Sob a relva macia e úmida, aconchegado em um firme abraço, ouvia as palavras de Stefan citando Shakespeare...

 - Duvide que as estrelas sejam fogo, duvide que o Sol se mova... – lia em voz alta. Já deveria ser a sétima vez que re-lia Hamlet. - Duvide que verdade seja mentira;Mas não duvide que eu te amo. – fez uma pausa, como se aquelas palavras fossem dele e as estivesse citado somente para mim.

Suspirei. Virei-me para ele, que olhava fixamente para as nuvens, provavelmente vendo desenhos nas mesmas. Olhei para suas mãos, nelas um livro surrado. Hamlet. Ri baixinho enquanto via as bordas das páginas um pouco amassadas devido às inúmeras vezes que lera aquele livro.

 - O que foi? – perguntou num sorriso, voltando sua atenção em mim.

 - Esse livro. – apontei com o queixo. – Já o leu quantas vezes?

Pensou um pouco, tentando contar, mas foram tantas vezes que o lera que foi impossível. Desistiu de obter um resultado, dando um sorriso travesso.

 - Admito que foram muitas... – sorrio torto.

Rimos juntos e eu suspirei novamente.

 - Temos que voltar para casa, Ed. Já está quase escurecendo, e creio eu que não será nada fácil sair daqui. – olhou a mata fechada, em volta da campina cheia de flores silvestres, brancas, amarelas e violetas.

Ri de suas palavras, rolando para o lado, a fim de olhar mais diretamente para o belo Sol que nos cobria. Um dia raro para Forks.

 - Não exagere, amor. Olhe para o Sol acima de nós. Está longe de escurecer, além de que eu sei andar por aqui. Sem nenhuma preocupação com isto. Relaxe e aproveite este dia raro...

 - Ah, tudo bem, então... – hesitou um pouco. - Hey, que tal ler mais uma passagem de Hamlet?

Gargalhei.

 - Não, Stef. Já leu demais este livro. Deve saber tudo o que está escrito aí, já. Por que não começa a ler outra coisa? – perguntei, ficando curioso de repente.

Franziu o cenho enquanto pensava um pouco.

 - Ah, sinceramente, não sei. Hoje em dia não se tem escritores como Shakespeare. A maioria conta sobre vampiros. E são sempre as mesmas histórias. Muito semelhantes. Ninguém faz uma adaptação de Hamlet para a atualidade... – declarou deprimido.

 - É... Talvez tenha razão... Hm, porque você não faz uma adaptação, amor? – perguntei, enquanto me equilibrava no cotovelo para olhá-lo nos olhos.

 - Está brincando, né? – riu sem humor.

 - Não. Estou falando sério. Você já o leu tantas vezes... tenho certeza que ficará até melhor que o primeiro!

No início, me olhou como se tivesse bebido ou algo assim, mas acho que depois começou a considerar um pouco mais...

 - Ah, quem sabe... Não tenho nada a perder, certo?

 - Certo! – incentivei.

 - Então... É... Vejo isso depois. – disse sorrindo.

Rimos juntos e eu me aproximei mais dele, deitando-me ao seu lado para contemplarmos as nuvens...

A brisa calma, o canto dos pássaros, e o cheiro da natureza misturado com o perfume de Stefan me deram uma calma e tranqüilidade que eu não sentia há tempos, me fazendo assim, dormir como nunca havia dormido antes... Em paz.

 - Ed? Edward! Acorde! – sentia alguém chacoalhar meus ombros.

 - Me deixe dormir, Stefan... – resmunguei e virei de lado, quando percebi a relva molhada. – Droga! – me levantei devagar, percebendo que já escurecera.

 - Dormimos por muito tempo, Ed. – falou Stefan, nervoso.

 - Sem preocupações, amor. Eu conheço isso aqui como se fosse a pal...

 - À noite? – indagou.

 - Err... Não deve mudar muito. – anunciei e olhei para os lados, enxergando somente pela luz da Lua. – Aliás, temos celulares aqui... Qualquer coisa ligamos para alguém...

 - E se ficar sem sinal? – argumentou.

 - Podemos usá-los para iluminar o caminho. Além da luz da Lua, os celulares podem ajudar bastante.

 - Ah, claro... Vamos?!

 - Claro. Mas antes, algumas medidas de segurança, que tal?! – não o deixei responder – Só pegue seu celular quando eu disser ok? E enquanto eu não disser, o guarde bem guardado. O caminho é um pouco longo, e precisaremos iluminar o chão por causa das raízes soltas, troncos e etc...

 - Tudo bem...

Peguei a mão de Stefan e liguei a lanterna do meu celular, enquanto guiava o caminho até meu carro.

Estávamos andando havia meia hora, aproximadamente, quando meu celular começou a querer desligar, por causa da bateria...

 - Está muito longe, Ed? – perguntou Stefan, enquanto se abaixava para passar em baixo de uma árvore.

Olhei ao redor e percebi que não faltava muito. Estávamos há uns dois ou três metros da estrada. Não demoraria muito para chegarmos.

 - Não, não, amor. Mais uns dois ou três metros de caminho e estaremos na estrada...

 - Que bom, estou morrendo de fome.

 - É, eu também... – comecei a assobiar para passar o tempo.

Avistei um começo de asfalto e cutuquei Stefan, que estava dormindo em pé.

 - Heeey, Stefan! Olha ali... – disse. Andamos mais alguns passos e eu tirei os arbustos da nossa frente, fazendo-nos dar de cara com a estrada e o meu Pajero.

 - Ah, graças à Deus...

 - Vamos! Venha... – coloquei um braço em sua cintura e o ajudei a ‘cambalear’ até o carro.

Ajudei-o a colocar o cinto e fui para o banco do motorista. Liguei o rádio baixinho, para manter – pelo menos a mim – acordado.

Não demorou muito e chegamos a nossa casa. Ela não era perto do ‘centro da cidade’ – Forks era tão pequena que não se sabia se tinha um centro –, mas também não era incluída na mata como as tribos indígenas que havia ali...

Desliguei o rádio e abri a garagem com seu controle remoto.

 - Stefan, amor... Acorda, chegamos em casa. – chacoalhei um pouco seu ombro.

 - Huh? – resmungou.

 - Acorda, já chegamos. – o chacoalhei novamente.

Bocejou alto, tampando a boca com a mão. Ri baixinho.

 - Vamos logo... Ou quer dormir aqui e acabar com as suas costas, Stefan?

 - Ah, ta. Tô indo... – disse e se apoiou no banco do carro.

 - Vem logo para eu fechar a garagem... – disse ao sair do carro e abrir a porta que tinha no fim da garagem.

Stefan saiu do carro cambaleante a bateu a porta. Ri de sua situação enquanto ia até ele e o envolvia com o braço direito, ajudando-o com o equilíbrio.

 - Sabe que não precisa disso... – ele disse com a voz embargada pelo sono.

 - Diz isso porque não vê como está andando... – ri baixinho.

Acho que ele nem me ouviu, pois logo começou a dormir. Também, ele havia trabalhado o final de semana inteiro. Era esperado que ficasse que nem um morto-vivo no sábado.

Adentrei a casa e subi as escadas o apoiando em mim até o quarto.

Hm, será que o acordo novamente para ir tomar banho? Suas roupas estão cheias de terra... – pensei.

 - Stefan, quer tomar um banho antes de dormir? Você está cheio de Terra, amor... – falei para ele, depois de o mesmo ter aberto os olhos.

 - Ah... acho que eu vou.

 - Ok. Então vá tomar banho, que eu vou fazer algo para comermos. – disse e deixei-o no quarto, indo para a cozinha ver o que faria para esse ‘lanche relâmpago’.

Resolvi preparar alguns sanduíches e fazer um suco natural de abacaxi, o preferido de Stefan.

Subi até o segundo andar. Enquanto o Stefan lanchava, iria tomar banho. Assim que abri a porta do banheiro, vi as luzes apagadas e percebi que Stefan já dormira. Fui até o closet e me troquei para ir comer, vestindo um pijama com o hobby por cima.

Depois de matar minha fome, fiz chocolate quente e subi até o quarto. Sentei-me com cautela na poltrona perto da cama e fiquei observando Stefan dormir... Sua respiração suave... Seu semblante leve e calmo... Absorto na perfeição do rosto de quem amava, adormeci ali mesmo...

 - Edward? EDWARD! – ouvia meu nome sendo chamado, mas só conseguia resmungar em resposta. – Edward, acorde, é importante! É o Stefan, Edward, vamos!