P.s. escrita por Juhhjulevisck


Capítulo 1
Capítulo único




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Thalia definitivamente precisava daquele descanso. Gostava de ser uma Caçadora, mas aquilo era deveras desgastante. Ártemis permitira que ela tirasse duas semanas de “férias”, que a meio-sangue considerava merecidas.

Decidira viajar por alguns estados norte-americanos, sem um rumo definido. Andava de cidade em cidade, parando em hotéis de estrada e depois retomava seu caminho. Embora não fosse a melhor viagem do mundo, era divertido.

Após uma semana de viagem, Thalia estava agora em Detroit. Alugara um quarto num hotel no centro da cidade, que embora não fosse muito luxuoso, era confortável. A lua já estava no céu, rodeada de estrelas que eram ofuscadas pelas luzes dos postes. Ela decidira sair um pouco, e aí aproveitaria para comer alguma coisa e aproveitar o cenário noturno da maior cidade de Michigan.

Comprara uma pizza e um capuccino e decidiu voltar para o hotel e comer lá mesmo. Não estava muito a fim de comer fora. A volta para o lugar onde estava hospedada fora tranquilo; o tempo estava calmo e aquilo ajudou a tornar a caminhada da Caçadora um pouco mais satisfatória.

Já no hotel, voltou rapidamente para o quarto que havia alugado e largou a pizza e o copo de capuccino em cima de uma estante de madeira. Tirou a jaqueta jeans que usava e a jogou sobre a cama, sem dar muita atenção à mesma. Ligou a TV que havia no quarto e procurou algum canal interessante; achou um filme que despertou sua atenção na HBO e deixou a televisão naquele canal mesmo.

Cortou um pedaço de pizza, pegou o capuccino e se sentou na cama, assistindo o filme. Havia um criado-mudo ao lado da mesma, e Thalia deixou o copo ali mesmo. E, naquilo, viu que a bebida que comprara não era a única coisa que pousava sobre o móvel. Havia um envelope, que Thalia tinha certeza não ter deixado ali.

Desconfiada, largou a pizza e pegou o pedaço de papel nas mãos, tentando ver a quem era endereçado. Percebeu um pequeno “para Thalia”, escrito numa caligrafia familiar, no canto inferior do envelope. Seja lá quem havia lhe enviado a carta, como sabia que ela estava ali? E quem conseguira entrar no quarto no meio tempo em que havia saído? Tinha certeza não ter se ausentado por mais de quarenta minutos.

Percebeu que fazer tais perguntas era inútil. Abriu de vez o envelope e tirou de lá um papel fino levemente amassado. Desdobrou-o com cuidado e começou a ler o conteúdo.

Thalia, sei que isso é loucura. Não devia estar lhe enviando essa carta, tendo em vista a nossa situação. Mas eu preciso te encontrar. Não agüento mais ter que viver sem você ao meu lado. Preciso te ver uma última vez. Ligue quando ver isso.

P.S.: Você está linda hoje.

Thalia se perguntou, por apenas alguns segundos, de quem poderia ser a carta. Sabia da resposta desde o início, mas se recusava a acreditar. Havia uma guerra acontecendo, e Luke e ela estavam em pólos completamente diferentes.

E justamente agora, que ela estava conseguindo esquecê-lo, ele lhe enviava aquilo? Afinal, a Caçadora o amava desde quando o conhecera; quando soubera o que acontecera a ele, decidira que a melhor opção que tinha era tirá-lo de vez da sua mente. Haviam se tornado inimigos e, infelizmente, não havia nada que ela pudesse fazer.

  Tentou, por alguns segundos, dizer para si mesma que não precisava ver Luke. Continuaria sua viagem tranquilamente e fingiria que aquilo não havia acontecido. Mas não podia fazê-lo. Aquela carta nas suas mãos era real e a caligrafia de Luke também.

Então, simplesmente não se importou se usar telefones celulares atraía monstros ou qualquer coisa do tipo. Precisava ligar para ele e, pelo menos, ouvir a sua voz. Apanhou o iPhone e discou rapidamente um número; infelizmente, sabia o número de Luke de cor há alguns anos.

Levou o telefone ao ouvido e se odiou por estar fazendo aquilo. Não podia estar fazendo o que fazia agora. Ligar para Luke só a faria lembrar que amava o filho de Hermes e aquilo só faria o amor que sentia por ele ser desenterrado do seu coração.

Thalia? — A voz do outro lado da linha soou hesitante. Thalia engoliu em seco ao ouvir a voz de Luke. Era tão bom, tão reconfortante. Fazia o coração dela pular dentro do peito e todo o seu corpo entrar em delírio.

— Sou eu, Luke — confirmou. Ela não podia ver, mas sentiu que, do outro lado da linha, Luke sorriu.

Thalia... Eu preciso te ver. Uma última vez. Por favor. — A voz de Luke soava embargada. Lágrimas se formavam nos olhos cinzentos de Thalia e ela torcia para que elas não caíssem.

— Eu também.

— Posso ir até o seu hotel?

Thalia queria dizer que não. Queria desligar o telefone na cara de Luke e nunca mais ouvir sua voz de novo. Mas a forma com que o seu coração batia não permitia que ela fizesse isso. Ou se arrependeria por tê-lo visto ou se arrependeria por ter partido para longe sem sequer dizer adeus.

E, sinceramente, ela tinha pavor da segunda opção.

— Se você pode? Você deve, Luke. — Não evitou um sorriso ao terminar de dizer isso. Não ganhou uma resposta. A ligação fora interrompida e, por alguns segundos, Thalia temeu que aquilo fosse uma brincadeira.

•••

A ansiedade crescia no coração da Caçadora de uma forma assustadora. Tentou se concentrar novamente no filme que passava na HBO – era realmente um filme que agradava Thalia – mas aquilo parecia ser simplesmente impossível.

Os minutos corriam com uma velocidade assustadoramente lenta. A cada segundo que passava, a ligação parecia ser uma mentira e ela desejava que ela nunca tivesse existido. Quem sabe havia sido apenas uma ilusão e ela nunca existira mesmo?

Ouviu, então, três toques hesitantes na porta. Correu para a mesma, num movimento tão impulsivo que fizera com que ela quase tropeçasse nos próprios pés e caísse no chão. Abriu rapidamente a porta e pensou que a cena que via era um sonho.

Luke estava ali.

Não da maneira como se lembrava, mas estava.

Seu cabelo loiro estava mais cinzento e ele estava mais magro do que de costume. Seus olhos azuis pareciam doentes e a cicatriz na sua bochecha parecia mais saliente do que comumente. Mas ele continuava incrivelmente lindo.

Luke, ao ver Thalia, abriu o sorriso mais sincero que abrira por anos. Simplesmente não podia acreditar naquilo. Ela estava mais linda do que o normal e ele sentia seu coração bater mais rápido e mais forte do que jamais havia batido.

 Crescia entre eles uma tensão que, aos poucos, se tornava quase palpável. Ambos queriam falar algo, mas não havia nada que eles pudessem falar. As palavras simplesmente morriam na garganta deles e, por fim, nenhum dos dois dizia nada. A única coisa que faziam era trocar olhares e sentir um alívio no peito tão grande que nenhum deles conseguia suportar direito.

— Luke... — Thalia disse, enfim. E então Luke percebeu que, afinal, ele não queria escutar nada e nem dizer nada. O que ele queria dispensava quaisquer palavras.

— Não diga nada. — E puxou-a pela cintura, selando seus lábios em um beijo.

Nem Luke, nem Thalia, jamais havia sentido uma sensação daquela. Estar ali, junto com a garota que ele deixara com muita dor no coração, sentindo finalmente que não havia guerra, não havia Cronos, havia apenas amor. O amor deles.

Depois de um tempo que eles desejavam ser interminável, se separaram, em busca de ar. E então se perderam um nos olhos do outro. Sabiam que o tempo corria e que, em breve, teriam que se separar. Mas enquanto pudessem adiar esse momento, eles o fariam.

— Thalia, eu te amo. — Luke declarou, sentindo os olhos ficarem um pouco mais úmidos do que normalmente.

— Eu também te amo, Luke. Sempre amei.

O garoto puxou Thalia para um abraço, e tudo o que fizeram pelos minutos seguintes foi ficar naquele abraço, adiando o adeus que ambos sabiam ser certo. Enfim, Luke desfez o abraço, com uma dor crescente no peito.

— Então... É agora que nós dizemos adeus? — Thalia perguntou com a voz embargada e um sorriso amargo.

— Sinto muito, Thalia. Por tudo o que aconteceu. — Precisava dizer aquilo antes que não tivesse mais tempo. Se tivesse que se separar novamente de Thalia sem nem um adeus, ele não suportaria o arrependimento.

— Eu não te culpo. Não sei o que faria se estivesse na sua situação. — Na verdade, Thalia o culpava sim. O culpava por tudo o que tinha feito e por ter impedido que eles estivessem felizes um ao lado do outro em uma hora daquelas. Mas ela simplesmente não conseguia olhar nos olhos culpados do garoto à sua frente e não desculpá-lo. Era impossível.

— Então, o que acontece agora? — Thalia perguntou.

— Você sabe o que acontece agora. — Luke tomou as mãos da Caçadora nas suas e olhou dentro dos seus olhos tempestuosos.

— Adeus? — Thalia sabia a resposta, só não queria aceitá-la com tal facilidade.

— Olhe, eu juro... Nós ainda vamos recomeçar. Teremos uma vida juntos. Só nós dois. O que tem a fazer é só... Esperar essa guerra chegar ao fim. Um dia, Thalia, eu juro, nós ficaremos juntos. 

— Então esse não é um adeus?

— Adeus é para sempre. Não estou te dando adeus. Quero que seja mais como um até breve.

— Então até breve, Luke. — Thalia disse com um sorriso. Luke o correspondeu e eles deram um último beijo de despedida. Com dor no coração, ele deslizou os dedos para longe dos de Thalia e partiu pelo corredor do hotel.

A Caçadora, assim que Luke deu as costas, deixou que lágrimas escorressem pelo rosto. Entrou no quarto e fechou a porta atrás de si. Deitou-se na cama e permaneceu ali até que o sono lhe atingisse.

•••

Thalia dormiu por horas e acordou quase meio dia, ainda com os olhos inchados da noite anterior. Espreguiçou-se e se sentou, coçando os olhos. Instintivamente, olhou para o criado-mudo ao seu lado e viu outro envelope. Pensou ser o mesmo de antes, mas sabia que não era, pois não havia deixado a primeira carta ali.

Pegou-o e viu que, mais uma vez, estava endereçado a ela. Abriu o envelope com cuidado e tirou a carta de lá. Definitivamente, não era a mesma. O papel era um pouco mais grosso e não estava amassado como a carta anterior.

Thalia,

Se você está lendo essa carta agora, é porque já nos despedimos. Quero que saiba que tudo o que lhe disse na noite anterior é real e que eu realmente te amo com todo o meu coração.

Com amor,

Luke.

P.S.: Você aceita uma vida nova? Sem guerra, sem Cronos. Só nós dois?

Thalia abriu um largo sorriso ao ler o P.S. Então, aquela era a intenção de Luke? Abandonar tudo e esquecer o passado? Apanhou o iPhone e enviou uma mensagem ao celular dele. A mensagem não era longa e muito menos uma enorme declaração de amor.

•••

Luke já estava em um ônibus rodoviário para longe de Detroit quando ouviu o toque de mensagens do celular. Ao ver que a mensagem vinha de Thalia, se apressou em vê-la. Antes de ler a mensagem em si, se surpreendeu com o fato de ela ser deveras curta. Mas depois de lê-la, ele sorriu como jamais havia sorrido antes.

P.S.: Eu aceito.


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Notas finais do capítulo

Enfim... Ideia meio sem noção. Anyway, mereço reviews?