Ele não era Tom Riddle, ou pelo menos não o seu Tom Riddle, mas era extremamente parecido com ele, o que já era algum lucro. Era mais novo, devia ter uns quinze ou dezesseis anos, e não sorria tanto quanto o seu Tom... Tinha o rosto delicado sempre envolvido em uma máscara de seriedade anormal para um rapaz tão novo, mas aquilo não importava.

As roupas do garoto também eram muito piores do que as roupas que Tom usava. Ela nunca veria o filho dos Riddle usando uma calça quase desbotada de tão antiga ou uma camisa com as bordas das mangas todas desfiadas... Mas, mesmo se vestindo como se não tivesse dinheiro nem para conseguir um prato de comida, ele era elegante. Andava de cabeça erguida, sempre com um olhar frio digno de um Riddle, media cada palavra que iria usar e parecia analisar tudo a sua volta.

Um Riddle. Um perfeito Riddle. Perdido no meio de Londres, sem pais, sem dinheiro, sem roupas decentes... Mas, ainda assim, um Riddle.

Quando começou a falar com o rapaz, jurou que ele iria mandá-la não o perturbar, mas, após algumas palavras, ele pareceu não se irritar mais com o fato de que aquela mulher desconhecida que tinha idade para ser sua mãe estava quase implorando para que ele lhe desse uma chance. Descobriu o nome dele. Tom. O mesmo nome do homem que a abandonara para ir atrás de outra.

Ela riu. Claro que o nome do garoto seria Tom! Que outro nome ele poderia ter? Ele era uma cópia em carbono do filho de Mary e Thomas Riddle! Ela teria que ser muito idiota para não juntar os pontos assim que o vira pela primeira vez.

Descobriu que as carícias e os beijos do rapaz lembravam o seu Tom. Na realidade, só era preciso fechar os olhos para acreditar que realmente quem a estava beijando era o Tom Riddle de Little Hangleton, o homem elegante e rico cujos pais sempre cuidaram com todo amor e carinho, e não o Tom Riddle de Londres, o garoto que não parava de tremer de frio devido as roupas que não eram quentes o suficiente e que crescera sozinho na capital. De qualquer maneira, o que os olhos não viam, o coração não sentia, certo? Ela não precisava olhar para o garoto e ver o rosto não marcado pela idade e sem o sorriso que ela tanto conhecia... Era só fechar os olhos.

A mulher tinha mais do que certeza de que adorava se encontrar com o rapaz. Ela tinha plena consciência de que sua vidinha infeliz reconquistava um pouquinho da felicidade que ela achava que havia perdido para sempre quando estava na companhia dele...

Até ele sumir. Ficou dias sem aparecer enquanto ela o esperava, desesperada, com medo de que nunca mais o visse, com medo de que fosse perdê-lo assim como havia perdido o seu Tom. Mas a cada noite que ficava sem vê-lo, dizia para si mesma que ele iria voltar, que o Tom de Londres era diferente daquele de Little Hangleton...

Só se deu conta de que nunca mais iria ver nenhum de seus Toms quando a notícia de que a família Riddle fora encontrada morta em sua casa... Pai, mãe e filho mortos na sala de visitas e o maior suspeito era o pacífico jardineiro que nem conseguia andar direito graças a um ferimento de guerra.

Cecília nunca contou a ninguém que achava que conhecia muito bem o assassino do seu amor de adolescência.