Amante Conquistado escrita por leel


Capítulo 17
Capítulo 17




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Phury deu outra tragada em seu cigarro de fumaça vermelha e sentou-se em sua cama. Tirou a perna mecânica e esticou o corpo, recostando-se em seu travesseiro.

Estava pensativo. Tinha nos braços um bloco de papel gigante, e passara as últimas horas desenhando. Vários e vários esboços sobre Bella. Sabia que era errado, mas simplesmente não conseguia parar.

Seu último desenho, porém, não era um retrato da shellan de seu irmão. Tinha outra fêmea em mente quando seus pensamentos se perderam em outra direção enquanto o lápis corria pela folha.

Estivera observando Alysia e Vishous juntos. Agindo como se ninguém os estivesse vendo, quando voltavam para o Complexo. Phury estava fumando junto à janela, pouco antes do amanhecer, absorto, quando os vira chegar.

Não pode deixar de rir. Geralmente seu Irmão era tão reservado, sombrio, atento a tudo. Que ele estivesse agindo como um jovem descobrindo o primeiro amor, com todo aquele cuidado para que ninguém os visse era uma surpresa. Ninguém jamais poderia imaginar que algum dia Vishous poderia prender-se a quem quer que fosse – ainda mais se esse alguém fosse uma fêmea.

Lamentava que fosse por uma humana. Não quer desgostasse de Alysia: pelo pouco tempo que estava entre eles, já tinha mostrado ser uma fêmea de valor. Vincular-se a uma humana, porém, era um risco alto, geralmente sofrido para os dois lados.

De qualquer maneira, era bom ver o Irmão deixando mais alguém entrar em sua vida. Alguém que não fosse o Tira. Aquele era um assunto que ninguém comentava, mas tacitamente todos no Complexo percebiam.

Enquanto pensara nisso, suas mãos voavam sobre o papel e, sem perceber, estava desenhando Alysia. Só parou para pensar melhor no que estava fazendo quando deu-se conta de que um detalhe no desenho parecia não bater. Ao redor do pescoço da fêmea, estava um colar que ele não a tinha visto usando. Uma pedra grande, transparente. Que estranho. De onde ele havia tirado a ideia do colar?

Tragou mais uma vez o cigarro, longamente. Depois colocou o desenho de lado.

E voltou para os esboços que fizera de Bella.

***

Assim que anoiteceu, Vishous saiu de seu quarto no Buraco e caminhou tranquilamente até seus Quatro Brinquedos. Talvez ainda tivesse chance de checar algumas coisas antes da Primeira Refeição. Quem sabe até mesmo conseguisse esquivar-se dela. Depois, pensaria em uma maneira de encarar Wrath e resolver aquilo tudo de uma vez.

O problema é que ele não tinha a menor ideia de como seria essa solução.

Mal sentou-se em frente aos computadores e ouviu a voz grave de alguém, vinda de algum lugar na penumbra da casa:

“Achou mesmo que iria se safar de mim?”

Droga. Era Butch, e não estava com uma cara boa.

Vishous resolveu fingir que não era com ele.

Butch cruzou os braços e apoiou-se na parede, de frente para Vishous.

“Estou esperando”, insistiu.

“Não sei do que está falando. E não sei desde quando lhe devo alguma explicação.”

“E eu não sei por quê você decidiu agir como um babaca ultimamente.”

Vishous ergeu seu olhar gélido para o melhor amigo. Ah, sim, isso tinha sido desde… desde que seu melhor amigo e Marissa haviam se unido.

“Não me enche.”

Butch chegou mais perto, apoiando as mãos na mesa, desafiando o vampiro.

“Porque diabos está insistindo em ferrar a vida da Alysia, V.? Ou preciso mesmo fingir que não senti o odor de vinculação que você exalava ontem quando chegou aqui? Não consegue mesmo se segurar?”

“Cale a boca, Tira. Não sabe do que está falando.”

“Ah, não? E o que vamos fazer com ela? O tempo está passando. Ainda que encontremos um jeito de apagar as memórias dela, não será mais possível fazer isso completamente. E você ainda tem aquele seu compromisso. Olhe, eu posso não ter sido exemplo para ninguém, não fui o melhor dos homens, mas não quero ver Alysia se machucando. Ela irá sofrer quando você for embora e essa é a última coisa que eu queria que acontecesse.”

Vishous bateu na mesa com força.

“Mas que merda, Butch! Você acha mesmo que fiz de propósito? Que eu deliberadamente quero fazer com que ela sofra?”

“Pelo jeito que eu vi você trata-la, não me espantaria nada.”

Vishous agarrou seu melhor amigo pela lapela.

“Escute aqui, cara, eu posso ser um idiota frio e calculista, mas respeito as fêmeas. E ela é uma fêmea de valor. As coisas saíram do controle.”

Butch olhou por um segundo para dentro daqueles olhos diamantinos. Depois explodiu em uma gargalhada. Aquilo era insano demais para ele não achar graça.

“Quem diria, hein? A grande montanha de gelo finalmente se apaixonando.”

Vishous soltou o amigo com um empurrão.

“Vá se catar.”

“Vai negar agora? Pra mim, seu melhor amigo? Ah, qual é, V.”

O vampiro colocou as mãos na cintura. Olhou para o chão, profundamente contrariado. Mas era difícil esconder as coisas do tira. Não era à toa que eram melhores amigos. Quer eram mais que amigos. Embora aquele “mais”, até há pouco tempo, não fosse exatamente o que ele desejaria.

Depois deixou escapar o que prometera negar até a morte.

“Não… não vou.”

Butch tinha um sorriso completamente malandro no rosto, porque finalmente conseguira arrancar de Vishous o que ele queria saber, mas o sorriso logo murchou. Desde o começo as circunstâncias não eram comuns.

E a coisa ainda iria piorar muito.

“O que você irá fazer? Com o lance do Primaz e todo o resto?”

Vishous desviou o olhar.

“Não tenho a menor ideia.”

Logo o silêncio se fez entre eles. Era quase palpável. Depois de algum tempo, Butch ergueu o olhar para encarar seu amigo, mas sua atenção acabou sendo desviada para além dele. Da porta do quarto, Alysia os observava. E sua expressão não era nada boa.

“V... acho que temos companhia.”

***

Quando Alysia acordou, percebeu de imediato que Vishous não estava com ela na cama. Imediatamente sentiu como se seu coração estivesse comprimido até o limite, impedindo-a de respirar. Sentou-se na cama e pensou por um minuto. Estava agindo como uma tola. Estavam dentro de um complexo que era uma fortaleza. Vishous não poderia ter ido longe.

Talvez até pudesse, considerando o que vira na noite anterior. Mas ao se recompor, de algum modo sentiu que ele não estava ausente.

Como explicar essa conexão? Tinham passado apenas aquela noite juntos. Era tão insano que se sentisse assim em relação a ele.

Depois de se aprontar, rumou para a porta. Parou com a mão na maçaneta ao ouvir que Vishous e Butch discutiam acaloradamente na sala de estar do Buraco. Droga. Butch sabia sobre eles e agora estava confrontando V. Mas havia algo  ali que ela não conseguia entender: o tira falava alguma coisa sobre Vishous partir. Sobre ele ser o Primaz. O que diabos seria aquilo?

Ao perceber que a discussão aparentemente tinha acabado, ela abriu a porta e ficou encarando os dois amigos. Logo Butch percebeu sua presença e ouviu-o xingar baixinho. Em seguida, Vishous virou-se e olhou para ela também. Seu olhar era ainda mais gélido do que de costume, e havia uma ponta de decepção. Quase uma tristeza.

Aquilo não era sinal de boas notícias.

Vishous levantou-se, seu corpo imenso aprumado, virado para ela, imponente. Tinha as mãos fechadas e punho e o cenho franzido. Alysia ficou tensa. Aquilo não iria acabar bem.

Butch pigarreou e decidiu deixá-los a sós.

“Não posso fazer parte desta conversa. Mas estarei por perto caso precisem de mim.”

Saiu pela porta que levava ao túnel e trancou-a atrás de si.

Alysia foi a primeira a quebrar o silêncio.

“E agora nós, Vishous.”


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