Apocalipse; o Começo do Fim. escrita por XYZ


Capítulo 2
24122012 - Natal. - Parte II




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 Muitos saiam de suas casas e andavam em direção a luz, curiosos de certo. Não os culpo, se não fosse pelo meu grilo falante* que dizia ser perigoso eu com toda certeza seria um daqueles a correr para o "portal". Em menos de uma hora, a familia inteira estava no meu quarto. Afinal, ser caçula inclui, ser aquele que todos pensam imediatamente em proteger caso imaginem uma situação de risco. A noite se passou com todos nós debaixo da janela, agora aberta assim como a cortina, eu acabei adormecendo no colo de minha mãe, e minha irmã, no de meu pai.

A manhã do dia 22/12/2010 foi peculiar, diferente de todas as outras, acordamos mais tarde do que o normal. Não tinha nada passando na TV, nem mesmo nos canais fechados, que não falasse da aparição de tais rabiscos em todos os cantos do mundo, de certo modo era chato, eu queria assistir desenho.

E mais tarde, quando saimos para almoçar fora, era tudo sobre o que se comentava também.

-Aquela coisa respira. - Comentava Beth, a garçonete, com um rapaz da mesa ao lado, que fez uma careta e pediu por mais uma pepsi.

Meu pai a chamou fazendo o pedido para todos nós, seria filé a milanesa, uma das minhas carnes favoritas.Teve uma daquelas conversas de adulto com ela nesse meio tempo. "Movimentado hoje, não?" "A clientela, de onde aconteceu a "coisa" veio toda pro lado de cá, acho que é perigoso, não sei porque." Meu pai concordou apenas para encerrar com o assunto, mas eu como um bom pentelho curioso, não podia permitir.

-Betty! A coisa respira mesmo? Como assim? Suga o ar e depois solta, que nem gente?

Ela concordou e se afastou, rindo e falando que me adorava e traria batatas fritas por conta da casa. É o efeito criança fofa sobre os adultos.  Embora naquele momento eu não soubesse que estava prevendo o que aconteceriam aos meus pais, em um futuro próximo. 

Apesar de ser perigoso, foi necessário, a roupa que o vovô usaria quando fingisse ser papai noel, já estava pronta, nas mãos de uma costureira amiga da familia que vivia para aqueles lados. E a familia inteira foi buscar. Eu carregava em minhas mãos um bonequinho dos Transformers, e sincenramente,não piscava o olhos, enquanto admirava  a "coisa" que ainda se mantinha lá, do outro lado da janela do carro, luminosa, e respirante. O mais divertido é que a Pri (minha irmã) tentava me assustar e não conseguia. 

Paramos o carro, desci e fui correndo bater a campainha, eu queria ser aquele a apertar o botão, a costureira desceu com a roupa e a entregou os braços de meu Pai, que por sua vez passou para minha mãe, que passou para minha irmã que tentou passar pra mim. Eu e ela fomos para traz do carro, guardar a fantasia no porta malas, quando veio um vento forte em nossa direção, chegou a nos empurrar, e repentinamente, um vento mais forte ainda na direção contraria como se nós sugasse. 

Eu bati de cabeça no capo do carro ao ser arrastado por esse vento, e logo comecei a chorar, minha irmã bateu de barriga, se agachou e me abraçou com força, segurando. Durou mais algum tempo, acho que foram uns 5 minutos, embora parecesse ser meia hora. E então ela se levantou comigo no colo, a coisa ainda estava longe, meio parada, nos aproximamos um pouco, apenas um pouco, e vimos que algumas coisas saiam de dentro dela também, alguns insetos, objetos que eu nunca havia visto antes na vida, e em certo momento, ossos, sangue, e vestes conhecidas. 

O sangue veio direto em nossos corpos, e ficamos vermelhos imediatamente, eu não me mexi, nem minha irmã, tomei coragem de erguer o rosto e olhar para ela e apesar da capa de sangue, ela mordia o lábio inferior, apertando minha mão com força, e chorando silenciosamente.

Um ventinho gélido começou a sair de dentro da coisa, ficando cada vez mais forte, corremos, no meio do caminho apanhei um dos objetos estranhos, e entramos em um beco pra não sermos puxados, fomos para casa a pé. Naquele dia inteiro, nada foi dito, nem mesmo quando estávamos em casa, tomamos banho e dormimos até o dia  seguinte.

A perda.



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Notas finais do capítulo

"grilo falante" - Consciência, vide Pinnochio



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