Não foi como nos dramas, e muito menos era a noite mais fria da sua vida, apesar de que seria muito mais poético se aquele exato dia tivesse sido. Mas uma coisa era certa, até aquela hora de seus  14 anos, não tão bem vividos como ele e mais todo adolescente na face desse vasto planeta queriam ter vivido, aquela era a pior situação que havia enfrentado.

   Era apenas uma criança, não entendia direito que ali não era o auge de sua existência e toda as decepções seriam pro melhor. Pensava e sofria e ingenuamente achava que o agora era na verdade não só o presente, mas o futuro e universo, tão entrelaçados que um inibia a força do outro.

   Com um adeus sussurrado no outro lado da linha e depois com o irritante som do telefone mudo, Takanori contemplava a parede. Sozinho. Estava sozinho, não apenas no quarto, mas sozinho. Em todos os aspectos, sozinho.

   Respirou e expirou e respirou de novo e não chorou, mesmo com a dor física e a psicológica e a falta de ar que surgia cada vez que entendia mais ainda que não haveria um amanhã de “nós”, mas sim a continuação do tempo em que tudo o que ele estava fadado a ser era o “eu” que jazia esgotado, pernas embaladas no edredom e costas repousando na gélida parede.

   Takanori queria gritar até pontadas na sua garganta anunciarem que ele devia parar, queria se jogar da varanda e ver se quebrava algo ou morria de uma vez, rolar no chão, bater a cabeça na parede até conseguir construir um portal para o quarto ao lado, queria fazer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo.

   Ele só queria sentir algo além dessa dor e miséria.

   Assim, ao passar dos dias, ignorou e dormiu e perdeu o apetite e ignorou mais e acabou parando no hospital por anemia consequente da depressão.

   Estava fraco e debilitado e sentindo repulsa do cheiro da comida hospitalar.

   Mas mesmo assim, tudo estava bem.