Deixei a água quente escorregar pelo meu corpo, numa tentativa falha de tentar me acalmar, milhares de pensamentos invadiam minha cabeça, suspirei cansada tentando tirar as palavras de Justin da minha cabeça, eu não deveria me importar era apenas a verdade, e de qualquer jeito tudo iria acabar daqui a dois meses.

Era melhor não me importar, manter certa distancia emocional das coisas e das pessoas. Sai do banho, me sequei calmamente penteei meu cabelo, me enrolei na toalha e caminhei em pequenos passos para o meu guarda roupa, o qual eu ainda não tinha arrumado, coisa que precisava fazer urgentemente.

Peguei uma blusa preta baby look escrita “Born to be bad”, uma camisa xadrez três por quatro azul marinha que deixei aberta, um short jeans curto com um cinto marrom fino com um nó no meio frouxo, deixando o cinto meio “caído”, peguei minhas botas combate com tachinha, meu anel de bigode, um crucifixo preto e minha pulseira branca de plástico escrito “nerds”.

Passei uma maquiagem mais pesada, delineei bem os olhos que ficaram marcados de preto bem forte, e passei um batom cor de boca. Prendi meu cabelo num coque frouxo e peguei meu celular e minha carteira.

Andei até a porta do quarto do meu irmão e bati impaciente.

― Entra.- ouvi sua voz gritando.

― David, sabia que eu te amo um muitão assim?- falei abrindo os braços.

― O que você quer?- ele perguntou com uma cara de tédio típica dele.

― Porque eu sempre tenho que querer alguma coisa?- perguntei fazendo biquinho.

― Então você não quer nada?- ele falou não crendo.

― Não disse isso também, me leva no shopping?- perguntei pois ele tinha carro e eu só teria no final do ano quando fizesse 16 anos.

― Tudo bem, mas só dessa vez.- ele falou e se levantou e colocou uma blusa.

David era meu irmão mais velho, ele tinha 17 anos, tinha os cabelos castanhos um pouco acima dos olhos, mas não era jogadinho, seus olhos a propósito eram verdes, e ele era alto, me sentia muito baixinha perto dele.

Avisamos nossos pais que estávamos saindo, e fomos em direção a garagem, não prestei muita atenção no caminho pois estava com os meus fones de ouvido de olhos fechados  me concentrando na batida de “Everybody wants something from me” do The pretty reckless.

Senti alguém me cutucando fortemente e tirei meus fones e abri meus olhos, era meu irmão chato.

― Pronto, chegamos, desce logo que eu quero ir.- ele disse quase me empurrando do carro, educado.

― Isso tudo é amor viu? Tchau, valeu.- falei abrindo a porta  mandando beijinho pra ele e saindo, recoloquei meus fones e entrei no shopping.

Como não tinha nada pra fazer,  fui direto comer frozen yogurt, pedi o sabor natural, botei morango, jujuba e chocolate, paguei e me sentei numa mesa que tinha na praça de alimentação.

Senti meu celular vibrar no meu bolso, o peguei e quando vi o seu nome no  identificador de chamadas suspirei e atendi.

― Alô?

― Sam?- perguntou Justin fazendo um arrepio correr pelo meu corpo, pelo simples fato de ele pronunciar meu nome, balancei a cabeça tentando afastar essa sensação e meus pensamentos.

― Fala.- falei normalmente com a boca cheia de frozen.

― Aonde você ta?- ele falou com uma voz meio preocupada?

― Shopping, porque?

― Ah é que eu queria te encontrar, fui na sua casa e você não estava lá.- como assim ele foi na minha casa?

―Vem pra cá então, eu to sozinha de qualquer jeito.- falei e dei de ombros, ele falou um simples “ok.” e desligou.

Uns 10 minutos depois ele chegou, não me levantei como das outras vezes , apenas esperei ele me ver e chegar até mim, só que dessa vez ele estava mas mal disfarçado que das outras vezes, meu deus, ele só estava usando um capuz e um boné pra esconder o rosto, ele tem o que? Probleminha?

― Oi Sam.- ele disse sorrindo e me deu um beijo na bochecha, que meigo.

― Oi.- falei olhando pra cima e voltando novamente meu olhar e minha atenção pro meu frozen.

― E ai o que quer fazer?- ele perguntou sorrindo e se sentando na mesa.

― Tanto faz.- falei simplesmente e tentei esconder minha cara vermelha, que mesmo com maquiagem se dava pra ver de tanto que eu tinha chorado.

― Ta tudo bem Sam? Seu rosto ta vermelho.- ele perguntou franzindo a testa.

― Sim, sempre está.- disse forçando um sorriso, que saiu meio irônico, Justin  foi tentar me beijar apenas desviei o rosto e empurrei o rosto dele para o outro lado e murmurei um “Sai.” emburrada.

― Porque diabos você está assim?- ele perguntou tentando não transparecer a irritação, o que não funcionou muito.

― Não sou um Pokémon, que você escolhe e depois guarda, seu besta. – falei grossa e me levantei brutamente, indo para qualquer lugar que não fosse perto dele.

Logo senti passos atrás de mim, e uma mão segurando meu braço com o empecilho de me fazer parar, me virei tentando segurar as lagrimas.

― Dá pra você me explicar o que ta acontecendo?- ele disse  quase gritando.

― “Eu sei Jasmine, eu sei, ela não vai me atrapalhar em nada, a Sam é só uma ficante ok? Não temos nada sério e nem acho que vamos ter, não se preocupe.” – repeti exatamente o que ele tinha dito.

― Então é isso? Você ouviu?- ele disse indignado.

― Ouvi e isso não é o bastante pra você?- gritei em silencio exasperada.

― Sam, escuta...- ele disse mais calmo, segurando meus dois pulsos com leveza.

― Escutar o que? Que merda Justin.- falei deixando caírem lagrimas do meu rosto.

― Sam, presta atenção.- ele disse virando meu rosto pra ele e enxugando minhas lagrimas.- Sabe porque eu falei aquilo pra Jasmine? Porque eu tava tentando convencer a mim mesmo que não tinha esse sentimento tão forte por você que muito chamam de amor,  você quer realmente saber a verdade? Quer? Sam eu fico morrendo de ciúmes quando a gente ta saindo e você abraça outros garotos que eu não conheço, ou quando algum dá em cima de você ou até quando você fala dos seus ex-namorados. Eu sinto a vontade de ficar do seu lado sempre, a cada minuto, e isso me assusta ok? Me desculpe se eu fui um babaca mas eu não consegui evitar, eu estava com medo ok? -ele disse segurando meu rosto com as duas mãos e olhando profundamente dentro dos meus olhos e quando eu olhei dentro dos dele, tudo que encontrei foi verdade e sinceridade.

― Eu sei que...- ele ia continuar falando mas o interrompi.

― Cala a boca e me beija logo seu idiota.- falei e o puxei pela camisa o deixando mais perto e diminuindo a distancia entre no, era bom sentir a sensação da sua boca grudada na minha, era bom ver como nossos movimentos eram sincronizados, eram bom estar unida desse jeito com ele.

Nos separamos ofegantes, e sorri pra ele ainda com o meu rosto colado no seu, ele me deu um exuberante sorriso de volta.

― Não queria pedir aqui e nem dessa forma, mas melhor agora do que nunca. Sam quer namorar comigo?- ele perguntou olhando diretamente nos meus olhos, o que me fez derreter por dentro.

― Não éramos só ficantes, e nem vamos ter nada sério?- perguntei irônica, ele revirou os olhos e ia começar a falar mas o interrompi antes que ele começasse.- Claro que aceito seu bobo.- disse extremamente feliz e o abracei um tanto feliz, ele me abraçou de volta e depositou um beijo no topo da minha cabeça, naquele momento tive a certeza que esse era um dos momentos mais felizes da minha vida.