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O dia seguinte foi mais normal do que o que eu esperava. Eu não fui falar com Chris, Hannah estava certa do ponto de que eu deveria ser melhor recompensando pelo meu trabalho, mas eu me dei conta que isso seria uma faca de dois gumes. Se Chris me levasse ao cargo de programador-chefe, ou começasse a me pagar mais, provavelmente, iria passar a exigir mais de mim. Isso não faria sentido, eu acho que minha vida já é complicada o suficiente do jeito que esta, então deixe estar.

Mas Kamai estava particularmente diferente. Ela tinha um olhar preocupado, Não conseguia se focar no que estávamos fazendo. Achei melhor esperar o dia seguinte para perguntar alguma coisa.

Pois é, e mais um dia se passou, e lá estava eu no trabalho de novo. Kamai usava um vestido preto. Bem como Hannah. E Hannah veio exibindo o caderno pra mim hoje. É, eu acho que ela ainda tem um certo controle sobre mim.

— Então não vai conversar com o Chris sobre um aumento?

— Não vou Hannah. E eu tenho minhas próprias razões para isso.

— Bem eu acho melhor você ir lá logo, porque... – Hannah foi interrompida pela Kamai. –

— Hannah, o Chris te chama na sala dele.

— Pois é o dever chama, volto já!

A oportunidade perfeita, pra pegar o caderno da Hannah, mas eu com certeza não o fiz. Acho que meus princípios foram mais fortes, eu deveria fazer como Hannah queria para recuperá-lo. Hannah deixou o caderno sobre a mesa, e foi conversar com o Chris. Kamai então depois de falar com Hannah veio até a mim pra tirar umas dúvidas.

Mas não tardou para a Hannah voltar da sala do chefe.

— Jolly, o Chris quer falar com você.

— Qual será a boa de hoje, Hannah?

— Vai lá descobrir – Disse ela com seus clássicos sorrisos.

E eu fui.

— Chris, me chamou? – disse eu fechando a porta.

— Não, Jolly. Ficou maluco?

— Não?

— Não.

— Então a Kamai deve estar ficando doida.

— Todos os programadores são doidos, Jolly, você está num manicômio. Hahaha.

— Eu não duvido disso. Com licença chefe.

— Volte ao serviço, Jolly. – Foi a ultima frase que eu escutei ao fechar a porta.

Eu sinceramente não devia ter voltado ao serviço.

— Jolly, não adianta pegar o caderno quando eu não estiver lá. Eu estou com uma cópia bem aqui. – Disse Hannah apontando pra uma cópia do caderno, com todas as páginas. Bem... Isso me deixou um pouco chocado.

— Hã? Eu não peguei o caderno.

— Oras então quem pegou?

— Bem, Hannah, você pode verificar pela firma inteira. E afinal, você já está em qual página?

— Eu nem tenho tido tempo pra ler direito, Jolly, mas te garanto que já me diverti bastante com tudo o que eu já li. – Disse ela rindo. Apesar de eu saber o porque de ela não ter lido.

— Jolly, da pra vir aqui um instantinho? – A Kamai estava me chamando, devia estar com alguma dificuldade.

— O que foi Kamai?

— Dá uma olhada nesse código aqui. – Olhei, verifiquei e me parecia correto.

— Me parece correto, Kamai. Pede pra Hannah testar.

— Opa! É comigo mesmo, manda pro computador de cá! – Disse ela da outra mesa e voltou a trabalhar. Kamai tornou a chamar a minha atenção.

— Então, Jolly, eu queria te chamar pra sair esse final de semana, você só tem trabalhado, e acho que merece alguma coisa por ter tanta paciência comigo. - Estranho a Kamai falar esse tipo de coisa agora, e eu acho que a Hannah iria querer que eu saísse com ela primeiro, então eu dei uma resposta inconclusiva para Kamai.

— Vou pensar e ver se eu arranjo um tempo. Depois eu te procuro e falo com você.

— Tá bom, mas me procura mesmo hein, Jolly.

A Kamai tava com alguma coisa que tinha deixado ela bastante alegre. Bom... Vai saber o que foi. A Hannah veio falar comigo no almoço. Fazia um tempo que eu não almoçava com ela. Eu peguei um prato e me servi. Ela sentou na mesma mesa que eu após ter se servido.

— E então? Como vão as aulas com a Kamai? Parece que ela está gostando bastante, hein!

— Não vamos saltar as conclusões, Hannah. Ela pode estar feliz por ‘n’ causas que não dá pra listar.

— Mas o fato de ela querer sair com você lhe diz alguma coisa, não lhe diz?

— Hã, o que você está querendo dizer, Hannah?

— O programa que ela fez foi quase uma ameaça pra mim. A Kamai é muito mais esperta do que parece.

— Que tipo de ameaça?

— Algo do tipo "O Jolly, é meu!". Um tanto quanto possessiva não concorda? Eu imaginei que ela ia te convidar pra sair.

— Hannah...

— Bem, mas eu acho que você tem de dar algumas prioridades, não concorda? - Ela mostrou a cópia do meu caderno, que ela agora guardava no bolso, rindo maliciosamente como se tivesse controle sobre mim. - Eu resolvi te dar uma chance a mais, antes de divulgar isso. Sexta-feira a noite. Topa?

— Ta, tudo bem, eu aceito. Apesar de saber que corro o risco de você divulgar se eu for ou se eu não for. Eu só queria saber onde o original foi parar...

— Deve estar na sua mesa. Verifique a gaveta. - Hannah limpou a boca deixou seu prato para ser levado e se despediu, subiu antes de mim para o resto do expediente. - Te vejo lá em cima, Jolly.

Terminei de almoçar, e Kamai ainda não havia chegado no andar de cima, será que o livro estava na gaveta mesmo? Se fosse o caso, Hannah estaria realmente controlando os meus passos.

— E então? Vem comigo sexta?

— Vou sim. - Ja era quarta feira, teria 2 dias.

— Opa! Então eu vou me programar aqui, e amanhã eu te falo aonde a gente vai.

— Ta bom agora deixa eu me ajeitar aqui até a Kamai aparecer.

Dei uma olhada nas gavetas, rapidamente. E para minha surpresa, minhas suspeitas estavam certas. Hannah está me controlando. O caderno estava lá. Isso está começando a ficar intrigante.

— Jolly?

— Ah! Oi Kamai!

— E então? Temos algo para o final de semana?

— Perdão, Kamai, mas eu vou sair com a Hannah. - Ela realmente deve ter ficado aborrecida, ela se virou por um instante, mas tornou a levantar a cabeça, ela me parecia triste.

— Kamai. Tem certeza que não quer parar por hoje? Você está meio abatida.

Deu para escutar ela cochichando para si mesmo: “Baka-sama, Baka-sama, Baka-sama, Baka-sama...” continuamente.

— Kamai? – Finalmente ela se virou.

— Ah! Perdão. Eu tava pensativa.

— Ou não estava pensando?

— Boa pergunta...

Fizemos um breve silêncio.

— Kamai, quer dar uma passada na minha casa?

— Por que eu iria?

— Pra dar uma avançada nos seus ensinos. E também pra fazer alguma coisa diferente. Você nunca foi lá. – Eu queria consolá-la mas não queria em momento nenhum possuí-la, mas fui tão impulsivo que esqueci como essa frase poderia mal-entendida.

— Não posso. Hoje vou ficar até tarde aqui com o chefe. – Ainda acho que isso foi uma desculpa.

— Ah, tudo bem, mas a proposta está de pé para qualquer dia. É só me ligar ou me avisar que vai passar em casa.

— Ah, obrigado, Jolly. Muito gentil da sua parte – Ela sorriu. Acho que consegui melhorar o humor dela. Espero que ela não tenha entendido mal as minhas palavras.

Dediquei esse dia a melhorar o humor dela. Ela parecia realmente querer sair comigo. Como eu ja marquei com a Hannah, não posso furar com ela novamente. Acho que irei ignorar o chefe essa sexta feira. Esperei a Hannah sair primeiro hoje pra pegar o meu caderno e ver se tinha alguma coisa modificada. Se Hannah estava controlando meus passos, não duvido que ela escreveria algo no caderno.

Me deitei, liguei a luz e comecei a revirar as folhas. Apesar de achar que devo ter perdido algum detalhe, pois Hannah não escreveu nada. A não ser que ela tivesse escrito em algum canto da página e eu não tivesse notado, mas eu revirei o caderno duas vezes. Duvido que eu não teria notado algo. A mim agora só restava esperar sexta-feira para saber quais eram os objetivos da Hannah.