watari mandar uma mensagem para o seu celular. L sabia que o mordomo jamais faria isso se não fosse muito importante e se não fosse confidencial. Esperou um momento em que Raito estivesse ocupado com qualquer coisa e checou a mensagem no celular onde estava escrito:

       

        Estou te repassando uma mensagem que chegou ao meu celular as 1:27 da tarde, mas que era endereçada a você. Acho que talvez vá se interessar.

        Oi, L Lawliet.

        Sim, eu sei o seu nome e quero me encontrar com você. Sábado às cinco horas na praça pública dos Três Poderes, em frente a pizzaria Connen.

        Vá sozinho, se estiver acompanhado ou eu notar qualquer movimentação suspeita naquela praça não aparecerei e eu tenho informações importantes sobre o Caso Kira, algumas observações que podem te ajudar.

        Eu nunca vi seu rosto, então vá com uma calça jeans azul escura e uma camisa vermelha de manga. Use um tênis preto e cabelo solto, utilize também uma pulseira no braço esquerdo e outra no direito, ambas pretas.

        Se você não comparecer ou for acompanhado eu terei que, infelizmente, espalhar seu nome pela internet para que Kira o mate. É uma pena, eu admiro o seu trabalho.

        Beijos, espero que em breve possamos nos conhecer.

       

        L pensou em não comparecer, mas a pessoa conhecia seu nome e isso lhe pareceu interessante. Com certeza não deveria ser Kira já que descobriu seu nome sem nem ao menos vê-lo e já que ele estava vivo. Claro que tudo poderia ser um blefe daquela pessoa misteriosa para atraí-lo a uma armadilha, mas sua intuição lhe dizia o contrário. Seria uma experiência intrigante ouvir o que aquela pessoa tem a dizer.

        Avisou a Watari que iria desacompanhado.

        Na tarde de sábado se arrumou do jeito que lhe fora mandado surpreendendo a todos no quartel por ser vestir de modo diferente do que nos outros dias e, principalmente, por estar usando duas pulseiras negras uma em cada braço.

        Ao dar umas quatro horas da tarde ele acorrentou Raito a Watari deixando todos perplexos.

        -O que? Mas... Porque? – Perguntou Raito sem entender nada.

        -Eu tenho um compromisso inadiável e que necessito ir sozinho. Não será por mais que algumas horas eu espero, podem cuidar do caso até lá por mim.

        Na mente de Raito se imaginavam qual motivo faria Riuuzaki abandonar as investigações a que tanto se dedica e o único satisfatório e que ele fora investigar sozinho e que aquela roupa diferente do seu habitual faria parte daquele plano.

        -O que você está indo investigar, Riuuzaki?

        -Uma hipótese. Preciso ir agora se não vou me atrasar.

        Todos perpéxlos abriram espaço para que o L passasse deixando-o tomar o caminho até a rua onde pegou um táxi. Ninguém soube para onde ele iria, a não ser Watari que havia recebidos ordens de guardar aquele segredo até a morte.

        Do banco do táxi L olhou para trás interrogando a si mesmo se aquilo havia sido uma boa idéia. Kira podia se aproveitar da sua ausência para inúmeros planos nada agradáveis para a humanidade que tanto já fora judiada por ele.

        Chegando na praça ele se lembrava apenas de andar um pouco na frente da pizzaria comprar um sorvete e ser puxado por um homem vestido de preto que falou de um modo quase inaudível, quase num sussurro:

        -Venha aqui e fique quieto.

        Foram sem pronunciar mais nada até um beco lá o homem que o acompanhava não entrou, mandando-o ir em frente. Foi atacado e só se lembrava de uma sombra feminina.

--------------------------FlashBack Off------------------------------

        -Porque você me bateu?

        -Eu não queria te machucar, mas foi um pouco estranho você acatar o meu pedido tão rapidamente e queria me certificar de que não havia ninguém com você.

        -Não foi você quem me levou até o beco.

        -Eu sei. Foi Rui, um amigo. Ele foi até o mercado agora, mas deve voltar em meia hora no máximo. Pare de mexer a cabeça.

        L estava sentado do seu jeito peculiar naquele chão frio e cinzento, sentia as mãos nada delicadas da mulher limparem o sangue com água oxigenada que estava gelada o fazendo pronunciar baixinho uma reclamação. Estavam em silêncio até ela passar o remédio que ardeu o desavisado rapaz que tentava inutilmente ignorar aquela dor de cabeça e organizar os próprios pensamentos ainda confusos.

        -Ai. Você podia ser mais cuidadosa.

        -A culpa é minha se você tem um corte? Eu já estou limpando, não estou?

        -Literalmente a culpa é sua sim.

        -Mero detalhe. Aquilo foi uma pergunta retórica não era para ser respondida.

        Mandando a L um olhar engraçado que não foi acompanhado de um sorriso ela comentou:

        -Você veio por que quis.

        -Na verdade, eu estava sendo ameaçado de morte.

        -Você acreditou naquilo? Foi só blefe, nunca mataria ninguém ou espalharia o nome na internet para que morresse.

        -Eu imaginei isso. A sua mensagem não era intimidadora, apenas intrigante.

        -Obrigado... Eu acho. Pronto, acabou. Agora venha comigo, vou te mostrar a casa.

        Ela saiu andando com suas roupas estranhas deixando L sozinho no chão, sem nem ao menos olhá-lo direito. O detetive de cabelos negros acabou sorrindo, havia gostado do jeito daquela mulher. Observou-a se distanciando e percebeu que ela não era velha, devia ser dois ou três anos mais nova que ele e mesmo sendo alta batia um pouco acima do seu ombro, se pensasse bem não dava para acreditar que aquela menina havia tido força o suficiente para provocar aquele corte.

        -Você não vem? O corte com certeza não afetou as suas pernas.

        Saindo do seu devaneio ele se levantou e a seguiu porta afora.

        Ao chegar a um corredor iluminado L sentiu um pouco de incômodo na visão, porém ele continuou seguindo-a mesmo assim. Acabaram desembocando em um quarto coberto por poemas, redações, pôsteres, desenhos e fotos.

        -Foi você que fez?

        -Só os textos, os desenhos foram um amigo meu, os pôsteres comprados e as fotos feitas pela máquina.

        -Eu me referia apenas aos escritos e aos desenhos.

        -Seja mais específico da próxima vez.

        A cama era alta de madeira branca com uma colcha preta com as bordas vermelhas e um nome também em vermelho, estava escrito: Annad.

        -Você é Annad?

        -Você faz perguntas de mais.

        -O fato de eu estar atualmente seqüestrado por você, uma garota que sabe o meu nome mesmo sem nunca ter me conhecido já é motivo o suficiente para encher-me de dúvidas.

        -Porque você sempre faz isso?

        -Isso o que?

        -Usa essa voz inexpressiva, sem emoções. Você fala tudo com a mesma entonação que uma pessoa normal fala que está chovendo ou talvez ainda mais inexpressivo. Isso é irritante.

        L agora era refém de algo muito mais perigoso que um seqüestro, o olhar inquisidor daquela garota. Ela o acusava de ser impassível sem nem ao menos conhecê-lo direito e aqueles olhos escuros eram mortais a qualquer um.

        -É o meu jeito.

        -Esperava uma resposta um pouco mais complexa, entretanto eu não ligo mesmo.

        Era verdade, ela realmente não ligava e isso fez L sentir-se mal, mas não demonstrou como sempre.

        Percebendo que eles não andariam mais e vendo que ela já deitava em cima da colcha rubro negra, ele puxou uma cadeira azul marinha que estava na frente de um computador ligado e sentou-se de frente para ela, sempre daquele jeito peculiar que só o detetive tinha.

        -Bem era para você ter acordado aqui onde começaríamos a falar de tudo. Mas o seu organismo é um pouco mais resistente do que eu esperava, devia ter batido com mais força. – Ela falava mais para si do que para o detetive que observava intrigado, tentando analisá-la de novo e novamente sem chegar a resultados satisfatórios.

        -Sabe o que é engraçado? Você não me perguntou nenhuma das perguntas que eu achei que fosse ouvir logo. Não quis saber sobre porque eu fiz isso ou como eu descobri seu nome. Isso é intrigante, você não é previsível.

        -Obrigado. Eu estava esperando que você falasse ou eu mesmo descobrir.

        -Então eu vou deixar para falar depois do jantar, ali o Rui chegando.

        L virou a cabeça para a janela impecavelmente limpa para qual a garota apontava e ele viu o mesmo homem que havia puxado-o na praça. Um moreno com o corpo sarado e os olhos verdes brilhantes como esmeraldas, o cabelo castanho escuro vinha cortado baixo e curto atribuindo-lhe um estilo de garoto correto que não combinava com o sorriso malicioso que os lábios finos formavam.

        -Ele deve ter trago os ingredientes, você vai me ajudar a preparar o jantar.

        -Esse deve ser um dos seqüestros mais estranhos do mundo.

        Ela mirou o rosto alvo do detetive com seus olhos profundos e falou de um modo que fez os pelos da nuca dele se arrepiarem.

        -Pare de falar que isso é um seqüestro. Terei que bater-lhe de novo ou uma vez já não é o suficiente para ensinar-lhe algo útil. Você está aqui como detetive e não como refém, se quiser pode sair quando lhe for conveniente, mas eu não menti L Lawliet. Eu realmente tenho informações que podem ajudá-lo muito no Caso Kira e posso entregá-las a qualquer momento, mas agora – Sua voz se tornou estranhamente alegre, como se aquele aviso nunca tivesse sido proferido. – vamos comer que eu estou com fome, já são quase oito horas.

        Aquela menina estava cada vez mais intrigante aos olhos do detetive, seu jeito peculiar, as roupas estranhas e os mistérios que a rondavam resultavam em um L absorto em pensamentos lógicos. A sobrancelha clara dela estava arqueada como se esperasse uma resposta do detetive sobre o comentário.

        -Vamos preparar um jantar então.

        Ela não sorriu, mas esboçou um olhar de contentamento e alegria. L já a havia visto alegre, mas ainda não havia a visto esboçar um sorriso. Seu tom de voz, seus olhos e todo o seu corpo esboçavam os sentimentos independentes de quais sejam, mas ela não sorria.

        Chegando a porta da casa que se encontrava longe de tudo e todos, no meio de um verde intenso com árvores altas e frutíferas que L acostumado a cidades grandes achava difícil acreditar que ainda existiam no Japão.

        -Para ficarmos quites saiba que o meu nome é Annad Alizz.

        -Obrigado.

        Dizendo isso Annad saiu correndo indo de encontro aos braços de Rui que deixou as compras na grama para abraçá-la com um sorriso no rosto, L apareceu logo em seguida para ajudar a carregá-las.

        Eles prepararam um jantar nada saudável porém delicioso, nem parecia a comida que se comeria no campo longe da cidade. Como sobremesa Rui havia trago dois potes de sorvete, um de chocolate e outro de flocos, pelos olhares ansiosos e famintos que Annad e Rui davam para a comida eles não estavam acostumados a comer coisas tão calóricas ou gordurosas, diferente de L que apesar de quase não comer o jantar acabou se deliciando com um pote de sorvete só para ele. E ainda perguntou com toda a cara-de-pau do mundo:

        -Não tem de morango?

        Conversaram animadamente durante o jantar, nem parecia que fora daquele núcleo de amizade e felicidade estava se desenrolando catástrofes próprias do mundo, mortes e outras tragédias em geral. Annad não sorriu mesmo estando animado, detalhe esse que não escapou a L que havia gostado muito de ambos os seus seqüestradores, mesmo preferindo a loura.

        Descobriu que a cor preferida de Annad era vemelho e ela tinha vinte anos, dois a menos que L. Ela vivia mais no campo do que na cidade e já havia terminado a escola, mas que algo havia lhe impedido de ir para a faculdade. Rui era um amigo, filho do dono da fazenda ao lado que vinha fazer-lhe companhia naquele sítio tão afastado e solitário.

        Todos já estavam satisfeitos e empanturrados daquela comida deliciosamente imprópria para a saúde e Rui anunciou que já estava indo dormir, teria que acordar cedo amanhã de manhã.

        Antes que Rui se retirasse Annad adquiriu um olhar pidão como o olhar implorador que os cachorros dão aos donos pedindo comida, aquele olhar quase impossível de se negar e falou:

        -Rui, amanhã eu tenho alguns compromissos e não poderei trabalhar na roça. Tem como você fazer a minha parte? Por favor, eu não queria colocar mais trabalho sobre o pobre Sem.

        -Tem como te recusar alguma coisa, Annad? Eu ainda não descobri como, não precisava nem ter feito esse olhar que eu já falaria sim. Você sabe disso. – E com um sorriso carinhoso no rosto ele saiu indo se deitar.

        L e Annad estavam sozinhos e o detetive não sabia se a lembrava que ela havia falado que iria lhe contar tudo após o jantar ou se continuava quieto no seu canto, já a menina olhava perdida a noite iluminada por uma lua cheia e com diversas estrelas.

        Como aquela noite límpida ainda não havia sido domada pela poluição do mundo e guardava em si parte do paraíso assim também a menina loira que a observava concentrada e atenta não havia sido domada pela lógica do mundo moderno ou por alguém, mantendo-se afastada de tudo para não cair numa vida urbana em que começaria a se preocupar com as trivialidades do cotidiano e se esqueceria de dar atenção a coisas realmente importantes como admirar uma noite selvagem como aquela.

        L nunca havia se incomodado com silêncio, pela primeira vez interpretou a falta de palavras e sons como algo incômodo. Sentia-se ignorado e trocado pela imagem de uma noite que a menina poderia observar em qualquer outro momento. Usando uma tática antiga para chamar atenção o detetive pigarreou um pouco alto tentando tirar a menina do seu devaneio ao céu escuro.

        Como se retirada a força do seu próprio mundo a menina se virou lembrando-se de que tinha um convidado.

        -Você disse que quer andar a cavalo, ainda tem disposição para isso?

        -Claro.

        Ela o levou até o estábulo onde escolheu um cavalo para ela e outro para L. O dela era um baio negro com a crina escovada e olhos quase tão mortais quanto o da dona, seu corpo se misturava a noite transformando a menina-mulher que o montava em uma amazona linda e forte que conseguiria passar despercebida por qualquer canto daquele sítio.

        O que foi dado para L cavalgar era uma égua cor de mel, com a crina castanha escura. Era bela e não tinha muitos detalhes importantes além de uma mancha branca nas costas. Tudo corria bem até o detetive tentar montar na égua.

        -Você já montou algum cavalo antes?

        -Bom... Não. Era para ser tão difícil?

        Ela respondeu com um resmungo ininteligível.

        Annad desmontou do seu baio para ajudar L, apoiando quase todo o peso do corpo na garota ele finalmente se ajeitou na cela, mas a égua pareceu sentir a sua falta de segurança jogando os pés para cima e assustando o detetive que soltou as mãos e acabou caindo.

        Uma Annad confusa se viu indo ao chão pelo peso de L que caia em cima dela. A garota caiu de costas no feno que amorteceu a queda, mas o detetive caiu de barriga para baixo em cima dela. Ninguém se machucou entretanto ao abrir os olhos a garota se depara com a noite negra que era o olhar de L.

        Ela se assustou ao constatar o quanto selvagem aqueles olhos escuros podiam ser, tanto quanto a noite que se instalava acima deles. L piscou os olhos enquadrando a menina assustada e quando ela percebeu que ele a fitava desviou o olhar.

        O detetive estava com o corpo em cima daquela mulher e estes se encaixavam de uma forma assustadoramente agradável. A posição um pouco constrangedora de ambos fez L corar, algo que não acontecia há tanto tempo que nem mesmo ele próprio se lembrava de qual havia sido a última vez que suas bochechas haviam adquirido a coloração vermelha. Ele não viu, entretanto a mulher que agüentava o seu peso também ficou com as bochechas vermelhas.

        Ela acabou por empurrá-lo o fazendo cair ao seu lado no feno.

        -Desculpe.

        -Você é bem idiota, eu deveria constatar se é você mesmo ou se o verdadeiro L mandou alguém para me enganar.

        O tom zombeteiro e levemente irritado em sua voz fez L soltar uma fina gargalhada que fez a menina se surpreender.

        -O que foi? – Ele perguntou um pouco confuso pela surpresa da companheira.

        -É a primeira vez que você realmente ri desde que chegou aqui. Você não tende a demonstrar muito suas emoções.

        -Você não devia falar isso sobre mim. Ainda não te vi sorrir nem uma vez.

        -Você percebeu é? – A voz da garota saiu um pouco baixa e melancólica, como se contasse um segredo antigo.

        -Por que você não sorri? – L levantou a cabeça apoiando-a em um braço e ficou fitando novamente os olhos castanhos escuros da mulher ao seu lado.

        -Você pergunta de mais. – Ela se levantou do feno com um olhar baixo.               

        O detetive achou melhor manter o silêncio, quando ela quisesse lhe contar ele estaria ouvindo. Ela ajudou o detetive a montar de novo e depois foi ao seu cavalo que esperava pacientemente a dona.

        Ela o instruiu sobre os movimentos básicos e foi na frente.

        L estava cavalgando ao ar da noite do campo entre árvores tão antigas quanto à própria escuridão e sentia-se muito feliz, o vento forte e o som das batidas compassadas inundavam todo o lugar. Os cabelos negros empurrados para trás e os pés firmemente presos a cela fechavam aquela cena.

        -Parece que você gostou.

        -É maravilhoso.

        -Também acho. Cavalgar a noite é esplêndido, tudo fica tão perfeito.

        Os olhos de Annad brilhavam como duas estrelas, mas seus lábios não formavam um sorriso. Mas ela estava feliz e isso era o que importava agora para L.

        Não faziam idéia de que horas eram ou a quanto tempo cavalgavam quando Annad sinalizou para que L diminuísse a velocidade e parou em frente a um carvalho frondoso e antigo.

        Ela saiu do cavalo e não o prendeu, ajudou L a descer do seu e também deixou a égua livre. Sentaram-se embaixo da árvore.

        -Quando eu era pequena vinha para cá o tempo todo, a pé demorava bastante mas eu sempre chegava no meio da tarde e  ficava até o anoitecer quando alguém vinha me chamar para que eu jantasse.

        O detetive nunca teve muito tato para lidar com pessoas sendo sempre sincero e dispensando aqueles que ficavam gastando seu tempo com coisas inúteis como aquela história infantil, mas resolveu manter o silêncio e não falar o quanto achava aquilo desnecessário. Mas de um modo impressionante a menina, como se pudesse ler seus pensamentos, disse:

        -Você deve achar isso idiotice. – Ela deu uma risada baixa e conseguiu fazer isso sem sorrir. – Mas as pessoas normais só falam da infância L com quem elas confiam. É como uma prova de amizade, sabe? Você não devia achar isso besteira, sentimentos são importantes é o que nos permite aproveitar a vida. Viver sem sentir nada não é vida, é existência somente.

        -Como você sabe que eu acho essas histórias infantis inúteis?

        -Pelo seu jeito. Você não demonstra muitos sentimentos, assim, é uma pessoa fechada e não deve ter muitos amigos. Pessoas fechadas acham algumas atitudes como essas perdas de tempo e talvez até sejam mesmo, mas eu prefiro perder tempo com isso do que com tantas outras besteiras que as pessoas fazem.

        L achou aquela dedução interessante Annad não era nenhum gênio como ele, mas já o havia analisado e feito descobertas muito mais avançadas do que as descobertas dele sobre ela. Tudo era muito intrigante para o detetive.

        Ela estava com as costas na árvore um pé dobrado e o outro esticado, com uma mão despedaçava a grama rasteira e a outra pousada na perna, ela acabou suspirando pesadamente como se numa reflexão muda e falou:

        -Agora esqueçamos isso. Precisamos falar sobre coisas mais importantes. O que quer saber primeiro?

        -Como sabe o meu nome?

        -Eu achei que essa fosse mesmo a sua primeira pergunta. É uma longa história. – Outro suspiro pesado e ela levantou a cabeça para fitar atentamente L, a cada momento ela passava uma perspectiva diferente ao detetive. Agora ela lhe parecia uma mulher sábia que já havia vivido seus vinte anos mais intensamente que muitas pessoas viviam toda a vida. – Eu tenho um shinigami, não é meu ele apenas me acompanha por que eu tenho algo que lhe pertence. Algo que Kira também tem. Os shinigamis quando vêem o rosto de uma pessoa conseguem enxergar também o seu nome e a sua expectativa de vida. Eu pedi ao Fyn, o meu shinigami, que fosse até você e visse seu nome. Minha mãe trabalhou para você e te admirava, então achei que saber o seu nome seria útil para alguma ocasião, eu estava certa.

        Qualquer pessoa normal ao ouvir aquilo tacharia aquela mulher de louca, mas L trabalhava no caso Kira há meses e qualquer coisa que ela falasse não o surpreenderia.

        -Shinigami! – Os olhos negros brilharam contentes. - Onde está seu shinigami? Posso vê-lo?

        -Para você ver um shinigami precisa tocar no Death Note, o caderno da morte. O meu está no meu quarto escondido. Mas de qualquer jeito você não o verá. Foi para isso que o chamei, quero te contratar como detetive. Há uma semana Fyn sumiu, ele sempre me acompanhava e nós éramos bons amigos, mas sábado passado eu acordei e ele, simplesmente, não estava lá.

        -É uma pena que eu não possa vê-lo. Mas como funciona a relação entre um humano e um shinigami.

        Annad explicou a L como um humano recebia um Death Note e como este funcionava. Contou-lhe tudo inclusive sobre os Olhos de Shinigami e sobre o poder de abdicar do Death Note.

        -Você já usou o seu Death Note, Annad?

        -Não. Eu gosto de escrever e o achei enquanto ia a uma festa com uns amigos, o guardei na bola sem falar nada a ninguém. Ao chegar a minha casa achei a idéia de um caderno da morte criativa, mas não acreditei que seria verdade. Por medo eu não o usei e uns dois dias depois o Fyn apareceu comprovando a veracidade do caderno. Fique aliviada por não ter matado ninguém e não quis me desfazer dele. Por mais estranho que fosse eu quis ficar com ele, logo fiz amizade com o Fyn e ele gosta muito de mim. É isso que me preocupa.

        -Por quê?

        -Fyn é um shinigami especial, ele faz parte da guarda do rei deles. Na verdade, essa guarda não é usada há muito tempo já que o mundo shinigami está apodrecendo, mas mesmo assim ele conhece muitas coisas que os outros shinigamis não sabem inclusive como matar um shinigami.

        -Como?

        -Quando um shinigami se apaixona e usa o Death Note para salvar a vida do humano pelo qual nutri sentimentos ele morre, o caderno só causa sofrimento para quem o usa e não pode ser usado para prolongar vidas, apenas para a morte.

        -Interessante.

        -Então, irá investigar o sumiço do Fyn? Já lhe contei tudo que sei e estou disposta a pagar qualquer quantia.

        -Irei investigar sim. E não precisa me pagar.

        -Claro que preciso, estou te contratando.

        -Suas informações sobre o Caso Kira já foram de imensa ajuda, considere isto meu pagamento.

        L se surpreendeu consigo mesmo, não por recusar pagamento, mas por dar um de seus raros sorrisos após aquelas palavras direcionado apenas aquela mulher que tanto lhe intrigava.

        Annad achou aquele sorriso fofo, belo, gracioso e diversos outros adjetivos, mas não demonstrou.

        -Obrigada. Eu queria te pedir outra coisa.

        -O que?

        -Já aconteceu do Fyn desaparecer por três dias. Então vamos esperar mais alguns dias, fique aqui comigo enquanto isso. Só mais três ou quatro dias, só para termos certeza que é outra expedição, porém mais longa. E depois eu poderia ir com você investigar? Ele é um shinigami, mas mesmo assim é muito especial para mim.

        No fundo Annad só queria mais tempo perto do detetive, L poderia pensar em inúmeras desculpas diferentes para recusar e a lógica falava que aquilo era ridículo, poderiam manter contato separados, entretanto nenhum dos dois pareceu notar todos os motivos que tornavam aquele pedido absurdo.

         -Claro.

        Ela quase sorriu, mas foi só mais um quase...

        Desavisado L foi acertado por uma laranja. Ele não sabia que aquele carvalho ainda dava laranja... Carvalhos não dão laranjas, eles nem ao menos dão frutas.

        -Laranja?

        -Droga, esse carvalho velho está começando a fraquejar. Não acredito que está deixando minhas frutas caírem. – Ela gargalhou L achou o seu riso bem gostoso, mas percebeu que ela apenas abria a boca para gargalhar e nunca curvava os lábios num sorriso.

        -Você guarda frutas ali. Por quê?

        -Eu era pequena quando o vício começou. Trazia frutas e guardava ali para que nos dias que eu sentisse fome eu subisse e comesse, tem uma faca também.

        -Por que isso não me surpreende.

        Annad começou a escalar o velho carvalho com uma habilidade incrível e ao chegar lá em cima viu que não era culpa do carvalho era um mico que havia encontrado seu esconderijo.

        -Olha! Um mico.

        -Você vai cair.

        -Eu subo aqui há anos, se eu cair algum dia pode me internar em um hospital que eu devo estar com sérios problemas físicos e mentais.

        Nesse momento por uma ironia do destino o miquinho percebeu que o objetivo dela eram as frutas e avançou nela a fazendo soltar ambas as mão, tentou se segurar mas a árvore estava molhada da chuva que tinha caído naquela área somente, sem cair na casa dela. Assim acabou escorregando e caiu, não estava muito alto e seu corpo se encolheu passando pelos galhos que já havia subido, seus braços acabaram com cortes um pouco profundos e ela já chegava ao chão quando L se levantou e a pegou rapidamente antes que caísse.

        Ele quase caiu ao segurá-la já que tinha sido uma queda bem intensa, mas ela era magra e ele forte.

        -Em qual hospital você quer ser internada?

        -Chato. Foi injusto eu fui atacada pelo mico.

        -Assustada?

        -Não. – Ela fez pressão para baixo tentando se libertar dos braços de L, ela nunca admitiria que estava achando aquilo bom, mas também não ficaria ali sendo feita de palhaça. – Agora eu vou lá espantar aquele mico maldito.

        Ainda com os braços sangrando da queda ela voltou a escalar agora preparada e irritada.

        -Saia daí.

        -Não, você irá jogar isso na minha cara para sempre se eu não espantar aquele bicho idiota.

        -Não seja boba, foi só uma brincadeira.

        -Tanto faz.

        Ela continuou subindo até dar de cara com o mico que a atacou de novo, mas agora ela estava preparada e tirou apenas uma mão, a que ele não tinha avançado. E com reflexos muito bons ela o pegou pelo rabo, ele tentou mordê-la, mas ela ofereceu uma fruta a ele que pegou com gosto. Acabou amansando o animal e o libertou deixando-o se deliciar com as frutas dali.

        Desceu contente por ter provado não ter medo.

        -Pronto. Viu, eu não tenho medo de um mico.

        L percebeu o quanto ela se importava com a opinião dos outros e se sentiu feliz por ter chegado a pelo menos um resultado satisfatório de toda a sua análise sobre ela.

        -Está bem. Agora vamos voltar para que eu limpe esses cortes.

        -É mesmo, está sangrando. – Ela olha os braços notando pela primeira vez que havia os machucados com cortes que poderiam infeccionar.

        Eles voltaram para casa onde L limpou seus ferimentos e fez curativos nela.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Reviwes são sempre muito bem-vindos. Asseguro a todos que eles serão bem tratados no spar dos reviwes e que já tem reservados um quarto luxuoso com direito a piscinas naturais, a piscinas artificiais e as termas de água quente. Se ele não for muito fã de água ainda tem um estábulo pra ele montar a cavalo e uma sala de jogos com uma infinidade de computadores e jogos eletrônicos. Ainda tem direito a massagem e a shows a noite.
Não deixe que o seu reviwe perca isso, mande-o para cá com a sua opinião!
(Todos os reviwes terâo direito ao spar, então se não gostou da fick pode falar que o seu reviwe também vai poder aproveitar tudo^^)