- HIZAKI! ONDE ESTÁ MINHA ESCOVA DE CABELO?

Essa não. De novo não...

- HIZAAAAKI!

Já é a quinta vez só essa semana. Quinta vez que sou acordado às 7 da manhã pelos gritos daquele pavão filho da mãe.

Ah, sinto por deixar as coisas tão flutuantes logo no início, meu querido amigo! Deixe que eu me apresente. Sou Yuuji Kamijo, herdeiro do Château de Versailles. Convivo com meu irmão mais novo, mais conhecido como Hizaki-Hime... e a terrível maldição vinda com ele após retornar de sua última viagem.

Serei mais claro. Tudo começou com uma carta de Hizaki. Nela, ele dizia estar retornando de sua viagem ao redor do mundo, trazendo muitos presentes, e pedia para que eu o esperasse no porto. Fiquei eufórico, há quanto tempo não via meu querido irmão! Quantas coisas maravilhosas deveria ter visto! O que estaria trazendo da viagem? Minhas dúvidas eram mágicas, mas, no fundo, nada era tão relevante quanto o fato de que em alguns dias meu pequeno Hizaki estaria de volta ao lar.

Na data e horário marcados na carta, estava eu no porto, sorrindo feito um bobo, aguardando ansioso que meu irmão descesse do navio. Toda a Europa parecia estar presente ali, me deixando desesperado. Como encontraria Hizaki? Os minutos passavam, várias pessoas iam e vinham, e nada de meu irmão aparecer. Até que ouvi alguém gritar meu nome.
- KAMIJOOOO!
Impossível não reconhecer aquela coisa loira de vestido vermelho correndo em minha direção, com tantas malas nas mãos que eu jurava que ele ia cair. Atirou-se em meus braços de uma tal forma que não pude conter as lágrimas.

- Ah, Hizaki! Meu Hizaki, você voltou!

- Kami-chan! Que saudades!

Por cima do ombro de Hizaki, tornei a olhar para as pessoas no navio. Ali estava a maldição, dentro de um vestido roxo capaz de ser notado a quilômetros de distância:

JASMINE YOU.

Longos cachos castanhos, soltos (adornados por uma flor e penas altamente ridículas), e olhos da mesma cor. Lábios grossos e cobertos de brilho. Uma tonelada de maquiagem, uma tonelada de jóias e o peso de ambos em arrogância.

Uma coisa de outro planeta.

Enquanto eu estava ali, espantado com a beleza rara da criatura, vi que ela estava se aproximando de nós, com tantas ou mais malas que Hizaki. Meu coração disparou.

De medo daquela coisa.

Parecia estar escrito em sua testa: "sou completamente detestável".

- Ah, você finalmente desembarcou! - disse Hizaki.

- Eeh, Hizaki... quem é ela? - perguntei, inocente. Desde criança, Hizaki tinha modos afeminados, tendo extrema facilidade para fazer amizade com todos os tipos de moças.

- Nii-Sama, quero que conheça Ja-

- Jasmine You - irrompeu a voz da criatura. Arregalei os olhos.

Céus, ELA ERA HOMEM!

- P-prazer...

- Conheci You-chan na viagem. Uma companhia muito agradável, Nii-Sama.

- Eeh, imagino... - disse, entre dentes cerrados. A primeira impressão é a que conta, não é?

A minha foi a pior possível.

- Devem estar cansados da viagem, e com fome também. Que tal um almoço? Eu pago! - sugeri, tentando ser amigável.

- Ótimo, ótimo! O que acha, You-Sama?

- Maravilhoso.

E lá fomos nós, a caminho do restaurante onde Hizaki e eu sempre costumávamos comer algo.
A conversa não foi de todo ruim. Hizaki e seu 'amigo' falavam sobre os lugares que visitaram, as coisas (fúteis) que compraram em lojas onde uma escova de dentes tinha o preço de um elefante africano (sem desconto!)... e é claro, comiam também. Hizaki, com sua eterna classe de uma princesa vitoriana comendo um simples filé de peixe. Jasmine You... bem...

Além de ter pedido o prato mais caro do menu (que dava para alimentar uma família inteira), arrotou umas oito vezes durante a conversa.

Eu não via a hora de nos despedirmos logo daquele ser. Tomava meu vinho, impaciente, até que...

- You-chan passará alguns dias conosco! - exclamou Hizaki, animado.

Cuspi todo o vinho na mesa.

- C-c-como? - perguntei, atônito.

- Pedi a Hizaki que me indicasse um bom hotel, mas...

- Claro que eu não deixaria que ele se instalasse em um hotel de segunda mão! - Hizaki estava tão animado que conseguia me deprimir.

- Heh, você o conhece. - comentou Jasmine.

- Sim, eu o conheço muito bem... - tentei disfarçar meu desânimo, juro que tentei, mas Hizaki pareceu agarrá-lo no ar.

- Não haverá nenhum problema, ne, Kamijo...?

Ah, aquele olhar de princesa que perdeu a carruagem! Me fazendo mudar de ideia desde meus sete anos de idade!

- Sei que será maravilhoso estar na companhia de vocês.

Ah, o sorriso vitorioso os lábios do intruso!

- Aposto que será. Espere só até eu arrancar esse sorriso da sua cara, seu maldito.

- Bom, acho que já podemos ir para casa, não? - disse Hizaki, levantando-se. Logo foi seguido por seu amigo.

- Claro, deixe-me apenas acertar a conta. Garçom!

Preciso comentar o tamanho do grito que dei quando olhei o valor da conta?

Saí do restaurante com os bolsos leves, suando frio. Parecia que ia desmaiar. Chamamos uma carruagem, e tomamos o rumo de casa.

E assim voltamos ao início, onde passei a ser acordado aos berros. Berros do maldito Jasmine You ecoando pelo Château.

Meu estômago começa a revirar quando lembro que eu poderia ter recusado e despachado aquela mala sem alça para algum hotel... mas não, Hizaki tinha que usar aquele olhar para me convencer a colocá-lo num dos quartos de hóspedes!

O QUARTO AO LADO DO MEU!

Ah, Hizaki... Como eu queria poder jogar a culpa em você... Mas, infelizmente, a culpa foi toda minha por ter concordado com essa patetagem. E agora estou aqui, cobrindo os ouvidos com o travesseiro.

Mas isso não vai durar muito tempo.

Em uma semana, ele sairá desse castelo.

Uma semana.

Aproveite a estadia, Jasmine You.