Realmente está ficando dificio. Lembro de quando me formei, quando virei CSI já tinha certa experiência. Eu sempre amei meu trabalho. Meus pensamentos sempre foram voltados para a minha vida profissional, ir atrás das pistas, me entregar a um caso me deixava cada vez mais instigado; e finalmente encontrar o culpado de um crime me fazia sentir que aquela dedicação tinha valido a pena.

Os anos se passaram rápido e de repente meu trabalho se tornou minha família, minha companhia. Ainda gosto do que faço, só que isso deixou de ser suficiente, ocupa meu tempo, não meu coração. Nunca tive uma relação de verdade, duradoura e quando o peso da idade começou a chegar, percebi a falta que isso me fazia.

Tirei licença do trabalho e fui à outra cidade dar uma palestra sobre etimologia - minha especialidade, em um congresso de perícia forense. Normalmente não gosto muito desse tipo de coisa - prefiro assistir, mas resolvi ir. Acabou sendo um acerto no escuro, conheci uma moça muito promissora, ela tinha vontade de crescer na carreira, era inteligente e decidida. Esses dias que fiquei lá foram muito bons, ela tinha muito interesse em saber como era o trabalho de um CSI e eu gostava de conversar com ela. O congresso acabou e na hora de voltar para casa fiquei um pouco triste, mas não podia iniciar um relacionamento sabendo que teria que deixá-la.

Pouco depois tive um problema no trabalho, Warrick um dos meus subordinados ficou resignado de auxiliar uma perita novata, mas ele deixou-a sozinha na cena de um crime e ela acabou assassinada por um suspeito. Mal sabia eu que esse era apenas o começo dos problemas em que ele iria se envolver. Eu precisava agora de alguém que me ajudasse na investigação, alguém imparcial, minha cabeça instantaneamente pensou nela (talvez recebendo um recado do meu coração).

Ela aceitou meu convite e veio ajudar no caso. Quando ouvi a voz dela não tive dúvidas:

- Não preciso nem me virar. Sara Sidle!

  O que parecia uma coisa boa acabou não sendo, ela era melhor CSI do que eu imaginava, então se juntou a equipa. Um namoro entre colegas de trabalho era inadmissível! Cinco anos se passaram, nesse tempo eu conheci algumas pessoas especiais, só que acabaram virando boas amigas.

Lembro me bem do dia em que tive uma folga no trabalho, foi num domingo; e por conhecidência também era folga da Sara. Estava dirigindo para casa, mas voltar a um apartamento vazio não me faria bem. Então dei uma volta com o carro e percebi que estava próximo ao apartamento dela. Fiquei em dúvida se deveria seguir a diante e falar com ela ou ir pra casa. Lembrei me então dos acontecimentos dos últimos tempos; um dos membros da equipa foi enterrado vivo e quase morreu; Sara correu o risco de ser demitida ao discutir com uma supervisora, e me contou coisas da vida dela que não tinha contado a ninguém antes, vê-la naquele estado de fragilidade doía no meu coração. Mas nada me deixou tão abalado quanto na vez em que tive que investigar um caso de uma moça muito parecida com a Sara.

Depois de quase uma hora no carro, resolvi que precisava cuidar da minha felicidade, passei a vida inteira sozinho, fugindo do mundo, temendo algo que nem eu sabia o que era. Segui o conselho de uma amiga e levantei os olhos do microscópio, porque caras de meia idade como eu, um dia percebem que não viveram e agora que alguém linda e jovem me deu a oportunidade de ser feliz eu não ia deixar passar.

Ficamos juntos por um tempo, e isso me fez muito bem, então resolvi tirar umas férias, fiz uma viagem de um mês e a avisei apenas um dia antes. Mas quando voltei estávamos diferentes, percebi que minha atitude a tinha magoado. Quase um ano depois começamos a sair de novo e agora nossa relação era melhor do que antes.

Já no trabalho, um caso estava tirando o meu sono. Havia um serial killer extremamente inteligente solto na cidade, ele matava pessoas e deixava uma maquete idêntica à cena do crime ao lado das vítimas. Depois de muitas investigações, chegamos a um homem, Ernest Dell. Antes que nós pudéssemos prendê-lo, recebemos uma fita em que ele assumia os crimes e o mostrava cometendo suicídio.

Após um tempo recebi uma caixa no meu escritório, nela havia a maquete de um carro sobre uma mulher. Era Sara! Ela tinha sido seqüestrada e corria risco de vida. Todos os meus esforços se voltaram para encontrá-la. Prendemos a verdadeira assassina, Natalie Davis. Mas isso não trazia Sara de volta. Procurei por todo o deserto e finalmente consegui encontrá-la com a ajuda dos outros CSIs. Só que não era ela. Era alguém triste, alguém que tinha perdido a vontade de viver e que apesar da minha vontade de ajudá-la eu sabia que não era possível.

Ela se foi.

Durante um tempo eu segui anestesiado, como quem dorme, ignorando o fato de que talvez ela não voltasse mais. E os problemas no trabalho continuavam, agora com Warrick, ele se rendeu ao vício do jogo e começou a beber. E seu divorcio foi o começo da queda dele.

Recentemente começamos a investigar o dono de uma boate chamado, Lou Gedda. Warrick foi à boate desse homem e se envolveu com uma garçonete. No dia seguinte ela apareceu morta no carro dele. Depois de muita turbulência em volta do assunto, o lab foi aos poucos se normalizando. O pior ainda estava por vir. Após receber uma ligação muito suspeita, Warrick foi procurar Lou Gedda. O encontramos desmaiado e Gedda morto. Não era possível, um amigo de tantos anos não podia ser um assassino!

Todas as evidências indicavam Warrick como o criminoso, mas através das marcas de sangue na camisa dele, descobrimos q ele não conseguiria atirar naquela posição. Ficamos aliviados ao descobrir que nosso amigo de longa data tinha sido incriminado, sabíamos que ele nunca cometeria um crime.

Eu e os outros CSIs fomos a uma lanchotene que freqüentamos a anos comemorar a soltura do Warrick. Desde que Sara se foi eu não saí de casa, mas também fui desta vez. Me diverti com meus amigos, quando já era muito tarde fomos embora o deixando ir só pra casa.

Não devíamos ter cometido esse erro.

Ele foi encontrado morto no dia seguinte com vários tiros à queima-roupa.

Não era possível. Primeiro perdi a única mulher que amei na vida, logo depois perdi um amigo. Por que essas coisas tinham que acontecer quando eu finalmente decidi viver. Agora estou aqui no enterro dele e todos esses anos como CSI parece que passaram como um filme pelos meus olhos.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

De repente Gil sente uma mão em seu ombro direito. Ele conhecia muito bem aquele perfume, pois era a primeira lembrança que vinha a sua mente quando fechava os olhos. Por um segundo pensou que pudesse ser um sonho. Mas aquela voz era inconfundível:

- Gil.

- Sara! Não acredito que estou vendo você de novo. – estava confuso e não sabia o que fazer.

- Eu vim pelo enterro do Warrick. É inacreditável que isso tenha acontecido. – estava visivelmente abalada.

- Então você veio por isso, e eu quase acreditei que poderia ter sido por mim. – era possível sentir o desapontamento em sua voz.

- Eu pensei muito esse tempo todo Gil, pensei na minha família e em como ela me afetou. Voltei porque não quero que meu... que nosso bebê sofra sem uma família de verdade. – Sara falou isso com lágrimas nos olhos e passando a mão na barriga.

Grissom estava sem ação não sabia o que pensar. Resolveu então obedecer ao coração em vez de a razão e a abraçou com toda a sua força, como se assim pudesse grudá-la a sua pele.

- Gil, me perdoe tê-lo deixado. Mas eu precisava desse tempo e... – antes que ela pudesse concluir a frase Grissom a interrompeu.

- Sara não precisa dizer nada. Só me abrace, sei que podemos começar do zero e agora temos um motivo a mais pra isso. Um filho.

---------------------------------------------------------------------------------------------------------

Naquele abraço as tristezas de ambos foram enterradas. Ainda sentiam pela morte de Warrick e nunca iam esquecer completamente as provações que passaram ao longo dos anos, mas agora tinham uma coisa que passaram a vida toda procurando sem nunca encontrar:

Uma família!