Amante Conquistado escrita por leel


Capítulo 8
Capítulo 8




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Alysia não conseguia dormir. Agora, virada de barriga para cima, os braços sob a cabeça, olhava para o teto na escuridão. Perdera a noção do tempo e já não sabia se era dia ou noite.

Respirou fundo, tentando repassar todos os acontecimentos. O líder daquela gente estranha ao qual Butch se juntara dissera-lhe que eram imigrantes. A idéia de uma máfia estrangeira ainda passava por sua cabeça. Sim, podiam muito bem ser imigrantes. Falavam uma língua estranha e usavam termos no mínimo inusitados para se referir a algumas coisas quando falavam em inglês.

Não parecia mais tão estranho que Butch tivesse ido morar com eles. Se conhecera a esposa, era natural que agora morasse com a família dela. E, para alguém tão abandonado quanto Butch, aquilo deveria ser uma bênção.

Seu instinto de policial não lhe permitia ignorar que havia algo de errado com as atividades deles. Ainda não esquecera dos homens mortos no beco. Iria perguntar de novo ao ex-colega quando chegasse a hora. Sendo policial como ela, no entanto, seria difícil. Ele esconderia tão bem quanto ela pressionaria.

De todo jeito, não iria atrapalhar a felicidade dele. Agora ela sabia onde ele estava, não sabia? E sabia que estava bem. Isso era tudo que importava e era o suficiente para acalmar seu coração. Pelo menos tivera explicação para o sumiço de alguém que fazia parte de sua vida, mesmo que não intimamente.

Tudo acontecera de modo tão absurdo, que ela custava a crer que estava ali naquele quarto. Queria sua vida de volta. Queria sair dali, ficar em sua casa, com suas coisas, sua rotina.

E ainda havia aquela história de a vida dela estar em perigo. Jamais imaginou algo assim. Policiais sempre lidavam com o submundo. Aquilo que os novos amigos de Butch enfrentavam devia ser o submundo do submundo. Rezava para que tudo aquilo acabasse logo.

Já não estava tão assustada com o homem que fora designado para vigiá-la. Alguém que se preocupasse com o bem-estar de outro – ainda que de um jeito meio torto – não deveria ser mau em sua essência. Ela sabia o que a convivência com o pior da humanidade podia fazer a uma pessoa. Vira Butch definhando. Via a si mesma lutando para manter a sanidade. Era compreensível que todos aqueles homens tivessem ficado tão desconfiados e duros.

Agora era ter paciência. E torcer para que tudo acabasse bem e ela risse ao lembrar dessa história tão bizarra.

“Também não consegue dormir, humana?” A voz do cão de guarda parecia um trovão dentro daquele quarto.

Precisava mesmo conversar com ele?

“Sei que está acordada. Me responda”.

Sim, precisava.

“Pare de me chamar assim. Meu nome é Alysia”.

Ouviu uma risadinha malandra vinda de algum lugar no escuro.

“Tudo bem, Alysia. Você é decidida. Gosto disso”.

“Pena não poder dizer o mesmo de você”.

“Não me importo com isso. Não vai mudar minha opinião sobre você”.

Então, ele queria papo.

“Você é duro na queda”.

“Pode apostar”.

As luzes se acenderam. Como?

“Olhe para mim”, Vishous disse. “Quero vê-la”.

Alysia suspirou. Mas virou-se.

Agora podia olhar para seu guardião com mais calma. Cabelos escuros caindo sobre os olhos. Tatuagens ao redor de um dos olhos e nas têmporas. Cavanhaque. Ali, em repouso, ele era quase normal. Não fosse, claro, pelo tamanho imenso. Pelo ar letal.

E aqueles olhos que ela não conseguia deixar de admirar. Ou não queria deixar.

“Gosta do que vê?” Vishous perguntou.

“Por que essas tatuagens em um lugar tão incomum de seu corpo?”.

“Que engraçado. Já me fizeram essa pergunta uma vez e dei a mesma resposta que vou lhe dar agora: não é da sua conta”.

“Sempre educado, não é?”.

“Já devia estar acostumada”.

“Já saquei qual é a sua, grandão. Você ergue uma muralha em torno de si e não deixa ninguém chegar perto, não é? Mas não se preocupe. Não quero me aproximar de você”.

“Dispenso sua psicologia barata. E também gostaria que me chamasse pelo nome: Vishous”.

Que diabos! Sempre que conversassem seria essa troca de farpas?

“Sim, Vishous. E não é psicologia. Sou apenas uma boa observadora. Que tal tentarmos dormir agora?”.

“Como quiser”.

As luzes se apagaram. E quase imediatamente, ruídos começaram, vindos do quarto ao lado. Ruídos constrangedores.

Butch. E sua mulher.

“Que inferno”, Vishous resmungou. E levantou-se no escuro.

Ainda bem que ele tinha apagado as luzes, pois Alysia estava roxa de vergonha nesse exato momento. Era nisso que dava estar no quarto ao lado do de um casal recém casado. Cobriu a cabeça com o cobertor e tentou não pensar em mais nada. Mas era difícil. Ainda bem que, estatisticamente falando, essas coisas não duravam muito tempo.

De repente, o silêncio. E cinco minutos depois, mais barulho.

Ah, aquela noite – ou dia? – seriam longos.

Vishous voltou com uma garrafa e um copo na mão. Acendeu as luzes.

“Se quiser, trago-lhe um copo”.Disse.

“Obrigada. Não bebo”.

“Pior pra você”.

Diminuiu as luzes. Cara, como ele faz isso sem por a mão em nada?

Alysia virou para o lado, tentando cobrir-se e isolar o barulho ao máximo. Finalmente, após algum tempo, os ruídos cessaram. As luzes se apagaram.

E finalmente ela e Vishous caíram no sono.

***

Alysia acordou com outro tipo de barulho. Ah, como era difícil dormir naquela casa.

Ainda sonolenta, ergueu o corpo e percebeu que era Vishous quem resmungava, remexendo-se na cama. Parecia angustiado.

Deveria estar tendo um pesadelo. Levantou-se e aproximou-se da cama de V. A agonia crescia. Ele parecia desesperado em seu sono ruim. Alysia subiu no colchão e ficou olhando, meio atordoada. Seria uma boa idéia acordá-lo? Estendeu o braço para tentar sacudi-lo levemente.

“Vishous...”.

“Não... não”.

“Acorde, Vishous. Vishous!”.

“AAAAAAAAAAAAH!”.

O vampiro acordou de repente e quase derrubou Alysia. Rápida, ela conseguiu desviar-se e ficou olhando Vishous, ofegante e coberto de suor.

“Eu… muito sangue. A camisa. A minha camisa”.

Butch abriu a porta e entrou abruptamente. Marissa estava logo atrás dele.

Era tudo o que Alysia precisava. Ela, sobre a cama de Vishous, perto dele. O que iriam pensar?

“Ele teve um pesadelo”, tentou se explicar.

“Eu sei”, Butch respondeu. “Vem acontecendo com certa freqüência. Ei, cara, está tudo bem?”.

V. ainda estava sob efeito do pesadelo. Tinha um olhar desesperado.

“O sonho, cara… de novo”.

“Calma, irmão. Você já acordou. Acabou”.

“Nunca acaba. Isso… nunca tem fim”.

Butch virou-se para Marissa.

“Querida, vou ficar um pouco com ele até que se acalme. Tudo bem?”.

“Claro”.Marissa respondeu. E voltou para o quarto.

“Não precisa”, Alysia interveio. “Vá ficar com sua companheira. Eu olho por ele”.

Butch ficou intrigado.

“Tem certeza?”.

“Tenho. Não seria caridoso se não cuidasse dele. Fique tranqüilo. Não me fará mal.”.

“Está certo. Qualquer coisa, me chame. Não deixe de fazê-lo se precisar, ouviu?”.

Ela assentiu. E ficou a sós com Vishous.

A essa altura, ele estava encolhido, deitado de lado, falando baixinho naquela língua desconhecida.

 Estava claro que sofria muito. Mesmo depois de tanto tempo lidando com a dor alheia, ainda havia situações que deixavam Alysia compadecida. E aquela era uma delas. Quem diria que um homem daquele tamanho pudesse abalar-se com um pesadelo? Sabe Deus quais seriam seus fantasmas. A detetive pôs a mão em seu ombro, tentando consolá-lo.

“Vishous, ouça. Já passou. Está tudo bem agora”.

Ela jamais poderia imaginar o que viria a seguir.

Repentinamente, V. levantou-se.

E abraçou-a forte, como se sua vida dependesse daquilo.  



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