Amante Conquistado escrita por leel


Capítulo 2
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/126008/chapter/2

Alysia ainda estava com raiva depois do anúncio de suas férias forçadas. Sabia que tinha sido injusta com Jose, no entanto. Descontara no pobre toda a sua frustração. Evidentemente, todos sabiam que ela ainda xeretava o desaparecimento de Butch. Ninguém a havia delatado.

Provavelmente não.

De todo modo, estava mesmo ficando um pouco cansada daquilo. Talvez seu chefe tivesse razão. Talvez ela precisasse mesmo de algo que a distraísse do trabalho.

Melhor começar agora, para não se afogar na ira.

Saindo do banho, procurou a melhor roupa para enfrentar o frio daquele mês. Escolheu uma calça jeans justa e um casaco de lã cor de creme. Botas de salto. Antes de colocar o casaco, abriu o porta-joias. Tirou de lá um colar simples, mas maravilhoso: a delicada corrente prateada de que pendia o mais delicado dos pingentes. A pedra, envolvida por uma moldura de desenho intrincado não se parecia com nada que Alysia já tivesse visto. Não que ela tivesse visto muitas jóias na vida.

A pedra tinha uma cor singular. Oscilava entre a turquesa e a ágata azul, e essa comparação nem de longe descrevia sua cor. A verdade é que parecia um lindo cristal de gelo capturado e preso na moldura para jamais derreter.

Alysia ergueu o colar, admirando-o. A peça era a única coisa que sua mãe deixara para trás ao desaparecer, e carregá-la no pescoço era, de certo modo, como levar consigo aquela mulher que jamais pudera conhecer.

Apertando a pedra nas mãos, a detetive pensava que já não sentia mais raiva da mãe. Passara por todos os estágios de negação e revolta, e agora tudo o que desejava era poder conhecer seus motivos um dia. Mas já estava aceitando o fato de que talvez esse dia nunca chegasse.

Colocou o colar, vestiu o casaco, apanhou a bolsa e saiu.

***

O filme não tinha sido ruim, afinal. Alysia não gostava muito de comédias românticas, mas era o único filme que iria passar no horário em que ela chegara ao cinema. Fora ótimo para rir e desligar-se do mundo por duas horas. Agora, de volta ao mundo real, ela caminhava, distraída, pensando em várias coisas ao mesmo tempo.

Não percebeu que se encaminhava para uma região cheia de becos escuros, perto da Rua Dez. Apertava o casaco de lã contra o pescoço, e podia ver sua respiração contra o ar frio.

Foi quando um clarão atraiu sua atenção, vindo de um beco à sua direita. Imediatamente Alysia pôs a mão no coldre e sacou a pistola. Bem, ela podia estar de férias, mas não deixara de ser policial, certo? Correu até o beco e aproximou-se cuidadosamente da entrada. Postou o corpo na parede e colocou a cabeça para tentar descobrir a origem daquele clarão estranho.

Seu coração falhou uma batida. Que nada, ele parara de bater por vários segundos.

Ela viu três homens imensos de pé no beco, e mais dois estendidos no chão. Uma coisa espessa – sangue? – estava espalhada ao redor dos homens caídos. Um dos grandalhões estava sobre um dos homens, como se quisesse... Reanimá-lo? Examiná-lo? Não dava para saber.

Fosse como fosse, os três pareciam marginais, vestidos com roupas de couro e armados até os dentes. Os dois que estavam de pé discutiam acaloradamente. Um deles era loiro, e lindo. O outro tinha um cabelo que ela nunca tinha visto nem em uma mulher: comprido e com todas as variantes de tons possíveis de cobre, castanho e dourado. Era uma obra de arte, não uma cabeleira.

“Phury, quando é que você vai aprender a se controlar, cara? Não bastava encher esse bastardo de porrada, tinha que enfiar uma adaga no peito dele? Eliminar essas coisas é tarefa do tira!” Dizia o mais bonito deles, enquanto o outro olhava para baixo, mal contendo a raiva, e suspirava profundamente.

O loiro continuou. “O que anda dando em você, cara? Você nunca exagerava assim. Nossas lutas sempre foram limpas. Sabe disso”.

Meu Deus, ela estava testemunhando um assassinato. Um, não. Dois assassinatos. Ela tinha de ligar para o Departamento, e rápido. Afastou-se um pouco e procurava o celular, só para descobrir que o deixara em casa.

Nem percebeu que, por baixo das roupas de frio, seu colar emitia um estranho brilho.

***

Céus, o que ela iria fazer agora? Não podia enfrentar e prender aqueles três brutamontes sozinhos. E ela ou estava ouvindo mal, ou eles citaram um tira na conversa. Que ótimo... Um policial corrupto envolvido. Receava fazer muito barulho ao se afastar e ser descoberta e morta ali mesmo. Debatia internamente o que fazer, reaproximando-se da entrada do beco, quando inadvertidamente pisou em uma pedra, escorregou e caiu.

Malditas botas de salto.

Na mesma hora, os três homens pegaram suas armas e as empunharam, tentando identificar o inimigo. Agora sim estou perdida, pensava Alysia enquanto reunia sua dignidade e tentava lidar com um traseiro dolorido. Apontou sua arma de volta na direção deles. Podia morrer, mas não o faria sem se defender.

Espere aí. Onde estavam os dois cadáveres?

Olhando do chão para os homens e de volta para o chão, nem percebeu que o galã loiro estava bem ao lado dela.

“Olá, doçura”.

Alysia se arrastou como pôde para trás e tratou de aprumar a mira da pistola.

“Para trás, grandão. Não tenho medo de você”.

Ah, mas que grande monte de balela. Bem, o segredo não era não sentir medo, e sim conseguir não demonstrá-lo.

Apertando os olhos e mirando bem na testa do marginal, Alysia pensava que seria mesmo um grande desperdício se tivesse que matá-lo. O homem era mais que Adônis em carne e osso. Não era possível que alguém fosse assim tão lindo. Ela quase abaixou a arma e avançou para tocar aquela beleza e saber se ela era real.

Agora era a vez de o cabeludo ralhar com ele. Pelo menos foi o que ela entendeu pela entonação, já que a conversa prosseguiu em um idioma que podia ser muito bem russo.

Merda, a máfia russa tinha conexões em Caldwell? Ela nunca ouvira falar daquilo. Agora sim ela estava ferrada. Perdida ou não, nem perdeu tempo. Ergueu-se e tentou se recompor.

“Você não espalhou o mhis pelo beco, Rhage? Está louco?”.

“É claro que eu espalhei! Tenho certeza disso”.

“Como é que essa humana nos viu aqui então? Era tudo que a gente precisava. Uma humana, e armada, ainda por cima”.

Rhage olhou para a humana. O que estava acontecendo com ele? Não sentiu nada além do cheiro de medo que partia dela. Se não fosse por Phury, teria achado que a mulher era da sua espécie. Teria mesmo se esquecido de espalhar o mhis para ocultar a briga com os redutores?

Aquilo seria um problema. Dos grandes. E agora a mulher estava de arma em punho, olhando para além de Phury. Mas que grande droga. Ela devia ser da polícia. E Butch ainda não conseguia se desmaterializar. E mesmo se já pudesse, não seria possível depois das duas doses de redutor que acabara de tomar.

Eles não iriam atacar a mulher. Não se ela não os atacasse.

A tensão no ar era tangível como creme espesso. Rhage e Phury aguardaram por um segundo. E a mulher decidiu falar para o tira:

“Ei, você que está na sombra. Saia daí. É a polícia”.

***

Butch não conseguia pensar direito. Sentia-se mal depois de absorver os redutores, não conseguia se desmaterializar, e para piorar tinham sido vistos por uma policial.

Alysia. Ele se lembrava dela. Não muito alta. Não era deslumbrantemente bela, mas sua altivez não passava despercebida. Ela era uma beldade, parecia uma aristocrata perdida no meio da sujeira daquele Departamento.

Não seria um problema imenso se ela o visse. Era só apagar as memórias dela depois. De todo modo, não queria ser reconhecido. Aquela era uma fase de sua vida que ficara definitivamente para trás.

Alysia dera um passo em sua direção, enquanto ele dava outro para se afastar. Deus, ele rezava. Não deixe Rhage ou Phury a matarem. Duvidava que os Irmãos o fizessem – Rhage principalmente, já que sua shellan era humana, mas também conhecia o poder letal deles.

A policial inclinou a cabeça para o lado e baixou a arma.

“Butch? Meu Deus, Butch, é você?”.

Ela correu para ele. Como ela não sentia todo o mal que emanava dele depois de uma sessão com os redutores?

A mulher estacou diante dele. Ah, então ela ainda tinha algum senso.

Ou estava assustada, porque a cara dele devia estar em algum tom entre o branco cadáver e o verde-vou-vomitar-em-você.

Então, inesperadamente, Alysia pulou em seu pescoço.

“Butch, graças aos céus! Encontrei você. Eu procurei tanto, tanto...”.

Ela o abraçava apertado, enquanto Butch olhava espantado para Rhage e Phury, que trocavam olhares atônitos, mas ao mesmo tempo mal conseguiam conter o riso.

Quando Alysia finalmente o soltou, olhou-o mais atentamente.

Butch não sabia o que dizer. Jamais imaginara que ainda houvesse alguém preocupado com ele ali, do outro lado da sua antiga vida.

“Escute, Alysia, eu...”.

“Butch, você está tão diferente. Tem algo errado com você, além dessa sua cara de doente. Está maior. Tomou bomba? Mudou de lado depois de ser expulso? Butch, cara... você se juntou a esses marginais?”.

Ainda bem que ela emendava uma pergunta na outra, sem dar tempo de resposta, porque Butch não queria falar nada sobre aquilo.

Alysia ia abrir a boca para perguntar mais alguma coisa, mas foi interrompida pelo gigante de cabelos compridos.

“Tira, essa reunião dos velhos tempos está muito boa, mas a gente precisa dar um jeito na sua amiga”.

Alysia voltou-se rapidamente e apontou a arma para Phury.

“Parado aí! Ninguém vai dar jeito nenhum em mim, não!”.

“Alysia, abaixe essa arma”.Pediu Butch.

Ela respondeu sem se virar.

“Por nada no mundo eu vou deixar esse filho da puta sequer tocar em mim!”.

Rhage materializou-se ao lado dela e conseguiu tomar-lhe a pistola. Era uma manobra arriscada, mas era a única maneira.

“Vamos, Phury! Apague logo a memória dela”.

Pega de surpresa, Alysia ia preparar-se para tentar atingir o tal do Rhage com um golpe, mas Phury foi mais rápido e adiantou-se para agarrá-la, pronto para apagar suas lembranças.

Não teve tempo. Assim que pôs a mão na policial, um clarão iluminou o beco e jogou os guerreiros longe, como se atingidos por um fortíssimo choque elétrico.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!