The Cullens escrita por Nina Guglielmelli, mulleriana


Capítulo 19
Destino


Notas iniciais do capítulo

Pra quem gosta de capítulo grande...



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- Me passe o leite, sim? – Charlie pediu, sem tirar os olhos do jornal.

Eu olhei de relance para ele, terminando de passar a manteiga em minha fatia de pão antes de obedecer. O café da manhã em casa era sempre silencioso. Pela janela, eu podia ver a neve começando a cair. O mês de novembro estava quase no fim.

- Será um inverno difícil. – Meu pai completou, e eu assenti, observando enquanto ele enchia sua caneca com um breve suspiro.

- É... É. – Concordei um pouco nervosa, lembrando de repente sobre um assunto que não podia deixar passar. – Ahn... Esta noite... Esme nos convidou para um jantar. Em sua casa. Ela raramente tem uma noite de folga, e hoje não terá muito movimento no restaurante. E... Edward quer conversar com você.

Ele pigarreou, escondendo uma provável careta. - Ele quer, é?

- Charlie. – Ele ergueu os olhos, e eu me corrigi. – Hm... Pai. Você mesmo disse que sempre achou Edward ótimo, e... Acho bom se acostumar com ele. As coisas estão bem... Sérias entre nós.

Seriedade era a palavra correta?

Meu pai se ajeitou na cadeira, mantendo os olhos sérios nos meus. - Me... Acostumar. Certo. – Ele completou, voltando a ler. O jornal tapou toda a visão que eu tinha de seu rosto.

Suspirei, terminando a fatia de pão rapidamente, sem vontade. - Pelo menos se esforce. - Me levantei, levemente chateada, enquanto limpava a boca com um guardanapo.

Charlie ficou em pé, me ajudando a levar tudo para a pia. Abri a torneira, começando a lavar a primeira peça de louça que achei, distraída.

- Eu vou indo, Bells. – Recebi um beijo na bochecha, assentindo com um breve sorriso. – Passo por lá no jantar. Sei onde é. Até... Até a noite.

As palavras me animaram, de repente. Ouvi a porta ser aberta e, então, fechada. Não precisei olhar para ver que estava sozinha em casa.

Ergui os olhos para o relógio na parede. 8:44. Precisaria estar no restaurante até as 10 da manhã. As coisas se tornaram mais fáceis desde que Esme contratara Lauren. Mesmo a garota sendo insuportável. Lavei e sequei toda a louça sem pressa alguma. O silêncio era total e, mesmo que houvesse alguma música, minha mente continuaria absorta em lembranças. Os segundos passavam lentamente quando eu sabia que logo iria encontrar Edward. As pessoas poderiam gritar a minha volta mas, se eu estivesse pensando nele, meus ouvidos não captariam nada. Fechei os olhos e respirei fundo, fechando a torneira. Será que já inventaram uma coisa pior do que lavar louça no frio?

Um barulho repentino veio da sala, e eu virei a cabeça. A porta se fechou. Meu corpo todo arrepiou-se, de uma maneira horrível.

- Charlie? – Tentei chamar, mas minha voz saiu num simples fio.

Olhei em volta, secando as mãos em um pano de prato. Peguei a primeira arma que vi: Uma panela. Meus pés relutaram, mas consegui sair da cozinha. Podia sentir meus dedos tremendo. “Nós moramos em um bairro calmo, Bella, não se preocupe!” Ah, maldito policial auto-confiante! Maldita mania de não trancar a porta!

O homem estava abaixado, próximo a mesa de centro. Estava de costas para mim. Eu mordi o lábio inferior, reunindo forças. E então gritei, batendo a panela contra a sua nuca. Ele cambaleou, e caiu deitado no tapete, com as mãos no local da batida. Só então vi o embrulho em cima da mesa, com um pequeno cartão.

- Jacob! – Gritei, largando a panela no chão e ajoelhando ao seu lado. – Ai meu Deus!

O quileute resmungou, virando de barriga para cima com uma expressão de dor.

- Desculpe, desculpe mesmo! – Mordi o lábio, passando as mãos por meu rosto. – Você está bem? Está sentindo as pernas?

Ele franziu a testa para a minha pergunta, ficando sentado. Sentei ao seu lado, mostrando dois dedos. - Quantos são? – Perguntei.

- Estou bem!

- Quantos? – Perguntei novamente, erguendo a voz.

- Dois, Bella, dois dedos! – O garoto resmungou, passando a mão pela nuca ainda. – Cara, você é maluca!

Observei seu rosto por longos segundos, enquanto ele olhava em volta. - O que está fazendo aqui? – Perguntei, sentindo meu corpo relaxar ao ver que ele ficaria bem.

- Eu... Ah! Eu queria lhe fazer uma surpresa. Eu sei que Charlie nunca tranca a porta, então pensei em deixar o presente aqui... Não sabia que ainda estaria em casa... Cogitei que estivesse com o Cullen.

Nossos olhos ficaram presos por alguns segundos, e eu soquei seu ombro quando sorriu. - IDIOTA! QUER ME MATAR DO CORAÇÃO?

- Ai! Foi mal, Bells! – Ele ficou em pé com certa ajuda, e mostrou o presente com a cabeça. – Não vai nem ver o que é?

Um papel rosa cobria toda a caixa, junto com uma fita vermelha. No cartão, estava somente o nome de Jacob. O que mais me chamou a atenção foram os vários furos em volta do embrulho. - Isso... Isso está vivo?

Ele riu. - Abra!

Abaixei para o presente, receosa. Jacob ficou ao meu lado, sorrindo feito bobo. Rasguei todo o papel, analisando por algum tempo a caixa cheia de furos. Abri a tampa lentamente e, mal conseguindo respirar, vi o ratinho branco andando de um lado para o outro. - Isso é... É... – Franzi a testa.

- É seu! Ele se chama Rex, e era o meu plano para fugirmos do restaurante! Ele estava vivendo lá em casa, mas... Achei que gostaria de ficar com ele.

- Rex é o nome... De um rato... – Peguei meu mais novo mascote cuidadosamente nas mãos, deixando que cheirasse meu dedo com certo desespero.

- Legal, né? – Jacob riu. – Depois eu trago a gaiola. Ele gosta daquela roda. Achei legal te entregar com um embrulho... O que achou?

Demorei um pouco para responder, mais preocupada em segurar o animal em minhas mãos. Ele era bastante inquieto. - Eu... Gostei, Jacob. Um rato.

Ri baixinho, olhando para meu amigo. O que eu poderia dizer? Um roedor não era o bicho de estimação mais legal do mundo, mas ele era fofinho. Eu teria prazer em cuidar do Rex.

Jacob colocou as mãos nos bolsos, olhando em volta da sala. Eu guardei meu mais novo amigo na caixa, e a tampei, levemente preocupada se ele conseguiria ar suficiente ali. Mas, ah! Ele já chegara vivo em casa, certo? Certo.

- Quer... Quer uma carona até o The Cullen’s? – Perguntou, indicando a porta com a cabeça.

Eu iria responder que sim. E deveria ter respondido, se não fosse o barulho do motor potente lá fora. Abri a porta da sala antes que ele precisasse bater. Os olhos de Edward vacilaram; passaram pelos meus, varreram a sala, e então encontraram os de Jacob.

- Bom dia. – Disse entredentes, olhando para mim.

Suspirei, me afastando para que entrasse. Esperei que passasse pela porta, com as mãos nos bolsos do grosso casaco, e então fechei a porta. Foi um alívio cessar a entrada daquela brisa gelada.

Me coloquei ao lado do meu namorado, tentando ignorar o clima constrangedor no ambiente.

- Achei que tivessemos conversado, outro dia. – Disse, olhando para Jacob. Às vezes eu odiava sua maneira direta de falar.

- Só vim lhe trazer um presente.

O Cullen ergueu as sobrancelhas, ignorando quando segurei seu braço. - Um presente? – Perguntou, confirmando.

- É só o Rex. – Respondi por ele, sendo totalmente ignorada.

- É. É um rato. Desses de gaiola, e... Que comem queijo.

Meu namorado ficou imovel, piscando silenciosamente enquanto Jacob parecia... Sorrir?

- E por que acha que Bella iria querer um rato?

- Eu não tenho nada contra ratos! – Franzi a testa, erguendo a cabeça para enxergar melhor seus olhos.

- Eu percebo que não. – Edward sorriu torto, e Jacob fez uma careta ao entender sua piada.

- Bella gosta de presentes. – Jacob disse.

Gosto?

- Ah, gosta? – Edward cerrou os olhos. Ele cruzou os braços junto ao peito, e minhas mãos, que antes seguravam seu antebraço, ficaram presas ali. – Você, então, acha que entende muito de suas preferências?

Franzi o nariz, frustrada. Eles conversavam como se eu nem mesmo estivesse presente. Fechei os olhos, bufando enquanto ambos continuavam em uma discussão boba.

- Eu vou te dar só mais uma dica, Black! Porque parece que você não ouviu muito bem da primeira.

Edward deu um passo a frente, sem perceber que eu ainda estava presa ali. Cambaleei, e me vi livre quando o mesmo estendeu o braço, apontando o dedo na cara de Jacob.

- Não preciso das suas ameaças, Cullen.

- Pois eu acho bom você começar a levá-las a sério.

- Ah, você acha?

Eles estavam muito próximos, suas testas quase coladas. Dei um pulo, mas ainda assim não consegui alcança-los.

- Não estou para as suas brincadeiras. – Edward disse. – E pensei que tinha sido bem claro da primeira vez.

- AÍ! – Ergui os braços, tentando fazer com que me percebessem ali. – Se não estiverem muito ocupados, eu queria...

- Eu não tenho medo de você. – Jacob me cortou, como se nem tivesse falado.

- Não se mete comigo, garoto. Você não sabe no que...

- AAAAAAAH! Dói tanto!

Respirei fundo, jogando o corpo para trás e fingindo passar mal. Fiz uma pequena careta quando minhas costas bateram no tapete, mas permaneci ali, completamente imovel.

- Eu vou lutar pelo quero. – Ouvi Jacob dizer.

- O que você quer já é meu. E deveria se conformar com isso.

Abri um olho só, sem acreditar. Eles contiuaram ali, quase se beijando, enquanto seus olhos ardiam na mais pura raiva.

- Cai fora, garoto. – Edward pois um fim definitivo a conversa.

Jacob estufou o peito, batendo seu ombro no de seu mais novo inimigo como se o desafiasse. Os dois se fuzilaram com os olhos uma ultima vez e, poucos segundos depois, ouvi a porta da frente bater.

- Bella! – Edward chamou, ainda um pouco nervoso. – O que está fazendo deitada aí? Vamos logo, amor.
Coloquei ambas as mãos no rosto, soltando um gritinho abafado.

(...)

Eram 19:00, exatamente, quando Charlie estacionou a viatura na frente da casa dos Cullen. Eu já estava lá (e aguentara Alice me arrumando por longos e cansativos minutos). O resultado pareceu satisfatório. Ao menos para Edward, que me adorou naquele vestido azul-marinho.

- Respire. – Ele me disse, enquanto observavamos pela janela Charlie descendo do carro e indo em direção a porta.

Ofeguei, virando de frente para ele e o abraçando. - Não sei porque tanto drama! Ele foi assim com todos os meus namorados, e... Argh! Está certo que não foram muitos, mas ele já deveria ter se acostumado.

Edward riu, tocando a ponta de meu nariz. - Quem está fazendo tempestade em copo d'agua é você. Acalme-se, Bella. Eu já conheço Charlie há um bom tempo, assim como meu pai. Eles nos adora, e sabe que tipo de cara eu sou.

Ergui as sobrancelhas, mantendo os braços em volta de seu pescoço. Edward abriu um sorriso de tirar o fôlego, roçando a língua suavemente em meus lábios antes de apertar, com vontade, minha bunda. - Do tipo totalmente... Respeitoso. - Ele disse.

Cerrei os olhos e recebi um beijo jogado no ar. - Sem dúvida. - Completei.

Meu namorado abaixou o rosto devagar, pronto para ocupar seus lábios com meu pescoço - não fosse a interrupção de Alice. Ela puxava Jasper pela mão, que ainda ria de algo que Emmett dissera do outro lado da sala.

- Prontos? - Perguntou.

Fiquei na ponta dos pés (com a ajuda do salto que usava) e olhei por cima do ombro de Edward. Somente meus olhos estavam de fora, e Charlie nem me percebeu ali, abraçada a ele. Carlisle abriu a porta, junto de sua mulher, que sorria abertamente. Quando meu pai abriu a boca para cumprimentá-los, Alice ligou o som mais alto do que o necessário, deixando tocar uma música que logo reconheci. "If I needed someone", dos Beatles.

Minha cunhada recebeu um olhar reprovador de sua mãe, e o som ficou mais baixo aos poucos. Agora eu podia ouvir a conversa na porta.

- É claro, Esme! - Meu pai riu, obedecendo o pedido de Carlisle e lhe entregando o casaco. Ver Charlie sorrir era raro, não porque era rabugento, mas sim porque ele não tinha muitos motivos para tal. - Adoro sua comida. - Completou, sendo guiado até o sofá onde Emmett e Rosalie estavam.

Edward chamou meu nome baixinho, e eu fiquei em pé corretamente, olhando seu rosto. Indicou todos com a cabeça, reunidos e acomodados nos sofás próximos ao piano. Assenti e, de mãos dadas, caminhamos até lá.

- Boa noite. - Meu namorado disse, amistoso. Charlie virou a cabeça e, para minha surpresa, sorriu. Isto é, até que viu nossas mãos entrelaçadas.

- Olá. - Ficou em pé, esticando a mão. Edward entendeu e soltou a minha, cumprimentando seu sogro. - Deve fazer mesmo um bom tempo que não o vejo, rapaz. Da última vez estava mais magro e... Você esteve doente?

Todos fizeram um silêncio constrangedor, com exceção de Rosalie e Jasper, que de nada sabiam. Eu soltei um pigarro, e os olhos de meu pai se voltaram para os meus. "Está linda", murmurou.

- Culpada! - Alice ergueu a mão, rindo. Todos a acompanharam.

(...)

O jantar estava ótimo, é claro. Depois que todos terminaram, Esme foi para a cozinha cuidar da louça, sendo ajudada por Rosalie. Ela realmente acreditava na pose da garota? Minha prima nunca foi do tipo 'dona-de-casa', mas parecia muito boa em bajular sua sogra. Jasper pareceu pensar o mesmo que eu, rindo silenciosamente quando sua irmã a seguiu.

- E por que desistiu da faculdade? - Charlie perguntou a Edward. Aquelas perguntas íntimas demais estavam começando a me irritar.

Meu namorado ficou inquieto ao meu lado, e olhou para seu pai, como se pedisse ajuda. O médico mordeu o lábio inferior, sentado ao lado de meu pai, permanecendo em silêncio.

- Esme... Precisava de ajuda no restaurante. Eu começei a ajudá-la, pensando que seria momentâneo, mas realmente gostei de fazer aquilo. - Edward sorriu um pouco, pegando minha mão antes de continuar. - E, se não fosse por essa escolha, Bella não teria entrado em minha vida.

Nossos olhos se encontraram, e eu sorri. Era essa a questão? Nossa vida inteira foi nos levando ao dia em que pudesse encontrá-lo e ajudá-lo? Enfrentar a doença juntos estava em nosso destino? Acho que nossos olhares sustentaram um ao outro por tempo demais, porque tanto Charlie quanto Carlisle pareciam constrangidos quando finalmente nos viramos.

- Ei, Edward! - Emmett chamou, parado com sua irmã próximo a janela. Ele levantou, me deixando sozinha com meu pai, primo e sogro.

Eles continuaram a falar sobre... Qualquer coisa. Após alguns minutos observando Edward e Emmett conversando, tensos, pedi licença e me levantei.

- Aconteceu alguma coisa? - Parei ao lado de Alice, que segurou minha mão, mordendo o lábio inferior.

Edward suspirou, mas parecia se divertir. - Emmett estava... Planejando pedir a mão de Rosalie em casamento esta noite. - Ergui as sobrancelhas, visivelmente surpresa. - Mas... - Continuou. - Perdeu a aliança.

Nossos olhos se encontraram. Após alguns segundos, eu e meu namorado caímos na gargalhada, para a raiva de Emmett. Alice soltou um riso também, cobrindo a boca com a mão livre.

- Não tem graça! - Reclamou.

- Como você pode ser tão... - Edward parou, procurando a melhor palavra. Em seguida, voltou a rir. - Tão Emmett!

O grandalhão cruzou os braços, lançando vários olhares para a cozinha, com medo de que Rosalie voltasse.

- Vamos procurar. Era uma caixinha preta, normal, certo? - Alice perguntou.

Ele assentiu, soltando um suspiro. Minha cunhada se virou para as pessoas no sofá, dando uma desculpa qualquer para puxar seu namorado junto conosco até o andar de cima.

(...)

Nem mesmo o quarto de Esme e Carlisle ficou livre de nossa busca. Emmett estaria fazendo piadinhas se não estivesse tão triste. Quem diria... Ele, casando? Apesar da surpresa, já estava passando da hora.

Fiquei encarregada de vasculhar o quarto de Edward. E confesso que gastei mais tempo analisando seus pertences do que procurando a aliança. Havia tantas coisas interessantes ali! Seu diploma do colégio, fotos da infância e adolescência com os irmãos, diversas partituras, livros sobre todos os assuntos possíveis, postêres de bandas que não conseguiram espaço nas paredes...

Agradeci por ter conseguido aquele tempo sozinha com seus pertences. Parecia que sempre havia algo mais para descobrir sobre sua vida - e eu me interessava por cada mínimo detalhe. Após vários minutos, decidi ir atrás do que realmente importava. Guardei tudo em seu devido lugar, começando a vasculhar o lado do quarto que pertencia a Emmett. Tudo ali parecia ser o exato oposto. A cama de Edward, tão arrumada e impecável, não combinava nem um pouco com o amontoado de cobertores e restos de farelo de Emmett.

Eu estava procurando a aliança. Realmente estava. Mas alguma coisa me chamava para o guarda roupa de Edward... "Pode estar por aqui, não é?" Pensei comigo mesma, abrindo a porta do armário dele novamente. Olhei em volta, despreocupada, pegando uma caixa de sapato no fundo. Sentei na beirada da cama, e retirei a tampa.

Nada ali dentro fazia sentido. Haviam flores murchas, pedaços de pedras, uma corrente de ouro, e muitas (muitas) fitas coloridas. Mas, abaixo de tantos objetos estranhos, estava uma foto.

O rosto de meu namorado estava nela. E, ah, como estava feliz! Não era o Edward que conheci. Não, não parecia com ele em nada. Seus olhos tinham um brilho diferente, e pareciam até mesmo estar mais verdes. A cor de sua pele tinha uma tonalidade mais viva, mais... Saudável. Essa era a palavra que eu tentava evitar, mas era impossivel. Ele estava completamente saudável. E eu entendi o porquê, quando meus olhos conseguiram passar para a garota ao seu lado. Ela estava rindo. Eu podia sentir sua felicidade só de olhar em seus olhos, tão vivos quanto os dele. Estavam abraçados, mostrando para a câmera a corrente, que agora estava na caixa. Não havia prestado atenção, mas continha um pingente em formato de laço.

Ousei virar a foto, segurando-a em minha mão. Uma caligrafia apressada estava marcada ali. Meu cenho se franziu enquanto lia.

"Só posso me desculpar. Por tudo. Realmente gostaria que as coisas tivessem sido diferentes. Queria ouvir da sua boca que me perdoa, mas nem eu mesma consegui, ainda. Saiba que eu amo você, de todas as formas, por todas as coisas. E para sempre. Como duas pontas de uma mesma fita.
Tanya. 26 de dezembro."

 A última frase estava grifada. Meus olhos vacilaram para o pingente dentro da caixa, levemente empoeirado e totalmente sem brilho. Era isso que o laço significa? Que as vidas deles estavam entrelaçadas daquela maneira?

Olhei, então, para as diversas fitas jogadas ali, com diversas cores, tamanhos e tecidos.

- Duas pontas... De uma mesma fita. - Sussurrei comigo mesma, analisando e relacionando o pingente com o pequeno texto.

- Se um soltar, o outro despenca.

Ergui a cabeça assustada, vendo Edward parado na porta, com um semblante triste. Joguei tudo dentro da caixa e a fechei rapidamente, soltando um pigarro enquanto levantava, atrapalhada.

- Eu não... Não encontrei. Não está aqui, a aliança.

Ele sorriu de leve, gostando da minha confusão. Com os braços cruzados, aproximou-se, sem nenhuma pressa. Sentou na beirada da cama e me olhou, enquanto eu continuava parada, em pé, segurando a caixa de sapato próxima ao peito.

- Desculpe. - Consegui colocar para fora, somente em um sussurro. - Isso deve ser... Muito pessoal pra você. - Completei, lhe entregando a caixa. Ele negou, me chamando para sentar junto a ele.

Lifehouse – It is what it is
http://www.youtube.com/watch?v=xTo2qyxB0go )

Edward destampou a caixa enquanto eu me ajeitava, cruzando as pernas. Ele pegou a foto, analisando o rosto da garota por longos segundos.

- Ambos descobrimos a doença praticamente ao mesmo tempo. Ela se sentiu culpada, e foi embora. Deixou a foto com essa... Carta atrás. E as fitas. - Sorriu sozinho, pegando uma azul nas mãos. Me senti absurdamente deslocada naquele momento, como se estivesse querendo entrar em uma lembrança que não era minha. - Ela sempre usava alguma no cabelo. Tinha um cabelo longo, sabe? E adorava enfeitá-lo, combinando com a roupa que estava usando.

Não ousei olhar para a foto e confirmar o que dissera. Um buraco começou a se abrir em meu peito, lentamente, como se mãos desconhecidas estivessem tentando deslocar meu coração. Quando a primeira lágrima desceu, eu a sequei discretamente. Era tarde demais; ele havia percebido. Virou-se para mim, secando minha bochecha com o dedo indicador, carinhosamente.

- O que foi? - Sussurrou, deixando a caixa fechada de lado para me abraçar.

Balançei a cabeça negativamente. Várias palavras passaram por minha cabeça, várias maneiras de lhe falar, mas acabei indo direto ao assunto. - Onde eu... Entro nisso tudo?

Ele pareceu confuso. Mais lágrimas tentaram vir, mas eu as segurei. Tentei me soltar de seus braços, e ele deixou, relutante. Fiquei em pé novamente, passando os dedos por baixo dos olhos antes de continuar.

- Onde eu... Entro nessa história? O que eu sou? Existe a garota que você amava... E ainda ama! Olha pra isso. - Mostrei a caixa ao seu lado, soluçando. - Olhe pra si mesmo quando fala dela! Existe ela, e aí eu... E o que eu sou?

- Você é tudo! - Ele ficou em pé, visivelmente chateado. - E sabe muito bem disso.

- Não, não sei! - Estávamos um de frente para o outro agora, mas só eu chorava. - Eu pensava que sabia, até descobrir que você mantém essas lembranças dela, e... Tudo é em vão! Eu tento ajudá-lo, tento colocá-lo pra cima, mas você volta pra casa e senta aí, pensando nela. Tudo o que faço por você não significa nada, não é? Porque somente ela te entenderia. Só ela sabe como é estar no seu lugar, eu não sei nada!

Ele ficou em silêncio, e eu solucei alto quando uma lágrima desceu por seu rosto. Ele ofegou, levando as mãos até a cabeça.

- Meu coração é só seu! - Ele quase gritou, sustentando meu olhar. - Tanya foi... Uma parte muito importante de mim. E agora... Você é!

- Eu não posso ajudá-lo enquanto você não se ajudar, Edward.

Nos encaramos, em silêncio. As poucas lágrimas que havia derrubado, secou, e então outro sentimento tomou conta de seu peito. - Me ajudar? Ah, Bella, você é tão hipócrita! Você não compreende como eu preciso de você! E tudo o que faz é agir como se eu fosse de vidro, e depois praticamente exigir que eu retribua o que faz por mim. Eu mudei por você! Droga, eu comecei a me cuidar, eu... Eu estou, aos poucos, voltando a ser o que era. Você me faz tão bem! Mas sempre acaba arrumando um jeito de mostrar como tem pena de mim.

- Pena? - Consegui soltar, quase em um grito.

- Pena! - Ele repetiu, trincando os dentes. - Você acha que pedir para ficar doente como eu, ou ter "aulas de biologia" com meu pai é o que eu preciso? Eu também sou um homem, Bella! Não, primeiro de tudo eu sou homem. E meu trabalho é cuidar de você, e não o contrário. Já é doloroso demais ver todas as pessoas me olharem como uma aberração, e fica pior ainda vindo de você!

Quando terminou, sua voz estava alta demais. Fechei a porta atrás de nós, encarando-o com um sentimento que não conseguia definir.

- Você me faz sentir vivo. Ou, pelo menos, fazia. Quando não sabia de nada. Quando eu era simplesmente o Edward problemático pra você. Mas agora? Você olha pra mim, e tudo o que vê é um doente!

- Não sabe do que está falando! - Esbravejei.

- Sei muito bem! Sei muito mais do que você! Sei o que eu vejo nos olhos de todos. E não é muito diferente da maneira com que você me olha! Eu preciso de alguém que me faça sentir eu mesmo novamente, e não que me lembre a todo segundo como sou frágil!

- Ah, me desculpe! Eu errei. Deus me mandou a mensagem errada! Eu não devo cuidar de você, devo ignorar tudo o que acontece e fingir que você tem uma vida completamente normal!

- É o que eu quero ter! - Apontou para o peito, trincando os dentes.

- E é o que eu tento lhe dar! Não pode tentar viver se não estiver saudável, primeiramente.

Mais lágrimas desceram por meu rosto quando terminei a frase, e nenhum de nós dois conseguiu dizer mais nada. Como ele poderia dizer tudo aquilo? Ele não percebia como precisávamos um do outro? Eu estava disposta a ajudá-lo. Mas agora, era somente o mesmo Edward que conheci há meses atrás. O mesmo arrogante, tentando manter todos distantes.

- Eu tentei, Edward. Eu realmente tentei. - Ofeguei. - Eu ignorei tudo o que você era, e me concentrei no que estava se tornando. Mas você não consegue! Todos tentam ajudá-lo, e você só enxerga o pior das pessoas. - Minha voz mal saia em meio aos soluços. - Você pensa que eu sou igual a todo mundo! A única pessoa que vale a pena é ela, não é? Por que não liga pra ela? Por que não voltam a ficar juntos, pra finalmente encontrar alguém que não terá pena de você?

Mantive o tom irônico enquanto falava, tentando ignorar a raiva que surgia em meio a mágoa. - Eu não faço parte de nada disso. – Sussurrei. – Não sou eu quem está segurando o outro lado da fita. Ela estava. E, quando soltou, você caiu. Mas não consegue entender que eu quero ajudá-lo a levantar. - Ri baixinho, sem humor nenhum. - Eu já tentei colocá-lo em pé, diversas vezes. Mas, ao que parece, estou fazendo errado, não é?

Ele mexeu a cabeça negativamente, quase em um ato desesperado, tentando se aproximar de mim. Uma última lágrima rolou por minha bochecha, e eu não me preocupei em secá-la. - Não desista. – Sussurrei em seu ouvido, ficando na ponta dos pés. Ele ofegou, e eu abracei seu quadril, suspirando longamente. – Eu quero ajudá-lo. Mas não posso fazer isso sem você.

Nossos olhos se encontraram mais uma vez, e meu peito pareceu se fechar quando vi que estava chorando.
Eu não sabia mais o que fazer. Deveria continuar lutando? No final, valeria a pena? Eu estava dando tudo de mim para aquele homem e, mesmo assim, ele tinha dificuldade para enxergar o quanto o amava. Eu poderia continuar. Sem nenhum problema. Mas meu coração já estava cansado de ser só uma peça desconectada em meio a uma história tão complexa. Como duas pontas de uma mesma fita. Eu não tinha nenhum espaço ali. Estava errada. O destino me deu um rumo errado.

- Eu estou cansada... – Consegui murmurar. – Cansada de fazer tudo para que sua vida fique melhor. Porque parece que estou lutando sozinha. É isso que você vê em mim? Alguém que sente 
pena de você?

Ele não precisou abrir a boca para eu saber qual era a resposta. Suspirei, abaixando meu rosto para conter mais lágrimas que tentavam sair.

O destino de Edward era outro. Aquela garota entrara em sua vida, e ambos conseguiram algo bastante em comum. E eu? Simplesmente caí na história errada, no momento errado. Quando Edward olhasse para Tanya, não veria em seus olhos a reprovação que ele pensa ver nos meus. E é assim que teria que ser. Só havia uma pessoa que o entenderia, e eu poderia parar de tentar. Mesmo que meu corpo todo ordenasse o contrário.


- Ambos estamos cansados demais pra continuar desse jeito, indo contra a maré. Seu coração continua preso em outra pessoa... E, agora, esse é o nosso fim. Mas você ainda tem muita coisa pela frente, Edward. E eu vou estar lá, enquanto precisar de mim.

Nossos lábios se colaram uma última vez, e eu fechei os olhos com força, desejando permanecer daquela maneira com ele para sempre.


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Notas finais do capítulo

Bom...nem vou comentar nada que é pra nãoe stragar o clima '-'
Obrigada a todas pelos comentários. Até o próximo capítulo ^^