Se Draco tivesse parado um pouco para pensar antes de abrir a porta com certeza teria se perguntado como Hermione Granger conseguiu sair de casa no frio vestida apenas com um pijama e casaco. Mas considerando que Draco não teve tempo de pensar antes que Hermione entrasse em seu apartamento e quase o matasse com um olhar, ele foi até bem rápido ao pensar que já era bem tarde para se falar de trabalho.

E apesar da súbita aparição dela, ele percebeu que ela estava extremamente agitada, não havia tido tempo de prender os cabelos e o seu pijama era do Snoop:

_Fã do Snoop, Granger?

Teria sido engraçado, não fosse a pergunta que ela soltou em seguida:

_Então gosta de mim porque sou a cara da sua falecida esposa, Aimée?

Draco não esboçou reação. Ali estava Hermione perguntando sobre Aimée, só que alguma coisa não se encaixava na história e a principal parte era de como Hermione soubera da história. Pela primeira vez em muito tempo ele fraquejou diante de alguém, suas pernas tremeram e sentou-se para pensar.

Levantou a cabeça e a fitou:

_Como soube da Aimée?

_Alguém me contou. E depois fui procurar para saber quem era e então notei porque pensou que gostasse de mim.

Draco se levantou e a encarou:

_Pensei que gostasse?

_É, pensou que gostasse de mim. Por isso se aproximou, me seduziu, você foi um canalha!

_Canalha? Sério, não estou entendo do que exatamente está me acusando, Granger.

_Ah, não sabe? Então vai negar que não acha que sou parecida com a Aimée?

_Sim, não vou negar, vocês se parecem muito. Mas não sei o que isso tem a ver.

_Cínico! Sua vida com a Aimée foi destruída e pensou que poderia reconstruí-la com alguém parecida com ela, ou seja, eu!

_Você está louca, Granger? Nunca pensei nisso!

_Ahh, pobre Draco! É tão inocente que nunca notou a semelhança entre mim e sua esposa. Pobre, pobre Draco!

Ele a segurou pelo braço:

_Granger, pare com isso, está fora de si. Não consegue perceber as loucuras que está dizendo?

_Não, Draco! – lágrimas começaram a escorrer por sua face. – Não, eu não percebo. Para mim não são loucuras, são a verdade. Por que outro motivo se aproximaria de mim? Posso ter o rosto dela, mas não sou ela! Não sou tão sofisticada, meiga, gentil ou encantadora. Não sou assim!

Draco soltou então um longo suspiro e abraçou Hermione de encontro a seu peito, percebendo que a garota já começava a soluçar. Ela continuou dizendo:

_Imagina o quanto me dói perceber que foi tudo uma mentira? Pensei que você estava olhando para mim e no entanto, estava só atrás de um fantasma. Eu me deixei te amar, te querer, eu mudei meu modo de vestir só para te chamar a atenção. E no final, nunca foi a mim, Hermione Granger, que você quis, sempre foi apenas ela, Aimée.

Ele a sentia tremer enquanto chorava e sem conseguir dizer qualquer palavra, só afagou seus cabelos enquanto o choro dela começava a molhar sua camiseta. Enquanto isso diversas lembranças passaram por sua mente.

Quando ele havia notado a semelhança entre elas? Não sabia dizer se já estava ou não apaixonado por Hermione quando percebeu, mas tinha certeza que ela havia chamado a sua atenção bem antes. Talvez tenha sido no elevador, ou quando ela chegou encharcada em sua casa. Seja como for, foi somente depois da transformação dela que viu a Aimée.

Suspirou de novo e a pegou no colo, enquanto ela ainda continuava chorando. Sussurrou em seu ouvido:

_Vai ficar tudo bem, prometo. – e a levou para o quarto, a deitando na cama.

Ela levantou o rosto do peito dele e o encarou com os olhos vermelhos. Não tinha mais o que dizer. Então ele falou:

_Eu sei que não é a Aimée. Podem até ter o mesmo rosto, mas são completamente diferentes e consigo ver isso. Me apaixonei por você, Hermione. Não foi pela Aimée ou por qualquer outra pessoa, mas somente por você. Me entende?

Ele acariciou o rosto dela:

_Eu amei muito a Aimée, não vou negar e sofri demais com o que aconteceu. E depois, me envolvi com diversas mulheres e quando te vi pela primeira vez tive medo. Não queria, mas acabei me envolvendo e me apaixonado por você. Só que você não se decide.

_Eu tenho medo, Draco. Trabalho para você e isso não é certo.

_Então o certo é ficarmos longe? É isso mesmo que você quer?

_Não...

_Hermione, já tive que me separar de alguém que gostei muito, não me peça para fazer isso de novo e por um motivo tão ridículo. Se não quer que ninguém saiba, por mim tudo bem, só não quero ficar sem você.

_Também não quero ficar sem você. – e dizendo isso o beijou com força.

Por fim, deitaram-se abraçados e dormiram.

Mal chegou ao escritório e Pansy já percebeu que havia uma leve mudança no ar. Tanto Draco como Hermione estavam meio sorridentes, como duas crianças que compartilham um segredo, e esse clima também deixou Pansy feliz.

Ela entrou no escritório do seu chefe e fechou a porta:

_Então se acertaram, não?

Draco sorriu:

_Não sei do que está falando.

_Por favor, não insulte minha inteligência, Malfoy. Está agindo como se eu não te conhecesse mais do que você mesmo até.

_Sério, não sei do que está falando, Pansy... – e riu.

_OK, ok, vamos fingir que está falando a verdade e que eu acredito nisso. Vou trabalhar antes que volte ao humor de praxe. – e saiu deixando Draco com seus pensamentos.

Já que não tinha conseguido nada com Draco, ou quase tudo dependendo do modo como interpretava os pequenos sinais. E foi isso que ela foi correndo contar para Luna, assim que se viu livre dos trabalhos matinais.

Pansy era toda sorrisos enquanto contava as novidades no refeitório.

_Consegue imaginar, Luna? Draco Malfoy, o Don Juan, de romance novamente! É quase inacreditável! E pensar que eu não dava nada pela Granger...

_E agora dá? – perguntou Luna, enciumada.

_Claro que não, bobinha. Sabe muito bem que nunca a vi assim e não será um banho de loja que vai mudar minha opinião. Continuo não dando nada por ela, mas realmente me surpreendeu que justamente ela conseguisse derreter aquele homem.

_Mas você bem sabe por que ela conseguiu. Todo mundo consegue perceber a semelhança.

_Sim, está certa. E é tão estranho, como duas pessoas poderiam se parecer tanto? Elas são como gêmeas.

Pansy percebeu que de repente Luna ficou um tanto pálida. Por um breve momento a morena pensou que talvez a loira escondesse um segredo dela. Mas qual seria?

_Não seja, boba, Pansy. Você bem sabe que eu conhecia Aimée desde criança, eu saberia se ela tivesse uma irmã gêmea ou algo assim. – disse dando uma generosa mordida num bolinho. – Vai ver ela é só uma daquelas sócias que a BBC sempre faz documentários.

_Não pode realmente acreditar nisso, né? Quais as chances de elas nascerem no mesmo país?

Luna levantou-se:

_Não sei, e sinceramente não quero saber! Só sei que não vou com a cara dessa Granger e ponto final!

_Ok, ok. Não vamos mais falar sobre isso, já percebi que este assunto te chateia e só falei nisso porque estou feliz pelo Draco ter enfim seguido em frente. – disse indo em direção a porta.

_E é justamente por isso que o odeio tanto. – sussurrou Luna.

Hermione sabia que deveria se sentir feliz, havia deixado todos os seus medos e estava vivendo seu amor. Mas ainda havia algo que a incomodava e que não a deixou dormir a noite. Algo em toda a história de Aimée, sua depressão, seu suicídio, tinha deixado a sensação de que existia um segredo que ainda devia ser revelado.

Ainda faltava ouvir um lado da história, o lado que era acusado de provocar toda a tristeza de Aimée: Harry Potter.

Ela abriu a gaveta e remexeu um pouco nos papéis que estavam ali. No meio de tantos recibos, notas e recortes, havia um pequeno cartão de visitas com as iniciais H. P., com letras douradas e ficou pensando se deveria ou não ligar. Por um momento a hesitação a congelou, mas a simples lembrança do olhar de Molly quando ela lhe contou foi suficiente para fazê-la discar o número de telefone.