The Cullens escrita por Nina Guglielmelli, mulleriana


Capítulo 32
Lembranças




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Eu nunca havia visto um lugar tão bonito, principalmente numa cidade como aquela. Não era luxuoso, mas era aconchegante – e impecavelmente limpo. O nome The Cullen’s estava no topo, gigantesco e dourado, imitando letra cursiva...
- Eu beijei Edward pela primeira vez nesse estacionamento. – Disse para Alice, ainda focando os olhos na fachada do restaurante. O vento estava forte e gelado, me obrigando a esconder as mãos nos bolsos do casaco. Fiz um gesto de cabeça para uma árvore gigantesca. – Ali, certa vez, Emmett me acertou em cheio com uma bola de neve. – Ri, olhando para a escadaria na entrada. – Está vendo ali no canto, onde o piso está rachado? Jasper bateu o carro. Rosalie estava com ele... Acho que ainda não o perdoou por... Sei lá. Bagunçar seu cabelo.
Alice soltou um suspiro alto. Eu me virei de frente para ela, e dei os ombros, olhando-a com uma expressão tranqüila. Ri mais uma vez, olhando a praça atrás dela, há vários metros de onde estávamos.
- Uma vez, Mickey escapou. Nós o encontramos perto daquele banco. – Ao invés de virar para olhar, ela abaixou a cabeça, triste. – Rex não gostou de sua volta. – Sorri comigo mesma.
Minha amiga balançou a cabeça numa negação, me olhando com tristeza.
- Não tem que fazer isso, Bells. – Disse.
- Eu sei.
Ela deu alguns passos em minha direção e me abraçou com força.
- Amo você. – Murmurou em meu ouvido.
- Vamos nos falar sempre. Prometo.
Ela se afastou e limpou algumas lágrimas. Entramos no restaurante de mãos dadas. Ainda não havia nenhum cliente; só alguns garçons arrumavam as mesas. Esme saiu do escritório e veio em minha direção. Abraçou-me com os olhos cheios d’água.
- Essa porta vai estar sempre aberta pra você. Saiba disso. – Disse.
- Obrigada por tudo, Esme.
- Eu é quem preciso agradecer! – Ela se afastou para me olhar. Ambas sabíamos bem do que estávamos falando. Suspirei, lutando contra as lágrimas.
- Ele vai ficar bem. Não se preocupe. – Tentei acalmá-la, mas aquelas palavras provavelmente eram para mim mesma.
A mulher levou uma mão a boca e passou um braço pela cintura de sua filha. Ambas me encaravam, emocionadas. Finalmente, me permiti chorar.
Alguém entrou no restaurante, e nós três viramos a cabeça. Secamos as lágrimas quase num movimento só, tentando fingir que nada acontecera – em vão.
- Com licença. – Uma senhora rechonchuda entrou, enquanto algumas mulheres de meia-idade (muitas mais do que deveriam) a seguiam. – Eu gostaria de falar com o dono desse estabelecimento.
Esme deu um passo a frente, e Alice um para o lado, ficando perto de mim. Olhei em volta e tentei me mostrar alheia ao assunto; aquilo não tinha nada a ver com meu trabalho, e pensei ser um pouco indelicado me meter. O problema foi que aquelas palavras eram totalmente impossíveis de ignorar.
- Sou eu. – Ela disse, um pouco confusa. – Algum problema?
A senhora ergueu o queixo, demonstrando arrogância. Suas seguidoras não eram diferentes.
- O jornal dessa manhã deixou uma nota sobre apresentações na região, para o próximo fim de semana. – Ela ergueu a bolsinha e tirou uma folha de jornal, entregando a Esme. Alice esticou o pescoço ao meu lado para tentar ler. – O pianista do sábado a noite é o gerente daqui.
- É. É, sim. – Suspirou enquanto falava. – Mas ele não virá hoje, desculpe.
- É verdade o que estão dizendo? Sobre sua doença? – Uma careta se formou no rosto da mulher. Meu sangue ferveu. – Quer dizer... Ele realmente tem Aids?
Esme cruzou os braços antes de continuar. Sua expressão triste foi substituída; eu sabia que estava se contendo.
- Sim, é verdade. Ele é soro-positivo há 3 anos.
As mulheres se entreolharam, murmurando coisas que felizmente não entendi.
- Eu freqüento esse lugar sempre. – Disse, nos olhando outra vez. - Eu gosto da comida, realmente. Mas isso é... É...
Dei um passo a frente, sem planejar ouvir mais. Alice tentou segurar meu braço, mas eu desvencilhei, enxergando tudo vermelho.
- Se me permite dizer, é repugnante! – A velhota levou uma mão ao peito. – Vocês deveriam manter total higiene por aqui e, ao invés disso, contratam um doente! Eu fiquei pasma quando soube da notícia.
- Ele é meu filho. – Esme retrucou, entredentes.
- Isso lhe dá ainda mais motivos! Sabe da condição dele, deveria mantê-lo longe daqui!
- Condição? – Desta vez, eu falei, me colocando a frente de Esme como um touro irritado. – Que condição? Quem pensa que é pra vir até aqui dizer essas coisas?
Ela me analisou, com um ar de nojo, antes de continuar.
- Quem é você? – Perguntou, parecendo prestes a vomitar.
- Sou a chef daqui. E namorada do doente. – Enfatizei a palavra que ela usara.
Nada no mundo poderia explicar o choque que atravessou o rosto de cada uma delas.
- Você o namora? – Uma garota que antes estava escondida, a mais nova de todas, perguntou.
- É, sim. Ele é meu namorado. Não: pra ser sincera, ele era. Nós tivemos uma briga feia. Mas isso não importa! A verdade é uma só; eu já perdi as contas de quantas vezes nós transamos. Não é interessante? Quem sabe eu também não estou doente? É isso mesmo! A pessoa que faz a comida de vocês tem Aids!
Minha voz ecoou quando fiquei quieta. Todos estavam estáticos, prestando atenção em mim, que quase berrava. Os garçons, que antes trabalhavam, pararam todos em um canto para observar a cena. Jacob, Leah e Sam entraram e se juntaram a eles sem dizer uma palavra.
- E eu... – Respirei fundo, sentindo meu peito apertar e algumas lágrimas ameaçarem sair. – E eu tenho pena de vocês. Tenho pena de pessoas ignorantes como vocês. Porque esse... Doente... É a pessoa mais maravilhosa que já conheci! Vocês temem essa doença porque na realidade temem a morte. E isso as torna fracas, já que as pessoas que vocês julgam indignas de viver normalmente estão lutando, coisa que gente como vocês não teria força o suficiente para fazer.
Virei o rosto para retribuir o olhar de cada um presente no salão. Alguns me olhavam com orgulho. Outros, surpresa. Mas eu me foquei somente nas mulheres enojadas a minha frente.
- Pois meça suas palavras! – A velha ergueu um dedo gordo para o meu rosto. – Eu vim aqui para termos uma conversa civilizada. Deveria agradecer por não termos trazido um fiscal sanitário conosco.
Ergui as sobrancelhas. Alice soltou um bufo indignado.
- Um fiscal? E o que acha que ele faria? – Franzi a testa, irônica. - É muito mais fácil marginalizar quem vocês pensam que lhes oferece perigo, do que tentar entender o que realmente se passa com eles. São pessoas ignorantes e hipócritas como vocês que deixam tudo mais complicado.
As mulheres pareceram ofendidas. Isso não me fez parar.
- Pois saibam, senhoras, que esse homem tem um talento excepcional com a música, que eu duvido que qualquer uma de vocês um dia sonhe em conseguir. E mesmo com a doença, ele sempre lutou e vai continuar lutando todos os dias. E eu não vou admitir que pisem aqui e o julguem algum tipo de monstro, indigno de ter uma vida comum, que alias é o que ele merece depois de tanto sofrimento. Pessoas como vocês, que fecham a cara para a verdade, sempre irão existir. E isso realmente me dá pena.
- Não tem o direito de falar assim conosco, garota. Eu deveria ir embora desse lugar, e...
- Não faço a mínima questão que fiquem. – Desta vez, foi Esme quem falou.
A mulher, que parecia liderar todas as outras, bufou e deu meia-volta. Foi seguida. O silencio no restaurante a seguir foi constrangedor. Fiquei imóvel, até que senti braços enormes me envolverem.
- Prometa que não vá me esquecer. – Jacob pediu, fazendo carinho em meu cabelo.
- Não poderia. – Respondi e retribuí seu abraço.
Após longos segundos, ergui a cabeça para olhar seus olhos. Ele pareceu desconfortável, como um filho prestes a introduzir um assunto constrangedor aos pais.
- Então... É verdade isso. Uau! Nunca desconfiaria. Ele parecia saudável... Apesar de que agora entendo às vezes que desmaiou aqui, ou que passou semanas no hospital. Pensei que tivesse uma saúde fraca, só isso. – Deu os ombros. – Ele foi embora mesmo, não é?
- Foi. – Respondi com um fio de voz.
- E você? Para onde vai?
- Eu não sei. Realmente, não sei. Eu já falei com Charlie esta manhã. Aqui não posso continuar, Jake.
- Boa sorte.
- Pra você, também. – Meus olhos encheram d’água enquanto falava.
- Amo você. – Ele disse.
- Algum dia nos reencontraremos. Farei um sanduiche pra você. O que acha?
- Parece uma ótima idéia.
Jacob abriu um enorme sorriso, dos que eu mais gostava. Tombei um pouco o corpo, olhando Leah atrás dele e dando um tapa no antebraço musculoso de meu amigo quileute.
- Cuide bem dele, está bem? – Pedi a garota, que riu.
Olhei novamente para ele, e acariciei seu rosto.
- Cuide-se.
Ele assentiu e me abraçou mais uma vez. Talvez tenha enxergado mal, mas era muito provável que estivesse chorando.
Larguei-o com dificuldade. Quando notei, todos os garçons que estavam ali se aproximavam junto com Leah e Sam, para um abraço coletivo. Depois de muito tempo, me soltei deles, e vi alguns dos funcionários da cozinha saindo dela, me cumprimentando um a um. Finalmente, vi Lauren, um pouco acanhada. Sorri com sinceridade.
- Foi... Divertido. – Ela disse. – Acho que vou sentir falta.
Eu ri.
- Realmente. – Mordi o lábio inferior, pensando nas palavras que deveria usar. – Tome conta de tudo aqui, está bem? E... Espero que arranje uma sub chef tão boa quanto a que eu tive.
Seus olhos se iluminaram com o elogio. Demos um abraço um tanto quanto sem graça, e logo nos separamos. Sorri para ela, antes de virar de costas e ser surpreendida com um abraço de minha melhor amiga.
- Ai! Como eu vou viver sem você? – Alice perguntou, chorando em meu ombro.
- Vamos nos falar todo dia!
- Espero mesmo. E ai de você se me ignorar...
Eu ri, dando um beijo no topo de sua cabeça. Sentia meu rosto molhado ainda. Dei um beijo na bochecha de Esme, perto da porta, e a abri, ousando olhar para trás uma última vez.


                                                                   ***

A gaiola de Rex estava ao meu lado, no banco do passageiro. Ele estava inquieto, acho que não gostava muito de andar de carro. A traseira da caminhonete estava lotada com minha bagagem.
Eu prometi a mim mesma que pararia de chorar. Ainda assim, não significava que iria esquecer.
Eu não precisava esquecer.
Quando acordara naquela manhã, Edward já havia partido. A última lembrança que tenho é de seu sorriso, tão triste, mas tão tranqüilo, enquanto me deixava repousar em seu peito. E então, no dia seguinte, ele não estava mais lá. Suas roupas, seus diversos livros e discos, seu gato, tudo desaparecera junto com ele. O apartamento não era o mesmo sem sua música.
O bilhete que me deixara ainda descansava no bolso do meu jeans surrado.

 “Olhe para o céu ao anoitecer. Cada estrela que você vê é uma benção que eu pedi a Deus para lhe enviar. Ele me trouxe você, e eu serei eternamente grato. Meu amado anjo, de olhos tão lindos, desistir nunca foi uma opção! Seja forte, como sempre foi, e eu terei orgulho de dizer que meu coração lhe pertence.

Com todo o meu amor,
E.”


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Notas finais do capítulo

Ai ai gente, é isso aí! Nina aqui hoje pra falar que estamos mais do que na reta final de The Cullen's e mesmo no final vocês vem surpreendendo com seus comentários maravilhosos. Só temos a agradecer e o próximo capítulo ja será o penultimo. Obrigada a todos que chegaram até aqui fielmente conosco!
Beijos e até o próximo capítulo!