Narração Grimmjow

  Eu Grimmjow Jeargerjaquez, estava aborrecido, melhor dizendo, irado, tudo porque tinha levado um fora como nunca tinha acontecido na minha vida. Ser trocado já é difícil, mas ser trocado por um almofadinha sem sal? Era demais para o meu orgulho.

   Precisava afogar as magoas de algum jeito. Estava pensando em ir a um clube catar todos que aparecessem na minha frente ou ir a um bar de strip-tease e torrar toda minha grana com bebidas, mulheres e homens, mas enquanto andava pela rua pensando onde poderia encontrar um lugar desses eis que dei de cara com um gigantesco letreiro que inevitavelmente me chamou a atenção.

   Na verdade não tinha mesmo como não reparar naquele imenso letreiro vermelho em uma rua aparentemente neutra e apagada. Era um bar, e por incrível que pareça, o mesmo se chamava Red. Aquela cor me trazia dor de cabeça e muitas lembranças desagradáveis, mas como que impelido por uma força invisível eu entrei naquele lugar, contendo uma gargalhada de surpresa e incredulidade com o meu azar.

  Estava farto daquela cor, pois me lembrava do homem que havia me abandonado e como que para piorar meu estado de ânimo; tudo, absolutamente tudo dentro daquele lugar era exatamente, ou melhor, extremante vermelho.

   Eram cadeiras, mesas, cortinas, balcão, paredes e o que mais me chamou a atenção foi ver um espalhafatoso sofá vermelho em um cantinho daquele pequeno lugar. Era tanto vermelho que chegava a dar aflição e foi com muito custo que me impedi de tampar os olhos para acabar com aquele frisson que estava sentindo ao me deparar com tanto vermelho.

   Um pouco desnorteado e ainda chocado, me dirigi automaticamente aquele espalhafatoso sofá, recebendo olhares curiosos dos presentes naquele lugar. E abusado como só eu, me esparramei todo e, não querendo ficar de conversa fiada com nenhum abusado que tivesse a audácia de se aproximar, pus meus pés em cima daquela coisa vermelha não deixando nenhum espaço para alguém sentar-se.

Fiquei ali jogado, de olhos fechados pensando na morte da bezerra até ser interrompido por uma voz séria.

- O que deseja senhor?

  Abri meus olhos os direcionando para o dono da voz tão profunda e séria e ao encarar o dono dela não pude impedir que um sorriso de escárnio adornasse os meus lábios.

- Então tudo aqui é vermelho mesmo né?

- Aff...

  Na minha frente estava o garçom daquele bar vestindo nada menos do que uma camisa vermelha e uma calça azul, mas o que realmente me chamou a atenção naquele garoto foram seus cabelos vermelhos- alaranjado.

- O que foi pequeno? - Falei, pensando que talvez vermelho fosse mesmo o meu destino, pois era muita sorte, ou muita azar, depois de ter terminado com um cara ruivo encontrar outro que me despertava tanto interesse.

- Por favor, sem gracinhas senhor.

- Mas eu não falei nada e senhor é quem está no céu ruivinho. Pode me chamar de Grimmjow.

- Que seja. E não me chama de ruivinho.

- Então me diz, qual o seu nome?

  Vi aquele garçom bonitinho e irritadinho hesitar um pouco e depois falar algo quase num sussurro, tornando impossível que eu ouvisse algo.

- O que? Eu não ouvi ruivinho.

- Meu nome é Ichigo, porra!

  O berro que ele deu chamou a atenção do bar inteiro para nós e acho que a minha gargalhada só aumentou ainda mais o número de curiosos. O nome dele era Ichigo? Bem combinava com ele e com o estado que ele se encontrava  já que  estava vermelho como um morango e com uma carinha de irritação muito fofa.

- Calma moranguinho-san.

- Moranguinho é sua mãe.

  Irritado ele praticamente cuspiu essas palavras e eu a muito custo reprimi uma gargalhada. Aborrecido ele se virou para sair dali, mas eu fui mais rápido e o segurei pelo braço impedindo que saísse.

- Que foi?

- Eu ainda não fiz meu pedido Ichigo-san.

- Então só faça logo e me deixe em paz.

  Evitando provocá-lo pedi minha bebida e me ajeitando de modo a observá-lo passei o resto da noite a olhá-lo e sempre que podia, fazia algo para provocá-lo só para ver suas adoráveis reações, descobrindo naquela noite o que seria o meu hobby durante muito tempo.

  Só fui embora daquele bar quando o sol já estava raiando e só porque o Ichigo estava me expulsando. Depois daquela noite voltei muitas outras noites lá, sempre fazendo questão de provocar o meu irritadiço ruivinho e fazendo de tudo um pouco para conhecê-lo mais e até viramos uma espécie de amigos e foi assim até o dia em que me cansei de brincar. Pois definitivamente eu queria mais, muito mais do meu doce ruivo.

  Era domingo e eu ali no bar Red como se não tivesse nada para fazer além de ficar deitado no ‘meu’ sofá observando meu objeto de fascínio. Era quase meia-noite e só estávamos eu e meu moranguinho ali então ele resolveu fechar.

- Ei, seu folgado, se manda que vou fechar.

- Humm...Ichigo. Pode fechar que depois eu saio pelos fundos com você.

  Sem uma palavra ele foi fechar o bar que eu descobri recentemente que era do pai dele. Depois que terminou e já pronto para ir embora veio até mim, que permanecia de olhos fechados, só os abrindo quando ele sentou-se ao meu lado. Abri meus olhos, então azuis se encontraram com castanhos e sem resistir aquela proximidade toda o puxei para um beijo apaixonado, invadindo a boca pequena e deliciosa com minha língua, desvendando cada pedaçinho daquela boquinha maravilhosa, puxando seu corpo para cima do meu, os encaixando perfeitamente, enquanto sentia surpreso meu morango retribuir ao beijo depois se aconchegava mais contra mim.

  Quando enfim, nossas bocas sedentas se separaram por falta de ar, Ichigo deitou a cabeça em meu peito relaxando totalmente e suspirando baixinho e, sem conseguir evitar, gargalhei alto o fazendo  levantar a cabeça e me olhar aborrecido.

- Que foi?

- Sabia que a sua boca tem gosto de morango?

- Palhaço.

- Mas é verdade. E só para você saber, meu sabor preferido é morango. – Falei sorrindo, o vendo corar e amando, logo voltando a tomar aquela boca maravilhosa.

  Permanecemos ali colados apenas trocando carinhos e beijos durante muito tempo, ambos sabendo que aquele beijo era apenas o início de algo muito maior e infinitamente mais interessante.

    Sorrindo em expectativa, não pude deixar de pensar que já não podia mais fechar meus olhos para o todo aquele vermelho, pois vermelho eram seus cabelos, sua essência e o seu gosto, assim como era a cor da nossa paixão e o nosso pecado.

   Vermelho era a cor dos nossos destinos que estavam finalmente entrelaçados.