-Bill. Biiiiiiiiiiill. Biiiiiiill.

-Tom, me deixa em paz! Hoje eu não estou de bom humor – eu lhe disse enquanto escrevia.

-Eu só to brincando Bill. Eu hein!

-Pois é né! Você está ai brincando enquanto eu estou aqui trabalhando.

-Credo Bill. Levantou com o pé esquerdo hoje é?

-Não. É que eu estou fazendo tudo isso sozinho, sem nenhuma ajuda de você ou do Gustav e do Georg.

-E por que você só está brigando comigo? Eu pelo menos estou aqui, diferente dos outros dois.

-Tom, não me enche, por favor.

-Então é assim? – ele se levantou do sofá – Primeiro você diz que eu não te ajudo e depois pra não te encher?

-Tom, eu só quero terminar logo. É pela banda.

-Esqueceu que eu também sou da banda? Aliás, se não fosse EU ter feito aquela aposta com você pra ir se apresentar naquele programa de TV, você nem estaria aqui.

-Mas isso eu tenho que fazer sozinho. Não preciso de você.

-Bill, eu não estou te entendendo, e eu sou seu irmão! Quer saber, se não precisa de mim, eu vou embora. Se vira.

-Idiota – eu disse baixinho. Depois eu só ouvi a porta se fechar bruscamente e o barulho do motor do carro de Tom.

Duas semanas depois...

-Bill, está na hora – me disse um da minha equipe.

Sinceramente, eu nenhum momento da minha vida gostaria de estar fazendo isso. Pela primeira vez não queria subir aos palcos. Estava sem ânimo, não tinha ninguém que conseguia me animar nos últimos dias. Eu não era mais o Bill que sempre fui. Precisava dar uma explicação para as minhas fãs. Mesmo com apenas uma blusa qualquer e uma calça jeans, subi no palco e me posicionei bem no meio onde havia um banquinho e um microfone. Silêncio total, ninguém dava um pio. Comecei então, meu discurso tão esperado por todos, exceto por mim.

-Oi, eu sou o Bill. Só eu. Eu sei que vocês querem estar por dentro de tudo o que está acontecendo. Bom... Depois do acidente, eu não tive mais noticias do Tom, vocês já devem saber disso. Ele não atende o celular, ninguém o viu em lugar nenhum. Perdi totalmente as minhas esperanças que restavam. Pra mim, acho que ele já deve estar morto.

Escuto o barulho de espanto da platéia de milhares pessoas. Tentei me segurar, mas não aguentei. Comecei a chorar me apoiando no suporte do microfone e quase todos que estavam lá choraram junto a mim.

-A policia só me disse que eles não acharam o corpo dele e que o tipo do sangue que encontraram no carro é o mesmo que o meu. Então acho que ele se foi. Não estou usando mais maquiagem, nem unhas enfeitadas, nem aqueles acessórios porque não dá pra ser eu mesmo, sem metade de mim, sem o Tom aqui ao meu lado. Espero que vocês não fiquem bravos comigo e que entendam, mas não tem jeito de o Tokio Hotel continuar – escuto alguns gritos dizendo “não”, principalmente da turma que estava bem a minha frente – Eu nem sei o que eu vou fazer da minha vida. Com quem eu vou passar os meus dias? Com quem vou compartilhar meus segredos? Com quem vou dividir meus melhores e piores momentos? Com quem eu vou falar sobre garotas? – abro um sorriso lembrando bons momentos com ele, mas infelizmente continuei triste - Eu não sei. Eu não sei mesmo o que vai ser de mim agora, sem ele e sem a minha profissão.

Dei uma pausa e deixei que as lágrimas tomassem conta do meu ser. Todas aquelas pessoas estavam olhando diretamente para mim, sempre esperando que eu falasse mais.

-E hoje, vim aqui para fazer uma homenagem para o Tom. Eu vou cantar a musica In die nacht. Nós dois a fizemos s juntos. Mas eu vou cantar sem o violão, pois ele não está aqui pra tocar pra mim. Dizem que quando alguém morre, a alma dela fica sempre com a gente. Eu não acredito muito nessas coisas, mas... Tom, se você estiver aqui, saiba que você é o melhor irmão que alguém poderia ter e que eu te amo. Me desculpe por aquele dia, por todas as vezes que fiquei irritado a toa com você e por todas as brigas. Não tive a intenção de te magoar – olhei para baixo ainda não aguentando de tanto sofrimento e continuei – Eu faria qualquer coisa pra tê-lo de volta. Tomara que gostem da minha apresentação, será a última.

E comecei a cantar. Não estava cantando muito bem, admito. Aliás, estava sem condições de fazer aquilo. Tudo o que acontecera era culpa minha. Se não tivesse brigado com ele, ele não sairia correndo de carro por ai e não trombaria com um caminhão de carga.

Quando já estava na metade da musica, notei que alguém veio correndo e me abraçou por trás. Achei que fosse um fã tentando me consolar. Olhei para trás para saber quem era o individuo e vejo um cara, quase da minha altura, com tranças e um piercing em seus lábios.

-Tom?

-Oi, Bill – imediatamente me levantei do banco e o abracei. Pude sentir seu coração batendo junto com o meu e algumas lagrimas escorrendo em sua face, caindo no meu pescoço e o mesmo acontecendo com ele. Era a primeira vez que o vejo chorando. Ele parecia estar exausto, com alguns arranhões pelo corpo e com suas largas roupas muito sujas.

-Tom, o que aconteceu?

-Não importa. Eu estou aqui agora. Bill, me desculpa. Eu não queria...

-Sou eu que tenho que pedir desculpas. Esqueça isso. Nada me poderia me fazer mais feliz do que te ter aqui novamente.

Nos abraçamos de novo. Antes havia silêncio, depois choros e agora, uma linda sequencia de aplausos. Nunca na minha vida imaginei que sentiria tanta falta de alguém. É como já ouvi falar: a gente só percebe a importância de algo, depois que a perdemos.

Prometi pra mim mesmo que nunca mais deixaria alguma coisa ruim acontecer com Tom, porque eu percebi, que eu não posso viver sem ele, sem meu irmão, sem minha metade.

Bill Kaulitz.