To Let The World Be escrita por americangods


Capítulo 8
Capítulo 4 - Nômades




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Capítulo 4 - Nômades

 

Aos poucos ela foi recobrando os sentidos. Antes de qualquer coisa, sentiu que estava viva. Não sabe como chegou a essa conclusão, se foram os barulhos ao seu redor feitos pelos equipamentos eletrônicos ou até mesmo as vozes, que infelizmente parecia não reconhecer nenhuma; ou se foi o pequeno tremor constante que sentia, como se estivesse em algum veículo.

 

Não era brusco como um carro, mas sim suave como o de um navio ou avião; a temperatura no ambiente era agradável, não sentia calor como na América do Sul, nem frio... bem, talvez um pouco de frio; mas talvez o que mais tenha feito com que chegasse a essa conclusão, além do fato que respirava, foi o cheiro que sentiu.

 

Não era aquele cheiro de plantas e terra molhada, nem de toda aquela química do laboratório, muito menos aquele incomum e quase repugnante do mercado. Era cheiro de... ovos fritos???

 

E com isso abriu os olhos, para sua surpresa, sem dificuldade. Teve a felicidade de ninguém coloca-la sobre a luz forte de alguma lâmpada. Com suavidade, foi deixando as imagens se formarem. É, aquilo não podia ser um carro, nem um veículo de transporte, era grande demais para isso.

 

Na certa era alguma aeronave ou navio. Quando colocasse os pés no chão tentaria descobrir qual dos dois seria. Tentou abrir a boca para falar alguma coisa ou xingar alguém e percebeu que seus lábios estavam secos o que fez com que involuntariamente levasse uma das mãos ao rosto.

 

“E-ela acordou!” Parecia ser a voz de uma criança.

 

Jan ficou um pouco assustada com a voz desconhecida. Como pensara, realmente era de uma criança. Virou o rosto, e cumprimentou a dona da voz com um olhar curioso. Era uma menina, não aparentava ter mais de seis ou sete anos. Os olhos, castanhos-esverdeados, era difícil dizer, talvez até fossem totalmente verdes, mas isso não importava no momento. A sua pele clara e os cabelos loiros contrastavam com o seu moletom preto e se destacavam em todo aquele cinza do interior de seja lá onde ela estivesse.

 

“A... a senhorita está com fome?” A garotinha levantou um prato com ovos fritos e aproximou da moça.

 

“Sunny... é melhor... não” Disse uma voz conhecida. O dono dela logo apareceu e colocou as mãos nos ombros da garotinha. Ela pareceu se ofender com a atitude e saiu dali emburrada.

 
Ele esperou que a criança subisse um lance de escadas que levavam ao que Octopus julgou ser o segundo andar daquele lugar. Aproveitou para dar uma olhada ao seu redor. A sua esquerda estava um helicóptero, provavelmente aquele que usaram na fuga, e mais para a direita haviam vários computadores, além de alguns armários, mesas e cadeiras. Operando as máquinas estavam Naomi e um outro homem de cabelo escuro. Voltou sua atenção para Solid Snake, que sentara na mesma cadeira que a pequena loirinha estava.

 

“Sua filha?” Jam perguntou. Sem resposta. “Tudo bem, não é sua filha...”

 

“Consegue andar?” Snake perguntou olhando para um lado qualquer.

 

“Se você me ajudar...” E sorriu para ele. Não era o sorriso malicioso, nem o perverso. Provavelmente era o sincero, ou algo próximo a esse.

 

Snake levantou primeiro, e estendeu a mão para a moça. Ela ignorou, segurando diretamente o braço dele. Fez força para conseguir se levantar, até sentiu uma pontada no ferimento que recebeu, mas se recusou a deixar que aquilo a levasse no chão novamente. Apoiando-se no velho deu alguns passos para frente. Caminharam lentamente até perto dos computadores e Snake ajudou ela se sentar em uma das poltronas.

 

“Aonde estamos?”

 

“No Nomad, um avião militar que usamos como nossa base operacional, e casa” Pareceu um pouco descontente ao falar esse final.

 

“O que aconteceu comigo” Ela perguntou e olhou por detrás dos ombros, tentando achar alguma atadura ou ferimento que a respondesse.

 

“Você levou um tiro nas costas” Naomi respondeu a pergunta. Deixou os computadores de lado para dar atenção à Snake e Octopus. “Felizmente não atingiu a coluna e nenhum outro órgão. Foi por pouco!” Ela fez questão de enfatizar. “Eu sinceramente não sei como você sobreviveu. Alias, não sei como conseguiu acordar hoje e andar até essa poltrona. É incrível como essa bala passou a milímetros de distancia de deixá-la paraplégica!” Aparentemente não se importaria de começar uma nova discussão com a loira.

 

“Hmm... sorte a minha, não?” Jan retribuiu com sarcasmo.

 

Ainda sentia um pouco de dor nas costas além de uma leve tontura, até podia encarar uma troca de ofensas com Naomi mas pensou um pouco e decidiu que seria melhor salvar os argumentos para mais tarde.

 

Acabara de ser salva por Snake, que não tinha o menor compromisso com ela, e ainda se sentia como uma convidada indesejada naquele lugar, apesar da recepção e simpatia da menininha loira e aquele esboço de preocupação que Snake parecia estar demonstrando ao tê-la ajudado a andar e ficar sentado ali do lado dela. O seu silêncio fez com que a morena percebesse que não haveria réplica por parte dela e a deixou em paz, por enquanto.

 

A tontura que sentia, somada ao cansaço que ainda permeava seu corpo todo forçou a  encostar-se da forma mais confortável que achou na poltrona branca de couro sintético.  Percebeu que havia um curativo na sua cabeça. Afastou um pouco o cabelo e começou a apalpá-lo. Não sabia de onde veio aquele ferimento, se era grave ou não. E foi com isso que começou a se preocupar.

 

“Não é nada, só um corte” Solid Snake falou, tentando acalmar a moça.

 

“Ah...” Ela cruzou os braços com um pouco de frio.


Finalmente notou a roupa que usava. Não era mais o seu uniforme de batalha da Beauty and the Beast Unit, mas uma veste longa e folgada, cor azul de hospital. Sentiu-se um pouco estranha, por muito tempo não usava nada além daquela roupa com tecnologia de camuflagem que era extremamente apertada.

 

Se não fosse uma máquina de matar com certeza a ultima coisa que os homens de sua companhia militar sentiriam por ela seria medo, de tão justo que era o antigo traje.

 

“Com frio?” Snake perguntou se aproximando um pouco, mas ainda sem dirigir o olhar para ela.

 

Jan assentiu. Não sabe se Snake conseguiu ver o movimento, já que ainda olhava para o chão, mas de qualquer forma ele se levantou e abriu um armário próximo ao helicóptero e a cama em que a moça acordou. Logo voltou com um cobertor nos braços e cobriu a moça depois de esticar a peça de lã. Por algum motivo ela pensou que mesmo se não tivesse pedido ele faria a mesma coisa.

 

“E agora?” Decidiu olhar para um outro lugar qualquer da aeronave, imitando o agente. Encontrou um mural com algumas inscrições que lhe pareceram interessantes na hora, ia tentar ler enquanto Snake respondesse a pergunta. O velho não vai olhar para ela mesmo.

 

“Europa Oriental. Temos que levar o Raiden para se tratar com o Dr. Madnar. E é para lá que Liquid também foi. Mas acho que você já sabia disso.” Snake encarou a garota, esperando conseguir ler as reações dela de alguma forma.

 

“Se eu soubesse, teria lhe falado.” Ela até entendia a desconfiança do velho, mas esperou que tudo o que passaram horas atrás tivesse pelo menos dado um pouco de credibilidade a suas palavras. Sinceramente, ela não sabia se aquilo era ou não um jogo que Snake estava fazendo, mas odiava o fato de que ele tinha total razão para fazê-lo.

 

“Claro...”

 

“Snake, eu sou- era!” Ela se corrigiu. “Uma mercenária. Eu apenas recebia missões, e as cumpria. Nem se quisesse eu tinha como saber das intenções de Liquid Ocelot. Eu só era contratada dele e ponto final. O mesmo aconteceu com todas as Beasts” Olhou com raiva para o outro.

 

“Tudo bem. Eu acredito em você” Não amenizou o olhar da loira. “Sério!” Sorriu. Jan demorou, mas o acompanhou momentos depois.

 

--

 

“Aqui, acho que encontrei: houve um grande deslocamento de tropas da companhia militar Raven Sword da Polônia e Eslováquia para a República Checa. Raven é uma das PMC sobre controle da Outer Haven. Isso só pode significar que...”

 

“Faz tempo que não visito Praga” Snake falou sobre o ombro de Otacon. O rapaz de óculos ignorou a piada e continuou.

 

“Só pode ser lá que está localizado o corpo de Big Boss. Eu vou avisar Campbell, ele vai conseguir licença para pousarmos no internacional da República Checa” Disse se referindo ao aeroporto. Pegou impulso com os pés e se jogou com a cadeira de rodinhas para o outro lado da sala.

 

“Quanta discrição, um avião militar pousando num aeroporto civil” Naomi comentou de seu computador.

 

“Isso é mais comum do que você pensa. O crescimento de bases militares não acompanhou o crescimento das companhias privativas, e como dinheiro não é problema para elas foi muito fácil conseguir autorização para utilizar aeroportos civis. Em troca elas deixam um ou dois esquadrões fazendo a segurança do local e fica tudo por isso mesmo, nessa troca de favores” Otacon respondeu amigavelmente, ignorando o sarcasmo da morena. O que acabou arrancando um sorriso dela.

 

“E-essa Raven Sword é uma companhia militar criada nos Estados Unidos e é a quarta maior do mundo. Ela de-tém as patentes das mais novas tecnologias de a-aeronaves compactas e não controladas por seres humanos. Acho que são aqueles bichos estranhos que soltavam bombas lá no Marrocos. Ei, tio Hal! Eu consegui achar alguns projetos deles, acho que podemos fazer algo parecido!” Sunny disse com empolgação.

 

Começou a imaginar diversas utilidades para aquele equipamento novo. Poderiam criar algum veículo parecido com os da Raven Sword, mas apenas para reconhecimento aéreo. Sábia que o seu tio Hal não aprovaria a idéia de uma arma, e para falar a verdade, nem ela.

 

Adorava criar aqueles periféricos todos que Snake usava em suas missões. Se tinha uma coisa que gostava, além de navegar na web, era de sentar com seu tio e começar a criar aqueles aparelhos todos. A Octocamo, o Solid-Eye, e o pequeno Metal Gear Mark II, seu favorito.

 

Todos eles úteis e não-letais. Infelizmente, ninguém pareceu dar atenção para o que ela falou. Não importava, continuou a olhar os projetos e fazer suas anotações.

 

A menina deixou o lápis de lado rapidamente e olhou para os outros computadores. Tio Hal e aquela cientista morena, Naomi Hunter estavam trabalhando em alguma coisa. Gostou da moça assim que a conheceu, e o fato dela recentemente tê-la ensinado a fritar ovos só aumentou a estima por ela.

 

Não que seus ovos fritos fossem ruins. Snake e Hal que deviam ter algum problema com eles. Alias, sérios problemas, pois preferiam aquelas porcarias de rações militares do que a comida dela. Só podia ser mal-gosto deles mesmo.

 

Alguns gestos de Naomi lhe chamaram atenção. Ela parecia muito próxima de seu tio, se encostando e apoiando nele meio que desnecessariamente. Parecia com algumas personagens de novela e filmes que ela via no computador. A cientista devia estar interessada e querendo se aproximar de Hal. A menina nunca tinha pensado nisso, mas agora que a situação ocorreu na sua frente começou a achar que aquilo seria interessante. E engraçado. Principalmente engraçado.

 

Agora só faltava Snake achar alguém. Talvez aquela soldado ruiva que ele encontrou no Oriente Médio e que parecia conhecer muito bem. Sunny procurou um pouco sobre Meryl Silverburgh depois daquela ocasião. Se surpreendeu por não encontrar apenas fichas em bancos militares, mas também algumas matérias de jornais e um livro.

 

Não só descobriu quem era aquela mulher, como também um pouco do passado de Snake. Ele e seu tio nunca tinham falado nada pra ela, só conhecia a história por cima e por algum motivo nunca se interessou em procurar sobre, mas a partir daquele momento soube de uma ilha no Alasca chamada Shadow Moses e sobre um incidente em 2005 nesse mesmo local.

 

Havia até um livro que por acaso foi best-seller na época, contando a aventura de Solid Snake naquele lugar. Meryl foi citada pela repórter (e autora do livro) assim como Snake, Hal Emmerich e o tal de Liquid que estava causando essa confusão toda.

 

Ou quem sabe aquela moça loira que ajudou Snake na América do Sul e agora estava no avião com eles. Não acompanhou a missão de Snake naquele continente desde o início, apenas nas últimas horas, quando a tal Octopus já ajudava ele, mas conseguiu perceber algum tipo de relação entre os dois apesar de se conhecerem há apenas um dia.

 

A jovem parecia realmente agradecida com algo que Solid Snake fez para ela. Provavelmente porque ele a salvou, pensou Sunny. Bom, mais tarde procuraria algumas informações sobre Laughing Octopus. No momento o que a interessava era seu novo projeto.

 

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Notas do autor:

Fazem mais de dois meses que não atualizo, mas só recentemente que tive tempo de trabalhar na fiction novamente, e aqui está =D Por incrível que pareça não consegui revisá-lo por completo rs.

O próximo capitulo (talves até os dois próximos) devem se passar ainda no período que antecede a missão na Europa Oriental e referente ao Terceiro Ato do jogo. Só falta revisá-los e complementar com uma ou duas coisinhas e já estarão prontos para serem upados no site.

Read & review galera xD

 


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